Vacinas para filhotes de cães e gatos: como definir o protocolo ideal

Vacinas para filhotes de cães e gatos: como definir o protocolo ideal

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A vacinação de filhotes é fundamental para a prevenção de enfermidades graves. Conheça mais sobre as vacinas disponíveis e saiba como instituir um protocolo individualizado ao seu paciente! 

Diversas doenças infectocontagiosas que acometem severamente cães e gatos podem ser prevenidas através das vacinas para estes animais.

Inclusive, a imunização tem um papel bastante importante para a saúde pública, já que pode atuar positivamente no controle de diversas zoonoses.

Este artigo tem como objetivo esclarecer quais são as principais vacinas para filhotes e como devem ser utilizadas.

A importância da vacinação de filhotes

A vacinação de filhotes de gatos e cães é extremamente importante para garantir a saúde e o bem-estar desses animais, principalmente porque estão numa fase de vida na qual são mais suscetíveis a enfermidades.

É através das vacinas desenvolvidas para cada uma dessas espécies que iremos promover o desenvolvimento do sistema imune, evitando que o animal seja acometido por uma série de doenças infectocontagiosas, inclusive zoonoses (doenças transmitidas entre os animais e os seres humanos) como a leptospirose e a raiva.

Para iniciar um protocolo vacinal, é necessário que o médico-veterinário se certifique de que o paciente esteja saudável e em condições de receber a vacina antes de aplicá-la.

Assim, as vacinas para filhotes começarão a ser administradas a partir do período de vida em que a imunidade passiva (promovida pelos anticorpos maternos) começa a diminuir, geralmente entre 4 e 6 semanas de vida, permitindo que o sistema imunológico do indivíduo comece a trabalhar para gerar uma resposta efetiva através de seus próprios anticorpos.

Esse período é denominado de janela imunológica, e o filhote só é considerado totalmente imune a partir da última dose do esquema vacinal. Por isso, é fundamental conscientizar os tutores de que seus animais não devem ser expostos a ambientes possivelmente infectados ou a outros animais que não sejam vacinados antes de terminar o esquema vacinal. Isso porque, nesse período, estarão sujeitos a adquirir alguma dessas afecções por não terem anticorpos suficientes para combatê-la.

vacinas para filhotes de gatos e cães
Figura 1: Gráfico da janela imunológica em filhotes. Fonte: Portal Vet.

Principais vacinas para filhotes de cães

As vacinas para filhotes de cães são classificadas como essenciais, não essenciais e não recomendadas.

As essenciais são as que todos os indivíduos devem receber, promovendo a proteção contra enfermidades graves e/ou fatais, a não ser que exista alguma razão médica que impeça a vacinação. Elas englobam as vacinas contra:

  • vírus da cinomose canina (CDV)
  • adenovírus canino (CAV; tipos 1 e 2)
  • parvovírus canino tipo 2 (CPV-2)
  • raiva

Já as não essenciais são aquelas cuja necessidade será apontada pelo médico-veterinário, levando em consideração o estilo de vida do animal (se frequenta parques, creches ou hotéis) e a epidemiologia das doenças na cidade em que ele vive. Assim sendo, são as vacinas contra:

  • leptospira
  • parainfluenza
  • traqueobronquite infecciosa canina (Tosse dos canis)
  • leishmania

Segundo Day et. al. (2020), do Grupo de Diretrizes de Vacinação da WSAVA, as vacinas contra a giárdia e contra o coronavírus canino (CCV) são classificadas como não recomendadas por não protegerem o cão contra essas infecções.

Polivalente

Comercialmente, as vacinas disponíveis são múltiplas ou polivalentes, uma vez que contém tanto as cepas classificadas como essenciais e algumas não essenciais. Em filhotes de cães, elas colaboram com a prevenção contra as principais doenças infectocontagiosas graves que acometem essa espécie, como:

  • cinomose
  • parvovirose
  • hepatite infecciosa canina
  • parainfluenza
  • coronavirose
  • leptospirose

A cinomose, causada por um morbilivírus da família Paramyxoviridae, é altamente contagiosa e se caracteriza por ser uma afecção multissistêmica, que pode atingir o sistema nervoso central e possivelmente deixar sequelas ou levar à morte do animal.

A parvovirose, também considerada muito contagiosa e com alto índice de mortalidade, é acarretada por um vírus da família Parvoviridae (CPV2), que acomete principalmente o trato gastrointestinal, assim como o coronavírus entérico canino.

Por sua vez, o adenovírus canino (CAV1) é o causador da hepatite infecciosa canina, enfermidade que afeta o fígado, os olhos (uveíte) e o endotélio (epitélio de revestimento dos vasos sanguíneos e do coração).

O vírus da parainfluenza canina é um dos agentes da tosse dos canis, atingindo o sistema respiratório e resultando em uma traqueobronquite.

A leptospirose, ocasionada pela bactéria Leptospira, é uma zoonose de caráter endêmico no Brasil, principalmente em regiões chuvosas com risco de enchentes. É uma afecção grave que promove lesões renais e hepáticas.

No Brasil, as vacinas comerciais polivalentes mais conhecidas disponíveis para cães são a V8 e a V10, que contêm antígenos considerados essenciais e não essenciais. A diferença entre elas é que a V8 confere proteção contra 2 sorovares de Leptospira (canicola e icterohaemorrhagiae) e a V10 contra 4 sorovares (canicola, icterohaemorrhagiae, pomona e grippotyphosa).

Vale ressaltar que a vacina polivalente é extremamente importante e deve estar presente no protocolo vacinal, cabendo ao médico-veterinário a escolha entre o uso da v8 e v10 de acordo com a necessidade e desafios de cada paciente.

A vacinação polivalente inicia-se geralmente às 6-8 semanas de vida e recebe dose reforço a cada 2-4 semanas até que o animal complete, no mínimo, 16 semanas de idade. O número de doses necessárias para completar o protocolo irá variar de acordo com a idade de início do protocolo e tempo de intervalo entre os reforços.

Raiva

A raiva é uma zoonose de relevância mundial, caracterizada como uma poliencefalite grave de progressão aguda e fatal, cujo agente causador é um vírus da família Rhabdoviridae. Seu único método de prevenção e de controle de possíveis epidemias é a imunização.

A antirrábica deve ser feita a partir de 12 semanas de idade, em dose única e é uma vacina obrigatória no Brasil. O reforço vacinal deve ser feito anualmente.

Traqueobronquite Infecciosa Canina

A traqueobronquite infecciosa canina ou tosse dos canis, também conhecida como “gripe canina”, é uma doença altamente contagiosa que afeta o sistema respiratório dos cães. É causada, principalmente, pela infecção pelo vírus da parainfluenza canina (CPiV) e a bactéria Bordetella bronchiseptica, concomitantemente ou não.

São três os tipos de vacinas para prevenção dessa afecção: injetável, intranasal e oral. Sendo assim, a idade para o início do protocolo vacinal para Traqueobronquite Infecciosa Canina (Bordetella bronchiseptica) dependerá da apresentação utilizada, sendo o período indicado de 6 a 8 semanas para a injetável e a intranasal, e a partir de 8 semanas para a apresentação oral. A injetável recebe uma dose reforço após 2-4 semanas, enquanto a intranasal e a oral são vacinas de dose única.

É importante saber que a resposta imunológica também depende da apresentação escolhida, sendo que a intranasal proporciona proteção após 3 a 5 dias da aplicação, ao passo que as vacinas injetável e oral, somente após 21 dias.

Giárdia

A Giardia é um protozoário intestinal capaz de desenvolver um quadro de gastroenterite, com vômitos, diarreia, anorexia e perda de peso. Também é uma zoonose, ou seja, pode acometer animais e humanos.

A soroconversão (desenvolvimento de anticorpos específicos) promovida pela vacina para giárdia pode não ser suficiente para impedir que o animal se infecte, mas colabora/ajuda para que ele tenha uma giardíase mais branda e com sinais clínicos mais leves.

A vacinação para Giárdia deve ser feita a partir de 8 semanas de vida, administrando um reforço após 2-4 semanas, e pode ser exigida por locais onde haja muitos contactantes, assim como creches e hotéis.

Leishmaniose Visceral

A leishmaniose visceral canina, causada pela Leishmania infantum, é uma doença zoonótica bastante significativa na América Latina.

A administração da vacina para filhotes é recomendada em áreas onde a doença é endêmica, e o esquema vacinal só pode ser iniciado após a constatação de que o animal não está contaminado, ou seja, com o resultado negativo da sorologia.

Então, a primovacinação é realizada a partir de 16 semanas e o animal recebe mais 2 doses reforço, com intervalo de 3 semanas entre elas.

Vacinas para filhotes de cães e gatos

Principais vacinas para filhotes de gatos

As vacinas para filhotes de gatos, por sua vez, são classificadas como essenciais e não essenciais.

As essenciais são as que todos os felinos devem receber e incluem as vacinas contra:

  • panleucopenia (FPV)
  • calicivírus(FCV)
  • herpesvírus felino (FHV-1)
  • leucemia viral felina (FeLV)
  • raiva

A vacina contra Chlamydia é considerada não essencial para gatos domésticos (AAHA/AAFP feline vaccination guidelines, 2020), sendo utilizada opcionalmente, de acordo com o risco de exposição do animal e o critério do médico-veterinário.

Polivalente

As vacinas polivalentes para os filhotes de gatos são responsáveis por evitar as principais doenças infectocontagiosas que podem acometer os felinos. Podem conter 3 ou 4 proteções como veremos a seguir.

A V3, ou tríplice felina, é responsável por evitar as principais doenças infectocontagiosas que podem acometer os gatos, como:

  • panleucopenia (FPV)
  • calicivírus (FCV)
  • herpesvírus felino (FHV-1)

A V4, ou quádrupla felina, adiciona, além das descritas acima, a proteção contra Chlamydia.

Agora vamos entender um pouco mais sobre cada doença.

A panleucopenia é uma infecção gastrointestinal aguda, altamente contagiosa e com alta taxa de mortalidade, causada pelo parvovírus felino (FPV).

A rinotraqueíte é causada pelo vírus FHV-1 da família Herpesviridae, caracterizando uma enfermidade no trato respiratório superior dos felinos, assim como a calicivirose. Elas podem levar ao desenvolvimento de severas complicações e prejudicar a qualidade de vida dos gatos.

A clamidiose, cujo agente causador é a bactéria Chlamydophila felis (anteriormente conhecida como Chlamydia psittaci), pode acometer os sistemas respiratório (rinite, bronquite, bronquiolite), oftálmico (conjuntivite), gastrointestinal e reprodutivo do felino.

As vacinas polivalentes para gatos devem ser administradas a partir de 6 semanas de vida, recebendo doses reforço a cada 3-4 semanas, até que o filhote complete 16 a 20 semanas. O número de doses necessárias para completar o protocolo irá variar de acordo com a idade de início do protocolo e tempo de intervalo entre os reforços.

FelV

A FeLV consiste em um dos retrovírus mais significativos em gatos, altamente patogênico, que pode infectar a medula óssea e o sistema respiratório.

Existem duas formas de proteção contra esta afecção:

  • uma vacina polivalente, que confere prevenção para rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, clamidiose e também auxilia na prevenção de tumores linfoides e outras doenças causadas pelo vírus da leucemia felina;
  • e outra vacina específica para FeLV, auxiliando na prevenção de viremia persistente, tumores linfoides e doenças associados à infecção por esse vírus.

A vacina para FeLV deve ser realizada a partir de 9 semanas de vida, desde que o animal não apresente antígenos do vírus detectáveis na amostra sanguínea, ou seja, com sorologia negativa para o vírus da leucemia felina. Um reforço deve ser aplicado após 3-4 semanas.

Antirrábica

A vacinação antirrábica para filhotes de gatos é tão importante quanto para os filhotes de cães, especialmente pelo fato de que animais dessa espécie apresentam instinto caçador e, em muitos casos, não vivem exclusivamente restritos a um ambiente domiciliar.

Para os gatos, essa vacina também é indicada a partir de 12 semanas de idade, em dose única. No Brasil, a vacinação anual contra raiva é obrigatória para todos os gatos, assim como os cães.

A importância da vacinação dos pets para a saúde única

A imunização dos pets através de um protocolo individualizado de vacinas para filhotes desempenha um papel crucial na promoção da saúde única, colaborando na prevenção de doenças potencialmente patogênicas.

Após a primovacinação, os Guidelines AAHA/AAFP e WSAVA trazem a informação de que algumas vacinas podem receber doses reforço a cada 3 anos. Porém, no Brasil, as bulas dos fabricantes indicam que a revacinação deve ser anual. Além disso, a legislação brasileira obriga a revacinação antirrábica anualmente.

Dessa forma, um esquema vacinal desenvolvido individualmente, para cada paciente, irá promover longevidade e qualidade de vida, contribuindo, inclusive, para o controle de importantes zoonoses e promovendo saúde única.

Além da vacinação: demais pontos de alerta para manter a saúde do pet sempre em dia

Além da definição de um protocolo vacinal individual, as orientações aos tutores devem abranger outros aspectos, considerando a saúde geral do paciente, incluindo:

  • cuidado nutricional através de uma dieta balanceada, que atenda às necessidades específicas de acordo com a idade, o tamanho e a raça;
  • um ambiente seguro e com estímulos interativos, que diminuam o estresse e incentivem atividades físicas;
  • cuidados básicos para a pelagem e higiene bucal;
  • visitas regulares ao médico-veterinário para check-ups e exames de rotina.

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Referências bibliográficas

AAHA. Canine Vaccination Guidelines. 2022. Acesso em: 22 outubro 2023.

AAHA/AAFP. Feline Vaccination Guidelines. 2020. Acesso em: 22 outubro 2023.

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ZOETIS BRASIL. Felocell® FeLV.  Acesso em: 22 outubro 2023.