Parvovirose canina: como ocorre, abordagem clínica e formas de prevenção

Parvovirose canina: como ocorre, abordagem clínica e formas de prevenção

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Veja todos os detalhes dessa grave enfermidade do trato gastrointestinal e que acomete, principalmente, os cães

A parvovirose canina é considerada uma grave afecção do trato gastrointestinal, sendo altamente infectocontagiosa pelos vírus da família Parvoviridae. A diarréia com odor fétido e hematoquezia estão entre os principais sinais clínicos observados.

O parvovírus promove a destruição intensa das células do epitélio intestinal, podendo afetar também outros sistemas. Caso a enfermidade não seja tratada adequadamente, pode haver complicações no quadro, como os distúrbios hidroeletrolíticos, desidratação severa, desnutrição, infecções secundárias, sepse e até mesmo ir à óbito (SANTANA et al, 2019).

A afecção afeta principalmente os filhotes que possuem entre 6 semanas e 4 meses de idade e que ainda não foram vacinados, além dos imunossuprimidos, visto que ainda não possuem o sistema imunológico completamente desenvolvido (MARINGA et al, 2022).

A relevância da doença é evidenciada devido ao alto potencial de propagação do vírus e sua gravidade, podendo apresentar alto índice de mortalidade e morbidade. Corroborando com o exposto, vale destacar que o diagnóstico e tratamento adequado é imprescindível para que o animal tenha sua saúde restabelecida.

A taxa de sobrevivência dos animais com tratamento adequado pode chegar a 95% dos casos (MELO et al, 2021).

Neste artigo iremos abordar as principais formas de diagnóstico e manejo do paciente acometido pela parvovirose canina.

Evolução e mutação da parvovirose canina no Brasil

O parvovírus canino do tipo 1 (CPV-1) foi detectado em alguns cães por volta da década de 70. As análises filogenéticas apontaram uma íntima relação com o vírus da parvovirose felina, também conhecida como panleucopenia felina. Nessa época, os animais acometidos podiam apresentar alguma dificuldade respiratória leve e, até mesmo, sofrerem eventuais abortos no caso de fêmeas prenhes (SANTANA et al, 2019).

A parvovirose canina é causada pelo parvovírus tipo 2, também conhecido como CPV-2. As hipóteses sobre o seu surgimento sugerem que provavelmente houve uma mutação do vírus da panleucopenia felina e adaptação ao novo hospedeiro canino. Entretanto, as variantes antigênicas CPV-2a e CPV-2b emergiram na década de 80, substituindo o subtipo primário CPV-2, que está mais associado aos quadros graves de enterite hemorrágica (SANTANA et al, 2019).

No Brasil, a disseminação da doença na população canina ocorreu na década de 80, sendo que o primeiro caso canino foi diagnosticado e identificado na cidade de Campinas, em São Paulo (MELO et al, 2021).

Com o passar do tempo, outras variantes virais se manifestaram, como a CPV-2a, CPV-2b e CPV-2c. Também há relatos de outras novas variantes do vírus, tornando-o extremamente resistente (MELO et al, 2021).

A variante CPV-2c também surgiu na década de 80 e acredita-se que as variantes virais da parvovirose canina predominantes no Brasil atualmente sejam os tipos CPV-2b e CPV-2c (SANTANA et al, 2019).

Ação do parvovírus nos cães

O parvovírus é altamente contagioso e a transmissão ocorre por via oronasal e também por meio das fezes, ambientes contaminados e fômites (MARINGA et al, 2022). O período neonatal, logo após o desmame, geralmente é o de maior susceptibilidade dos cães para a infecção pelo CPV-2 e outras doenças, como as parasitárias (SANTANA et al, 2019).

Fases da parvovirose canina

A afecção apresenta três fases (SANTANA et al, 2019):

  • incubação: o período de incubação viral geralmente ocorre entre 4 e 14 dias;
  • replicação: de forma inicial, acontece nas tonsilas faríngeas e se dissemina por todo o sistema linfático e circulatório do animal, afetando diversos órgãos, como timo, baço, fígado, medula óssea e criptas intestinais. Geralmente a estrutura do epitélio intestinal pode ser visualmente a mais prejudicada, sendo a região das criptas a mais afetada;
  • viremia: pode ocorrer entre o período de 3 a 5 dias, e os animais acometidos já podem disseminar o vírus através das fezes. Essa eliminação fecal pode ter durabilidade superior a 10 dias, caracterizando a doença como de alto índice de morbidade.

A imunização é a forma mais eficaz de prevenção da parvovirose canina. Portanto, é imprescindível que o Médico-Veterinário alerte os tutores sobre a importância das vacinas V8 ou V10 para os filhotes de cães.

Vale ressaltar que os animais que não receberam o protocolo vacinal completo ou que receberam vacinas em período atrasado ou de qualidade duvidosa podem ser mais susceptíveis a contrair o parvovírus e desenvolver a parvovirose canina, além de outras doenças, uma vez a soroconversão adequada poderá ser comprometida.

Raças de cães e o parvovírus

Segundo autores, algumas raças de cães podem ter maior predisposição genética à parvovirose canina, como (MELO et al, 2021):

  • Dobermann;
  • American Pit Bull Terrier;
  • Pastor Alemão;
  • Labrador Retriever;
  • Rottweiler.

Os cães de todas as idades, gêneros e raças podem se infectar com o parvovírus, inclusive os sem raça definida. Porém, os cães de raças puras possuem 2,15 vezes mais chances de desenvolverem a enterite por CPV quando comparados aos animais sem raça definida (MELO et al, 2021).

Resistência do parvovírus no ambiente

O CPV é um vírus do tipo DNA, com fita simples e não envelopado (MELO et al, 2021). Portanto, é considerado extremamente resistente no ambiente e também aos produtos de limpeza, como sabão, detergentes e álcool.

Vale relembrar que, no caso dos vírus envelopados, a destruição do envelope que constitui a camada externa viral é possível uma vez que o envelope é formado por lipídios, que são facilmente dissolvidos com o uso de produtos como detergentes, álcool e etc.

Sinais clínicos

Uma pesquisa identificou que diversos fatores podem estar associados e influenciar no surgimento dos sinais clínicos, como raça, idade, gênero, protocolo de vacinação prévio, localização geográfica, ambiente em que vive o pet, superpopulação de animais e a preexistência de doenças concomitantes (MARINGA et al, 2022).

Dentre os principais sinais clínicos observados nos casos de parvovirose canina estão:

  • hematoquezia;
  • melena;
  • febre;
  • êmese;
  • diarreia;
  • necrose linfoide dos tecidos afetados (linfonodos periférico, timo e baço);
  • anemia arregenerativa e linfopenia;
  • anorexia ou hiporexia e emagrecimento;
  • sialorréia;
  • caquexia;
  • dor à palpação abdominal;
  • polidipsia, oligodipsia ou adipsia;
  • prolapso retal;
  • letargia, depressão ou prostração;
  • lesões devido ao processo inflamatório;
  • desidratação ou desnutrição.

Entre os sinais clínicos mais comuns vistos pelos próprios tutores dos animais estão a diarreia com odor fétido e hematoquezia. Geralmente são queixas comuns durante a consulta.

Também é possível que apareçam lesões secundárias à infecção viral no trato intestinal dos animais acometidos, podendo gerar uma lesão inflamatória sistêmica, resultando em choque séptico (SANTANA et al, 2019).

Diagnóstico da parvovirose canina

Para o diagnóstico da doença, durante a consulta o Médico-Veterinário fará uma anamnese detalhada com o objetivo de investigar o histórico e sinais clínicos apresentados pelo pet, além de verificar quais são os hábitos, rotinas e tipo de dieta do animal, além de outras informações essenciais.

Na busca por um diagnóstico assertivo, o profissional deve realizar o exame físico completo e solicitar exames laboratoriais, como o ELISA, que detecta a presença de antígenos virais nas fezes dos cães. O PCR pode ser solicitado para confirmação, dependendo do período da doença e/ou caso o resultado do ELISA gere dúvidas.

Caso haja outras enfermidades concomitantes, outros exames podem ser solicitados para diagnóstico diferencial, como a radiografia e ultrassonografia abdominal, além do ecocardiograma para avaliar a ocorrência de disfunção miocárdica e outros, de acordo com a suspeita diagnóstica (MELO et al, 2021).

Com base na anamnese, nos exames e nos sinais clínicos observados no animal, será possível fazer o diagnóstico da parvovirose canina, podendo definir então qual será a melhor opção de tratamento, de acordo com o caso.

O diagnóstico deve ser rápido, pois a enfermidade favorece o surgimento de infecções secundárias levando o curso clínico para uma evolução acelerada, onde o óbito dos animais não vacinados ou com protocolos de vacinação ineficientes pode ocorrer entre 2 a 3 dias após o início dos sinais clínicos (SANTANA et al, 2019).

Geralmente, quando há suspeita, é comum que o profissional já inicie o tratamento enquanto aguarda os resultados dos exames. Alguns animais podem necessitar de internação para um melhor suporte.

Manejo do paciente e tratamento da parvovirose

É recomendado que os cães com parvovirose sejam isolados de outros animais para um correto manejo e tratamento adequado.

Vale ressaltar que a taxa de sobrevivência dos animais que realizam adequadamente o tratamento pode chegar a 95% (MELO et al, 2021). Entretanto, a atenção deve ser redobrada para os filhotes, pois eles ainda não possuem a imunidade completamente desenvolvida e por possuírem o metabolismo mais rápido, podem ter uma piora abrupta no quadro.

Geralmente a fluidoterapia é indicada em todos os casos para restaurar o volume e composição dos líquidos corporais, reidratando o paciente que apresenta diarreias e vômitos como sinais clínicos e que teve perda significativa dos fluídos corporais. Em alguns casos a internação deve ser recomendada para um melhor suporte.

O uso de fármacos, como antieméticos, antiácidos, protetores de mucosa, antibióticos, probióticos, analgésicos e antiespasmódicos, pode ser recomendado pelo Médico-Veterinário dependendo dos sinais clínicos apresentados no caso e da presença de outras doenças concomitantes.

O manejo nutricional adequado é essencial, pois visa a prevenção do surgimento de doenças secundárias e a redução da gravidade dos sinais clínicos. Para os animais debilitados e internados, o uso do alimento úmido Recovery ROYAL CANIN® poderá ser recomendado, visando proporcionar um melhor suporte energético e hidratação ao paciente.

No caso de filhotes e pacientes não vacinados é recomendado que o tutor seja orientado sobre a importância da vacinação futura, após a total recuperação do animal.

O papel da nutrição no tratamento do animal

A nutrição de filhotes e adultos diagnosticados com parvovirose canina deve ser instituída com o intuito de favorecer a saúde digestiva, o trânsito intestinal, a reidratação e um ótimo crescimento, no caso dos filhotes.

A ROYAL CANIN® possui em seu portfólio o alimento Gastrointestinal Puppy, que é uma excelente opção para os filhotes. Sua formulação em formato de croquete permite facilmente a adição de água, visando facilitar a ingestão para filhotes com apetite reduzido, além de ajudar na transição do leite materno para alimentos sólidos.

alimento gastrointestinal puppy

Para os cães adultos, o alimento deve ser recomendado de acordo com seu porte, raça e condições gerais. Visite o portfólio de produtos para cães adultos para conhecer as opções. Use a ferramenta gratuita Calculadora para Prescrições para auxiliar nas recomendações de manejo nutricional e alimentar do seu paciente.

Tempo de recuperação do cão com parvovirose

O prognóstico e o tempo de recuperação do cão acometido pela parvovirose podem variar de acordo com o caso. Porém, com a realização correta do tratamento, o restabelecimento da saúde do animal tende a ocorrer em poucos dias.

Formas de prevenção da parvovirose canina

Atualmente, a vacinação dos filhotes e também de cães adultos é considerada a medida de prevenção mais eficaz, pois visa fortalecer e desenvolver o sistema imunológico do animal para combater o vírus e impedir sua replicação. Portanto, o profissional deve orientar o tutor sobre a importância quanto ao correto protocolo vacinal, pois a vacina deve ser aplicada dentro de centros médicos, por Médicos-Veterinários e no tempo e intervalos recomendados.

O transporte incorreto das vacinas, um armazenamento inadequado e outros fatores podem interferir diretamente na capacidade de soroconversão da vacina, tornando o animal mais suscetível a infecção pelo parvovírus e outras doenças.

A esterilização dos cães e a correta vermifugação também pode torná-los menos predispostos ao desenvolvimento da parvovirose e contribuir para a prevenção de afecções secundárias à doença (MELO et al, 2021).

E parvovirose felina?

A parvovirose felina, também é conhecida como panleucopenia felina e enterite infecciosa viral felina. É considerada uma doença altamente contagiosa, causada por variantes do parvovírus canino (CPV) e pelo vírus panleucopenia felino (FPV), ambos pertencem à família Parvoviridae (FONSECA, 2019).

O paciente acometido pela panleucopenia felina pode apresentar sinais clínicos distintos da parvovirose canina, já que a enfermidade é causada por outros agentes.

O Médico-Veterinário deve identificar a melhor opção de tratamento para o felino, que também será distinta dos casos de parvovirose canina (FONSECA, 2019).

Referências bibliográficas

MELO, Tuane Ferreira et al. Parvovirose canina: uma revisão de literatura. Natural Resources. v.11, n.3, p.40-56, 2021. Disponível em: http://sustenere.co/index.php/naturalresources/article/view/6110/3210. Acesso em: 11 jul. 2022.

SANTANA, Weslei de Oliveira et al. Parvovírus canino: uma abordagem evolutiva e clínica. Medicina Veterinária (UFRPE). v.13, n.4, p.526-533, 2019. Disponível em: http://www.journals.ufrpe.br/index.php/medicinaveterinaria/article/view/3661. Acesso em: 11 jul. 2022.

MARINGA, Carollina et al. Análise clínica de cães com parvovirose. PUBVET. v.16, n.1, p.1-9, 2022. Disponível em: https://www.pubvet.com.br/artigo/8751/anaacutelise-cliacutenica-de-catildees-com-parvovirose. Acesso em: 11 jul. 2022.

FONSECA, Nathália Dela-Sávia. Infecção por parvovírus felino em filhote: relato de caso. 2019, p. 1-40. Dissertação – Bacharel em Medicina Veterinária – Universidade de Brasília, Brasília-DF, 2019. Disponível em: https://bdm.unb.br/handle/10483/25539