Doenças hepáticas em cães: como a nutrição pode ajudar?

Doenças hepáticas em cães: como a nutrição pode ajudar?

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O suporte nutricional é essencial no manejo de pacientes com doença hepática; saiba mais sobre o papel do fígado e a relação entre a nutrição e as hepatopatias em cães

O fígado é essencial para digestão, absorção e metabolização de grande parte dos nutrientes no organismo. As doenças hepáticas em cães podem ocorrer de forma aguda ou crônica. Na forma crônica, os achados nos exames podem ser inespecíficos de acordo com diferentes fatores, como o longo curso da disfunção hepática e o estado nutricional do animal.

O diagnóstico definitivo de doença hepática nos cães é baseado na junção de anamnese, exames físicos e complementares. Lembrando que, de acordo com o grau de cronicidade da doença, em alguns casos pode não haver alterações enzimáticas expressivas e o órgão pode apresentar tamanho normal ou reduzido.

A identificação precoce da doença hepática em cães pode nortear o Médico-Veterinário sobre o manejo correto e melhor opção de tratamento para o paciente. Saiba como tratar a doença hepática em cães!

O que causa doenças hepáticas nos cães?

Diversos fatores podem alterar a função do fígado dos cães, como veremos a seguir:

Idade

As afecções hepáticas podem acometer animais de todas as idades, mas é menos comum que surjam antes de 1 ano. A doença hepática em cães idosos (por volta dos 11 anos) também não é tão frequente. Verifica-se que, na maioria dos casos, afeta cães com idades entre 4 e 8 anos. Embora ambos os sexos sejam acometidos, pode haver um maior acometimento de cadelas (ELIAS; 2015).

Predisposição racial

Abaixo seguem as principais alterações hepáticas com as respectivas raças mais acometidas:

  • Desenvolvimento de hepatopatias associadas ao acúmulo de cobre: Bedlington Terrier, West Highland White Terrier, Sky Terrier, Dálmatas, Doberman e outras.
  • Hepatite crônica: Cocker Spaniel, Doberman, Labrador Retriever, Poodle e outras.
  • Shunts portossistêmicos congênitos: Yorkshire Terrier, Maltês, Cairn Terrier e outras.

Medicamentos

Certos medicamentos podem causar danos ao fígado dos cães, como o Paracetamol. Outros medicamentos também podem apresentar potencial hepatotóxico ou elevados graus de toxicidade para outros órgãos. Portanto, jamais deve-se administrar medicamentos sem a prescrição do Médico-Veterinário.

Intoxicações

Certos componentes encontrados em alimentos inadequados, produtos químicos, plantas e outras substâncias podem causar intoxicação ou envenenamento em cães. Esses quadros tendem a se apresentar de forma mais aguda. Pode ocorrer a sobrecarga do fígado, dificultando a eliminação das toxinas, o que pode levar ao desenvolvimento de alterações hepáticas e até mesmo o óbito do paciente.

Outras causas

Além dessas, outras causas também estão relacionadas ao desenvolvimento de doenças hepáticas em cães, tais como:

  • Neoplasias.
  • Hepatites infecciosas: virais e bacterianas.
  • Lipidose hepática.
  • Obstrução biliar.
  • Alteração do fluxo sanguíneo para o fígado em função de doenças cardíacas ou anomalias congênitas.
  • E outras

Principais sinais clínicos em cães com doenças hepáticas

Dentre as manifestações clínicas mais frequentes, estão:

Vômito. Diarreia e fezes pálidas (mais claras que o comum).

Perda ou redução de apetite e de peso.

  • Letargia. Náusea.
  • Icterícia em mucosas e/ou pele.
  • Encefalopatia hepática.
  • Distúrbios de coagulação sanguínea.
  • E outras!

Vale ressaltar que nem sempre os sinais clínicos são evidentes. Sendo assim, é recomendável fazer a avaliação de rotina do paciente, com as devidas solicitações de exames de imagem e bioquímicos, avaliando a função e estrutura hepática.

Doenças hepáticas em cães x a importância da nutrição

Os cães com hepatopatias crônicas comumente apresentam desnutrição devido a fatores como:

  • anorexia e náuseas, que resultam em hiporexia; prescrição incorreta da dieta, principalmente com restrição de proteína de boa qualidade;
  • má digestão dos nutrientes em casos de cirrose e hipertensão portal;
  • e aumento das necessidades energéticas, o que chamamos de hipermetabolismo (CENTER SA; 1998).

O suporte nutricional tem demonstrado ser fundamental para o manejo das hepatopatias tanto em seres humanos como em animais de companhia. Os objetivos são proporcionar condições ótimas para o reparo e regeneração do órgão e evitar ou tratar as complicações da insuficiência hepática.

3 Principais objetivos do manejo nutricional para cães com hepatopatias

Os três principais objetivos da abordagem nutricional da doença hepática em cães e gatos são os seguintes:

Fornecer a ingestão nutricional ideal de nutrientes e energia

Manter o aporte calórico adequado é prioridade absoluta, especialmente nos casos de doenças hepáticas, para prevenir a perda de massa magra e peso. Perda de peso substancial, perda de massa muscular e hipoalbuminemia são sinais típicos de desnutrição em animais acometidos por insuficiência hepática. Anorexia, vômitos, má digestão, absorção e metabolismo dos nutrientes, aumento do catabolismo proteico e síntese insuficiente de proteínas explicam o mau estado desses animais (BRUNETTO et al; 2007).

O uso de fontes calóricas não proteicas é importante para prevenir a mobilização de aminoácidos como fonte energética, evitando ou diminuindo o processo de gliconeogênese hepática. As dietas devem apresentar alta densidade energética para atender as necessidades calóricas e para diminuir o volume de alimento a ser fornecido. A quantidade necessária de proteína para manutenção, reparação e regeneração celular varia com o tipo e gravidade da hepatopatia (CENTER SA et al.; 2002).

É importante também corrigir a má nutrição satisfazendo as necessidades energéticas e nutricionais de manutenção: aminoácidos, potássio e zinco, bem como algumas vitaminas, especialmente vitaminas B, C e K (CENTER SA; 1998).

Otimizar a regeneração dos hepatócitos

Apoiar a regeneração hepatocelular, fornecendo uma quantidade suficiente de nutrientes, principalmente proteínas, L-carnitina e vitaminas do complexo B é fundamental. Uma quantidade adequada de proteína com alta digestibilidade favorece a regeneração do parênquima hepático (CENTER SA et al.; 2002). Os quadros de cirrose que apresentam encefalopatia hepática são mais difíceis de serem conduzidos, uma vez que esses animais necessitam de aporte proteico para manutenção do balanço nitrogenado, porém a ingestão de proteína pode resultar em encefalopatia hepática.

Por outro lado, se entrarem em balanço nitrogenado negativo, os animais podem ficar desnutridos, hipoalbuminêmicos, com piora da função hepática e estado geral. A manutenção do balanço nitrogenado pode apresentar efeitos positivos sobre a encefalopatia hepática, visto que facilita a regeneração hepática (CENTER SA et al.; 2002). O objetivo é proporcionar ao animal doente a quantidade máxima de proteína sem exceder a tolerância antes das manifestações da encefalopatia hepática (CENTER SA; 1998).

A L-carnitina é uma amina quaternária necessária para o transporte de ácidos graxos de cadeia longa a partir do citoplasma da célula para as mitocôndrias, que são os pequenos elementos dentro das células que irão produzir energia a partir de lipídeos (GOMES; 2020). As principais áreas de produção de L-carnitina em cães e gatos são o fígado (principalmente), o cérebro e os rins. As vitaminas do complexo B são altamente concentradas no fígado sendo armazenadas na forma de coenzimas. Portanto, a doença hepática em cães pode resultar em deficiências de vitaminas estocadas no fígado tais como as vitaminas do complexo B.

Durante a regeneração dos hepatócitos há uma exigência crescente dessas vitaminas podendo ser observada deficiência em alguns casos (CENTER SA et al.; 2002).

Evitar o acúmulo de cobre e combate aos radicais livres

O cobre é absorvido pela ligação com as proteínas do fígado. Essa capacidade de armazenamento é, contudo, limitada, e o excesso de cobre é eliminado pela bile. Concentrações anormais podem ocorrer a partir de um defeito no metabolismo do cobre, relatado em determinadas raças, como citado acima, ou, secundariamente, como resultado da crônica doença hepática que cause colestase. Níveis de cobre anormais podem danificar hepatócitos (ELIAS; 2015).

Em cães com doença hepática crônica ou caquexia, o cobre apresenta um alto nível de toxicidade quando não está ligado às proteínas. Na presença de íons superóxido, o cobre catalisa a formação de radicais hidroxila (uma forma particularmente tóxica de radicais livres) que provocam a necrose dos hepatócitos. A ingestão de cobre deve ser restrita em animais com insuficiência hepática ou colestase (ELIAS; 2015).

Os radicais livres são componentes importantes das maiores formas de lesões do fígado. As concentrações anormais de ácidos biliares e acúmulo de metais pesados, tais como cobre e ferro, provocam a produção de radicais livres no fígado (CENTER SA; 1998). Já os antioxidantes permitem ao organismo combater os efeitos destruidores dos radicais livres, elementos instáveis derivados do oxigênio, produzidos constantemente pelo organismo.

Os antioxidantes dietéticos mais utilizados são a vitamina E, a vitamina C, os pigmentos carotenóides, a taurina e os polifenóis (CENTER SA; 1998).

Doenças hepáticas em cães: formas de tratamento

O suporte nutricional deve ser adaptado individualmente com base no tipo e nível de gravidade da doença hepática, tolerância às proteínas alimentares e estado nutricional (BRUNETTO et al; 2007). Além do manejo nutricional, em alguns casos é necessário associar o tratamento medicamentoso, como hepatoprotetores e, também pode ser recomendado o uso da medicina alternativa de forma complementar, como a acupuntura.

O cuidado com a alimentação visa reduzir e minimizar o trabalho hepático e também auxiliar na regeneração do órgão lesado por meio da ingestão de alimentos balanceados e superiores, com teores adequados de vitaminas, minerais, carboidratos e gordura de boa qualidade para atender todas as necessidades proteicas e calóricas do paciente.

A dieta nutricional hepática pode ser recomendada apenas durante um determinado período ou até mesmo para uso contínuo, a depender do caso. Além da avaliação clínica, exames para acompanhamento devem ser realizados para que o tratamento proposto receba os devidos ajustes.

Como orientar os tutores

A ROYAL CANIN® possui uma linha completa de alimentos, incluindo os recomendados para casos de doenças hepáticas em cães, nas versões seca e úmida, que possui o perfil nutricional ideal para atender as necessidades de cada animal e auxiliar no tratamento de pacientes com distúrbios hepáticos.

Esses alimentos são formulados com:

  • Baixo nível de cobre para minimizar o acúmulo excessivo nas células do fígado.
  • Alto teor energético na proporção ideal para reduzir a carga do trabalho digestivo.
  • Níveis equilibrados de proteínas de qualidade superior.

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Referências:

ELIAS, Camila. Qualidade nutricional de rações para cães: influência de Zn na absorção de Cu e na prevenção de doença hepática. Tese – (USP-SP) – Doutor em Ciências – Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2015. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/64/64135/tde-05072016-150743/pt-br.php. Acesso em: 03 jan. 2023.

SEGALLA, Catia Cericatto et al. Intoxicação por medicamento humano em cão: relato de caso. 2019. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/cic/anais/anais-2019/. Acesso em: 03 jan. 2023.

CENTER, Sharon A. Nutritional support for dogs and cats with hepatobiliary disease. Journal of Nutrition. v. 128, n. 12, p. 2733-2746, 1998. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9868254/. Acesso em: 03 jan. 2023.

CENTER, Sharon A. et al. Liver glutathione concentrations in dogs and cats with naturally occurring liver disease. American Journal Veterinary Research. v. 63, n. 8, p. 1187-1197, 2002. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12171175/. Acesso em: 03 jan. 2023.

BRUNETTO, Márcio Antonio et al. Manejo Nutricional nas doenças hepáticas. Acta Scientiae Veteriariae. v. 35, n. 2, p. 233-235, 2007. Disponível em: https://www.ufrgs.br/actavet/35-suple-2/035-s2.htm. Acesso em: 03 jan. 2023.

GOMES, Rute Marlene Silva Gomes. Implicação da obesidade na saúde canina e estratégias terapêuticas. Monografia – Mestre em Ciências Farmacêuticas. Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2020. Disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/93009/1/Documento%20%C3%BAnico%20Rute%20Marlene%20Silva%20Gomes.pdf. Acesso em: 04 jan. 2023.