Gastrite e úlceras em gatos: quais as principais causas e como tratar

Gastrite e úlceras em gatos: quais as principais causas e como tratar

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Quadros de gastrite e úlceras podem ser primários ou secundários a outras alterações clínicas em gatos. Saiba mais sobre os diagnóstico e os tratamento dessas afecções

O estômago do gato é bastante semelhante ao de outros mamíferos, sendo um órgão glandular único. Contudo, a região pilórica do estômago felino é mais estreita e apresenta maior resistência, mantendo uma vedação maior do órgão. Ainda, o tempo de esvaziamento normal do estômago felino é menor que o de outras espécies de mamíferos, variando entre 1,4 a 3,6 horas.

Problemas gastrintestinais frequentemente afetam o estômago de gatos, sendo gastrite e úlceras as suas manifestações mais comuns. Contudo, tais manifestações não remetem a uma causa específica, e a investigação clínica é necessária para determinar o diagnóstico da afecção e o melhor tratamento a ser instituído, conforme será explicado a seguir.

Gastrite em gatos

A mucosa gastrintestinal é continuamente exposta a toxinas nocivas, patógenos e medicamentos, acarretando no desenvolvimento de lesões inflamatórias, erosivas e até ulcerativas.

O termo “gastrite” se refere a inflamação do estômago que causa vômito e dor. Ela pode ser de natureza aguda ou crônica, e diferenciá-la é importante para determinar a sua causa de base e, assim, direcionar o tratamento adequadamente. Por essa razão, uma anamnese detalhada e um exame físico minucioso são fundamentais para o diagnóstico de gastrite em gatos.

Principais causas e sinais clínicos

Os quadros agudos de gastrite em gatos tem como principais causas:

  • ingestão de corpo estranho (em gatos, a causa mais comum é a formação de bolas de pelos ou tricobenzoares);
  • exposição à plantas tóxicas;
  • ingestão de medicamentos (como por exemplo: antibióticos, anti-inflamatórios não-esteroidais, quimioterápicos, corticosteroides);
  • contato com toxinas,
  • indiscrição alimentar / ingestão de alimentos inadequados.

Já em quadros crônicos de gastrite, suspeita-se de:

  • parasitismo;
  • infecção por Helicobacter spp.;
  • hipersensibilidade ou intolerância alimentar;
  • gastrite linfocítica-plasmocítica de etiologia desconhecida;
  • processos neoplásicos.

Ainda podem ocorrer quadros gastrite secundários a outras doenças sistêmicas, tais como doença inflamatória intestinal, doença renal crônica e pancreatite, por exemplo.

Em relação aos sinais, o vômito é considerado o principal deles em casos de doença estomacal, mas não constitui num diagnóstico por si só, uma vez que está presente em diversas afecções do organismo. Além do vômito, os problemas gástricos em gatos geralmente vêm acompanhados dos seguintes sinais clínicos:

  • desidratação;
  • febre (quadros agudos);
  • dor abdominal;
  • letargia e depressão;
  • hiporexia ou anorexia;
  • diarreia (quadros agudos);
  • emagrecimento (quadros crônicos).

Formas de diagnóstico para gastrites

Gatos com quadros agudos de vômito podem apresentar uma causa diagnóstica óbvia (por exemplo, indiscrição alimentar/ ingestão de alimentos inadequados) mas, em muitos casos, a causa não é aparente. Caso o quadro do paciente esteja estável, outros exames podem ser adiados conforme a resposta terapêutica sintomática que, em quadros agudos, deve ser resolvida em 24-48 horas. Quando há suspeita de ingestão de corpo estranho, é indicada a realização de radiografias.

Quadros de gastrite crônica exigem uma investigação mais ampla e aprofundada, com o auxílio de exames laboratoriais e de imagem conforme a suspeita clínica. Podem ser solicitados exames de sangue, de urina, coproparasitológico, além de ultrassom abdominal e endoscopia com realização de biópsia, conforme suspeitas mais específicas.

Tratamento de gastrite em felinos

O tratamento do gato com gastrite deve ser adaptado conforme o diagnóstico da causa de base sempre que possível. Muitas vezes, o tratamento sintomático de suporte é instituído até que mais exames sejam realizados e aproximem ou afastem determinadas suspeitas diagnósticas.

O manejo da gastrite aguda requer a eliminação da causa predisponente e a instituição de uma terapia de suporte que melhore a defesa da mucosa gástrica. O uso de antieméticos, antiácidos e agentes protetores de mucosa (como o sucralfato) são recomendados. A fluidoterapia é instituída visando manter a perfusão da mucosa e para prevenir/corrigir a desidratação. Conforme o resultado dos exames, pode ser feita a suplementação de potássio (TAMS, 2003; LITTLE, 2012).

Quadros de gastrite crônica são manejados inicialmente com as medicações utilizadas para quadros agudos, com o acréscimo de determinados remédios conforme o diagnóstico da causa de base. Casos de gastrite associada à Helicobater spp. requerem uso de antibióticos. Para casos de alergias e intolerâncias alimentares, usa-se dietas específicas. A indicação de corticoides em associação ou não a medicamentos imunossupressores é feito em casos bastante específicos (TAMS, 2003; LITTLE, 2012).

Úlceras Gastrointestinais em gatos

As úlceras gástricas ou gastroduodenais são raras em gatos quando comparadas aos cães, e podem ser causadas por diferentes alterações, tanto gástricas quanto em outros órgãos.

Principais causas e sinais clínicos

As causas de ulcerações em gatos ainda não estão bem caracterizadas. Em cães, a causa mais comum é a administração de medicações ulcerogênicas, como os anti-inflamatórios não esteroidais. Alguns relatos de úlceras e perfurações em gatos por estas medicações já foram descritos.

Algumas neoplasias podem causar úlceras gástricas em gatos, além da doença renal crônica. Causas mais raras incluem doença hepática, procedimentos anestésicos e cirúrgicos, parasitoses, infecções bacterianas, ingestão de corpos estranhos e doença inflamatória intestinal.

Gatos com ulceração gastrointestinal podem não apresentar sinais e desenvolver sangramento súbito. Em outros casos, eles podem ter um histórico que inclui vômitos e desconforto abdominal, apenas. Alguns dos sinais clínicos são semelhantes aos de gatos com gastrite, mas existem algumas variações, conforme descrito a seguir:

  • vômito;
  • hematêmese;
  • melena;
  • dor abdominal;
  • anorexia;
  • letargia;
  • palidez de mucosas;
  • salivação.

Formas de diagnóstico de úlceras

A inspeção da cavidade oral pode revelar a presença de úlceras orais. Essas são frequentes em gatos com doença renal crônica e contribuem significativamente com a anorexia, também comum em animais com essa condição. Exames complementares como hemograma completo, exames bioquímicos, ultrassonografia e radiografia abdominal são essenciais para a realização do diagnóstico e acompanhamento do caso.

Contudo, o diagnóstico definitivo de úlceras no trato gastrintestinal é obtido por meio de endoscopia e biópsia do estômago e intestino, visando descartar a presença de células neoplásicas e/ou detectar o agente causador da lesão.

Tratamento de úlceras gastrointestinais em felinos

O tratamento tem como objetivo eliminar a causa primária e amenizar os sinais clínicos. Em casos de úlceras gastrointestinais associadas à hemorragia, choque ou infecção abdominal, cuidados intensivos são necessários para estabilizar o animal.

A terapêutica convencional para as ulcerações no trato gastrintestinal é a administração de medicamentos que diminuam a acidez do estômago, reduzindo a secreção de ácido pelo organismo ou neutralizando o ácido do estômago (antiácidos). Além disso, fármacos antieméticos e antibióticos podem ser indicados em casos de vômito e infecção, respectivamente. Em quadros agudos mais graves de hemorragia incontrolada ou de suspeita de perfuração, o tratamento cirúrgico pode ser necessário (TAMS, 2003; LITTLE, 2012).

Manejo alimentar do paciente

Tanto nos casos de úlceras quanto nos de gastrite, o suporte nutricional deve fazer parte da terapêutica para atingir o sucesso do tratamento e promover o bem-estar do paciente.

Contudo, ao pensar na dieta para gastrite e úlcera, a ingestão oral deve ser suspensa até que o vômito seja controlado, e a administração de nutrição parenteral ou enteral deve ser realizada em pacientes com escore corporal ruim. Recomenda-se que a alimentação por via oral seja reiniciada de 6 a 12 horas após a suspensão dos vômitos.

O manejo nutricional para esses casos deve ter como base um alimento completo e balanceado de alta digestibilidade e com elevada concentração energética, para que não ocorra sobrecarga gástrica. A quantidade total de alimento deve ser fracionada em pelo menos 4 a 6 refeições, para que o gato não passe tantas horas sem se alimentar.

A ROYAL CANIN® conta com alimentos da linha GASTROINTESTINAL FELINE S/O nas versões seca e úmida altamente palatáveis, que podem ser utilizados para estimular a alimentação voluntária.

alimentos para gatos com afecções gastrointestinais

Caso isso não aconteça, o Médico-Veterinário deve iniciar a alimentação assistida de acordo com o quadro específico. Nestes casos, o alimento RECOVERY da ROYAL CANIN® pode ser utilizado via sonda. É importante ressaltar que o retorno da ingestão alimentar deve ser realizado assim que possível, visando minimizar a chance de ocorrência de um quadro de lipidose hepática.

Como evitar a gastrite e as úlceras gastrointestinais em gatos

Os quadros de gastrite e de ulcerações gástricas relacionados à ingestão de substâncias tóxicas, de plantas tóxicas, de medicamentos que potencialmente lesionam a mucosa gástrica e de corpos estranhos podem ser evitados pela a orientação correta dos tutores.

Já quadros de gastrite crônica são geralmente mais silenciosos, tornando os checkups de rotina fundamentais a fim de diagnosticar potenciais causas de base rapidamente, e instituir um correto manejo das mesmas.

Referências bibliográficas

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HUNTER, T.; WARD, E. Gastritis in Cats. Disponível em: https://vcahospitals.com/know-your-pet/gastritis-in-cats. Acessado em: 31/08/2020.

LITTLE, S. The Cat – Clinical Medicine and Management. St. Louis: Elsevier Saunders. p. 452-458.

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TAMS, T. R. Handbook of Small Animal Gastroenterology. 2. ed. St Louis: Saunders, 2003. p. 274-279.

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