Mutação do gene MDR1 em cães: saiba quais raças podem ser afetadas!

Mutação do gene MDR1 em cães: saiba quais raças podem ser afetadas!

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O gene MDR1 codifica a glicoproteína P, um transportador de medicamentos que desempenha um papel fundamental na disposição dos medicamentos. Sendo assim, quando esse gene sofre mutação, a sua função deixa de ser realizada da maneira esperada, exigindo atenção por parte do médico-veterinário para evitar os problemas que isso pode gerar. 

Tendo em mente que há algumas raças que conhecidamente têm mutação do gene mdr1, fique por dentro de quais são elas e como evitar as complicações que podem acompanhá-lo.  

O que é a mutação do gene MDR1? 

O gene MDR1, também conhecido como gene ABCB1, está localizado no cromossomo 14 de cães e é responsável pela codificação de uma glicoproteína-p transportadora transmembrana. A glicoproteína P está distribuída por diferentes tecidos e barreiras fisiológicas, e é relacionada a funções de absorção, metabolização, distribuição e excreção de toxinas celulares.  

Em cães que não possuem a mutação do gene MDR1, a glicoproteína P funciona como uma bomba, movimentando compostos pelo organismo – seja removendo compostos potencialmente tóxicos para fora do sistema nervoso central (SNC) ou transportando medicamentos através das membranas celulares e fora do corpo (Figura 1).  

Isso ocorre ao nível dos canalículos biliares, das células epiteliais intestinais e das células epiteliais tubulares proximais renais.  

Figura 1: Diagrama da ação da glicoproteina-P na absorção de medicamentos. A glicoproteína P (mostrada em vermelho) é um transportador de efluxo acionado por ATP que bombeia seus substratos para fora da célula (Geyer & Janko, 2011).

Quando ocorre a mutação do gene MDR1, no entanto, a glicoproteína P a ser codificada está deformada, o que a torna ineficaz. Dessa forma, os substratos para a glicoproteína P – incluindo muitos medicamentos comuns -, permanecem no SNC em níveis tóxicos ou são metabolizados e excretados incorretamente, representando riscos significativos para o animal.  

Como saber se o paciente possui deficiência no gene MDR1 

O diagnóstico da mutação do gene MDR1 é realizado através de testes genéticos, feitos por meio de diagnóstico molecular – PCR. Para a definição de um diagnóstico molecular o médico-veterinário pode coletar amostra de sangue com EDTA e/ou swab de mucosa oral. 

Além da técnica convencional para a detecção de cães portadores da mutação no gene MDR1, feita por PCR, há também o exame Western Blotting e o uso de microssatélites. 

Apesar de existirem exames diagnósticos, a identificação inicial dessa mutação geralmente ocorre em cães jovens, após terem uma reação adversa a algum medicamento específico. 

5 raças que podem ter mutação no gene MDR1 

  1. Border Collie

A raça Border Collie possui alta popularidade no Brasil, e esse cão é considerado um dos melhores pastores do mundo.  

É um cão de porte médio, com média de 13,5 – 25 kg e têm pelagem que varia de curta a média, com coloração que varia entre preto e branco, vermelho e branco e, às vezes, com marcas douradas. 

O Border Collie possui predisposição ao desenvolvimento de doenças genéticas, sendo a maioria delas de herança autossômica recessiva. As principais doenças testadas para a raça no Brasil são: 

  • mutação de multirresistência a drogas – mutação do gene MDR1; 
  • anomalia do olho do Collie; 
  • mielopatia degenerativa;  
  • glaucoma. 
  1. Pastor Australiano

Apesar do nome, o Pastor Australiano foi selecionado, inicialmente, por fazendeiros dos Estados Unidos – sendo uma raça considerada estadunidense. É um cão inteligente e de trabalho, com fortes instintos de pastoreio e guarda. 

Com porte médio, os cães da raça pesam entre 20 e 25 kg, em média, sendo extremamente ativos, resistentes, rápidos, e capazes de correr até 60 km por dia. 

Apesar de ser considerada saudável, existem vários alelos de doenças hereditárias no Pastor Australiano, incluindo: 

  • mutação de multirresistência a drogas – mutação do gene MDR1; 
  • anomalia do olho collie; 
  • retinopatia multifocal canino tipo 1; 
  • catarata hereditária; 
  • degeneração progressiva de cone e bastonete;  
  • mielopatia degenerativa. 
  1. Pastor de Shetland

O Pastor de Shetland é um cão de porte pequeno, que pesa entre 6,8 e 11 kg, em média, e possui um corpo harmonioso com pelagem abundante e longa.  

A raça pode apresentar uma série de doenças de fundo hereditário, incluindo as seguintes: 

  • mutação de multirresistência a drogas – mutação do gene MDR1; 
  • anomalia do olho collie; 
  • doença de Von Willebrand; 
  • displasia coxofemoral; 
  • dermatomiosite. 
  1. Pastor Suíço

O Pastor Suíço é um cão de grande porte, com corpo imponente e musculoso e temperamento equilibrado, atento e vigilante. O macho pesa entre 30 e 40 kg, em média, enquanto a fêmea tem peso médio entre 25 e 35 kg. 

Os cães da raça gostam de ação e têm boa capacidade de treinamento, além de serem amigáveis e discretos. Dentre as doenças genéticas que o Pastor Suíço possui predisposição, estão:  

  • mutação de multirresistência a drogas – mutação do gene MDR1; 
  • mielopatia degenerativa; 
  • displasia coxofemoral; 
  • displasia de cotovelo; 
  • doença de Von Willebrand; 
  • hemofilia A. 
  1. Pastor Alemão

O Pastor Alemão é uma das raças mais populares no mundo e do Brasil, sendo muito utilizado como cão de trabalho para guarda, auxílio policial e pastoreio de animais.  

Dono de um porte grande, o macho pesa entre 30 e 40 kg, enquanto a fêmea pesa de 22 a 32 kg, em média. Inteligente, ágil e com grande capacidade de aprendizado, o Pastor Alemão destaca, entre suas predisposições: 

  • mutação de multirresistência a drogas – mutação do gene MDR1; 
  • atrofia acinar pancreática; 
  • displasia coxofemoral; 
  • displasia de cotovelo; 
  • doença de Von Willebrand; 
  • hemofilia A. 

Outras raças predispostas à mutação do gene MDR1 

Além das raças citadas, outros nomes menos populares também fazem parte da lista dos cães que também possuem predisposição a mutação do gene MDR1, incluindo: 

  • Pastor Americano 
  • Whippet de pelo longo  
  • Old English Sheepdog  
  • Silken Windhounds 

Nos casos em que o cão é mestiço, cabe ao médico-veterinário também orientar o tutor em relação à mutação do gene MDR1; para que ele possa compartilhar essa importante informação em qualquer tipo de atendimento médico que o pet possa precisar. 

Quais medicamentos devem ser evitados em pacientes com mutação do gene MDR1? 

A glicoproteína P, afetada na mutação do gene MDR1, atua no controle da absorção, metabolização, distribuição de uma série de fármacos e excreção de diferentes fármacos. Sendo assim, alguns medicamentos podem causar toxicidade grave em animais que tenham a mutação do gene MDR1. 

E enquanto alguns medicamentos podem causar toxicidade se administrados em altas dosagens, outros não precisam de dosagens altas para que representem um risco para o animal. Além disso, certos medicamentos, quando usados em combinação, também podem aumentar a concentração total de medicamentos individuais e apresentar maior risco de reação adversa – como cetoconazol, ciclosporina e espinosad.  

Medicamentos potencialmente contraindicados 

Dentre os medicamentos potencialmente contraindicados para o cão que carrega a mutação do gene MDR1, podemos citar: 

  • acepromazina; 
  • apomorfina; 
  • butorfanol; 
  • ciclosporina; 
  • doxorrubicina; 
  • emodepside; 
  • grapiprante; 
  • ivermectina; 
  • loperamida; 
  • maropitant; 
  • milbemicina oxima; 
  • moxidectina; 
  • selamectina; 
  • vincristina. 

Medicamentos que devem ser usados com cautela 

Apesar de carregar o gene mutado MDR1, alguns medicamentos podem ser utilizados com cautela, incluindo os nomes da relação a seguir:   

  • digoxina; 
  • doxiciclina; 
  • morfina; 
  • buprenorfina; 
  • fentanil. 

Além da mutação genética: a importância do manejo nutricional em todas as fases da vida! 

O médico-veterinário deve conversar com tutores de cães de raças mestiças e dos que possuem predisposição para a mutação do gene MDR1, orientando-os sobre os cuidados necessários no momento da escolha de medicações. 

Além da orientação em relação ao cuidado na seleção dos medicamentos, o médico-veterinário também deve relembrar os tutores sobre a importância de um manejo nutricional adequado, completo e balanceado para seus pacientes.  

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Referências Bibliográficas 

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