Glândula Adanal: saiba como prevenir e tratar a inflamação, proporcionando maior bem-estar ao pet

Glândula Adanal: saiba como prevenir e tratar a inflamação, proporcionando maior bem-estar ao pet

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A inflamação da glândula adanal é uma condição que gera desconforto, comumente diagnosticada em cães, com possibilidade de gerar complicações. Saiba como tratar!

Entre as diversas condições que podem afetar o bem-estar dos nossos pacientes, a inflamação da glândula adanal destaca-se como um problema frequentemente presente na rotina médica-veterinária. Comumente diagnosticada em cães, essa enfermidade pode levar a complicações caso não seja tratada adequadamente.

Neste contexto, é essencial compreender a natureza da glândula adanal, também denominada de saco anal, sua função, e as razões por trás de seu acometimento – como a inflamação -, a fim de detectar precocemente o problema e promover o seu tratamento eficaz.

O que é a Glândula Adanal e qual a sua função?

A glândula adanal, também conhecida como saco anal, consiste em uma invaginação da pele conectada por um pequeno ducto à região na qual ocorre a junção da mucosa anal com a pele.

Possui um tamanho entre 4 e 15mm (TOMA, SCARFF, 2015) e está presente bilateralmente, de forma simétrica, entre os músculos esfíncter anal externo e interno de animais carnívoros, como cães e gatos.

Glândula adanal
Figura 1: As glândulas adanais estão localizadas na junção ano-cutânea em posição de aproximadamente 4 e 8 horas. Fonte: RAGNI, 2012.

Sua função principal é facilitar o reconhecimento social entre os animais por meio de odores específicos liberados através da secreção glandular, que é o material secretado pelas glândulas apócrinas e sebáceas que fazem parte do revestimento epitelial da glândula adanal.

Essa secreção possui as seguintes características: odor forte e desagradável, consistência líquida a viscosa, e coloração amarelo-palha.

Assim, a cor e a consistência da secreção da glândula adanal podem variar, indicando, inclusive, a presença de uma inflamação.

Por que ocorre a inflamação da Glândula Adanal nos cães?

A inflamação da glândula adanal ocorre como resultado de uma dificuldade na liberação passiva da secreção glandular que ocorreria durante a defecação. Essa retenção pode ser decorrente de:

  • mudança na quantidade e/ou na consistência do exsudato produzido pelas glândulas apócrinas e sebáceas presentes em seu epitélio;
  • obstrução/estenose dos ductos excretores;
  • ou disfunção do nervo pudendo com consequente distúrbio do esfíncter externo.

Isso leva à impactação dessa substância no saco anal, desencadeando uma inflamação. Além disso, pode ocorrer infecção bacteriana secundária devido à posição anatômica da glândula e sua comunicação com a região do ânus, mas também devido ao hábito de lambedura dos animais.

Alguns pacientes apresentam frequentes recidivas, caracterizando uma inflamação crônica que pode estar relacionada à (BEYNEN, 2019):

  • manejo inadequado (constante esvaziamento forçado da secreção glandular);
  • nutrição (constipação intestinal pode dificultar o esvaziamento natural da glândula);
  • infecções tratadas ineficazmente;
  • alterações endócrinas;
  • processos alérgicos;
  • distúrbios comportamentais;
  • causas idiopáticas.

Vale ressaltar que a inflamação da glândula adanal também pode ser decorrente de um processo neoplásico, que geralmente é incomum em cães e gatos.

Daí a importância em se atentar para a idade do paciente (já que esses tumores são mais comuns em animais mais velhos), assim como realizar anamnese detalhada, buscando evidenciar a evolução dos sinais clínicos.

Os gatos também podem apresentar inflamação da glândula adanal?

A inflamação da glândula adanal também pode acometer gatos, porém é muito menos frequente do que nos cães, já que os animais dessa espécie dificilmente retêm o conteúdo produzido pelos sacos anais.

Os sinais clínicos podem não ser tão evidentes quanto nos caninos, mas é importante estar atento a comportamentos atípicos que podem indicar irritação na região anal.

Como a inflamação pode ser identificada?

O paciente que apresenta alguma afecção na glândula adanal pode apresentar tenesmo, constipação, desconforto perineal (dor/prurido) e inchaço na região do ânus.

Muitas vezes, o tutor relata que o animal está apresentando o comportamento de arrastar o bumbum no chão e/ou lamber excessivamente a região. Em alguns casos, devido ao processo doloroso, o paciente pode apresentar hiporexia/anorexia e prostração.

Diante dessa queixa, o médico-veterinário realizará exame físico detalhado, evidenciando qualquer alteração na região anal, que pode incluir:

  • pirexia;
  • sensibilidade à palpação;
  • edema/eritema ao redor da região do saco anal;
  • aumento de volume;
  • lesões.

Além disso, o profissional deve extrair – sutilmente, se possível -, o conteúdo glandular, pressionando manualmente a região da glândula adanal, com o intuito de verificar alterações de cor e consistência da secreção glandular.

Assim, pode-se evidenciar mudanças no aspecto do exsudato glandular, que passa a ser espesso, pastoso, de coloração acastanhada ou castanho-acinzentada, e até mesmo tornar-se hemorrágico ou purulento.

Dessa forma, evidencia-se, clinicamente, o diagnóstico da inflamação da glândula adanal.

Um exame citológico pode ser necessário para elucidar qual microrganismo patogênico possa estar relacionado à inflamação da glândula adanal.

Também é importante considerar uma lista de afecções que devem constar no diagnóstico diferencial, assim como:

  • reação adversa alimentar;
  • dermatite atópica;
  • DAPE;
  • verminoses;
  • intertrigo;
  • dermatite por Malassezia;
  • pioderma;
  • neoplasia.

Possíveis complicações

A inflamação não tratada precocemente pode levar a complicações, incluindo abscessos e fístulas. As secreções e lesões cutâneas podem atrair moscas e, consequentemente, ocasionar o depósito de larvas que irão desenvolver uma míiase.

Por isso, é importante que a palpação retal seja instituída na rotina, durante o exame físico completo do médico-veterinário, ou ainda que o paciente seja submetido à avaliação veterinária assim que detectado sinais de incômodo na região anal, possibilitando a instituição do tratamento mais adequado rapidamente, evitando o agravamento do quadro.

Casos que já apresentem lesões cutâneas podem exigir que, além do tratamento convencional que veremos a seguir, seja adicionado o uso de produtos tópicos repelentes.

Como é feito o tratamento da inflamação da glândula adanal

A abordagem terapêutica pode variar de acordo com a gravidade e cronicidade do caso. Geralmente, o tratamento é realizado através de método conservativo, que consiste no esvaziamento manual do saco anal, com posterior prescrição de compressas/duchas mornas em conjunto com o uso de pomadas/cremes que contenham agentes anti-inflamatórios, antibióticos e antifúngicos.

Outros casos podem requerer a administração de medicamentos sistêmicos, como analgésicos e anti-inflamatórios. A antibioticoterapia sistêmica pode ser necessária em casos nos quais se observa a produção de exsudato purulento e abscedação da glândula adanal. Porém, lembre-se que antibióticos sistêmicos devem ser usados criteriosamente, a fim de evitar problemas com resistência bacteriana.

Um estudo realizado por Lundberg et.al. (2022) concluiu que o tratamento local com a lavagem do saco anal seguida de infusão, por meio de cateter, com pomada comercial contendo corticosteroide, antibiótico e antifúngico, realizado em média a cada 17 dias por 3 vezes, é eficaz para solucionar a inflamação da glândula adanal.

Quando a terapia medicamentosa não é eficaz, em casos de neoplasias ou em casos que apresentem recidivas frequentes, é indicada a excisão cirúrgica dos sacos anais (saculectomia), que pode ser realizada através das técnicas de remoção aberta ou fechada.

Referências bibliográficas

BEYNEN, A.C. Diet and anal-sac impactation in dogs. Dier‐en‐Arts, n.12, p.312-313, 2019. Acesso em: 19 dezembro 2023.

CURTI, F. et.al. Considerações clínicas e cirúrgicas das principais afecções dos sacos anais em cães: Revisão de literatura. V&Z em Minas, ano XXI, n.113, p.30-34, 2012.

JAMES, D.J.; GRIFFIN, C.E.; POLISSAR, N.L.; NERADILEK, M.B. Comparison of anal sac cytological findings and behaviour in clinically normal dogs and those affected with anal sac disease. Veterinary Dermatology, v.22, i.1, p.80-87, 2010. Acesso em: 19 dezembro 2023.

LUNDBERG, A.; KOCH, S.N.; TORRES, S.M.F. Local treatment for canine anal sacculitis: A retrospective study of 33 dogs. Veterinary Dermatology, v.33, i.5, p.426-434, 2022. Acesso em: 19 dezembro 2023.

RAGNI, R.A. Anal sac disease and its surgical treatment. Companion Animal, v.17, 2012. Acesso em: 19 dezembro 2023.

TOMA, S.; SCARFF, D.H. An approach to anal sac disease. In: JACKSON, H; MARSELLA, R. BSAVA Manual of Canine and Feline Dermatology. 3 ed., p. 126-129, 2015.