Resistência bacteriana: um alerta importante ao uso de antibióticos!

Resistência bacteriana: um alerta importante ao uso de antibióticos!

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A resistência bacteriana é um problema de saúde pública capaz de causar grandes impactos na vida de pessoas e animais. Saiba como evitar o problema.  

Os antimicrobianos são comumente prescritos para tratar doenças infecciosas causadas. São compostos que podem ser naturais ou sintéticos com ação bactericida (matam as bactérias) ou bacteriostática (inibe o crescimento) resultando na morte dos microrganismos (Ferreira, et.al., 2020).  

O que é resistência bacteriana e como ocorre?  

A resistência bacteriana ocorre quando as bactérias são capazes de sobreviver e se manter no hospedeiro após a administração de antimicrobianos para tratamento. A resistência bacteriana pode ocorrer nas situações em que há (Weese, et.al., 2015; AVMA, 2020): 

  • uso de antibiótico por período maior ou menor que o necessário; 
  • subdosagem; 
  • uso de antibiótico ineficaz para a bactéria em questão (por exemplo, quando é feito o tratamento de bactéria gram positiva com prescrição específica para bactérias gram negativas); 
  • uso de antibiótico em quadros de infecções virais ou fúngicas. 

Um alerta para a saúde pública: resistência bacteriana na medicina humana  

O benefício que agentes antimicrobianos proporcionam é comprometido pelo rápido surgimento e disseminação de bactérias resistentes, ocasionando a perda de sua eficácia. A resistência bacteriana é um importante problema de saúde que se espalha rapidamente por todo o mundo, pois afeta a saúde animal, humana e o meio ambiente – podendo ser vista como uma questão de saúde única (OIE, 2015; Argudín, 2017).  

Os médicos-veterinários, ao prescreverem antibióticos de maneira consciente, devem considerar formas de mitigar a resistência bacteriana, ao estarem atentos aos casos em que existe risco de falha do tratamento devido a esse tipo de bactéria (AVMA, 2020).  

Embora o desenvolvimento de resistência bacteriana não seja algo novo, os desafios de saúde associados aumentaram significativamente nas últimas décadas, principalmente pela falta de desenvolvimento de novas gerações de antibióticos que possam ser utilizados quando há perda de eficácia de outros fármacos.   

Com isso, a resistência antimicrobiana tornou-se um dos maiores desafios na saúde pública de nosso tempo (AVMA, 2020). 

Como saber se uma bactéria é resistente?  

O diagnóstico de resistência bacteriana será realizado pelo médico-veterinário com base no histórico do animal, incluindo, entre outros fatores, o uso recente e sem resultados de antibiótico, a análise do resultado de exames prévios e relatos de quadros de hipertermia sem identificação de causa (Jessen et. al., 2018).  

O médico-veterinário deve solicitar exames de teste de sensibilidade antimicrobiana – o antibiograma em laboratórios de diagnóstico – a fim de identificar a resistência bacteriana. São testes que permitem a identificação da concentração do fármaco necessário para inibir o crescimento da bactéria, expressas como a concentração inibitória mínima.    

A fim de simplificar a tomada de decisão do médico-veterinário, foi desenvolvida uma série de pontos de corte, onde são considerados espécie animal-bactéria-droga para sugerir o resultado do teste como suscetível, intermediário ou resistente.   

Os principais objetivos do antibiograma são para orientar os médicos-veterinários nas suas prescrições e permitir a monitorização da resistência bacteriana (AVMA, 2020; MAPA, 2022).   

Atendi um paciente com resistência bacteriana – e agora?  

Uma vez identificado o quadro de resistência bacteriana, o médico-veterinário deve elaborar o tratamento personalizado para cada paciente. Deve-se considerar:  

  • o resultado dos exames de cultura e antibiograma; 
  • a localização e gravidade da infecção; 
  • o estado de saúde do paciente; 
  • e o perfil de resistência aos antibióticos. 

Se a infecção for fatal, tratamentos antibióticos alternativos e potencialmente arriscados podem ser considerados. Quando os antibióticos são prescritos, eles devem ser tomados na hora certa e exatamente conforme indicado pelo profissional veterinário (Jessen et. al., 2018).  

É importante lembrar que, em muitos casos, as infecções bacterianas são secundárias, como doenças dermatológicas, problemas urinários, endócrinos ou doenças fúngicas. O médico-veterinário deve, portanto, diagnosticar e tratar efetivamente a causa base desses problemas primários para garantir que as infecções bacterianas secundárias associadas possam ser tratadas com sucesso (Jessen et. al., 2018). 

Resistência bacteriana: 4 formas de evitar o problema  

O médico-veterinário, no momento da prescrição, deve ser o mais criterioso possível e prescrever antimicrobianos apenas nas situações em que a saúde ou o bem-estar do paciente possam ser comprometidos caso não ocorra o uso destes (AVMA, 2020).   

  • Realização de cultura bacteriana com antibiograma

A cultura e o antibiograma são exames complementares que permitem a identificação da bactéria causadora da infecção e a sua suscetibilidade a agentes antimicrobianos. Para a realização da cultura e o antibiograma o médico-veterinário deve enviar um swab ou amostra de tecido da área afetada para diagnóstico. A solicitação destes exames aumenta a segurança e acurácia do tratamento (Ferreira, et.al., 2020). 

  • Definição de classes de antibióticos eficazes e suficientes para o caso

Deve ser priorizada a escolha do antimicrobiano adequado, levando em consideração a sua eficácia clínica e o risco de desenvolvimento de resistência antibiótica. Os antimicrobianos estão divididos em 5 categorias com base na sua importância para a medicina humana, com o risco de desenvolvimento e disseminação de resistência de alta relevância clínica para animais e humanos (Jessen, 2018, MAPA, 2022): 

 

Categoria  Risco de desenvolvimento de resistência  Cultura e Antibiograma  Espectro do antibiótico  Utilização  Antibiótico 
Primeira  Baixo  Não realizado  Baixo  Tratamento inicial para infecções diagnosticadas ou suspeitas antes do resultado de cultura e antibiogramas   Diidroestreptomicina 

Penicilinas de espectro estreito 

Segunda  Limitado  Realizado  Pouco mais amplo   Alta relevância tanto para animais de companhia quanto para humanos  Amino penicilinas Sulfonamidas com Trimetoprima, Tetraciclinas.  

 

Terceira  Podem estimular a seleção de bactérias multirresistentes 

 

1ª, 2ª categorias não são indicadas 

 

Moderado  Sinais clínicos do paciente e resultado antibiograma  Cefalosporinas de 1ª geração Amoxicilina/clavulanato 
Quarta   Alto  1ª, 2ª e 3ª categoria não são indicados  Amplo  Infecções sérias com risco de óbito. Utilizar com cautela  Fluoroquinolonas, Metronidazol e Cefalosporinas 3ª geração 
Quinta  Alto  Não indicam outras opções  Amplo  Com ressalvas, sem registro como produto de uso veterinário no Brasil. 

 

Carbapenêmicos, Vancomicina  

Linezolida 

 

  • Não utilizar antibióticos sem a devida necessidade

O sucesso do tratamento é associado à conscientização dos médicos-veterinários para não realizar a prescrição de antimicrobianos sem necessidade. Em caso de escolha de prescrição, o foco é garantir o bem-estar e a sobrevivência do paciente, dependendo da seleção do antibiótico ideal de acordo com o sistema afetado (MAPA, 2022).  

Ao identificar uma infecção bacteriana, a escolha do antibiótico deve basear-se nos seguintes fatores (Poli, 2018).  

  • Prescrição para pacientes que realmente necessitam do fármaco (resista ao impulso prescrever por pressão de tutores). 
  • Recorra a coleta de amostras (lesão, corrimento, efusões, urina) para análise sob o microscópio: qual é o tipo mais provável de bactéria entre anaeróbios, Gram-positivos e Gram-negativos? 
  • Em caso de terapia empírica – inicie com o antibiótico de espectro mais estreito possível. Realize uma cultura e antibiograma sempre que possível (especialmente se um caso não responder a antibióticos de primeira linha). 
  • Evitar o uso de fluoroquinolonas, cefalosporinas de terceira e quarta geração e amicacina sem evidência de resistência por cultura e resultados de antibiograma. 
  • Utilize dosagens adequadas e certifique-se de que os tutores tenham capacidade para administrá-las adequadamente 

Orientar os tutores sobre o uso indiscriminado de medicações  

O médico-veterinário deve sempre orientar tutores em relação ao seguimento estrito do plano farmacoterapêutico prescrito, assim como a respeito do uso indiscriminado de medicações.   

Práticas como as de interromper o tratamento após o desaparecimento dos sinais clínicos, administrar sobras de medicamentos de doença prévia ou mesmo manter o tratamento por período maior que prescrito são muitas vezes comuns entre tutores, que colaboram para o desenvolvimento de resistência bacteriana (Ferreira, et.al, 2020).  

Outros pontos de alerta para manter a saúde do pet sempre em dia 

O médico-veterinário deve trabalhar para conscientizar os tutores, adotando estratégias que minimizem a necessidade do uso de antimicrobianos. A orientação e adoção de planos para garantir um manejo que mantenha a saúde do gato ou cão incluem (MAPA, 2022): 

  • higiene;  
  • biossegurança; 
  • controle de infecções; 
  • nutrição adequada a idade, porte e/ou raça; 
  • e programas de vacinação atualizados pela melhor evidência científica. 

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Referências Bibliográficas  

American Veterinary Medicine Association. AVMA/Committee on Antimicrobials Antimicrobial Resistant Pathogens Affecting Animal Health in the United State. 2020. Disponível em: https://www.avma.org/sites/default/files/2020-10/AntimicrobialResistanceFullReport.pdf. Acesso em: 02/06/2023 

Argudín, M. A., Deplano, A., Meghraoui, A.,  Dodémont, M., Heinrichs, A., Denis, O., Nonhoff, C., Roisin,. S. Bacteria from Animals as a Pool of Antimicrobial Resistance Genes. Antibiotics v.6, n.12, 2017. Disponível em: https://www.mdpi.com/2079-6382/6/2/12 Acesso em: 02/06/2023  

Ferreira, J. P. A., Santos, A. S., Fonseca, B. C. O., Martins, M. R.,  Zorzin, L.C., Martins, A. F., Cunha, P. H. J., Lopes, A. F., Dewulf, N. L. S. Guia Farmacoterapêutico do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, 2020 Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/277/o/Guia_Farmacoterapeutico_HV_EVZ_UFG.pdf Acesso em: 03/06/2023.  

Jessen, L., Damborg, P., Spohr, A., Goericke-Pesch, S., Langhorn, R., Houser, G., Willesen, J.,  Schjaerff, M., Søerensen, T., Eriksen, T., Obling, F., Guardabassi, L. Antibiotic Use Guidelines for Companion Animal Practice,  2nd edition, 2018. Disponível em: https://www.ddd.dk/media/2175/assembled_final.pdf Acesso em: 02/06/2023.  

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Guia de Uso Racional de Antimicrobianos Para Cães e Gatos, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/resistencia-aos-antimicrobianos/publicacoes/livroantimicrobianosv22.pdf Acesso em: 02/06/2023.  

Organização Mundial de Saúde Animal – OIE, Antimicrobial Resistance, 2015 Disponível em: https://rr-africa.woah.org/wp-content/uploads/2019/09/antibio_en.pdf Acesso: 02/06/2023.  

Poli, G. Systemic antibiotics – a brief guide for new grads, 2018. Disponível em: https://www.vettimes.co.uk/systemic-antibiotics-a-brief-guide-for-new-grads/ Acesso em: 02/06/2023.  

Weese, J. S., Giguère, S., Guardabassi, L., Morley, P. S., Papich, M., Ricciuto, D. R., & Sykes, J. E. ACVIM consensus statement on therapeutic antimicrobial use in animals and antimicrobial resistance. Journal of veterinary internal medicine, v.29 n.2, p. 487–498, 2015. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25783842/ Acesso em 03/06/2023.