Tríade neonatal em filhotes de cães e gatos: do diagnóstico ao tratamento

Tríade neonatal em filhotes de cães e gatos: do diagnóstico ao tratamento

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O período neonatal em gatos e cães corresponde às quatro primeiras semanas de vida e pode representar um grande desafio para Médicos-Veterinários. Saiba mais! 

Existe uma grande variedade de fatores que afetam a saúde de uma ninhada. O manejo e os cuidados maternos e neonatais são essenciais e podem influenciar diretamente a viabilidade dos neonatos. A fase neonatal em gatos e cães corresponde às quatro primeiras semanas de vida, período que requer atenção adequada, tanto do tutor quanto do Médico-Veterinário (Vannucchi & Abreu, 2017, Pereira et.al., 2022).  

É um período que mundialmente apresenta elevadas taxas de morbidade e mortalidade, variando de 5,7% a 35% em cães e de 14% a 16% em gatos. Com isso em mente, é importante o Médico-Veterinário estar atualizado sobre a neonatologia de pequenos animais para instruir tutores e criadores, prestando assistência neonatal adequada (Pereira et.al., 2022). 

O que é a tríade neonatal? 

As principais características que tornam os neonatos mais vulneráveis às enfermidades estão relacionadas à imaturidade imunológica, à termorregulação deficiente e ao risco de desidratação e hipoglicemia. Juntas, essas condições caracterizam a tríade neonatal (Vannucchi & Abreu, 2017).  

É essencial que o Médico-Veterinário entenda as particularidades fisiológicas que os neonatos apresentam para identificar precocemente alterações que permitam uma intervenção imediata nas intercorrências, o que garante a sobrevivência do filhote (Pereira et. al., 2022). 

Por que representa um risco à saúde dos filhotes? 

A tríade neonatal é uma das principais condições que podem ocorrer no início da vida do filhote, comprometendo sua saúde e desencadeando efeitos na imunidade, capacidade de alimentação e digestão – sendo capaz de levar ao óbito rapidamente (Vezzali et.al., 2021).  

A incapacidade de gatos e cães neonatos em regular a temperatura corporal, a ausência de reserva de glicose, a capacidade mínima de gliconeogênese e o efeito da hipotermia associados à desidratação representam os maiores riscos de como a tríade neonatal pode comprometer a saúde dos filhotes (Vezzali et.al., 2021). 

Entendendo o papel da termorregulação durante a fase inicial da vida 

O sistema termorregulador não está apto no nascimento e o calor é um fator crítico para a sobrevivência neonatal, assim, o animal é incapaz de controlar a temperatura nas suas primeiras quatro semanas de vida (Lourenço e Machado, 2013; Davidson, 2022).  

A termorregulação é essencial para o neonato, já que, por ser deficiente, processos como os de hipotermia e hipertermia se desenvolvem rapidamente (Abreu & Vannucchi, 2016; Cardoso et. al., 2021). 

A amamentação propicia não somente nutrição como também representa fonte de calor, pois, quando há ingestão de leite, o metabolismo aumenta, mantendo a temperatura corpórea. De modo geral, a perda de calor no neonato ocorre com frequência devido a fatores como:  

  • maior área de superfície em relação à massa corpórea; 
  • estoques reduzidos de tecido adiposo; 
  • pobre habilidade em realizar termogênese por tremores; 
  • ausência do controle hipotalâmico necessário para a manutenção da temperatura corpórea (Casal, 2010; Lourenço e Machado, 2013). 

Como diagnosticar a tríade neonatal em cães e gatos? 

Para identificar a tríade neonatal é necessário que o Médico-Veterinário esteja familiarizado com a doença, que é composta por desidratação, hipotermia e hipoglicemia. 

O nível de hidratação de um neonato é verificado a partir da umidade da mucosa oral e da coloração da urina; sendo a mucosa de aspecto seco e a urina escura sinais característicos. A identificação de desidratação em quadros de tríade neonatal ocorre pelo uso do turgor cutâneo, e a elasticidade da pele é menos eficiente devido à pequena quantidade de gordura subcutânea presente no neonato (Wilborn, 2018, Cardoso, 2021). 

Na hipotermia apresentada na tríade neonatal a temperatura corporal está abaixo de 33°C. Neste caso, alguns sintomas podem ser evidenciados, como pele fria ao toque, flacidez muscular e bradicardia, confirmando o quadro através da medição da temperatura retal (Cardoso et. al., 2021). 

A hipoglicemia ocorre devido a um nível de glicose no sangue inferior a 30-40 mg/dL. Este valor pode ser definido através do uso de glicosímetro, sendo que um animal hipoglicêmico apresenta como sintomas a incoordenação, obnubilação, estupor, fraqueza, flacidez, coma ou crises epilépticas (Abreu & Vannucchi, 2016; Cardoso, 2021; Pereira et.al., 2022).  

Principais cuidados e tratamento para os filhotes acometidos pela tríade neonatal 

Para o tratamento da tríade neonatal o Médico-Veterinário pode adotar algumas medidas a fim de reverter o quadro e estabilizar o neonato. 

O tratamento da desidratação no quadro de tríade neonatal pode ser por via oral caso a função intestinal esteja normal, o animal não esteja hipotérmico e o reflexo de sucção esteja presente. Se não houver estabilidade, é indicada  fluidoterapia (60 a 180 mL/kg/dia) aquecida a 37ºC, por via de administração parenteral (Abreu & Vannucchi, 2016; Wilborn, 2018).  

Já em situações em que os neonatos apresentam quadros de hipotermia, devem ser reaquecidos lentamente (30 a 60 minutos) para evitar vasodilatação periférica e a desidratação. Uma fonte de calor exógena deve ser fornecida, preferencialmente na forma de uma lâmpada de aquecimento suspensa a uma distância apropriada para evitar superaquecimento e queimaduras.  

Deve-se ter atenção ao utilizar colchões aquecidos, pois podem ocasionar o risco de queimaduras, uma vez que neonatos são incapazes de se afastar de superfícies excessivamente quentes (Wilborn, 2018; Davidson, 2022). 

O tratamento imediato da hipoglicemia na tríade neonatal é essencial, com administração endovenosa ou oral de dextrose 0.1 to 0.2 mL of a 2.5% to 5.0% (25-50 mg/mL) (Abreu & Vannucchi, 2016,  Hoareau, 2021). Doses adicionais podem ser administradas, mas os níveis de glicose no sangue devem ser verificados antes da administração, devido ao risco de hiperglicemia (Abreu & Vannucchi, 2016). 

Conheça outras afecções comuns em filhotes 

Passada essa adaptação de fase entre neonato e filhote, gatos e cães estão susceptíveis a diversas patologias, infecciosas ou não, que podem afetar a sua saúde e desenvolvimento, como: 

Recomendações aos tutores dos pets 

Médicos-veterinários devem orientar tutores em relação aos cuidados com fêmeas gestantes e com neonatos, uma vez que nem sempre o parto é feito com assistência do clínico.  

O manejo correto da alimentação (amamentação adequada, hidratação, fonte de imunidade passiva) e do ambiente (temperatura, umidade e higiene adequados) podem prevenir a manifestação da tríade e garantir o desenvolvimento adequado da ninhada.  

Vale ressaltar que animais amamentados inadequadamente estão em risco, pois podem desenvolver falha no ganho de peso e, com isso, a tríade neonatal pode evoluir para óbito (Pereira et.al., 2022). 

O ganho de peso constante é o melhor parâmetro para tutores fazerem o acompanhamento em caso de uma ninhada. Deve-se orientar o tutor a registrar o peso ao nascimento e depois, durante as primeiras semanas, realizar registros duas vezes ao dia com auxílio de balanças que medem em gramas – lembrando que balanças de cozinha são ótimas para realizar este acompanhamento em casa.  

O ganho de peso constante é a indicação número um de bem-estar em neonatos. A falha em ganhar peso é frequentemente a primeira indicação de um problema e pode ser notada por tutores antes mesmo do desenvolvimento de sinais clínicos, como letargia ou inapetência (Wilborn, 2018). 

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Referências Bibliográficas 

Abreu, R. A. & Vannucchi C. Intensive care of newborn puppies.  Neonate and Pediatric Medicine. Veterinary Focus 26.1, 2016. Disponível em: https://vetfocus.royalcanin.com/en/issues/regular-issues/neonate-and-pediatric-medicine Acesso em: 13/05/2023. 

Cardoso, E. A., Santos, M.G., Pereira, J.C., Holz, T.R.F., Etechebere, M. Neonatal Triad in Dogs and Cats. Revista Ciência & Inovação. v.6, n.1, p. 47 – 50.  2021. Disponível em: https://faculdadedeamericana.com.br/ojs/index.php/Ciencia_Inovacao/article/view/591 Acesso em: 10/05/2023 

Casal, M. Management and critical care of the neonate in BSAVA Manual of Canine and Feline Reproduction and Neonatology 2. edi, p.135 – 146, 2010.  

Davidson, A. P. Management of the Neonate in Dogs and Cats. MSD MAnual – Veterinary Manual. 2022 Disponível em: https://www.msdvetmanual.com/management-and-nutrition/management-of-the-neonate/management-of-the-neonate-in-dogs-and-cats Acesso em: 13/05/2023 

Lourenço, M.L.G., Machado, L.H.A. Características do período de transição fetal-neonatal e particularidades fisiológicas do neonato canino. Rev. Bras. Reprod. Anim. v.37, n.4, p.303-308, 2013. 

Disponível em: http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/v37n4/p303-308%20(RB443).pdf Acesso em: 13/05/2023. 

Pereira, K. H. N. P., Fuchs, K. D. M., Corrêa, J. V., Chiacchio, S. B., Lourenço, M. L. G. Neonatology: Topics on Puppies and Kittens Neonatal Management to Improve Neonatal Outcome. Animals : an open access journal from MDPI v.12., n.23, 2022. Disponível em: https://www.mdpi.com/2076-2615/12/23/3426 Acesso em: 13/05/2023. 

Vannucchi C. & Abreu, R. A.Cuidados básicos e intensivos com o neonato canino. Rev. Bras. Reprod. Anim. v.41, n.1, p.151-156, 2017. Disponível em: http://www.cbra.org.br/portal/downloads/publicacoes/rbra/v41/n1/p151-156%20(RB663).pdf Acesso em: 10/05/2023 

Vezzali, B. S., Prado, A. A. F., Octaviano, J.I. Neonatologia canina:manejo e particularidades fisiologicas. PUBVET v.15, n.07, 2021. Disponível em: http://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/501 Acesso em: 10/05/2023 

Hoareau, G. L. Emergências em filhotes felinos in Vet Focus – Gatos filhotes e adultos jovens. 29.1, 2021. Disponível em: https://vetfocus.royalcanin.com/pt/cientifico/emergency-care-for-kittens Acesso em: 13/05/2023 

Wilborn, R.R. Small Animal Neonatal Health The Veterinary clinics of North America. Small animal practice, v.48, n. 4, p. 683–699, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0195561618300226?via%3Dihub Acesso em: 10/05/2023