Coprofagia canina e felina: qual a relação com a nutrição?

Coprofagia canina e felina: qual a relação com a nutrição?

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O comportamento de coprofagia, além de desagradar muitos tutores, requer tratamento adequado para prevenir parasitoses intestinais e outras afecções; conheça as principais causas e o papel da nutrição

A coprofagia é muito comum na clínica de pequenos animais, afetando principalmente os cães. Apesar de ser um quadro recorrente, seu diagnóstico e tratamento podem ser um verdadeiro desafio ao Médico-Veterinário, pois o problema pode ter diversas causas, como verminoses, deficiências digestivas, dietas inadequadas, entre outras. O hábito também pode ser comportamental sem um motivo aparente, dificultando ainda mais a sua correção.

Para o tutor, é necessário levar o pet a uma consulta veterinária para avaliar a causa primária e viabilizar o tratamento, visto que as consequências podem ser muito prejudiciais. Os animais que ingerem as próprias fezes ou as fezes de outros podem contrair infecções parasitárias e desenvolver diversas enfermidades (SILVA e PREZOTO, 2020).

Veremos a seguir mais detalhes sobre a coprofagia canina e felina, suas principais causas, formas de tratamentos e recomendações aos tutores.

O que é coprofagia?

A coprofagia é caracterizada pela ingestão das próprias fezes ou ainda dos excrementos de outros animais. Cães e gatos podem apresentar esse hábito, mas ele é visto com mais frequência em cães. Além disso, o comportamento de coprofagia é bastante relatado em cães filhotes.

A depender do caso, esse comportamento pode ser natural. Como parte dos cuidados com os recém-nascidos, por exemplo, a fêmea geralmente lambe os filhotes para estimulá-los a defecar e a urinar e ingere os excrementos para mantê-los limpos.

Entretanto, geralmente os tutores o consideram inadequado. E de fato é preciso atenção. Esse comportamento pode representar um risco caso os cuidados com a higiene não sejam tomados, pois o cão tem costume de lamber seus tutores. Há ainda o risco de o animal apresentar uma série de afecções. Sendo assim, recomendações de manejos e de higiene devem ser reforçadas.

Quais as principais causas de coprofagia?

A coprofagia em cães e gatos pode incluir uma ou mais causas, como (MEYER et al, 2014):

  • fatores genéticos e hereditários;
  • subnutrição/dieta;
  • causas comportamentais;
  • infestações parasitárias;
  • doenças que possam causar má absorção de nutrientes.

É importante identificar a causa primária da coprofagia para propor correções de manejo e o tratamento adequado caso necessário, pois os animais podem se infectar com organismos presentes nos excrementos. Isso pode resultar no surgimento de diversas doenças, como toxoplasmose, parvovirose, hepatite e diversas parasitoses intestinais (SILVA e PREZOTO, 2020).

É importante ressaltar que quando o motivo inclui causas nutricionais e/ou infecções parasitárias pode haver também prejuízos na imunidade do animal, favorecendo o surgimento de afecções secundárias. Por isso é extremamente importante identificar o motivo pelo qual o animal está exercendo tal comportamento, permitindo, assim, corrigir os manejos e recomendar uma dieta adequada.

Veja a seguir mais detalhes sobre as principais causas da coprofagia:

Coprofagia por subnutrição

As principais causas dietéticas e nutricionais de coprofagia canina e felina incluem (SILVA e PREZOTO, 2020):

  • falta de nutrientes, como a vitamina B1 e outras;
  • baixa quantidade de proteínas e gorduras no alimento;
  • alimentos de baixa qualidade nutricional;
  • alimentos com baixa palatabilidade;
  • doenças gastrointestinais podem gerar lesões nas vilosidades intestinais e demais estruturas, comprometendo a absorção de nutrientes e, consequentemente, podendo gerar quadros de desnutrição.

Na coprofagia por causas dietéticas, os cães também podem ingerir fezes de outros animais, como por exemplo ração de gato (com alto teor proteico), ou ainda ração de herbívoros, como bovinos (com alto teor de fibras).

Verminoses

A coprofagia em cães e gatos também pode ocorrer pela presença de parasitas intestinais, vermes e protozoários, resultando na baixa absorção de nutrientes e problemas de saúde, como pancreatite crônica, insuficiência hepática, doenças intestinais e outros (SILVA e PREZOTO, 2020).

As verminoses são bastante comuns em cães e gatos. Quando presente em filhotes, pode representar um risco maior para a saúde do pet.

O Médico-Veterinário deve ficar atento ao histórico do animal durante a anamnese, buscando sempre informações relevantes, como a presença de contactantes no mesmo ambiente, o histórico de vermifugação, presença de pulgas, histórico de viagens/passeios, entre outros.

Muitas vezes é possível visualizar a eliminação dos vermes a olho nu nas fezes do pet. Porém, diante da suspeita de um quadro de verminose, o profissional poderá também solicitar exame coproparasitológico e outros que julgar necessários para diagnosticar a presença do parasita e propor o tratamento adequado ao caso.

Alguns profissionais preconizam a realização do exame coproparasitológico antes da vermifugação profilática, optando pela recomendação de antiparasitários apenas em casos positivos.

Causas comportamentais

O animal pode apresentar comportamentos de coprofagia por razões naturais, como em momentos de brincadeiras, como forma de curiosidade ou para imitar outros animais (SILVA e PREZOTO, 2020).

Porém, grande parte das causas comportamentais da coprofagia nos animais é oriunda do despreparo do tutor, que pode oferecer manejos inadequados aos pets diante dessas situações. Por esse motivo, as recomendações por parte do Médico-Veterinário são essenciais, não somente para a correção do problema, mas também para evitá-lo.

Muitos tutores acabam gerando estresse e ansiedade no pet devido a ações como: superpopulação de animais no ambiente, permitir livre acesso às ruas, confinamento em espaço limitado, falta de atenção e cuidados essenciais (MEYER et al, 2014). Além disso, muitos não sabem como repreender o animal na hora do ocorrido e acabam estimulando o comportamento inadequado do pet.

Nesses casos, animais com comportamento de coprofagia geralmente apresentam (SILVA e PREZOTO, 2020):

  • ansiedade ou ansiedade de separação;
  • estresse (por diversas causas);
  • tédio (por diversas causas);
  • brincadeiras, imitação de outros animais ou curiosidade (visto geralmente em cães filhotes).

Há ainda o estímulo de defecação/micção e higiene de filhotes, um comportamento natural exercido pela mãe. Nesses casos, a coprofagia só ocorre por um período determinado e não necessita de correções de manejo.

O animal também pode apresentar coprofagia para chamar a atenção do tutor. Geralmente esse comportamento é reforçado pela reação emocional do tutor, que o animal pode entender como ganho de atenção, o que chamamos de reforço positivo. Então, o animal irá repetir o comportamento outras vezes, visando receber a atenção do humano.

O Médico-Veterinário também deve orientar o tutor a evitar a punição, pois caso o responsável brigue com o animal que ingeriu as fezes, o pet pode se confundir e entender que a punição ocorreu por ele ter defecado. Portanto, a punição pode gerar ansiedade e estresse no animal, que pode acabar entendendo que precisa comer as fezes para eliminá-las do local e, consequentemente, agradar o seu tutor.

Sendo assim, o melhor a se fazer nesses casos é ignorar a atitude do animal e aplicar as correções de manejo orientadas pelo Médico-Veterinário durante a consulta e direcionadas de acordo com cada situação. Caso o problema não seja resolvido, o tutor poderá ainda buscar a ajuda de um profissional especialista em comportamento (veterinário ou biólogo). Nesse caso, o profissional irá analisar todo o cenário e traçar uma estratégia para corrigir o problema de forma individualizada e específica para o caso.

Outras possíveis causas de coprofagia canina e felina

Ainda podem ser listadas como causas do comportamento de coprofagia em cães e gatos (SILVA e PREZOTO, 2020):

  • predisposição genética: embora seja um comportamento que pode afetar principalmente cães, incluindo todas as raças e portes, algumas raças possuem maior número de casos registrados, como por exemplo: Golden Retriever, Pug, Lhasa-Apso, Yorkshire, Spitz Alemão e Shih-tzu;
  • distúrbios alimentares, mesmo não associados à subnutrição. Alguns animais tendem a comer não somente fezes, mas diversos objetos, predispondo-os também para problemas relacionados à ingestão de corpo estranho;
  • insuficiência hepática;
  • insuficiência pancreática;
  • doenças ou condições que causem a polifagia, como por exemplo o hiperadrenocorticismo, tratamento com glicocorticóides, hipertireoidismo e diabetes mellitus;
  • outras.

Ainda há casos de filhotes que podem ingerir as fezes da mãe, visando compor a microbiota intestinal e suprir as deficiências de vitaminas e minerais.

Como abordar queixas de coprofagia durante as consultas

É imprescindível avaliar se há alguma doença de base associada ao comportamento de coprofagia ou se é apenas um hábito do animal.

O Médico-Veterinário deve realizar uma minuciosa anamnese para tentar identificar o motivo do comportamento e propor a melhor opção para solução. Todas as informações passadas pelo tutor podem ser fundamentais para a identificação do problema e consequente estratégia de tratamento proposto.

Na anamnese é importante buscar entender:

  • quando a coprofagia começou, onde o comportamento ocorre e com qual frequência;
  • que tipo de alimento é oferecido ao pet, bem como a quantidade e a frequência;
  • detalhes do manejo ambiental;
  • histórico de vacinação, vermifugação e uso de antipulgas;
  • histórico de presença de pulgas no animal e em contactantes que dividem o mesmo ambiente;
  • histórico clínico (se possui ou se já teve alguma doença, assim como tratamentos anteriores);
  • se o pet faz ou já fez uso de algum fármaco e outras substâncias, como feromônios felinos sintéticos (no caso de gatos), florais, medicamentos e outros. Também é importante entender a dosagem e a frequência da administração de componentes utilizados;
  • frequência da defecação (se o tutor percebe que o pet apresenta dor ou dificuldades e as características fecais, como a cor, odor, consistência, volume, se há sangue etc);
  • todas as demais informações relevantes que podem surgir durante a conversa.

Com base na anamnese e no exame físico, caso julgue necessário, o Médico-Veterinário poderá solicitar exames complementares para auxiliar no diagnóstico de alguma patologia que possa ser a causa da coprofagia, de acordo com sua suspeita de diagnóstico.

Como tratar a coprofagia em cães e gatos

Para tratar é necessário identificar a causa responsável por desencadear o comportamento. Veja uma relação entre as principais causas e os tratamentos indicados:

  • coprofagia por subnutrição: caso a subnutrição seja por alimentação de baixa qualidade ou pouca quantidade, o Médico-Veterinário deve recomendar a alteração do tipo de alimento fornecido ao pet para uma dieta de alta digestibilidade e com altos índices nutricionais. Além disso, deve-se recomendar também a quantidade ideal de alimento de acordo com a necessidade energética diária do indivíduo. Se a causa da subnutrição for alguma patologia, a mesma deve ser devidamente tratada.
  • coprofagia por verminoses: é recomendado que os filhotes sejam vermifugados entre os 15 e 30 primeiros dias de vida. O medicamento deve ser apropriado para uso em filhotes, além de ser escolhido de acordo com o tipo de parasita envolvido. O protocolo a ser definido dependerá também do fármaco usado, assim como a necessidade de doses subsequentes.
  • causas comportamentais: Há algumas alternativas para tratar problemas comportamentais, como o enriquecimento ambiental, que pode ser um aliado para aliviar a ansiedade, o estresse e o tédio, uma vez que estimula que o pet interaja com a fonte de estímulos no ambiente de cativeiro. Além disso, a distribuição correta do espaço de dormir, alimentar-se, defecar e urinar são essenciais para evitar os distúrbios comportamentais. Passeios, brincadeiras, demonstrações de afeto, carinho e atenção do tutor também contribuem muito para a redução da coprofagia (MEYER et al, 2014).

Papel da nutrição na prevenção da coprofagia canina e felina

A adequação da dieta do pet pode ser recomendada, principalmente nos quadros de coprofagia por causas dietéticas – como a subnutrição pela oferta de alimentos de baixa qualidade. Nesses casos, é necessário o fornecimento de alimentos super premium, com ingredientes de excelente qualidade, assim como níveis adequados de gorduras, proteínas, fibras e carboidratos e também alta digestibilidade e palatabilidade.

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Referências bibliográficas

MEYER, Luciano Rogério et al. Coprofagia como distúrbio comportamental em cães: revisão de literatura. Rev. Ciências Exatas e da Terra e Ciências Agrárias, Maringá, v. 9, n. 01, p. 49-55, 2014. Disponível em: https://revista2.grupointegrado.br/revista/index.php/campodigital/article/view/1677. Acesso em: 14 ago. 2022.

Silva, ngela Pezarini; Prezoto, Helba Helena Santos. Coprofagia canina: uma questão fisiológica ou comportamental?. UniAcademia, Biológica – Caderno do Curso de Ciências Biológicas, Juiz de ora, v. 3, n. 01, p. 1-15, 2020. Disponível em: https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/biologica/article/view/3019. Acesso em: 14 ago. 2022.