Principais aspectos da Insuficiência Pancreática Exócrina em cães e gatos

Principais aspectos da Insuficiência Pancreática Exócrina em cães e gatos

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A insuficiência Pancreática Exócrina pode ser um desafio na clínica de pequenos animais, e a abordagem terapêutica deve ser instituída por toda a vida do pet. Saiba mais!

O pâncreas é um órgão metabólico que exerce funções endócrinas e exócrinas. Enquanto o pâncreas endócrino produz hormônios importantes para o metabolismo, como insulina e glucagon, o pâncreas exócrino sintetiza e secreta enzimas fundamentais para a digestão e a absorção de nutrientes.

As doenças pancreáticas comprometem a homeostase do organismo e podem levar ao desenvolvimento de complicações secundárias. A IPE se caracteriza por uma disfunção do pâncreas que leva a consequências metabólicas e que coloca em risco a saúde de cães acometidos, e será abordada com mais detalhes a seguir. A IPE é uma das principais enfermidades diagnosticadas na espécie canina.

O que é Insuficiência pancreática exócrina (IPE)

Os ácinos pancreáticos de um indivíduo saudável sintetizam e secretam enzimas como lipase, tripsina e amilase, que digerem gorduras, proteínas e carboidratos, respectivamente. As células do ducto pancreático secretam bicarbonato, que mantém um pH ideal para a digestão e absorção, além do fator intrínseco que permite a absorção de cobalamina (vitamina B12). O pâncreas exócrino também produz fatores bacteriostáticos que regulam a microbiota do trato gastrointestinal.

A insuficiência pancreática exócrina (IPE) é uma síndrome causada pela síntese e secreção insuficientes das enzimas pancreáticas, condição na qual os processos metabólicos digestivos e absortivos ficam comprometidos.

A causa mais comum de IPE é a atrofia acinar que ocorre, muito provavelmente, devido ao processo imunomediado de destruição das células pancreáticas. A segunda causa mais comum é a pancreatite crônica, pois o estado de inflamação contínuo pode levar a atrofia e fibrose que podem levar a destruição do órgão. A IPE também pode ocorrer como consequência da obstrução do ducto pancreático.

A IPE é frequentemente observada em cães da raça Pastor Alemão, e tem sido sugerido que nesta raça há um fator genético autossômico recessivo. Uma predisposição familiar também foi relatada em cães das raças Collie e Setter Inglês. No entanto, a busca por um marcador genético para esta doença até o momento ainda não foi conclusiva.

Principais sinais clínicos de insuficiência pancreática

Como resultado da insuficiência, todas as enzimas essenciais envolvidas nos processos digestivos estão ausentes. De acordo com Ettinger & Feldman (2010), estima-se que as manifestações clínicas da IPE surgem quando mais de 90% da função pancreática estiver comprometida.

Os principais sintomas de insuficiência pancreática são:

  • Diarreia ou fezes pastosas
  • Aumento da frequência e volume fecal
  • Esteatorreia
  • Perda de peso
  • Vômito
  • Polifagia
  • Coprofagia
  • Pelagem opaca
  • Borborigmas intestinais
  • Flatulência

Diagnóstico

O diagnóstico de IPE é feito com base na demonstração da falta de função pancreática exócrina, sendo atualmente o teste de imunorreatividade semelhante à tripsina sérica (TLI) o padrão-ouro para o diagnóstico da doença.

A TLI é altamente espécie-específica e mede a concentração de massa de tripsinogênio catiônico, tripsina catiônica e algumas moléculas de tripsina catiônica ligadas a moléculas inibidoras de proteinase. Em cães com IPE, a quantidade de TLI que é liberada na circulação é reduzida, e uma concentração diminuída pode ser demonstrada. O teste de TLI permite um diagnóstico diferencial entre IPE e doenças do intestino delgado.

A avaliação da atividade proteolítica fecal com o emprego do teste de digestão do filme raio-x é um método simples e prático de ser realizado na rotina clínica. Esse teste detecta a presença das enzimas pancreáticas nas fezes, mas por conta das variações fisiológicas diárias que podem ocorrer em pacientes saudáveis e que reduzem a atividade proteolítica, para que não ocorram resultados falsos-positivos, a atividade deve ser mensurada em mais de uma amostra.

Exames laboratoriais de rotina, como hemograma completo, bioquímica sérica e urinálise geralmente encontram-se dentro dos padrões de normalidade. Nos casos onde já há dano hepático secundário, a alanina aminotransferase (ALT) e a fosfatase alcalina (FA) podem estar levemente aumentadas.

Além disso, na ultrassonografia, podem ser observados diminuição no tamanho do pâncreas, graus de ecogenicidade variáveis do parênquima pancreático, ecotextura nodular, sombra acústica devido à mineralização e fibrose e dilatação irregular dos ductos pancreáticos.

Tratamento

A abordagem terapêutica na IPE consiste na reposição enzimática exógena com pancreatina associada a possíveis mudanças dietéticas para o resto da vida do animal. Os objetivos do tratamento são os de promover ganho de peso até o cão atingir o escore corporal ideal, interromper a diarreia e eliminar a coprofagia.

As enzimas pancreáticas podem ser substituídas por uma variedade de formulações diferentes, sendo o extrato pancreático seco de pâncreas bovino ou suíno o meio mais comum e eficaz. A recomendação é de adicionar à refeição do animal 1 colher de chá de extrato seco de pancreatina para cada 10 kg de peso corporal. A dose pode ser ajustada lentamente até que se encontre a mínima dose eficaz. As enzimas também podem ser encontradas em cápsulas e comprimidos, mas estudos mostraram que o pó é preferível a outras formulações.

Pensar na dieta para insuficiência pancreática exócrina é outro ponto importante, afinal, a modificação dietética pode também ser um ponto-chave no tratamento do indivíduo com IPE. Para estes pacientes, a dieta deve apresentar as seguintes características

  • Alta digestibilidade: ingredientes de altíssima qualidade e digestibilidade facilitam os processos de digestão e absorção de nutrientes, reduzindo o tempo de retenção do alimento no lúmen intestinal e permitindo melhor aproveitamento da dieta.
  • Proteínas de alta qualidade: favorecem os processos de digestão e absorção, promovendo maior aproveitamento e gerando menor quantidade de resíduos não-digeríveis nas fezes.
  • Teor de gordura adaptado: a gordura é o nutriente mais difícil de assimilar, e a atividade da lipase é o passo limitante em sua digestão. Estudos trazem evidências de que a digestibilidade da gordura é mais importante do que o teor propriamente dito dos lipídeos em uma fórmula. Animais que apresentam esteatorreia se beneficiam de uma dieta com teor baixo de gordura, enquanto pacientes que não apresentam este sinal clínico podem se beneficiar de uma fórmula com teor moderado de lipídeos.
  • Teor de fibras adaptado: as fibras são indigeríveis e dificultam a atividade das enzimas pancreáticas. Além disso, diminuem a densidade energética da dieta. A combinação de diferentes tipos de fibras em quantidades e proporções adequadas, no entanto, traz benefícios para o trato gastrointestinal, além de promover saúde digestiva.
  • FOS e MOS: frutooligossacarídeos (FOS) e mananooligossacarídeos (MOS) são prebióticos que contribuem para a saúde do intestino. Enquanto os produtos da fermentação do FOS geram substratos que resultam em energia para as células do epitélio intestinal, o MOS atua como um inibidor da adesão bacteriana, além de também exercer papel na imunidade.
  • Antioxidantes e Ômega-3 EPA & DHA: os antioxidantes naturais e sintéticos atuam em sinergia para combater os radicais livres gerados pelos processos oxidativos, enquanto os ácidos-graxos poliinsaturados eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA) atuam como moduladores da inflamação.

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E ainda sobre os tratamentos, além da reposição enzimática e da mudança na dieta, a suplementação com cobalamina também pode ser necessária, já que pacientes com IPE não produzem o fator intrínseco necessário para sua absorção. As vitaminas lipossolúveis, como vitamina A e E, também podem estar diminuídas, e a reposição também deve ser avaliada.

Insuficiência Pancreática x Pancreatite

A pancreatite se caracteriza pela inflamação aguda ou crônica do pâncreas. A pancreatite aguda é potencialmente reversível se tratada rapidamente, porém a condição crônica pode levar a perda progressiva do tecido exócrino e/ou endócrino e, inclusive, provocar o desenvolvimento da IPE.

As manifestações clínicas da pancreatite incluem dor de grau moderado a intenso, desconforto e sensibilidade abdominal, náuseas, êmese, anorexia, letargia, desidratação e perda de peso. Atualmente a dosagem de lipase pancreática canina (PLI) é o teste bioquímico com maior sensibilidade para o diagnóstico da doença.

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Referências bibliográficas

ETTINGER, S.J. FELDMAN, E.C. Textbook of Veterinary Internal Medicine. Saunders Elsevier, 2010.

FASCETTI, A.; DELANEY, S. Applied Veterinary Clinical Nutrition. Wiley-Blackwell, 2012.

PIBOT, P.; BIOURGE, V.; ELLIOTT, D.A. Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition. Royal Canin, 2010.