Dirofilariose: saiba o que é a doença e como preveni-la em pets

Dirofilariose: saiba o que é a doença e como preveni-la em pets

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A Dirofilariose, também conhecida como verme do coração, é uma parasitose que afeta cães e gatos e ocorre, principalmente, em regiões endêmicas. Entenda melhor a doença e saiba mais sobre sua prevenção e tratamento.

A dirofilariose, ou doença do verme do coração, é uma zoonose causada pelo nematódeo Dirofilaria immitis, parasita do sistema circulatório de canídeos e felinos, que também pode acometer humanos.

Os animais infectados geralmente desenvolvem a doença de forma lenta e silenciosa, apresentando sinais clínicos somente no estágio avançado da enfermidade. Por isso, muitas vezes o diagnóstico é feito tardiamente, tornando o tratamento complexo e, em muitos casos, inviável.

Entenderemos, a seguir, que a melhor forma para conter a disseminação da dirofilariose e evitar os problemas por ela ocasionados é por meio da profilaxia adequada, principalmente para animais que moram ou visitam áreas endêmicas.

O que é a dirofilariose em gatos e cães?

A dirofilariose é uma zoonose de distribuição mundial causada por nematóides Dirofilaria immitis, transmitidos por mosquitos culicídeos. É uma afecção grave, geralmente de evolução crônica, que pode ser potencialmente fatal.

O parasita adulto é responsável por causar endoarterites e hipertrofia muscular das paredes arteolares, principalmente nas artérias pulmonares caudais. O dano promovido ao longo do tempo para as artérias pulmonares, ventrículo direito e todas as estruturas vasculares adjacentes aos pulmões, muitas vezes, levam ao desenvolvimento da doença em sua forma grave.

Os debris dos vermes que morrem podem causar inflamação e agregação plaquetária, resultando em tromboembolismo. Os sinais clínicos variam de acordo com a severidade da enfermidade (Tabela 1), que está relacionada com a carga parasitária e o nível de atividade física do animal.

Tabela 1: Sumário de sinais clínicos da dirofilariose canina.
Tabela 1: Sumário de sinais clínicos da dirofilariose canina. Fonte: American Heartworm Society, 2014.

Vale ressaltar que a dirofilariose pode evoluir e ser fatal em estágios mais avançados.

A Dirofilariose possui caráter zoonótico

A Dirofilaria immitis pode infestar humanos de forma esporádica e acidental, após a picada do mosquito infectado. As formas imaturas do parasita podem atingir um ramo da artéria pulmonar, desencadeando uma resposta inflamatória que irá eliminar os nematódeos.

Ocasionalmente, a infestação resulta em nódulos pulmonares únicos (maior frequência) ou múltiplos em torno de vermes adultos imaturos, que raramente causam sintomas e que geralmente são detectados em check-ups de saúde ou exames rotineiros para acompanhar outras patologias.

Dirofilariose pulmonar em humano. Imagem de radiografia torácica mostrando um nódulo pulmonar (seta) atribuído a D. immitis.
Figura 1: Dirofilariose pulmonar em humano. Imagem de radiografia torácica mostrando um nódulo pulmonar (seta) atribuído a D. immitis. Fonte: Símon et.al., 2012.

A doença é conhecida popularmente como “Verme do Coração”

A síndrome da veia cava é uma condição grave da dirofilariose na qual ocorre o deslocamento de uma massa de vermes adultos das artérias pulmonares para o ventrículo direito, acarretando a insuficiência da válvula tricúspide devido à interferência cinética e funcional. Daí a nomenclatura popular “verme do coração” (figura 2).

Vermes adultos machos e fêmeas de D. immitis no coração de um cão
Figura 2: Vermes adultos machos e fêmeas de D. immitis no coração de um cão. Fonte: Símon et.al., 2012.

Principais regiões em que a doença ocorre

A dirofilariose em cães e gatos ocorre com maior frequência em regiões litorâneas, com clima quente e úmido, onde é considerada endêmica. Isso acontece em função da presença das espécies de mosquitos vetores da D. immitis.

Contudo, também podemos notar uma expansão de casos positivos em outras regiões, provavelmente devido ao aumento da mobilidade dos pets (viagens) e às mudanças climáticas globais.

Em 2014, um estudo de Labarthe et al. concluiu que a prevalência geral de dirofilariose em cães na costa brasileira (região nordeste, sudeste e sul) é de 23%, sendo as maiores frequências detectadas nas cidades de Ilha de Itamaracá (49,5%), Armação de Búzios (62,2%) e Guaraqueçaba (31,8%). Outro fato relatado foi uma maior prevalência em regiões com natureza mais bem preservada.

Conhecendo o vetor e a transmissão da doença

A D. immitis é transmitida por hospedeiros intermediários em sua forma larval (microfilária), pela picada de mosquitos tropicais (áreas quentes e úmidas), culicídeos dos gêneros Ochlerotatus, Aedes e Culex, que atuam como vetores.

Após o repasto sanguíneo em um hospedeiro microfilarêmico, os mosquitos vetores suscetíveis tornam-se infectados.

No inseto vetor, o estágio larval (L1) invade os túbulos de Malpighi, em seguida se desenvolve para L2 e, finalmente, sofre uma nova metamorfose para L3, que é o estágio larval infectante. Em seguida, a L3 migra para o aparelho bucal do mosquito, onde se torna apta a ser transmitida para um novo hospedeiro.

Após a picada, as microfilárias seguem para a corrente sanguínea do animal, onde permanecem por algum tempo antes de seguir para o coração e o pulmão. Uma vez no coração, os vermes jovens se desenvolvem, crescem e liberam microfilárias L1 no sangue.

As microfilárias podem permanecer no sangue durante períodos longos, de até 2 anos, enquanto os vermes adultos podem viver no animal por períodos maiores ainda, de até 7 anos.

Ciclo da dirofilariose

A dirofilariose também ocorre nos felinos?

Embora a prevalência de D. immitis seja maior em canídeos (domésticos e selvagens), que são considerados os hospedeiros definitivos e principais reservatórios da infecção, é possível que felinos também sejam contaminados após picada de mosquito infectado.

A dirofilariose em gatos foi diagnosticada em todos os países europeus, pelo teste de Knott ou por sorologia para anticorpos e antígenos circulantes do parasita (GENCHI e KRAMER, 2020).

Segundo as Diretrizes dos Estágios de Vida dos Felinos AAHA/AAFP de 2021, nos Estados Unidos houve uma tendência de aumento na incidência de dirofilariose em gatos relatada por médicos-veterinários nos últimos três anos.

Nessa espécie, o parasita pode causar a doença respiratória associada à dirofilariose (HARD), que é uma reação inflamatória do tecido pulmonar aos estágios larvais imaturos, semelhante à asma.

Nos gatos, a dirofilariose é mais difícil de ser diagnosticada quando comparada aos cães, uma vez que felinos infectados geralmente possuem menor carga de vermes, infecções por um único sexo e infrequência de microfilaremia. Porém, mesmo com microfilaremia baixa ou transitória, os felinos podem servir como fonte de infecção para os vetores.

A interpretação dos resultados dos testes de anticorpos e antígenos nessa espécie é desafiadora, o que exige um entendimento completo das limitações diagnósticas. Embora seja recomendado testar os gatos antes de iniciar a quimioprofilaxia, há menos utilidade em fazê-lo em comparação com os cães.

Como é feito o diagnóstico da Dirofilariose em cães e gatos?

O diagnóstico da dirofilariose pode ser realizado através de testes de detecção de antígeno (ELISA ou ensaios imunocromatográficos) e microfilária (teste de Knott). Porém, quando a infecção é recente (período de 5-6 meses após a inoculação do parasita), pode apresentar um resultado falso negativo.

Outro fato importante é que o teste de Knott deve ser utilizado com cautela em gatos, devido microfilaremia intermitente.

Em estágios mais avançados, é possível diagnosticar a doença por meio do ecocardiograma. A parede do corpo da D. immitis adulta é altamente ecogênica e produz imagens com traços paralelos que podem ser observados no exame de imagem.

Dessa forma, o ecocardiograma pode fornecer evidência definitiva de dirofilariose, bem como permitir a avaliação das consequências patológicas cardíacas da doença (Figura 3).

No entanto, não é um método eficiente de fazer o diagnóstico em cães e gatos infectados com baixa carga parasitária, nos quais os nematóides podem estar localizados nos ramos periféricos das artérias pulmonares.

Ecocardiograma evidenciando a presença da D. immitis em seu estágio adulto (traços ecogênicos que se assemelham ao “sinal de igual”).
Figura 3: Ecocardiograma evidenciando a presença da D. immitis em seu estágio adulto (traços ecogênicos que se assemelham ao “sinal de igual”).

Dirofilariose tem tratamento?

A dirofilariose pode ser tratada, porém o prognóstico do paciente é melhor quando o diaganóstico é precoce. A melarsomina é a medicação eficaz contra o parasita, porém não é comercializada no Brasil atualmente.

A doxiciclina é eficaz na redução do número das bactérias Wolbachia, que são endo-simbióticas e realizam parasitismo intracelular da D. immitis. Este fármaco faz parte do protocolo multimodal desenvolvido por Thomas Nelson (2017), que faz a combinação da administração de doxiciclina, ivermectina e melarsomina.

Em casos de alta infestação por vermes adultos, pode ser indicada a intervenção cirúrgica para retirada dos vermes adultos (Figura 4), que deve ser realizada por profissional capacitado. Todavia, a eliminação dos parasitas nesse estágio se torna um complexo desafio, cujo prognóstico muitas vezes é desfavorável.

Figura 4: procedimento de retirada cirúrgica da D. immitis em estágio adulto.
Procedimento de retirada cirúrgica da D. immitis em estágio adulto. Fonte: American Heartworm Society, 2014.

Formas de prevenção da dirofilariose em cães e gatos

Devido à complexidade do tratamento e ao prognóstico clínico do paciente, que dependem diretamente do estágio no qual a dirofilariose é diagnosticada, a prevenção é a melhor maneira para combater a doença.

O protocolo preventivo deve ser instituído pelo médico-veterinário de acordo com o risco de exposição de cada paciente. Emboraas regiões litorâneas e cidades endêmicas ainda representam maior risco de infecção para os animais, a dirofilariose também presente em diversas regiões não-litorâneas, o que deve ser considerado pelo médico-veterinário.

A prevenção é segura, e consiste em instituir o manejo para evitar a picada do vetor, realizado através do uso de ectoparasitas (spot-on ou coleiras) que protejam contra os mosquitos e/ou prescrever a administração periódica de fármacos antiparasitários (lactonas macrocíclicas) como forma de quimioprofilaxia contra as microfilárias, ou seja, que matem as microfilárias inoculadas na corrente sanguínea do cão ou do gato durante o repasto.

As opções disponíveis atualmente no Brasil incluem milbemicina oxima, ivermectina, selamectina e moxidectina.

Vale ressaltar que a Sociedade Americana de Dirofilariose (diretrizes de 2014) recomenda que pesquisas de antígenos circulantes e de microfilárias sejam realizadas anualmente, com intuito de verificar se a profilaxia está sendo eficaz.

O papel da nutrição na prevenção de diversas doenças em cães e gatos

A nutrição adequada associada à medicina preventiva é essencial para a boa condição de saúde dos animais.

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