Conheça os principais aspectos da Babesiose Canina

Conheça os principais aspectos da Babesiose Canina

Links rápidos:

A Babesiose é uma importante hemoparasitose transmitida pela picada de carrapatos que pode afetar os pets; saiba tudo sobre o assunto

A Babesiose canina é um problema comum, afetando os animais em escala mundial. No Brasil, é considerada endêmica. Os cães podem ser severamente acometidos. Daí a importância de um diagnóstico rápido e assertivo para o estabelecimento de um tratamento adequado e, consequentemente, um prognóstico favorável.

Confira, a seguir, mais informações sobre essa enfermidade, incluindo as formas de infecção, diagnóstico, tratamento e prevenção.

O que é a Babesiose?

A Babesiose é uma enfermidade causada pelos protozoários do gênero Babesia, pertencentes a ordem Piroplasmorida. Esses parasitas são transmitidos por carrapatos e suas formas infectantes (merozoítas ou piroplasmas) acometem o interior das células sanguíneas vermelhas (eritrócitos ou hemácias).

É uma afecção que pode acometer animais domésticos e selvagens. Na rotina do Médico-Veterinário de animais de companhia, a espécie canina é a mais afetada, porém também podemos observar a ocorrência de Babesiose Felina.

Segundo Hartmann, a infecção por espécies de Babesia em gatos domésticos tem sido relatada em vários países, inclusive no Brasil. Geralmente, os casos são esporádicos e os sinais clínicos são leves, com exceção da África do Sul, onde a enfermidade é comum e os gatos são significativamente acometidos.

O período de incubação, que corresponde ao período entre a contaminação do animal e o aparecimento dos primeiros sinais clínicos, pode variar de dias a semanas. Porém, há relatos de animais que só apresentaram sinais clínicos após anos.

A Babesiose pode ser classificada em aguda, crônica ou subclínica (assintomática) e sua severidade depende da espécie de Babesia relacionada à infecção e da imunidade do hospedeiro (Nelson & Couto, 2019). Nos cães, comumente está associada às espécies Babesia canis canis, B. c. rossi, B. c. vogeli e Babesia gibsoni.

Dessa forma, as manifestações clínicas são diversas, podendo incluir:

  • Letargia/ prostração;
  • Hiporexia ou anorexia;
  • Êmese (vômito);
  • Mucosas pálidas;
  • Febre;
  • Perda de peso;
  • Taquicardia (aumento da frequência cardíaca);
  • Taquipneia (aumento da frequência respiratória);
  • Esplenomegalia (aumento do baço);
  • Linfonodomegalia (aumento dos linfonodos);
  • Icterícia;
  • Petéquias (manchas avermelhadas);
  • Anemia;
  • Trombocitopenia (diminuição das plaquetas sanguíneas);
  • Acidose metabólica (diminuição do pH sanguíneo);
  • Coagulação intravascular disseminada;
  • Insuficiência renal;
  • Distúrbios neurológicos.

Por sua vez, os gatos apresentam sinais clínicos bem parecidos aos dos cães, porém febre e icterícia são incomuns.

Vale ainda ressaltar que é a reprodução do parasita dentro das células vermelhas que ocasionará hemólise (rompimento da hemácia) intra e extravascular, o que resultará em uma anemia hemolítica. Em adição, pode haver uma reação imunomediada, agravando a destruição dos eritrócitos e, consequentemente, ocorrendo a anemia.

A seguir, vamos ver detalhadamente como ocorre esse evento.

1. Entenda como ocorre a infecção

A infecção do cão ocorre principalmente através da picada de carrapatos (ixodídeos) portadores da Babesia spp, que inoculam as formas esporozoítas infectantes presentes em sua saliva. Essas formas atingem a corrente sanguínea do animal e são englobadas pelas hemácias. Uma vez que esse protozoário atinge o interior dos eritrócitos, ele realiza vários ciclos de reprodução (assexuada), dando origem aos merozoítas. Isso acarretará a lise da hemácia, liberando os merozoítas para infectar outras células.

Nas infecções crônicas, os parasitas são sequestrados na rede de capilares do baço, do fígado e de outros órgãos, a partir de onde são liberados periodicamente na circulação sanguínea (TAYLOR, COOP, WALL, 2017).

Quando um novo carrapato faz seu repasto (alimentação) em um cão com Babesiose, ele ingere as formas do parasita que estão presentes na circulação. Posteriormente, ocorrerá a multiplicação e migração do parasita, até que alcance as glândulas salivares do ixodídeo, transformando-se em esporozoítos. O ciclo é então reiniciado quando o carrapato pica um animal suscetível.

Além dessa forma de infecção, o animal também pode contrair a enfermidade através de transfusão sanguínea ou pela via transplacentária.

Ciclo da Babesiose

2. Entendendo mais sobre os vetores

Como já falamos anteriormente, os vetores são carrapatos, cuja espécie varia de acordo com a classificação da Babesia transmitida.

Veremos abaixo uma tabela que correlaciona as espécies de Babesia que acometem os cães e seus respectivos vetores.

Também é importante citar que os vetores da Babesiose Felina (Babesia felis sensu stricto) ainda não foram identificados.

Tabela 1: Espécies de Babesia e seus vetores. Adaptado de: Parasitologia Veterinária.

Tabela 1: Espécies de Babesia e seus vetores. Adaptado de: Parasitologia Veterinária. 

ESPÉCIES  VETORES 
Babesia canis canis  Dermacentor reticulatus 
Babesia canis rossi  Haemaphysalis elliptica 
Babesia canis vogeli  Rhipicephalus sanguineus 
Babesia gibsoni  Haemaphysalis longicornis, H. bispinosa, Rhipicephalus sanguineus 

Tabela 1: Espécies de Babesia e seus vetores. Adaptado de: Parasitologia Veterinária. 

Lembre-se que tais espécies de carrapatos não transmitem exclusivamente a Babesia, mas também outras doenças como:

  • erliquiose
  • anaplasmose
  • febre maculosa das Montanhas Rochosas
  • hepatozoonose

Outra ressalva é a de que essas enfermidades podem ocorrer isoladamente ou concomitantemente, variando o prognóstico do animal.

Como diagnosticar a Babesiose Canina

Após a anamnese e um exame clínico detalhado, o diagnóstico da babesiose canina deve ser feito com base no conjunto de dados obtidos nos exames laboratoriais e nos testes de diagnóstico para detecção do antígeno (testes diretos) ou do anticorpo (testes indiretos).

Exames sanguíneos (hemograma completo e bioquímico) e urinálise podem nos mostrar:

  • anemia regenerativa
  • trombocitopenia
  • hiperbilirrubinemia (aumento de bilirrubina sérica)
  • bilirrubinúria (presença de bilirrubina na urina)
  • acidose metabólica
  • proteinúria (presença de proteínas na urina)
  • cilindrúria (Presença de cilindros na urina)
  • leucocitose ou leucopenia (aumento ou diminuição dos leucócitos)

O exame de esfregaço sanguíneo é altamente específico e pode fornecer o diagnóstico definitivo, pois nele podem ser observadas hemácias parasitadas. Porém, pode apresentar um resultado falso negativo, já que a parasitemia (presença de parasitas no sangue) é variável, e pode necessitar de um examinador experiente.

A imunofluorescência indireta (IFI), técnica que consiste na detecção de anticorpos, é muito utilizada para o diagnóstico da babesiose canina. A IFI não permite a diferenciação das espécies de Babesia por ocorrer reação cruzada. Também pode ter um resultado falso negativo quando não há anticorpos detectáveis, o que pode acontecer particularmente em cães jovens.

Por sua vez, a reação em cadeia da polimerase (PCR), responsável por detectar fragmentos do DNA do protozoário, proporciona o diagnóstico em infecções agudas, crônicas e subclínicas. Também permite a diferenciação das espécies e pode ser usada para monitoramento do tratamento.

1. Diagnóstico diferencial

Como diagnóstico diferencial devem ser listadas todas as afecções que causam anemia hemolítica e trombocitopenia, inclusive as consideradas imunomediadas. Sendo assim, algumas enfermidades que devem ser descartadas são:

  • neoplasias
  • lupus eritematoso sistêmico
  • erliquiose
  • hemobartonelose
  • febre maculosa das Montanhas Rochosas

Tratamento da Babesiose Canina

O tratamento da Babesiose Canina deve ser estabelecido pelo profissional Médico-Veterinário, que deve levar em conta o diagnóstico, as alterações dos exames laboratoriais e os sinais clínicos do animal. Pode englobar o uso de fármacos como a Doxiciclina e o Dipropionato de Imidocarb de forma isolada ou associada.

Embalagem do alimento Recovery da Royal Canin

Além disso, pode ser necessário estabelecer uma terapia de suporte, incluindo fluidoterapia, restabelecimento do balanço eletrolítico e transfusão sanguínea.

Manter o aporte nutricional do paciente também possui extrema importância, pois é através dele que o organismo irá estabelecer condições favoráveis para sua recuperação. Em animais convalescentes, por exemplo, recomendamos o uso da linha Recovery da Royal Canin®. Esse alimento oferece alta densidade energética, alto nível proteico e sua textura facilita a administração via seringas ou sondas, quando necessário.

Você poderá utilizar nossa ferramenta Calculadora para Prescrições para uma prescrição assertiva. Conheça também o catálogo completo de nossos produtos.

Formas de prevenção

O melhor método preventivo para Babesiose é o controle da infestação por carrapatos (ixodidiose). Isso pode ser feito através da utilização de produtos carrapaticidas de ação direta no animal associada ou não à dedetização do ambiente com soluções à base de piretróides.

Hoje, encontramos diferentes apresentações entre os produtos que podemos usar diretamente nos cães, incluindo as de uso oral, as spot-on (bisnagas de uso tópico) e as coleiras. Seus princípios ativos incluem: Sarolaner, Iotilaner, Fipronil, Selamectina, Imidacloprida, Permetrina, Flumetrina, Deltametrina, Propoxur, entre outros.

Também vale ressaltar que a realização de testes sorológicos para Babesia em animais doadores de sangue pode evitar a transmissão desse agente infeccioso através da transfusão sanguínea.

Existe, ainda, um antígeno parasitário solúvel utilizado experimental e comercialmente como vacina contra espécies caninas de Babesia, que previne manifestações clínicas dessas infecções, com sucesso variável (HARTMANN, 2022). No entanto, ele não está disponível no Brasil.

Referências bibliográficas:

ARAÚJO, R.R. et al. Avaliação diagnóstica das hemoparasitoses em cães: Revisão. Pubvet, v. 16, n.10, p. 1-16, 2022. Disponível em: https://www.pubvet.com.br/uploads/38da73077b7e0a9a9676ff85f52ec7ca.pdf . Acesso em: 07 março 2023.

COTA, J.M. et al. Babesia spp. no líquido peritoneal em cão com ascite – relato de caso. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 70, n. 4, p. 1109 – 1114, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abmvz/a/nxp3TsCbcYKyZLzStDchkty/?format=pdf&lang=pt . Acesso em: 07 março 2023.

HARTMANN, K. et al. Babesiosis in Cats: ABCD guidelines on prevention and management. Journal of Feline Medicine and Surgery, 15, 2013. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1098612X13489230 . Acesso em: 07 março 2023.

HARTMANN, K. Babesiosis. European Advisory Board on Cat Diseases, 2022. Disponível em: https://www.abcdcatsvets.org/guideline-for-babesiosis/ . Acesso em: 07 março 2023.

NELSON, R.W., COUTO, C.G. Small Animal Internal Medicine. 6th ed., Elsevier., 2019.

TAYLOR, M.A., COOP, R.L., WALL, R.L. Parasitologia Veterinária. Guanabara Koogan, 4. ed., 2017.

VIDOTTO, O., TRAPP, S.M. Babesiose canina. Rev. Bras. Parasitol. Vet., v.13, suplemento 1, 2004. Disponível em: https://consultadogvet.files.wordpress.com/2017/03/pp13s158_61.pdf . Acesso em: 09 março 2023.