Polifagia em cães e gatos: entenda as principais patologias associadas!

Polifagia em cães e gatos: entenda as principais patologias associadas!

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Polifagia consiste no aumento na ingestão de alimentos e pode ser uma consequência relacionada a diversas condições ou patologias. Confira!

A polifagia, caracterizada pelo aumento da ingestão alimentar, é um sinal clínico que pode resultar de diversas condições, tanto fisiológicas quanto patológicas, em cães e gatos.

Este fenômeno pode ser primário, relacionado a demandas energéticas aumentadas ou deficiências nutricionais, ou secundário a enfermidades, sendo inclusive um possível efeito colateral de medicamentos como glicocorticoides.

Considerar toda a lista de diagnóstico diferencial é fundamental para identificar a causa da polifagia, e, consequentemente, estabelecer as melhores condutas terapêuticas, promovendo saúde a longo prazo para o paciente. Entenda melhor!

O que é polifagia?

Polifagia consiste no aumento da ingestão alimentar, um sinal clínico que pode ser considerado fisiológico (primário), decorrente de alguma condição que aumente a demanda energética ou de alguma deficiência nutricional, ou secundário a enfermidade.

Inclusive, a polifagia também pode ser um efeito colateral do uso de certos medicamentos, como glicocorticoides, anticonvulsivantes, anti-histamínicos e antidepressivos.

O controle da ingestão de alimentos e do equilíbrio energético é regulado por diferentes vias, destacando-se o mecanismo da saciedade. O sistema digestório, quando repleto, desencadeia sinais hormonais e neuronais que fornecem um feedback ao tronco cerebral e ao centro hipotalâmico que controla o apetite.

Dessa forma, a polifagia pode ser consequência de vários fatores e estar associada a ganho, perda ou manutenção do peso/escore corporal do paciente.

De forma geral, quando associada ao ganho de peso é causada por distúrbios que aumentam o consumo alimentar sem alterar o metabolismo energético. Por outro lado, quando relacionada à perda de peso, comumente está ligada a doenças que diminuem a absorção de nutrientes ou aumentam o metabolismo.

Ao se deparar com um quadro de polifagia em cães e gatos, o médico-veterinário deve obter todo o histórico do paciente, averiguando se houve mudança do peso corporal, e realizar exame físico detalhado. Assim, conseguirá determinar quais os exames complementares serão necessários para estabelecer o diagnóstico, instituindo a terapêutica mais adequada para cada caso.

A identificação da causa subjacente é essencial para a prescrição do tratamento apropriado, assim como para a determinação de mudanças no manejo para controlar a ingestão de alimentos e gerenciar o peso/escore corporal.

O fluxograma apresentado na Figura 1 representa uma sugestão para realização do diagnóstico diferencial entre os vários casos de polifagia.

Poligafia em cães e gatos
Figura 1: Diagrama de abordagem diagnóstica para o paciente com polifagia (SARDS = síndrome da degeneração retiniana súbita adquirida). Adaptado de: Hall et.al., 2019.

Principais causas de polifagia em cães e gatos

Como vimos anteriormente, determinar se o paciente está ganhando, mantendo ou perdendo peso é extremamente importante e irá ajudar o profissional a estabelecer o diagnóstico diferencial entre as possíveis causas da polifagia.

Lembre-se de excluir a excessiva ingestão de alimentos decorrente do aumento de atividades físicas e temperaturas climáticas excessivamente frias.

Além disso, fatores comportamentais e predisposição genética também podem influenciar o apetite de alguns indivíduos ou de determinadas raças, assim como lesões neurológicas.

A procura pelo diagnóstico definitivo normalmente inclui a realização de exames complementares como:

  • hemograma;
  • perfil bioquímico;
  • urinálise;
  • coproparasitológico;
  • testes hormonais;
  • ultrassonografia abdominal;
  • radiografia torácica (suspeita de megaesôfago).

Uma vez estabelecido o exato fator que está desencadeando este sinal clínico, podem ser adotadas as melhores condutas terapêuticas, incluindo a adequação da dieta, quando necessário.

Afinal, a obesidade pode ser uma das consequências mais comum da polifagia em cães e gatos que excedem suas demandas energéticas, afetando ainda mais a saúde e a qualidade de vida do animal.

Dentre as inúmeras possibilidades que levam à polifagia, vamos abordar as principais causas em cães e gatos.

Diabetes Mellitus

Diabetes mellitus é uma enfermidade comum em gatos e cães de idade média a avançada, caracterizada por hiperglicemia resultante da deficiência de insulina, causada pela disfunção ou perda das células beta pancreáticas. Está associada a sinais clínicos como:

  • polifagia;
  • poliúria;
  • polidipsia;
  • glicosúria;
  • ganho de peso;
  • hepatomegalia;
  • catarata;
  • e neuropatia.

É classificada em quatro tipos (RAND, 2020), dentre os quais os que apresentam maior importância na medicina veterinária são:

  • tipo I – decorrente da destruição imuno mediada das células beta, causando deficiência insulínica;
  • tipo II – caracterizada por resistência insulínica e disfunção das células beta;
  • outros tipos específicos – diabetes induzida por medicamentos (ex.: corticoides), endocrinopatias (ex.: acromegalia, hiperadrenocorticismo) ou doença pancreática exógena.

Nos animais acometidos pela doença, a polifagia é resultado do aumento da fome desencadeado pela perda de nutrientes, principalmente glicose, e da diminuição da saciedade devido à ausência de captação desse mesmo composto pelas células do centro de saciedade, atividade mediada pela insulina.

Problemas comportamentais

A relação entre problemas comportamentais e polifagia pode ser complexa e multifatorial. A falta de estimulação mental e física, assim como a ansiedade, podem fazer com que cães e gatos apresentem comportamentos compulsivos como a busca por alimentos.

Além disso, essas situações desencadeiam o estresse, com suas consequentes alterações hormonais e aumento do nível de cortisol, afetando o apetite e resultando numa maior ingestão de alimentos.

Hiperadrenocorticismo

Hiperadrecorticismo (HAC), ou síndrome de Cushing, é uma endocrinopatia caracterizada pelo aumento de cortisol sanguíneo, que pode ser adrenal dependente (tumores adrenocorticais), hipófise dependente (hipersecreção de ACTH) ou iatrogênico (administração de corticosteroides).

O HAC é muito mais comum em cães do que em gatos, espécie na qual 90% dos casos de hiperadrenocorticismo está associado ao Diabetes mellitus (MELLETT et.al., 2013).

O aumento do cortisol leva ao aparecimento de sinais clínicos como polifagia, poliúria e polidipsia. Pode-se também evidenciar alterações na pele e pelagem, alopecia simétrica bilateral, abdômen abaulado, intolerância a exercício, letargia e hepatomegalia. Esses sinais clínicos podem ser menos óbvios em felinos que nos caninos.

Parasitoses

Ao parasitar o organismo de gatos e cães, os endoparasitas consomem os nutrientes do hospedeiro, o que, ao longo do tempo, pode resultar em um quadro de desequilíbrio nutricional ou de desnutrição. Além disso, o parasitismo intestinal pode desencadear uma resposta inflamatória, prejudicando a absorção.

A polifagia nos cães e nos gatos, nesse caso, é uma resposta fisiológica do organismo na tentativa de compensar a perda de nutrientes, com intuito de manter suas funções através da adequada nutrição.

Período de prenhez e lactação

A prenhez e a lactação são períodos nos quais ocorrem alterações significativas no organismo das gatas e cadelas. Durante a gestação, o desenvolvimento dos fetos requer um aumento na ingestão de nutrientes, incluindo proteínas, vitaminas, minerais essenciais e de calorias adicionais.

Após o nascimento, a mãe continua dependendo de uma quantidade significativa de energia e nutrientes para a produção de leite, colaborando com crescimento e o sistema imune dos filhotes.

Dessa forma, é comum observarmos a polifagia durante esses períodos da vida da fêmea, graças ao aumento das demandas metabólicas associadas ao suporte ao desenvolvimento fetal e à amamentação.

Dieta de má qualidade

Alimentos de má qualidade podem não fornecer os nutrientes essenciais em quantidades adequadas, conter compostos de baixa absorção e ainda disponibilizar uma dieta desequilibrada.

Todas essas situações levarão à polifagia em cães e gatos, uma vez que o organismo tentará compensar a falta dos nutrientes necessários ao seu bom funcionamento por meio do aumento da ingestão.

Além disso, uma dieta de má qualidade pode apresentar baixa densidade calórica, o que significa que o animal precisa consumir grandes volumes para atender as suas necessidades energéticas.

A importância do manejo nutricional adequado para a saúde do pet

O manejo nutricional adequado é essencial para promover saúde a longo prazo aos pets, garantindo que recebam uma dieta balanceada, composta por nutrientes de alta qualidade que atendam às necessidades específicas da espécie, raça, tamanho e período de vida do animal.

Através de estudos constantes, a Royal Canin® desenvolveu duas linhas completas de alimentos para cães e gatos: Linha de Nutrição Veterinária e Linha para animais saudáveis, que contemplam dietas equilibradas, de alta qualidade, que atendem às exigências de cada indivíduo, fornecem a quantidade calórica apropriada e apoiam a saúde digestiva do seu paciente.

Algumas causas de polifagia em cães e gatos podem necessitar de uma modificação alimentar para atender as exigências nutricionais, como em casos de prenhez e lactação, períodos nos quais a demanda energética é maior. Para isso, contamos com os alimentos Mother&Babycat e Mini Starter – Mother&Babydog, fórmulas adaptadas para apoiar tanto as altas necessidades de energia das mães quanto o desenvolvimento ideal dos filhotes até 4 meses de vida.

Alimentos para filhotes de gatos e cães com polifagia

Outro exemplo é o caso dos animais diabéticos, que precisam de uma nutrição específica que ajude a diminuir as variações de glicemia pós-prandial, assim como a Diabetic Feline e a Diabetic Canine, que são alimentos coadjuvantes que auxiliam na regulação do fornecimento de glicose e na manutenção da massa muscular.

Assim, contribuímos para a qualidade de vida geral dos animais de estimação. Afinal, cães e gatos bem nutridos têm mais energia, pelagem saudável, sistema imunológico fortalecido e, geralmente, são mais felizes e ativos.

Por isso, não deixe de utilizar nossa Calculadora para Prescrições para indicar um manejo nutricional adequado para a necessidade específica do seu paciente.

Referências Bibliográficas

HALL, E.J.; WILLIAMS, D.A.; KATHRANI, A. BSAVA Manual of Canine and Feline Gastroenterology. VetBooks, 3 ed., 2019.

LAFLAMME, D. Polyphagia and Hyperphagia. In: WASHABAU, R.J.; DAY, M.J. Canine & Feline Gastroenterology. Missouri: Elsevier, 2013.

MELLETT, K.A.M.; BRUYETTE, D.; STANLEY, S. Trilostane therapy for treatment of spontaneous hyperadrenocorticism in cats: 15 cases (2004-2012). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 27, 2013.

OLIVEIRA, N.M.C. et.al. Estudo multicêntrico retrospectivo de diabetes mellitus em cães de Manaus, Amazonas (2016-2018). Brazilian Journal of Development, v.7, n.3, 2021. Acesso em 01 dezembro 2023.

RAND, J. S. Diabetes Mellitus in Digs and Cats. In: BRUYETTE, D.S. et. al. Clinical Small Animal Internal Medicine, p. 93-102, 2020.

ROPSKI, M.; PIKE, A.L. Feeding and diet-related problems. In: LANDSBERG, G.; RADOSTA, L.; ACKERMAN, L. Behavior Problems of the Dog and Cat. Missouri: Elsevier, 4 ed., 2023.

RUCINSKY, R. et.al. AAHA Diabetes Management Guidelines for Dogs and Cats. J. Am. Anim. Hosp. Assoc, v.46, i.3, 2010. Acesso em: 01 dezembro 2023.

ZINI, E.; BERLANDA, M. Hyperadrenocorticism in Dogs and Cats. In: GRAM, D.; MILNER, R.J.; LOBETTI, R. Chronic Disease Management for Small Animals, 1 ed., 2017.