Entenda a influência da alimentação para cães cardiopatas

Entenda a influência da alimentação para cães cardiopatas

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A nutrição específica para cães cardiopatas pode reduzir a quantidade de fármacos, diminuir a ocorrência de complicações, melhorar a qualidade de vida e retardar a progressão da doença. Saiba mais!

Cães de todas as idades e portes podem sofrer de doenças cardíacas, cujas principais causas são fatores genéticos e raciais. De forma geral, cães de porte pequeno e médio são mais predispostos a desenvolverem doenças valvares crônicas adquiridas (também chamadas de endocardiose ou doença mixomatosa da valva mitral), enquanto cães de porte grande são mais predispostos a desenvolverem doenças do miocárdio. Em ambos os casos, geralmente a doença evolui para insuficiência cardíaca congestiva (ICC).

As raças de cães mais predispostas a afecções cardíacas são: poodle, yorkshire terrier, cocker spaniel, schnauzer miniatura, pinscher, west highland white terrier, cavalier king charles spaniel, bulldog inglês, boxer, pastor alemão, labrador retriever, doberman, golden retriever, samoieda e rottweiller.

As cardiopatias são classificadas em estágios adotados globalmente de acordo com as diretrizes internacionais estabelecidas pelo American College of Veterinary Internal Medicine (ACVIM).

Entendendo a nutrição como base para manejo e prevenção de diversas afecções

A nutrição desempenha um papel fundamental no manejo e prevenção de diversas afecções. Uma alimentação adequada fornece os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo, fortalece o sistema imunológico e ajuda a prevenir doenças crônicas.

Uma dieta de excelente qualidade, com croquetes específicos para cada raça ou porte pode, inclusive, prevenir o acúmulo de cálculos dentários e, consequentemente, o risco de desenvolvimento de uma endocardite.

Todo animal cardiopata deve ter alguma restrição dietética?

O estadiamento da cardiopatia é extremamente importante para a alteração da dieta do animal e sua adequação com a terapia medicamentosa.

No passado, o objetivo da terapia nutricional para cães cardiopatas era focado exclusivamente na restrição de sódio. Isso era devido ao número limitado de fármacos disponíveis para tratamento, e nesta condição, a restrição de sódio era benéfica na redução de acúmulo de fluidos em animais com ICC.

Atualmente, com medicações mais eficazes, a restrição severa de sódio não é mais recomendada em todos os estágios da doença cardíaca, mesmo porque tal medida ativaria os mecanismos compensatórios clássicos como o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), que quando estimulado de forma persistente, causa efeitos indesejados e deletérios à saúde do animal.

Pilares do tratamento para cães cardiopatas

Os cães cardiopatas podem ter sua doença controlada clinicamente, com sucesso em grande parte dos casos, desde que instituído tratamento adequado. A eficácia de alguns medicamentos é bem estabelecida em pacientes veterinários, e a terapia farmacológica é realizada na maioria dos casos com sinais clínicos, geralmente com bloqueadores da enzima conversora de angiotensina e/ou bloqueadores dos receptores de angiotensina.

Sendo assim, os principais pilares do tratamento para cães cardiopatas são:

  • tratamento medicamentoso;
  • dieta adequada ao estadiamento da doença;
  • exercícios físicos controlados;
  • acompanhamento periódico com o médico-veterinário.

Os objetivos do tratamento incluem:

  • controlar as manifestações clínicas;
  • contribuir para evitar episódios de crise;
  • retardar o progresso da doença;
  • promover qualidade de vida;
  • aumentar o tempo de sobrevida;
  • melhorar/manter o peso corpóreo e a massa magra.

A nutrição como aliada ao tratamento de cães cardiopatas

Além do uso de fármacos, a nutrição também é um componente da terapia clínica dos cães cardiopatas. Pesquisas científicas mostram que fatores dietéticos podem ser capazes de modular ou retardar a progressão da doença cardíaca, minimizando o número de medicamentos necessários e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos animais.

Assim como observado nos cães, a dieta específica também é importante e traz excelentes resultados na abordagem terapêutica de gatos cardiopatas. Vale ressaltar que o tutor sempre deve ser questionado sobre quais alimentos pode fornecer ao animal, e o médico-veterinário deve analisar com cautela cães cardiopatas que recebem dietas não-convencionais como as caseiras, caso não sejam devidamente formuladas por nutricionistas médicos-veterinários ou Zootecnistas, por apresentarem um risco maior de não serem balanceadas corretamente.

Principais características e objetivos da dieta para o cão com cardiopatia

Por meio da utilização de nutrientes-chave, a intervenção dietética em cães cardiopatas procura fornecer quantidades ótimas de energia, minimizar o estresse oxidativo, reduzir a inflamação, manter o equilíbrio eletrolítico e melhorar a performance cardíaca.

A nutrição pode reduzir a quantidade de fármacos que são utilizados para controle das consequências das cardiopatias, diminuir ocorrência de complicações, melhorar a qualidade de vida e ainda retardar a progressão da doença.

Vamos detalhar as principais características que uma dieta específica para cardiopatas deve conter.

Manutenção do peso corporal e de massa magra

Cães cardiopatas podem apresentar apetite reduzido, o que pode levar à “caquexia cardíaca”, uma perda patológica de massa magra que está associada à perda de peso corporal. Este é um processo multifatorial causado pelos efeitos adversos da anorexia, do aumento das necessidades energéticas e de alterações metabólicas como a elevação de citocinas inflamatórias (ex.: fator de necrose tumoral, interleucina-1). A caquexia cardíaca é um indicador de prognóstico negativo.

Por este motivo, a alimentação que contém maior teor calórico e uma fórmula altamente palatável pode ajudar a reduzir a perda de massa muscular e preservar o escore de condição corporal.

Restrição proteica não deve ser recomendada. Assim, a dieta deve fornecer quantidades adequadas de proteínas de alta digestibilidade para preservar a massa muscular. Além disso, o alimento também deve fornecer aminoácidos específicos, como a taurina, que demonstrou apresentar efeitos inotrópicos positivos (aumenta o tônus e a contratilidade do músculo cardíaco) em animais com insuficiência cardíaca experimentalmente induzida.

Estimular o apetite através da alta palatabilidade

Fornecer alimento de alta palatabilidade é fundamental para cães cardiopatas que apresentam anorexia ou hiporexia. Oferecer pequenas refeições ao dia, utilizar a versão úmida e aquecer o alimento são estratégias que podem contribuir para a ingestão voluntária da quantidade adequada.

Baixo teor de sódio

O sódio desempenha um papel crítico na regulação do equilíbrio de fluidos e da pressão vascular, pois, quando presente, ele puxa a água para o espaço vascular. Logo, a redução do sódio reduz a pressão dentro dos vasos e, portanto, a carga de trabalho do coração.

Na doença cardíaca precoce, a recomendação é que os níveis de sódio sejam moderados e não há a recomendação de uma redução extrema. Isso ocorre porque a redução extrema nos estágios iniciais pode ativar ainda mais o sistema renina-angiotensina-aldosterona e acelerar a progressão da doença cardíaca.

Por outro lado, em cães com insuficiência cardíaca crônica (secundária a Doença Mixomatosa da Válvula Mitral ou Cardiomiopatia Dilatada), foi demonstrado que a restrição dietética de sódio tem efeitos benéficos, em comparação com níveis moderados de sódio (ACVIM Consensus Guidelines, 2019).

Carnitina

A carnitina é uma amina quaternária composta por dois aminoácidos essenciais, a lisina e a metionina, e está presente em altas concentrações nos músculos esquelético e cardíaco. A L-carnitina (forma biologicamente ativa) funciona como um veículo de transporte de ácidos graxos do exterior para dentro da mitocôndria.

A carnitina, embora não seja considerada nutricionalmente essencial na maioria das condições, pois é sintetizada no corpo, é necessária para a oxidação da gordura no coração e, portanto, ajuda a garantir o suprimento de energia para o coração e pode melhorar a força contrátil.

Em certas raças, incluindo Boxer e Doberman, a deficiência de carnitina pode ocorrer e estar associada a cardiomiopatia, porém pode ser melhorada com suplementação.

Estas evidências sugerem a possível existência de um defeito no transporte de membrana que impede a L-carnitina de entrar no interior das células miocárdicas. De uma forma geral, ao fornecer a L-carnitina na dieta pode-se melhorar a produção de energia e o desempenho da função miocárdica.

Arginina

A arginina é um aminoácido essencial e precursor da síntese endógena de óxido nítrico, responsável pela manutenção do tônus vascular normal. A disfunção endotelial tem sido relacionada em cães cardiopatas e, consequentemente, sua suplementação parece melhorar o trabalho cardíaco nesses pacientes.

Antioxidantes

Em cães cardiopatas, independente da causa, há um aumento do estresse oxidativo e redução de antioxidantes, particularmente de vitamina E. Essas alterações sugerem um desequilíbrio entre dano oxidativo e proteção por antioxidantes em animais com insuficiência cardíaca crônica, culminando com a produção de radicais livres que possuem efeitos citotóxicos e inotrópicos negativos. Desta forma, recomenda-se a adição na dieta de antioxidantes como: polifenóis: extrato de chá verde (Camélia sinensis); ácido ascórbico (vitamina C), acetato de dl-alfa tocoferol (vitamina E), extrato de marigold (luteína) e taurina.

Ômega-3

O ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosaexaenoico (DHA) são ácidos graxos essenciais, derivados principalmente de fontes marinhas, que são potentes moduladores anti-inflamatórios e ajudam a prevenir a caquexia cardíaca. Além disso, o EPC e o DHA demonstraram reduzir o risco de arritmia em pacientes com doença cardíaca.

Um estudo revelou que o EPA e DHA derivados de óleos de peixe administrados durante um período de seis semanas reduziu a severidade e frequência de arritmias em cães da raça boxer, que sofrem de cardiomiopatia ventricular direita arritmogênica.

Magnésio e Potássio

Magnésio e potássio são dois eletrólitos que podem se tornar desequilibrados como resultado do tratamento de doenças cardíacas.

A furosemida, um diurético usado no tratamento de insuficiência cardíaca congestiva, pode causar perda de magnésio através da urina e consequente hipomagnesemia. Nesse caso, a hipomagnesemia pode diminuir a contratilidade cardíaca e contribuir para a fraqueza muscular.

Os diuréticos também podem desequilibrar os níveis de potássio na corrente sanguínea, ocasionando arritmias.

Logo, animais cardiopatas devem receber dietas com adequada concentração de magnésio e potássio, evitando desequilíbrios e suas consequências.

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Referências:

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