Erliquiose canina: diagnóstico precoce e prevenção são essenciais para o controle da doença

Erliquiose canina: diagnóstico precoce e prevenção são essenciais para o controle da doença

Links rápidos:

A Ehrlichia canis (E. canis) infecta monócitos e causa a erliquiose canina, uma das mais relevantes doenças infecciosas de cães com alta incidência na clínica médica. Saiba mais! 

O que é Erliquiose? 

A erlichiose é uma das mais relevantes hemoparasitoses dos cães, a E. canis parasita monócitos. O principal transmissor da erliquiose é o carrapato Rhipicephalus sanguineus (R. sanguineus), porém a E. canis já foi identificada em outras espécies de carrapatos. Há a possibilidade, também, de ser transmitida por transfusão sanguínea (Sainz, et. al., 2015; Sykes, 2014). 

Todas as raças de cães são suscetíveis à erliquiose, algumas raças são mais propensas a apresentar sinais clínicos mais severos, como os Huskies Siberianos e os Pastores Alemães, tendo frequentemente um prognóstico pior (FECAVA, 2019; Aziz, et. al., 2022). 

Após um período de incubação de 1 a 3 semanas, o curso da infecção por E. canis pode ser identificada em três fases: aguda (2-4 semanas), subclínica (vários meses a anos) e crônica (Sainz et. al., 2015;  Mylonakis & Theodorou, 2017). 

O Médico-Veterinário pode identificar os seguintes sinais clínicos (FECAVA, 2019): 

  • Perda de peso, anorexia, letargia, febre 
  • Distúrbios hemorrágicos: petéquias/equimoses na pele, mucosas membranas e conjuntivas, hifema, epistaxe 
  • Linfadenomegalia 
  • Esplenomegalia 
  • Sinais oculares: conjuntivite, uveíte, edema da córnea 
  • Sinais neurológicos (menos comuns): convulsões, ataxia, paresia, hiperestesia, déficits de nervos cranianos, meningite/meningoencefalite

Conhecendo mais sobre o agente causador da doença – Ehrlichia canis 

Erliquiose caracteriza um grupo de doenças causadas por uma bactéria intracelular obrigatória, gram negativa, pleomórficas que infectam mamíferos, como gatos, cães e humanos (Neer et. al., 2002., Pennisi et al., 2017, Ramakant et al., 2020).  

O gênero Ehrlichia possui 10 espécies classificadas com base na célula hospedeira infectada: monócitos (E. canis, E. risticii, E. sennetsu), granulócitos (E. ewingii, E. equi e E. phagocytophila – agente da erliquiose granulocítica humana) e trombócitos (E. platys) (Vieira, et. al., 2011).  

O papel do carrapato no ciclo da doença 

O Rhipicephalus sanguineus é o vetor da erliquiose canina. O carrapato adquire a infecção quando se alimenta do sangue de cães infectados. A multiplicação da E. canis ocorre nos hemócitos e nas células da glândula salivar, caracterizando a transmissão transestadial, ou seja, da larva para a ninfa e para o adulto dentro do carrapato (Sykes, 2014). Na patogenia da erlichiose, não consta na biologia do R. sanguineus indícios de transmissão transovariana da E. canis, nem indícios do carrapato ser reservatório da doença (Silva, 2015). 

O R. sanguineus pode transmitir outros hemoparasitas e, por ser amplamente difundido no Brasil, é relativamente comum encontrar cães infectados por E. canis co-infectados com Anaplasma sp., Babesia sp., Bartonella sp., Hepatozoon sp., e Mycoplasma sp. (Vieira, et.al., 2011; Mylonakis & Theodorou, 2017; FECAVA, 2019). 

Durante o processo de reprodução do carrapato do R. sanguineus  as fêmeas e machos acasalam no hospedeiro e o acasalamento ocorre antes ou durante a refeição da fêmea.  Diferentes patógenos podem ser trocados entre um carrapato e outro durante a coalimentação no mesmo local. A formação de ovos no útero começa durante a refeição de sangue da fêmea e, depois que as fêmeas caem de seu hospedeiro no chão, elas procuram uma fenda para se esconder e depositam seus ovos dentro de 48 a 72 horas.

A fase de postura dura de 48 a 72 horas e a fêmea morre no final. Os ovos são protegidos e agrupados por uma cera lipídica amarela e uma média de 3.000 a 10.000 ovos são postos de uma só vez. O restante do ciclo envolve as larvas e ninfas. Todas as formas evolutivas do R. sanguineus realizam repastos e a cada alimentação podem transmitir doenças como a babesiose e a erliquiose (Beugnet, 2018). 

ciclo do carrapato

O diagnóstico das hemoparasitoses pode ser um desafio para o Médico-Veterinário. O exame clínico é insuficiente para diagnóstico da doença devido aos sinais clínicos inespecíficos e alterações nos exames laboratoriais muito semelhantes entre si e com outras enfermidades não infecciosas (Silva, 2015). 

É importante fazer o diagnóstico diferencial para babesiose quando há histórico de ixiodidiose. A babesiose é outra hemoparasitose frequente em cães, uma das principais a ser também transmitida pelo R. sanguineus, causada pelo protozoário Babesia canis. Há ainda a possibilidade de transmissão via transfusão sanguínea. Diferentemente do E. canis, se multiplica nos eritrócitos e gera lise das hemácias. O tratamento de indicado para a babesiose canina é o dipropionato de imidocarb (Sykes, 2014). 

O diagnóstico da erliquiose pode ser feito através de (Sainz et. a.l, 2015; FECAVA, 2019; Araújo, et al., 2022; Aziz, et. al., 2022): 

  • Esfregaços sanguíneos – Visualização de bactérias intracelulares no sangue 

esfregaços corados – baixa sensibilidade somente 4% nos quadros agudos 

  • Sorologia – Ensaio imunossorvente ligado à enzima (ELISA), Reação de imunofluorescência indireta (RIFI).  
  • PCR – Detecta E. canis de 4-10 dias após a infecção. A triagem por PCR de doadores de sangue é fortemente recomendada. 

Como tratar e prevenir a erliquiose canina 

O tratamento da erliquiose canina consiste na administração de antibióticos, entre eles estão: a oxitetraciclina, o cloranfenicol, o imidocarb, a tetraciclina e a doxiciclina (Silva, 2015). A doxiciclina é o antibiótico de escolha principalmente na fase aguda, na dose de10 mg/kg, via oral, uma vez ao dia, durante 28 dias com recuperação clínica em 24-72h, podendo se estender por seis a oito semanas (Neer & Harrus, 2006, Sykes, 2014). 

A maioria dos cães se recupera na sua fase aguda. Porém, quando não tratados ou quando o tratamento é incorreto, o cão pode passar para a fase subclínica. Assim, podem se tornar portadores da E. canis, transformando-se em possíveis reservatórios para a infecção de carrapatos e possibilitando novas infecções de outros animais (Araújo, 2022). 

A melhor maneira de prevenir a erliquiose canina é através do uso de produtos de prevenção de carrapatos. O Médico-Veterinário deve orientar o tutor a escolher o produto conforme diferentes fatores como: estilo de vida, fase de vida, capacidade financeira do tutor e necessidades de parasiticida para o animal de estimação. Deve-se reforçar que a prevenção de carrapatos também reduzirá o risco de outras doenças transmitidas por carrapatos como (Goncalves, 2018; FECAVA, 2019): 

  • A bacteria Anaplasma platys agente causador da Anaplasmose 
  • Os protozoários Babesia canis e Babesia gibsoni agentes da Babesiose 
  • A bacteria Rickettsia rickettsii  agente causadora da Febre Maculosa 
  • O protozoário do gênero Hepatozoon e causadora da Hepatozoonose canina. 
  • O hemoplasmas Mycoplasma haemocanis agente da micoplasmose canina. 
  • O piroplasma Rangelia vitalii, que se assemelha à Babesia sp. a Rangeliose. 

A importância do manejo nutricional em animais acometidos 

A erliquiose canina afeta o funcionamento geral do organismo dos animais e, por isso, o oferecimento de uma alimentação balanceada e de alta qualidade ajuda a fornecer suporte para uma boa recuperação.  

A ROYAL CANIN® disponibiliza para os Médicos-Veterinários excelentes opções de alimentos completos e balanceados para suprir as necessidades nutricionais e únicas de cada cão, conforme a raça, porte e fase de crescimento do animal. Essa atenção e cuidado a cada detalhe nutricional é fundamental para a manutenção adequada da saúde dos cães.  

Para saber mais sobre como a ROYAL CANIN® pode auxiliá-lo, acesse o portfólio completo de alimentos coadjuvantes e para cães saudáveis da e utilize a Calculadora para Prescrições para auxiliar na sua rotina clínica. 

Referências bibliográficas 

Araújo, R.R., Santos, H. S. P., Silva, S. B., Leal, S. M. S., Araújo, E. M., Barbosa, B. J., Santos, H. O., Santana, J. L. S., Mourão, A. P. M. S., Barros, N. C. B., Sa, I. S., Cardoso, J. F. S. Avaliação diagnóstica das hemoparasitoses em cães: Revisão. Pubvet, v. 16, n. 10, 2022. Disponível em: https://www.pubvet.com.br/uploads/38da73077b7e0a9a9676ff85f52ec7ca.pdf Acesso em: 01/04/2023 

Aziz, M.U.,Hussain, S., Song, B., Ghauri, H.N., Zeb, J., Sparagano, O., A. Ehrlichiosis in Dogs:A Comprehensive Review about the Pathogen and Its Vectors with Emphasis on South and East Asian Countries. Vet. Sci v.10 n. 21, 2022. Disponivel em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36669021/ Acesso em: 01/04/2023 

Beugnet, F., Halos, L., Guillot, J. Textbook of clinical parasitology in dogs and cats, 2018. 

Federation of European Companion Animal Veterinary Associations – FECAVA. Ehrlichiosis in dogs. 2019. Disponivel em: https://www.fecava.org/wp-content/uploads/2019/03/CVBD_Ehrlichiosis_190225.pdf Acesso em 01/04/2023 

Gonçalves, S. Hemoparasitose em Cães. Informativo Boehringer Ingelheim. Disponível em: https://vetsmart-parsefiles.s3.amazonaws.com/6990c123f01342d3a4b06e5dcf3a3e11_vetsmart_admin_pdf_file.pdf Acesso em: 14/04/2023. 

Mylonakis M. & Theodorou K. Canine Monocytic Ehrlichiosis: An Update on Diagnosis and Treatment. Acta Veterinaria, v.67, n., p. 299-317, 2017. Disponível em: https://sciendo.com/article/10.1515/acve-2017-0025 Acesso em: 01/04/2023. 

Neer, T. M., Breitschwerdt, E. B., Greene, R. T., & Lappin, M. R. Consensus statement on ehrlichial disease of small animals from the infectious disease study group of the ACVIM. American College of Veterinary Internal Medicine. Journal of veterinary internal medicine. v. 16, n. 3, p. 309 – 315, 2002. Disponível em:  https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1939-1676.2002.tb02374.x?sid=nlm%3Apubmed Acesso em: 01/04/2023 

Pennisi, M. G., Radford, A., Tasker, S. et al. Guideline for Anaplasma, Ehrlichia, Rickettsia infections. Journal of Feline Medicine and Surgery n.19, p. 542-548,  2017. Disponivel em: https://www.abcdcatsvets.org/guideline-for-anaplasma-ehrlichia-rickettsia-infections/ Acesso em: 01/04/2023 

Ramakant,Kumar, R., Verna, H. C., Diwakar, R.P., Canine ehrlichiosis: A review. Jornal of Entomology and Zoology Studies n.8, v. 2, p. 1849 -1852, 2020. Disponivel em: https://www.researchgate.net/publication/341026315_Canine_ehrlichiosis_A_review_Ramakant_Rajesh_Kumar_HC_Verma_and_RP_Diwakar Acesso em: 01/04/2023 

Sainz, A., Roura, X., Miro, G., Estrada-Penã, A., Kohn, B., Harrus, S., Solano-Gallego, L., Guideline for veterinary practitioners on canine ehrlichiosis and anaplasmosis in Europe. Parasites & Vectors, v. 8, n.75, 2015,Disponível em: https://parasitesandvectors.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13071-015-0649-0 . Acesso em: 01/04/2023 

SILVA, I.P.M. Erliquiose canina – Revisão de Literatura. Revista Científica de Medicina Veterinária, 2015. Disponivel em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/9flwfeT5eflR62j_2015-3-24-14-32-0.pdf Acesso em: 01/04/2023 

Sykes, J. E. Ehrlichiosis. In: Sykes, J.E. Canine and Feline Infectious Diseases. Elsevier Saunders, cap 28, p. 278-289, 2014.  

Vieira, R. F. da C., Biondo, A. W. Guimarães, A. M. S., Santos, A. P. Santos, R. P., Dutra, L. H., Diniz, P. P. V. P., Morais, H. A., Messick, J. B., Labruna, M. B., Vidotto, O. Ehrlichiosis in Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 20, n. 1, p. 1-12, 2011. Disponivel em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21439224/ Acesso em: 01/04/2023