Até que ponto a obesidade está relacionada à raça?

Até que ponto a obesidade está relacionada à raça?

Links rápidos:

Fator genético influencia na tendência ao desenvolvimento da doença, porém não deve ser considerado fator único. Entenda a relação com as raças e também outros aspectos essenciais para lidar com a obesidade em gatos e cães

A obesidade é uma doença de alta relevância na clínica de pequenos animais, tanto para cães como para gatos. Pesquisas conduzidas em diversos países estimam que cerca de 52% dos pets encontram-se em sobrepeso ou obesidade, acompanhando uma tendência mundial que vem sendo notada também em seres humanos.

A obesidade em gatos e cães acontece quando o animal apresenta um estado de balanço energético positivo, ou seja, quando seu gasto energético é inferior à ingestão calórica. Frequentemente é reflexo do excesso de energia obtido pela alimentação, mas também pode ter doenças endócrinas como causas primárias. De acordo com diretrizes internacionais atuais, o animal é considerado obeso quando apresenta 30% acima de seu peso ideal.

Quais são as raças mais predispostas à obesidade?

A genética é um importante fator de risco para o desenvolvimento da obesidade. Dentre as raças de cães predispostas ao ganho de peso, podemos citar (de acordo com o porte):

  • Pequeno: Pug, Dachshund, Cavalier King Charles e Scottish Terrier
  • Médio: Beagle, Cocker Spaniel e Basset Hound
  • Grande: Labrador Retriever, Collie, Golden Retriever e Rottweiller
  • Gigante: Boiadeiro bernês, Terra Nova e São Bernardo

Parte da maior tendência racial para o desenvolvimento da obesidade pode ser explicada pela relação entre massa gorda vs. massa magra de diferentes raças caninas, como podemos observar no quadro abaixo:

Quadro 1: Comparativo entre massa gorda vs. massa magra em diferentes raças
caninas de porte grande. Fonte: Adaptado de ROYAL CANIN®, 2003-2004.

Já em relação aos felinos, alguns estudos identificaram que os gatos de raças mistas apresentaram maior probabilidade de desenvolverem obesidade se comparados aos gatos de raças puras. Um estudo conduzido apenas com raças específicas, no entanto, demonstrou que gatos da raça Norueguês da Floresta apresentaram maior tendência ao sobrepeso e obesidade do que aqueles sem pedigree ou raças Oriental de pelo curto ou Siamês.

Desenvolvimento de obesidade em animais sem raça definida

Ainda que a genética seja importante, este não é um fator que isoladamente seja responsável pela obesidade em gatos e cães. Animais sem raça definida (SRD) também são frequentemente acometidos por essa enfermidade, que geralmente depende mais do manejo alimentar do que de outras possíveis causas adjacentes.

A obesidade evolui lenta e insidiosamente, ao ponto da maioria dos tutores não perceberem o aumento do peso do animal. De fato, um estudo conduzido com tutores de pets em clínicas veterinárias, nos quais o médico-veterinário solicitou que eles indicassem na tabela de escore de condição corporal em qual faixa seu pet se encontrava, a maioria apresentou tendência em indicar escores inferiores aos reais, confirmando que a percepção de tamanho do seu animal encontrava-se distorcida.

Diversos fatores de risco são citados como relevantes para o ganho de peso excessivo em felinos, como genética, idade, sexo, estado reprodutivo, castração, estilo de vida e manejo alimentar.

Doenças relacionadas à obesidade e ao sobrepeso nos cães e gatos

Na obesidade ocorre infiltração de gordura nos órgãos e consequentemente maior esforço é demandado do animal para se movimentar devido ao excesso de peso. É por este motivo que surgem, muitas vezes, doenças associadas como Diabetes mellitus, afecções cutâneas, intolerância ao esforço, doenças cardiovasculares e respiratórias e, sobretudo, afecções osteoarticulares dolorosas (como artrose, ruptura de ligamento cruzado e hérnia de disco).

Como diagnosticar o sobrepeso e obesidade?

A obesidade é diagnosticada na própria consulta clínica por meio da anamnese associada à pesagem do animal e da avaliação do escore de condição corporal (ECC).

Anamnese

Frequentemente há histórico de alimentação excessiva por parte dos tutores e outras pessoas que eventualmente possam conviver com o animal obeso. O fornecimento de petiscos para cães e gatos também é identificado como causa importante, uma vez que os tutores tendem a subestimar o impacto das calorias extras na dieta do pet.

Os animais que ingerem calorias em excesso tendem a realizar menos atividade física na medida em que se tornam obesos, o que compromete ainda mais a doença. Muitas vezes os tutores também relatam menor disposição e dificuldade do animal em se locomover e brincar.

Avaliação do escore de condição corporal

Vale ressaltar que o ECC é uma ferramenta simples e extremamente útil no diagnóstico da obesidade em gatos e cães e pode ser facilmente encaixada na rotina clínica. Ela auxilia na avaliação do médico-veterinário e também do tutor, principalmente daquele que tem certa relutância em aceitar que o pet está com sobrepeso. Saiba como incluir o Escore de Condição Corporal de forma simples na consulta.

Exame físico/clínico

No exame físico é possível constatar o aumento de peso por meio da inspeção e palpação de costelas e locais específicos conforme demonstram os quadros 2 e 3 de escore de condição corporal (ECC) abaixo:

Quadro 2: Escore de Condição Corporal em Cães.
Quadro 3: Escore de Condição Corporal em Gatos.

Exames complementares

O médico-veterinário deve avaliar a saúde do animal como um todo. A obesidade pode ser causa ou consequência de outras doenças, como citado anteriormente. Solicitar check-ups e exames complementares como hemograma, bioquímica sérica, urinálise e mensuração de pressão arterial é fundamental para investigar a presença de doenças concomitantes.

A obesidade pode causar alterações significativas no metabolismo de lipídeos e lipoproteínas, elevando as concentrações séricas de colesterol e triglicerídeos. Tanto em cães como em gatos a obesidade está relacionada à resistência insulínica, e no gato pode causar o desenvolvimento de Diabetes mellitus, relação ainda não comprovada em cães.

Tratamento para obesidade em gatos e cães

O programa de perda de peso com dieta hipocalórica é o ponto central do tratamento da obesidade. A primeira etapa consiste em definir em qual índice de ECC o paciente se encontra, para determinar a porcentagem de excesso de peso que ele apresenta. Em seguida, calcular o peso meta da primeira etapa do programa respeitando a porcentagem de perda de peso semanal adequada para gatos e cães. Em cães é de 1 a 2% por semana, já em gatos de 0,5 a 1%, no máximo.

A escolha do alimento correto é primordial para que o animal possa emagrecer de forma saudável e sem passar fome. Teores de proteína e fibras mais altos, além de adição de nutrientes funcionais como fibra de Psyllium e L-carnitina contribuem para a sensação de saciedade e o gasto energético.

Saiba mais sobre o programa de perda de peso nos artigos selecionados abaixo:

Formas de prevenção da obesidade

A obesidade é uma doença cujo tratamento é mais complexo do que a prevenção, uma vez que a doença resulta de desequilíbrios há muito tempo instalados. Por isso, o manejo nutricional adequado deve ser abordado de forma preventiva pelo médico-veterinário sempre que possível, especialmente para tutores de primeira viagem, evitando assim que filhotes se tornem adultos obesos.

Soluções nutricionais para prevenção do ganho de peso em gatos

Para felinos que possuem tendência ao ganho de peso, a ROYAL CANIN® oferece alimentos com formulação precisa para atender os requerimentos energéticos e nutricionais diários de forma balanceada e saudável. Os alimentos LIGHT da linha FELINE CARE NUTRITION são desenvolvidos com ingredientes de alta qualidade, proteínas de alta digestibilidade e valor biológico e nutrientes funcionais que auxiliam a queima de gordura e contribuem para evitar o ganho de peso, como o Psyllium e a L-carnitina.

Conscientização dos tutores sobre alimentação e controle de peso

Muitos tutores utilizam a alimentação e o fornecimento de petiscos para expressar o seu afeto aos pets porque os consideram um membro da família. No entanto, para os animais os alimentos não possuem o mesmo significado social e afetivo. Desta forma, tutores cometem erros de manejo e comportamentais que favorecem o desenvolvimento da obesidade em gatos e cães. Alertar sobre os problemas que podem ser causados pela obesidade e ensinar os tutores outras formas de demonstrar carinho pelo seu pet podem ajudar a diminuir este importante fator de risco.

4 dicas para orientar tutores

1. Não alimentar os animais durante as refeições da família
A administração de sobras de refeição humana não é aconselhável, pois além de conferir maior ingestão calórica ao animal, condiciona o mesmo a esperar por isso em todas as refeições, alimentando este ciclo vicioso.

2. Evitar petiscos ou trocar por opções de baixa caloria
Ainda que petiscos sejam desnecessários, sabemos que suspender completamente o fornecimento de um “agrado” ao animal pode ser muito desafiador. Nos casos em que o tutor relute em retirar completamente os petiscos, o recomendado é orientar o fornecimento de opções de baixa caloria em pequenas quantidades diárias (sempre contabilizando as respectivas calorias). Os animais não possuem paladar apurado como o de seres humanos, o que facilita a realização de trocas para alimentos mais adequados.

3. Pesar as refeições antes de fornecer
A pesagem das refeições é a forma mais adequada de garantir que o animal esteja consumindo a quantidade correta de ração. O uso de copos medidores pode nem sempre ser fidedigno, especialmente se o tutor utilizar o mesmo copo para alimentos com densidade calórica diferentes.

4. Não oferecer alimentos como forma de agrado
Como citamos acima, as refeições não possuem significado social e afetivo para os animais como acontece com os seres humanos. Alimentos diferentes do que o animal está acostumado podem causar desequilíbrios na microbiota além de conferir excesso de calorias. Em situações como essas, é preferível fazer uma brincadeira ou um grande passeio com o pet, pois na maioria das vezes, o comportamento “pedinte” do animal muitas vezes significa apenas que o pet quer a atenção de seu tutor.

A ROYAL CANIN® possui portfólio completo de soluções nutricionais formuladas cuidadosamente para promover o controle de peso saudável em gatos e cães. Acesse nossa Calculadora para Prescrições para facilitar a prescrição dos alimentos para o programa controle de peso, aumentando assim as chances de sucesso no tratamento de seus pacientes.

alimentos da linha Satiety

Referências bibliográficas

CASE, L. P. et al. Canine and feline nutrition. 3 ed. Mosby Elsevier: Missouri. p. 313 – 342, 2011.

DIEZ, M., NGUYEN, P. Obesity, epidemiology, pathophysiology and management of the obese dog. Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition. Royal Canin, 2006.

GERMAN, A. & MARTIN, L. Feline obesity: epidemiology, pathophysiology and management.
Encyclopedia of feline clinical nutrition. Royal Canin, p. 3 – 49, 2007. Disponível em:
http://ivis.org/advances/rcfeline/toc.asp.