Aspectos inflamatórios da obesidade

Aspectos inflamatórios da obesidade

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A obesidade é uma doença de alta prevalência entre animais domésticos. Entenda neste artigo as consequências metabólicas causadas pela produção e liberação de mediadores inflamatórios no organismo de um animal obeso

A obesidade é uma doença caracterizada por um estado inflamatório sistêmico de baixa intensidade, porém crônico, e que resulta em sérios prejuízos ao organismo dos animais. De acordo com diversos autores, gatos e cães com sobrepeso ou obesos representam cerca de 20 a 40% da população em países desenvolvidos.

As razões para este fenômeno são usualmente as mesmas da obesidade humana: ingestão de calorias em excesso e baixa atividade física. Esta condição é chamada de balanço energético positivo e significa que as calorias ingeridas em excesso e que não foram gastas pelo organismo serão armazenadas no tecido adiposo do animal.

Existem dois tipos de tecido adiposo em mamíferos: branco e marrom. A principal função do tecido adiposo branco é o armazenamento de energia por meio de triacilgliceróis, enquanto o marrom é responsável por gerar calor e manter a temperatura corporal.

No passado, acreditava-se que o tecido adiposo branco era um depósito passivo e inofensivo de gordura. Atualmente, a ciência o reconhece como um tecido endócrino ativo que se comunica com todo o organismo por meio da secreção de uma ampla variedade de substâncias que exercem efeitos deletérios em outros órgãos, chamados coletivamente de adipocinas. Essas substâncias participam do metabolismo da glicose e dos lipídeos, da resposta imune e muitas vezes são a causa ou agravamento de doenças relacionadas à obesidade.

Biomarcadores relacionados à obesidade

Os estudos sobre o papel secretório do tecido adiposo se iniciaram na década de 90, após a descoberta da leptina e do seu papel na saciedade. São outros exemplos de biomarcadores associados à obesidade:

Adiponectina: hormônio polipeptídeo que desempenha papel central no metabolismo de gorduras e carboidratos. Sua secreção é estimulada pela insulina e inibida pelo fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6). Sua secreção aumenta com a redução da massa corpórea, e se encontra reduzida em animais obesos. A adiponectina exerce ação semelhante em seres humanos e em gatos, o que indica por que, assim como em humanos, a resistência insulínica também está relacionada com o surgimento de diabetes tipo 2 nessa espécie.

Resistina: polipeptídeo que exerce papel contrário ao da adiponectina. A resistina aumenta a resistência à insulina e atua como fator pró-inflamatório, aumentando a produção de TNF-α, Interleucina-1, 6 e 12.

Fator de necrose tumoral α (TNF-α): inibe a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas, causa resistência insulínica ao bloquear os receptores para este hormônio, inibe a síntese e secreção de adiponectina e impede o transporte de glicose para os hepatócitos.

Interleucina 6 (IL-6): aproximadamente 30% da IL-6 circulante é secretada pelos adipócitos, sendo a síntese no tecido adiposo visceral três vezes maior do que no tecido adiposo subcutâneo.

Obesidade e a síntese e liberação de mediadores inflamatórios

Uma revisão colaborativa que analisou 57 estudos prospectivos em humanos obesos foi realizada em Oxford (Inglaterra) em 2009, no qual 900 mil pacientes foram analisados. Esse estudo concluiu que a obesidade é um fator preditivo para o aumento da mortalidade.

Assim como em humanos, a síntese e liberação de mediadores inflamatórios de forma constante pelo tecido adiposo causam sérias alterações metabólicas em gatos e cães e podem levar ao surgimento de diversas doenças, diminuindo a qualidade de vida e longevidade destes animais.

Consequências da obesidade

As principais são:

  • Endocrinopatias: hiperadrenocorticismo, pancreatite, resistência insulínica e dislipidemias em cães e diabetes tipos 2 e lipidose hepática em gatos. Embora a resistência insulínica ocorra tanto em gatos como em cães, o diabetes mellitus tipo 2 causado pela obesidade é comprovado apenas na espécie felina.
  • Doenças ortopédicas: osteoartrites, ruptura do ligamento cruzado, doença do disco intervertebral e claudicação;
  • Problemas respiratórios: colapso de traqueia, hipertensão;
  • Desordens do trato urinário: urolitíases, carcinoma de células de transição;
  • Problemas reprodutivos: distocias;
  • Neoplasias

Os tutores de gatos e cães obesos devem ser conscientizados sobre o impacto dessas alterações no organismo de seus animais. A obesidade é reconhecida pela medicina veterinária como uma doença e, portanto, deve ser tratada.

O tratamento consiste em alcançar um balanço energético negativo por meio de dieta específica combinada à atividade física. A perda de peso geralmente reverte a tendência de liberação excessiva destes mediadores inflamatórios e resulta em melhora da sensibilidade à insulina, proporcionando mais saúde e longevidade aos pets.

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Referências

GERMAN, A.J. et al. Obesity, its associated disorders and the role of inflammatory adipokines in companion animals. Vet Journal, 2010.

Prospectives Studies Collaboration. Body-mass index and cause-specific mortality in 900 000 adults: collaborative analyses of 57 prospective studies. The Lancet Journal, 2009.

KURYSZKO, J.; SLAWUTA, P.; SAPIKOWSKI, G. Secretory function of adipose tissue. Polish Journal of Veterinary Sciences. 2016.