Paralisia de laringe em cães: como identificar o problema e fazer o manejo do paciente?

Paralisia de laringe em cães: como identificar o problema e fazer o manejo do paciente?

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A paralisia de laringe em cães é um problema que pode afetar animais de diferentes raças. Saiba como identificar o problema e realizar o manejo adequado do paciente. 

As principais funções da laringe são regular o fluxo de ar, produzir a vocalização e prevenir a inalação de alimentos. Se os músculos intrínsecos e/ou o suprimento nervoso da laringe não estiverem normais, as funções ficam comprometidas.  

O funcionamento da laringe se dá através da abdução das cartilagens aritenóides a cada inspiração pelo músculo cricoaritenóide que é inervado pelo nervo laríngeo recorrente. Em cães com lesões no nervo laríngeo ou no músculo cricoaritenóide, a paralisia de laringe pode ser unilateral ou bilateral (Monnet, 2011; Nelson & Couto, 2020). 

Os sinais de paralisia de laringe em cães podem ser bastante sutis: há um ruído aumentado quando cães respiram. O tutor pode relatar ao Médico-Veterinário (Monnet, 2011; Platt & Olby, 2014; Kemp, 2022): 

  • aspereza na respiração  
  • respiração ofegante 
  • ruídos respiratórios Inspiratórios 
  • disfonia – latido rouco ou áspero 
  • tosse seca (principalmente quando bebem água) 

Esses sinais podem ser leves a ponto de se manifestarem após determinados períodos de estresse respiratório, como realização de exercícios e em dias com temperaturas elevadas. Com a evolução do quadro, quando a paralisia é bastante pronunciada, é evidente que o cão faz esforço para respirar. A evolução pode obstruir completamente as vias aéreas. A persistência dos sinais iniciais podem ser intensificados e ser associados a: (Platt & Olby, 2014; Monnet, 2011):

  • alteração na coloração da língua 
  • prostração 
  • dispneia  
  • cianose 
  • síncope 
  • pode haver relato de que o cão parece estar “sorrindo” quando está ofegante, com os lábios puxados para trás e a língua para fora
  • colapso 

O que é a paralisia de laringe? 

A paralisia de laringe causa dificuldade respiratória por uma perda de função no nervo que controla a laringe. As cartilagens aritenóides que deveriam abduzir durante a inspiração, em vez disso, são sugadas para dentro da abertura ou, em casos graves, fechadas por sucção, podendo criar obstruções. A doença pode afetar cães e gatos, mas os cães apresentam sinais clínicos com mais frequência (Sato, 2015; Nelson & Couto, 2020). 

A paralisia de laringe em cães pode apresentar-se de forma adquirida ou congênita. A paralisia de laringe congênita foi descrita em cães da raça Bouvier de Flandres, Bull Terrier, Dálmatas, Rottweiler, Husky Siberiano, Pastor-alemão braco, Afghan Hound, Cocker Spaniel, Dachshund e Pinscher os sinais se apresentam em cães com menos de um ano de idade. Estes animais podem apresentar déficits neurológicos severos, como ataxia (Sato, 2015; Monnet, 2011; Johnson,2020; Kemp, 2022). 

A paralisia de laringe adquirida normalmente se manifesta em cães de meia-idade ou idosos. Embora a paralisia de laringe em cães tenha sido anteriormente considerada idiopática, agora há fortes evidências de que ela ocorre como um componente particularmente proeminente de uma neuropatia generalizada (Platt & Olby, 2014; Sato, 2015; Monnet, 2016; Johnson, 2020). É importante pesquisar outras causas como trauma ou tumores no pescoço que podem danificar os nervos laríngeos recorrentes diretamente ou através de inflamação e cicatrização (Nelson & Couto, 2020; Monnet, 2011). 

Raças mais acometidas e fatores predisponentes 

A paralisia de laringe em cães pode ocorrer em qualquer idade ou raças, mas há maior incidência em cães raças de grande porte idosos. As raças com maior predisposição são (Monnet, 2011; Platt & Olby, 2014; Gough et. al., 2016; Sato, 2015;  Johnson, 2020; Nelson & Couto, 2020; Kemp, 2022):  

  • Afghan Hound 
  • Akita 
  • Bull Terrier 
  • Boxer 
  • Dálmata
  • Labrador
  • Rottweiler 
  • Pastor Alemao 
  • Golden Retriever 
  • Husky Siberiano 

Como diagnosticar a paralisia de laringe nos cães? 

O diagnóstico definitivo de paralisia de laringe em cães é feito através de laringoscopia. O movimento das cartilagens é observado durante leve anestesia enquanto o paciente respira profundamente ou através de ultrassonografia quando o paciente está acordado (Platt & Olby, 2014, Johnson, 2020).

Na paralisia de laringe em cães, as cartilagens aritenóides e as pregas vocais permanecem em uma posição mediana ou são sugadas para dentro durante a inspiração e podem permanecer levemente abertas durante a expiração (Monnet, 2016, Nelson & Couto, 2020; Kemp, 2022). 

Uma vez que há o diagnóstico de paralisia de laringe em cães, é importante realizar testes para identificar doenças subjacentes ou associadas (principalmente em cães sem raça definida), como pneumonia por aspiração, além de identificar alterações concomitantes de motilidade faríngea e esofágica (Nelson & Couto, 2020; Kemp, 2022). 

Diagnóstico diferencial 

De acordo com Platt & Olby (2014), Kemp (2022), Johnson (2020) deve-se ter como diagnóstico diferencial de paralisia de laringe:  

  • Colapso de laringe 
  • Miosite 
  • Encefalite: tronco cerebral 
  • Hipotiroidismo 
  • Miastenia Gravis 
  • Neoplasia
    – 
    Laringe
    – 
    Tireóide
    – Tronco cerebral 
  • Granuloma, foreign 
  • Corpo estranho 
  •  inflammatory laryngitis. 
  • Trauma cirúrgico do nervo vago 
  • Intoxicação
    – Chumbo
    – 
    Organofosforado 

Tratamento e manejo do paciente com paralisia de laringe 

O tratamento pode ser emergencial para aliviar a obstrução e tem caráter imediato e cirúrgico para o tratamento a longo prazo. A cirurgia melhora a qualidade de vida do paciente (Monnet, 2011; Platt & Olby, 2014). 

O tratamento de emergência é direcionado para cães que devido à paralisia de laringe apresentam quadros de síncope, cianose e colapso em resultado da obstrução das vias aéreas superiores. O tratamento consiste em administração de corticosteróides para reduzir a inflamação e o edema da laringe e administração de oxigênio para aliviar a hipóxia.

A fluidoterapia deve ser administrada com cautela por risco de edema pulmonar. Se com o tratamento administrado não houver melhora, é recomendado a traqueostomia de emergência para contornar a via aérea superior (Monnet, 2011; Platt & Olby, 2014). 

O procedimento cirúrgico comumente utilizado para corrigir a paralisia de laringe em cães ‘é a lateralização unilateral da cartilagem aritenóide, cordectomia ventricular e aritenoidectomia parcial via laringectomia oral ou ventral e traqueostomia permanente  (Monnet, 2011; Platt & Olby, 2014; Kemp, 2022).

O procedimento é indicado em cães que possuem paralisia de laringe bilateral. Cães com paralisia laríngea unilateral normalmente conseguem tolerar bem a disfunção, não sendo candidatos para cirurgia (Johnson, 2020). 

Recomendações aos tutores 

Aos tutores, uma vez que o diagnóstico de paralisia de laringe seja confirmado, é importante a conscientização de que pode haver progressão com o tempo. O prognóstico é variável, pois há casos mais brandos, que conseguem ser tratados de forma conservadora. É importante fazer alterações no estilo de vida do animal, como (Johnson, 2020) 

  • Diminuir situações de estresse 
  • Evitar exercícios intensos 
  • Evitar ambientes quentes e abafados 
  • Usar colar inflável, que pode ajudar a manter a cabeça na posição vertical  
  • Usar peitoral no lugar de coleira ao redor do pescoço 
  • Perder peso, se necessário, para atingir uma condição corporal com pontuação de 4–5/9  
  • Observar a alimentação e a água, cujos potes devem ser posicionados na altura da cabeça para ajudar na passagem pelo esôfago.  
  • Priorizar alimentos úmidos 

Na impossibilidade de se oferecer alimento úmido, é possível misturar o alimento seco com água e bater no liquidificador para obter uma consistência mais adequada. A água pode causar engasgos ou tosse: pode ser benéfico usar gelo picado ou cubos de gelo. 

As principais complicações da paralisia de laringe em cães são o megaesôfago, pneumonia aspirativa e déficits neurológicos que terão um prognóstico pior.  

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Referências Bibliográficas

Gough, A., Thomas, A., O’Neill D. Breed Predispositions to Disease in Dogs and Cats 3rd Edition, 416p. 2016. 

Johnson, L.R. Canine and Feline Respiratory Medicine. 2nd Edition, 232p, 2020 

Kemp, M.H. Laryngeal Paralysis in Dogs and Cats. MSD Manual – Veterinary Manual, 2022. Disponivel em: https://www.msdvetmanual.com/veterinary/respiratory-system/laryngeal-disorders/laryngeal-paralysis-in-dogs-and-cats Acesso em: 07/03/2023. 

Monnet, E. Managing laryngeal paralysis (proceedings). DVM 360, 2011. Disponivel em: https://www.dvm360.com/view/managing-laryngeal-paralysis-proceedings Acesso em:07/03/2023 

Monnet E. Surgical Treatment of Laryngeal Paralysis. The Veterinary clinics of North America. Small animal practice, 46(4), 709–717p. 2016. 

Nelson, R.W. & Couto C.G. Small Animal Internal Medicine. 6th Edition, 1608p, 2020.  

Platt, S. & Olby, N. BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology. 4th Edition, 554p. 2014.  

Sato, W.U. 240. Afecções do Sistema Nervoso Periférico. In: Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. 6537-6609 p. 2015.