Pneumonia aspirativa em cães e gatos

Pneumonia aspirativa em cães e gatos

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A pneumonia por aspiração resulta em uma infecção pulmonar que afeta as vias aéreas de gatos e cães e, geralmente, ocorre em função de falha na deglutição; saiba como realizar o diagnóstico de forma assertiva para oferecer a melhor opção de tratamento aos seus pacientes

A inalação de secreções e fluídos para o trato respiratório inferior e laringe pode resultar em pneumonia aspirativa, também conhecida como pneumonia por broncoaspiração e outros nomes. Essa é considerada uma das afecções com grande relevância na clínica de pequenos animais devido ao seu elevado índice de mortalidade e possíveis complicações (CAMARGO et al, 2020).

A doença também é comum em filhotes que recebem o leite em mamadeira, quando este é administrado de forma incorreta, ou em filhotes que possuem malformações congênitas, como palatosquise (fenda palatina) ou queilosquise (lábio leporino), além de outros casos como veremos adiante.

Em alguns casos, pode ainda haver a ocorrência de infecções secundárias. Quando há a aspiração de ácido gástrico, por exemplo, há o risco de ocorrer também o desenvolvimento da síndrome da angústia respiratória aguda, além de outros tipos de complicações que podem comprometer a saúde e até mesmo a vida do pet.

O diagnóstico diferencial deve ser realizado para a definição da melhor opção de tratamento, conforme cada caso, visto que os sinais clínicos podem ser semelhantes a pneumonia bacteriana, abcesso de lobo pulmonar e outras afecções (TILLEY e SMITH JR., 2015).

Com o tratamento adequado, o prognóstico, geralmente, é favorável. Entretanto, isso dependerá da gravidade dos sinais clínicos e se há alguma infecção concomitante. Por outro lado, sem o tratamento adequado, a doença pode apresentar recidivas e em caso de aspiração aguda e grave o animal pode vir a óbito (TILLEY e SMITH JR., 2015).

Neste artigo veremos com detalhes o que é a doença, como identificá-la e proporcionar um tratamento adequado ao paciente.

O que é a pneumonia aspirativa?

A pneumonia por aspiração acontece quando há a inalação de matéria líquida ou sólida para os pulmões do indivíduo. Ocorre uma infecção pois o conteúdo pode carregar microorganismos para a via respiratória inferior do animal ou pelo processo inflamatório gerado pela presença indevida do conteúdo nas vias inferiores.

Ou seja, a afecção pode ser causada pela entrada de agentes não infecciosos ou infecciosos pelas vias aéreas de gatos e cães, sendo que as pneumonias causadas por agentes infecciosos são as mais comuns, acometendo os caninos com maior frequência (MURAKAMI, et al, 2011).

Quando os reflexos laríngeos estão sobrecarregados ou com funcionamento inadequado, há o comprometimento da função pulmonar devido a obstrução mecânica, broncoconstrição, processos inflamatórios e danos químicos. Isso pode ser causado pela inalação indevida ou pela falha na ingestão de itens como alimentos ou conteúdos estomacais, como regurgitação e vômito (MURAKAMI, et al, 2011).

Estudos mostram que há alta prevalência do envolvimento de microrganismos na pneumonia aspirativa, sendo que os principais identificados foram: Escherichia coli, Mycoplasma, Staphylococcus, Pasteurella, Bordetella bronchiseptica e Streptococcus.

Pneumonia aspirativa em gatos

A broncopneumonia aspirativa acomete com mais frequência os cães, sendo menos comum nos gatos (TILLEY e SMITH JR., 2015). No entanto, também pode ser vista em felinos devido a quadros como: regurgitação, disfagia, vômitos, após a administração acidental de alimento ou complicação anestésica, no uso de medicações orais ou até mesmo outras causas iatrogênicas (PEREIRA, 2019).

Sinais clínicos de pneumonia por aspiração em cães e gatos

As funções respiratórias passam por diferentes alterações de acordo com o estágio da doença. Entretanto, na fase inicial, a afecção pode comprometer apenas um pulmão, havendo a diminuição da ventilação alveolar e do fluxo sanguíneo. Já nas demais fases, o agravamento da doença pode resultar em processos inflamatórios de ambos os pulmões, em que alguns ou todos os alvéolos são preenchidos com células sanguíneas e líquidos (MURAKAMI, et al, 2011).

Os sinais clínicos podem se manifestar de forma superaguda, aguda ou crônica, dependendo de cada caso, sendo que os mais comuns em gatos e cães são (TILLEY e SMITH JR., 2015):

  • tosse (mais comum em cães do que em gatos);
  • taquipnéia;
  • secreções nasais;
  • intolerância ao exercício;
  • dificuldade ou angústia respiratória;
  • cianose.

Outras manifestações clínicas podem ser observadas conforme a causa de base, como (TILLEY e SMITH JR., 2015):

  • regurgitação;
  • vômito;
  • disfagia;
  • fraqueza;
  • depressão;
  • anorexia;
  • febre;
  • apatia;
  • perda de peso;
  • estertor ou estridor.

Além disso, os animais acometidos podem ter outras manifestações clínicas, desenvolver infecções secundárias e apresentar complicações como edema pulmonar (MURAKAMI, et al, 2011).

Predisposição racial e fatores predisponentes

Não há predileção racial, de porte, idade e gênero para o acometimento por pneumonia aspirativa em cães e gatos, sendo que esse fenômeno pode ser desencadeado por diversos fatores, como (TILLEY e SMITH JR., 2015; CAMARGO et al, 2020) os listados abaixo.

  • Doenças ou disfunções esofágicas: fístula bronco esofágica; presença de tubo nasogástrico; esofagite de refluxo; megaesôfago e obstrução esofágica, como presença de massas/tumores; corpo estranho esofágico e estenose.
  • Disfunções orais, laríngeas e faríngeas: disfunção motora cricofaríngea; doença neuromuscular generalizada; estenoses; malformações anatômicas, como fenda palatina ou lábio leporino; e paralisias, como a miastenia grave focal, idiopática e por lesão nervosa traumática.
  • Causas iatrogênicas: causada de forma não intencional geralmente por erros na alimentação com sonda; erros na alimentação de filhotes via mamadeira ou seringa, principalmente quando há o uso de grandes quantidades de alimento ou líquidos; medicações orais em apresentação de soluções, como xaropes e suspensões; entre outros.
  • Alterações dos níveis de consciência: animal sob anestesia geral; sedação; convulsões; coma; traumatismo craniano (TCE); uso de determinados fármacos, como relaxantes musculares; trauma das vias aéreas; alimentação recente antes de procedimentos que demandam da realização de jejum; período pós-ictal; distúrbio metabólico grave etc.
  • Retardo no esvaziamento gástrico: pode ser causado por quadros de obstrução intestinal; ansiedade; dor; determinados tipos de medicamentos que diminuem a motilidade do trato gastrintestinal; disfunções peristálticas; período gestacional e obesidade.

Diagnóstico de pneumonia por aspiração

Além da observação dos sinais clínicos apresentados pelo paciente, a anamnese detalhada, contendo o histórico completo do animal, e a avaliação clínica serão essenciais para que o Médico-Veterinário possa solicitar exames complementares adequados ao caso para formar o diagnóstico, podendo incluir (TILLEY e SMITH JR., 2015):

  • diagnóstico por imagem: poderá ser solicitada uma radiografia torácica, porém pode não apresentar alterações caso a aspiração tenha ocorrido há pouco tempo ou a depender do conteúdo aspirado. É importante ressaltar que o exame radiográfico sempre traz mais confiança ao diagnóstico quando realizadas duas ou mais projeções, de acordo com cada caso, uma vez que o mesmo tende a apresentar diversas sobreposições de estruturas;
  • hemograma, avaliação bioquímica e urinálise: a depender do caso pode haver anemia arregenerativa e/ou leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda. É importante avaliar se há suspeita de quadro de sepse (CAMARGO et al, 2020);
  • hemogasometria arterial: provável quadro de hipóxia e PaCO2 (pressão parcial de CO2) geralmente baixa.

Além desses, outros exames podem ser solicitados, como testes de função de tireóide e adrenal, pesquisa de anticorpos contra receptores de acetilcolina, avaliação da creatina quinase para verificação dos fatores predisponentes e outros, conforme cada caso (TILLEY e SMITH JR., 2015).

Tratamento da pneumonia aspirativa em cães e gatos

O tratamento para pneumonia aspirativa em cães e gatos será indicado pelo Médico-Veterinário de acordo com o caso, mas pode incluir a oxigenioterapia em casos de angústia respiratória ou até mesmo a ventilação mecânica. O repouso e até mesmo uma internação também poderão ser recomendados, conforme avaliação do profissional que conduz o caso. (TILLEY e SMITH JR., 2015).

É importante observar se o paciente permanece em decúbito lateral do mesmo lado durante períodos prolongados de duas horas ou mais. Eles deverão ser manejados de forma que o decúbito seja intercalado. (TILLEY e SMITH JR., 2015).

Quando o paciente já estiver estabilizado, a prática de realizar exercícios físicos em grau leve, como caminhadas curtas, pode contribuir para a tosse produtiva, facilitando a expectoração e desobstrução das vias aéreas do animal (TILLEY e SMITH JR., 2015).

O Médico-Veterinário também pode receitar certos fármacos durante o tratamento, de acordo com cada caso. As opções incluem corticosteróides em doses antiinflamatórias, antibioticoterapia e broncodilatadores (TILLEY e SMITH JR., 2015).

Estudos mostram que os antibióticos são altamente recomendados devido à alta probabilidade de envolvimento bacteriano na afecção. Porém, é importante ressaltar a importância do conhecimento do tipo de bactéria presente no quadro para a escolha do antibiótico ideal, visando solucionar o problema de forma eficaz e minimizar ao máximo o surgimento de resistência bacteriana pelo uso inadequado dos fármacos.

O prognóstico irá depender de diversos fatores, como tipo e quantidade de conteúdo inalado, tempo de evolução e diagnóstico, estado geral de saúde do animal, entre outros. E ainda vale ressaltar que quadros agravados podem levar o animal ao óbito.

Formas de prevenção e recomendações aos tutores

Diversos fatores podem resultar na pneumonia por aspiração, mas existem formas eficazes de prevenção dessa grave doença, principalmente quando a causa for iatrogênica.

É recomendado que os animais sejam levados às consultas com certa frequência para avaliação clínica do estado geral de saúde. É neste momento também que o profissional poderá orientar os tutores sobre as formas de prevenir a pneumonia aspirativa e outras afecções.

No caso do uso de fármacos, só devem ser administrados com a devida orientação e prescrição do Médico-Veterinário, que irá informar o tutor sobre a forma correta de oferecer o medicamento ao animal, além de assegurar a dosagem correta.

Seguir as recomendações de jejum antes da realização de exames laboratoriais e cirurgias também pode prevenir a pneumonia por aspiração.

É importante reforçar com o tutor que mesmo uma mínima quantidade de alimento já é suficiente para causar grandes problemas caso o animal apresente regurgitação sob sedação ou derivados graus de inconsciência.

Além disso, para aumentar a segurança do Médico-Veterinário quanto à realização de procedimentos que necessitem da sedação do animal, pode ser realizada uma rápida avaliação ultrassonográfica no momento imediato antes de iniciar o protocolo pré-anestésico, para assegurar que não há presença de conteúdo gástrico no pet, tornando assim a realização do procedimento mais segura.

O manejo alimentar adequado é primordial para a prevenção de diversas enfermidades, incluindo a pneumonia por aspiração, além de suporte durante o tratamento e recuperação do animal. É importante que o alimento ofertado tenha tamanho e textura adequados para o paciente, evitando problemas na deglutição.

Em relação ao manejo alimentar dos filhotes que necessitam de alimentação via mamadeira, os cuidados devem incluir o posicionamento correto do animal, certificando-se de que o mesmo possui reflexo de sucção. Além disso, o orifício da mamadeira deve ser adequado ao tamanho e idade dos filhotes.

E ainda falando sobre manejo alimentar, algumas patologias demandam cuidados especiais, como no caso do megaesôfago, já que esses animais possuem maior predisposição a desenvolverem quadros de pneumonia aspirativa.

Veja mais: Como abordar o paciente com megaesôfago e principais recomendações aos tutores

Importância da adequação dos manejos

A alimentação deve ser recomendada de acordo com as necessidades de cada raça, porte e fase de crescimento do animal. Isso é primordial para evitar quadros de regurgitação e vômitos, que podem causar pneumonia aspirativa. Animais de porte e raças pequenas, por exemplo, devem receber o alimento com o tamanho e consistência adequados, não sendo recomendado grãos muito grandes.

Também é indicado que o alimento seja oferecido ao animal em quantidades adequadas, sendo recomendado o fracionamento em pequenas porções ao longo do dia, para que o mesmo não consuma grande quantidade de alimento em uma única refeição.

Além disso, o alimento deve ter a formulação enriquecida com nutrientes de excelente qualidade, visando a manutenção da saúde geral do pet e o fortalecimento do seu sistema imunológico. Isso será essencial para melhorar a resposta do animal ao tratamento proposto no caso de diversas afecções, evitando maiores complicações ao quadro.

Evitar que o animal vivencie situações de estresse e ansiedade também pode contribuir para a prevenção, visto que alguns animais podem se alimentar de forma muito rápida e compulsiva, resultando em diversos problemas de saúde. Nesses casos, além da pneumonia por aspiração, o pet também pode desenvolver obesidade e outras enfermidades.

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Referências bibliográficas

TILLEY, Larry P.; SMITH JR., Francis W. K. Consulta veterinária em 5 minutos – espécies canina e felina. 5ª ed. Manole. 2015.

MURAKAMI, Vanessa Yurika; et al. Pneumonia e edema pulmonar: estudo comparativo. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA, n. 9, p. 1-7, 2011. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/ia5lwicgoISefiU_2013-6-27-15-43-49.pdf. Acesso em: 02 ago. 2022.

GOMES, Lohanna Lima; SOUZA, Carlos Eduardo Azevedo. Relato de caso: pneumonia aspirativa em cão associado a fisiologia. CONEXÃO UNIFAMETRO 2019, XV SEMANA ACADÊMICA, p. 1-8, 2019. Disponível em: https://doity.com.br/anais/conexaounifametro2019/trabalho/123690. Acesso em: 02 ago. 2022.

CAMARGO, Jéssica Francielle et al. Antimicrobianos utilizados no tratamento da pneumonia aspirativa em cães: revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 9, n. 12, p. 1-11, 2020. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/347632427_Antimicrobianos_utilizados_no_tratamento_da_pneumonia_aspirativa_em_caes_revisao_de_literatura. Acesso em: 02 ago. 2022.

PEREIRA, Lara Fernandes de Araújo. Estágio supervisionado obrigatório – relato de caso: pneumonia aspirativa em gato (Feliscatus). 2019, p. 12-35. Dissertação (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO) – Bacharel em Medicina Veterinária – CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE, Mossoró, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufersa.edu.br/handle/prefix/3147. Acesso em: 02 ago. 2022.