A importância do colostro para o desenvolvimento dos filhotes de gatos e cães

A importância do colostro para o desenvolvimento dos filhotes de gatos e cães

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A ingestão do colostro, logo nas primeiras horas de vida, promove o início de um desenvolvimento saudável em filhotes de gatos e cães. Entenda a importância dessa secreção láctea para o seu paciente

O colostro desempenha um importante papel no desenvolvimento inicial dos filhotes de gatos e cães, fornecendo energia, nutrientes essenciais e componentes imunológicos necessários para garantir a sobrevivência dos neonatos.

Neste artigo, exploraremos em detalhes a composição do colostro e a sua importância no desenvolvimento imunológico, bem como estratégias e cuidados para garantir sua ingestão.

O que é colostro?

O colostro é a primeira secreção das glândulas mamárias, que ocorre nos dois primeiros dias do período pós-parto. É constituído por lipídios, carboidratos, proteínas (principalmente imunoglobulinas e caseína), fatores de crescimento, hormônios, enzimas digestivas e água.

Por isso, o colostro desempenha um papel fundamental para o gato ou cão recém-nascido e deve ser ingerido nas primeiras horas de vida, promovendo a diminuição do risco de mortalidade neonatal.

É a partir do colostro que o filhote recebe a energia necessária para iniciar seu crescimento extrauterino, evitando a hipoglicemia e a hipotermia.

Necessidades calóricas fornecidas pelo colostro
Tabela 1: Necessidades calóricas dos neonatos X Calorias fornecidas pelo colostro. Adaptado: ROSSI et. al., 2021.

Além disso, a substância é responsável pela transferência passiva de imunidade materna através das imunoglobulinas, possui ação laxante (que ajuda na eliminação do mecônio) e participa do processo de maturação do trato digestório, fígado, pâncreas e da tireoide.

Qual a importância da ingestão do colostro ao nascimento?

O colostro contém aproximadamente o dobro da concentração de proteínas em comparação com o leite, sendo a maioria delas (20–30%) representada por imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA), que proporcionam imunização sistêmica e local do recém-nascido (CHASTANT, MILA, 2019).

Assim, a função mais importante da ingestão do colostro é garantir a absorção de imunoglobulinas e, consequentemente, ajudar na modulação do sistema imune. Isso ocorre devido à permeabilidade da barreira intestinal dos filhotes de gatos e cães, especialmente nas suas primeiras 8 horas de vida, em média.

Isso porque, com o passar do tempo, a junção entre os enterócitos vai se desenvolvendo e se tornando menos permeável. Daí a necessidade em assegurar o consumo do colostro logo após o nascimento.

Saiba mais: como a tríade neonatal pode afetar a saúde dos filhotes.

Como funciona o desenvolvimento imunológico dos filhotes?

O desenvolvimento do sistema imunológico dos felinos e caninos começa ainda na fase fetal e se estende pelo período neonatal. Nos cães, os linfócitos aparecem no timo por volta do 35º dia, nos gânglios linfáticos no 46º e no baço em torno do 50º ao 55º dia. Já nos gatos, os linfócitos aparecem na circulação fetal por volta do 25º dia de gestação (DAY, 2007).

Nessas espécies, a placentação do tipo endotélio-corial caracteriza-se por dificultar a transferência de imunoglobulinas maternas para o embrião durante a gestação, fazendo com que apenas 10-20% da IgG da mãe consiga atravessar essa barreira (WOODING, BURTON, 2008).

Segundo Day (2007), os filhotes recém-nascidos apresentam uma concentração sérica de IgG semelhante a 5% do nível de um adulto. Portanto, a transferência passiva de imunidade materna através da ingestão do colostro, secreção rica em IgG, IgM e IgA, é essencial para fornecer proteção humoral complementar ao organismo do neonato, até que possa ser submetido ao início do esquema vacinal, dando sequência à maturação do sistema imunológico.

Vale ressaltar que o colostro canino e o felino possuem outros componentes que contribuem com a imunidade, assim como:

  • fatores antibacterianos inespecíficos (lisozima e lactoferrina);
  • citocinas;
  • macrófagos;
  • neutrófilos;
  • e linfócitos.

Os filhotes devem receber o colostro nas primeiras horas após o nascimento, pois, após 4 horas de vida, ocorre uma redução significativa na absorção de imunoglobulinas. Depois de 12 a 16 horas de vida, inicia-se uma alteração funcional e morfológica dos enterócitos, fazendo com que a barreira intestinal se feche.

Sendo assim, a partir desse momento as imunoglobulinas ingeridas pelo colostro participarão da imunidade digestiva local, capturando agentes patogênicos e contribuindo para apresentação de antígenos.

O que fazer caso o animal não realize a ingestão do colostro após o nascimento?

Alguns motivos podem interferir na eficiente ingestão do colostro, como a rejeição dos filhotes, enfermidade materna ou ainda a orfandade. Essas situações podem exigir diferentes intervenções para que a reposição do colostro seja bem-sucedida, assegurando a saúde do neonato perante os desafios do período pós-parto.

Esta assistência nas primeiras horas de vida é extremamente importante, uma vez que o déficit na transferência da imunidade passiva está associado com maior risco de mortalidade durante o período neonatal (CHASTANT, MILA, 2019).

Quando há impossibilidade de ingestão do colostro através da mamada, uma alternativa pode ser ordenhar manualmente a lactante e oferecer a secreção láctea em mamadeira ou sonda orogástrica para os recém-nascidos; sempre respeitando a capacidade do estômago (de 40 a 50mL/kg) e a frequência de alimentação, de 4 a 6 horas para os gatos e de 3 a 6 horas para os cães.

Outra solução é o incentivo dos médicos-veterinários à criação e manutenção de bancos de colostro, para os quais a substância é coletada em tubos plásticos e imediatamente congelada a -20°C; sendo descongelada a 37°C, em banho-maria, para o fornecimento ao filhote.

Também é possível lançar mão de preparações comerciais de sucedâneos do colostro felino e canino, elaboradas a partir de secreção mamária homóloga ou heteróloga, compostos sanguíneos ou derivados de proteínas do ovo (VANNUCCHI, 2022).

Se mesmo com essas possibilidades não houver disponibilidade de colostro, soro sanguíneo (ou plasma materno) de um adulto hígido da mesma espécie pode ser administrado por via oral ou subcutânea, com a finalidade de garantir a imunidade passiva por meio do fornecimento de imunoglobulinas.

Para isso, em cães é recomendada a administração de 2 mL de soro ou plasma/100g de peso (dose única), via subcutânea ou via oral, sendo esta última somente até as primeiras 12 horas após o nascimento.

Em gatos, a dose descrita é 3 mL por filhote, repetida a cada cinco horas, em um total de cinco doses durante as primeiras 24 horas (PETERSON e KUTZLER, 2011).

Além do colostro: outras dicas importantes para filhotes de gatos e cães

Instruir o tutor a proporcionar um ambiente seguro e estimulante, assim como promover a socialização dos filhotes caninos, deve fazer parte da abordagem veterinária nas primeiras consultas, a fim de proporcionar a criação de animais saudáveis, felizes e equilibrados.

Além disso, outros pontos também são essenciais para garantir o crescimento saudável e o desenvolvimento adequado de filhotes de cães e gatos, como veremos a seguir.

Fique atendo ao crescimento e ganho de peso do filhote

O acompanhamento do ganho de peso e do crescimento do filhote é uma maneira confiável de monitorar o seu progresso e deve ser realizado através de várias medições realizadas ao longo do tempo por um médico-veterinário. Inclusive, este profissional pode lançar mão de ferramentas como cartões para o monitoramento da curva de crescimento.

O desenvolvimento deve ser constante e proporcional ao tamanho da raça, certificando, assim, que o animal esteja recebendo a nutrição adequada às suas necessidades. Dessa forma, qualquer perda de peso ou crescimento inadequado deve ser prontamente investigado.

Saiba mais sobre curva de crescimento.

Atente-se ao início do protocolo vacinal

O protocolo vacinal deve ser instituído de acordo com cada paciente, com intuito de proteger os filhotes contra doenças infecciosas potencialmente fatais, uma vez que estes indivíduos ainda não possuem maturidade imunológica e são mais suscetíveis a doenças.

Por isso, deve-se atentar à idade em que o animal deve iniciar a primovacinação, assim como às vacinas que podem ser utilizadas para cada caso, de acordo com os desafios ambientais aos quais o filhote esteja submetido.

Saiba mais sobre como definir o protocolo vacinal ideal para cães e gatos.

Atente-se ao controle de endo e ectoparasitas

Os cuidados com o controle de parasitas devem começar cedo, já nas primeiras semanas de vida. Infestações por endo e ectoparasitas podem resultar em doenças parasitárias, ocasionando manifestações clínicas que afetarão o desenvolvimento saudável do filhote.

Dessa forma, é necessário estabelecer um programa de controle com o uso seguro e adequado de produtos antiparasitários recomendados para essa fase de vida.

Saiba como escolher um protocolo de vermifugação de filhotes de gatos e cães.

Oriente os tutores sobre a importância das consultas de rotina

O acompanhamento veterinário regular é fundamental para garantir que os filhotes estejam em boas condições de saúde, permitindo a detecção de qualquer alteração precocemente.

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Sabemos que a nutrição está diretamente relacionada à manutenção de uma vida saudável e à longevidade dos pets. O bom aporte nutricional promove a manutenção adequada de todas as funções orgânicas e deve ser iniciado na fase neonatal, com a ingestão do colostro e do leite materno.

E foi visando manter o crescimento saudável dos filhotes que a ROYAL CANIN® desenvolveu sua linha de alimentos úmidos e secos específicos para essa fase de vida dos gatos (Kitten) e dos cães (Puppy), baseada em muitos estudos para entender as demandas energéticas, nutricionais e as particularidades de cada espécie.

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Referências bibliográficas

BIGLER, N.A., BRUCKMAIER, R.M., GROSS, J.J. Implications of placentation type on species-specific colostrum Properties in mammals. Journal of Animal Science, v. 100, i. 12, 2022. Acesso em 16 outubro 2023.

CHASTANT, S., MILA, H. Passive imune transfer in puppies. Animal Reproduction Science, v. 207, 2019. Acesso em: 16 outubro 2023.

CHASTANT-MAILLARD, S., AGGOUNI, C., ALBARET, A., FOURNIER, A., MILA, H. Canine and feline colostrum. Reprocustion in Domestic Animals, v. 52, i. S2, p. 148-152, 2016. Acesso em: 16 outubro 2023.

DAY, M.J. Immune System Development in the Dog and Cat. Journal of Comparative Pathology, v. 137, s. 1, 2007. Acesso em: 16 outubro 2023.

FONTAINE, E. Substitutos do leite canino. VetFocus, ed. 32.1, 2022. Acesso em 16 outubro 2023.

PEREIRA, K.H.N.P., LOURENÇO, M.L.G. Reanimação neonatal de cães e gatos ao nascimento. Rev. Bras. Reprod. Anim., v. 46, n.1, p. 3-16, 2022. Acesso em: 16 outubro 2023.

PETERSON, M.E., KUTZLER, M.A. Small Animal Pediatrics. 1ª ed. Saint Louis: Elsevier, 2011.

ROSSI, L., LUMBRERAS, A.E.V., VAGNI, S., DELL’ANNO, M., BONTEMPO, V. Nutricional and Functional Properties of Colostrum in Puppies and Kittens. Animals, 2021. Acesso em: 16 outubro 2023.

WOODING, P., BURTON, G. Endotheliochorial Placentation: Cat, Dog, Bat. In Comparative Placentation. Berlin: Springer, 2008.

VANNUCCHI, C.I. Reposição de colostro no neonato: o que, quando e como administrar? Anais do Congresso Internacional da Associação Latino-americana de Reprodução em Pequenos Animais – Uruguai, 2022. Acesso em 16 outubro 2023.