O que é sorologia e como o exame é utilizado na medicina veterinária?

O que é sorologia e como o exame é utilizado na medicina veterinária?

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O exame de sorologia é utilizado para realização de diversos diagnósticos na medicina veterinária. Entenda um pouco mais sobre essa análise laboratorial e saiba quando solicitá-la!

A sorologia desempenha um papel fundamental na medicina veterinária, permitindo a detecção e avaliação de uma ampla variedade de afecções em cães e gatos. Por meio de diferentes técnicas laboratoriais com intuito de analisar a presença de componentes imunológicos, como anticorpos e antígenos, este exame tornou-se uma ferramenta valiosa de diagnóstico nos dias de hoje.

Vamos compreender um pouco mais sobre os métodos sorológicos, suas aplicações e como eles fornecem importantes informações sobre a presença de agentes patogênicos, a resposta imunológica dos pacientes e a eficácia de intervenções médicas.

O que é sorologia?

Sorologia consiste em uma análise laboratorial de fluidos com o intuito de identificar a presença de antígenos ou anticorpos, principalmente IgG (imunoglobulina G) e IgM (imunoglobulina M), tornando possível diagnosticar uma ampla variedade de enfermidades, assim como doenças infecciosas, parasitárias, autoimunes e alérgicas.

Os testes sorológicos geralmente são precisos, rápidos e apresentam valores acessíveis, sendo que a escolha da técnica empregada depende do agente etiológico envolvido, dos objetivos do teste e das características da amostra disponível. Cada técnica tem suas vantagens e limitações, e deve ser utilizada baseada nas necessidades de diagnóstico de cada caso.

Os métodos de sorologia se dividem em diretos e indiretos. Enquanto os métodos diretos são direcionados para a detecção direta de antígenos, os métodos indiretos são capazes de detectar a presença de anticorpos específicos produzidos pelo sistema imunológico do animal em resposta a um patógeno.

Sendo assim, os métodos de sorologia mais usados nos exames laboratoriais veterinários são:

  • hemaglutinação indireta;
  • teste imunoenzimático (ELISA);
  • imunofluorescência direta (IFD);
  • imunofluorescência indireta (IFI);
  • aglutinação direta;
  • Western blot.

Tipos de sorologia

A sorologia pode ser dividida em dois principais tipos: sorologia qualitativa e sorologia quantitativa, que se diferenciam pela informação que fornecem e pela forma como os resultados são interpretados.

Sorologia qualitativa

A sorologia qualitativa é usada para determinar a presença ou ausência de um marcador específico, como um anticorpo ou antígeno, em uma amostra biológica. Os resultados são geralmente expressos como “positivo” ou “negativo”.

Isso significa que a sorologia qualitativa é usada principalmente para determinar se um cão ou gato foi exposto a um determinado agente infeccioso e se desenvolveu uma resposta imunológica.

Esse resultado fornece uma informação valiosa, possibilitando a confirmação da presença de uma infecção em um animal ou ainda a identificação de animais portadores assintomáticos. A partir disso, o médico-veterinário pode estabelecer a melhor decisão sobre tratamento e o manejo do paciente.

Na medicina veterinária, são exemplos de testes sorológicos qualitativos: sorologia para cinomose, leptospirose e parvovirose, entre outros.

Sorologia quantitativa

A sorologia quantitativa vai além da simples detecção da presença ou ausência de um marcador, e também oferece a quantidade desse marcador na amostra biológica. Em vez de um resultado binário (positivo/negativo), os resultados da sorologia quantitativa são expressos em valores numéricos, como concentrações ou títulos.

Esse tipo de teste é frequentemente usado para determinar o nível de imunidade de um animal em relação a uma determinada doença, por exemplo, ou para monitorar a eficácia da resposta imunológica após a vacinação.

Neste último caso, o médico-veterinário pode determinar se o animal atingiu níveis de anticorpos suficientemente elevados para considerá-lo protegido contra determinada doença.

Um grande exemplo de sorologia quantitativa é a avaliação da titulação de anticorpos para raiva em gatos e cães que precisam viajar internacionalmente. Alguns países exigem que os animais apresentem um título de anticorpos maior ou igual a 0,5 UI/ml para que possam entrar no país sem quarentena.

Nesses casos, o teste de sorologia quantitativa deve ser realizado após um período mínimo de 30 dias após a vacinação antirrábica e irá verificar se o animal atende ao requisito sanitário alfandegário exigido pelo país de destino.

Principais doenças que podem ser diagnosticadas através do exame sorológico

A sorologia é uma ferramenta amplamente empregada para o diagnóstico de diversas enfermidades. Entre elas, podemos evidenciar doenças que fazem parte da rotina clínica veterinária, com as expostas a seguir.

1. Giárdia

A Giardia é um protozoário que pode parasitar o intestino de vários hospedeiros, inclusive gatos e cães. A contaminação ocorre através da ingestão de cistos infectantes, que são eliminados nas fezes do portador.

O animal infectado pode ser assintomático ou apresentar sinais clínicos como vômito, diarreia, sensibilidade abdominal e perda de peso.

Os métodos de diagnóstico para giardíase mais comumente utilizados incluem o exame coproparasitológico (detecção de cistos nas fezes) e técnicas de diagnóstico imunológico como imunofluorescência direta, ELISA e teste imunocromatográfico (kits comerciais). Entretanto, são os métodos imunológicos que possuem alta sensibilidade e especificidade.

As técnicas citadas geralmente utilizam amostras fecais, sendo que a sorologia por teste imunoenzimático, pode usar amostra sanguínea para detectar a presença de antígenos.

Conheça mais sobre a Giardíase.

2. FIV e FeLV

A Imunodeficiência Felina (FIV) é uma infecção viral crônica que afeta gatos domésticos e selvagens, causando uma imunossupressão progressiva. A transmissão desse vírus entre os felinos ocorre pela mordida de um animal infectado, via transplacentária ou transmamária.

Os gatos infectados podem apresentar uma fase inicial assintomática, progredindo para o desenvolvimento de sinais clínicos que incluem letargia, perda de peso progressiva, gengivite crônica e estomatite, que podem evoluir para afecções mais graves.

O Vírus da Leucemia Felina (FeLV) é um retrovírus que compromete o sistema imunológico dos gatos e possui capacidade de replicação em vários tecidos. Sua transmissão ocorre de forma horizontal (pela saliva) e vertical (na gestação ou amamentação).

O felino infectado pode ser assintomático ou apresentar sinais clínicos variáveis, e a evolução da doença depende de fatores como subtipo viral, idade e estado geral do gato.

Um diagnóstico preciso – tanto de FIV quanto de FeLV – é fundamental para o controle ou acompanhamento da enfermidade e para a implementação do manejo correto para o gato portador.

Para isso, métodos sorológicos como ELISA, Western Blot e imunofluorescência são empregados, e inclusive há kits comerciais disponíveis que testam as duas doenças simultaneamente. Vale lembrar que é recomendado que se teste um animal recém adquirido logo na sua primeira consulta veterinária.

Entenda mais sobre FeLV.

3. Doenças do carrapato

A erliquiose, causada pela bactéria Ehrlichia canis, a babesiose, causada pelos protozoários Babesia canis vogeli, e a anaplasmose, causada pela bactéria Anaplasma platys, são hemoparasitoses que acometem os caninos, transmitidas pela picada de carrapatos, principalmente os da espécie Rhiphicephalus sanguineus.

Os sinais clínicos dessas três afecções são bem semelhantes e podem incluir:

  • anorexia;
  • letargia;
  • mucosas hipocoradas;
  • vômito;
  • diarreia;
  • anemia;
  • epistaxe;
  • trombocitopenia.

Porém, é importante ressaltar que o cão portador de Ehrlichia, Babesia e/ou Anaplasma também pode apresentar uma infecção subclínica (assintomática).

A sorologia para erliquiose e a anaplasmose pode ser realizada através de técnicas como o ELISA e a IFI, que são capazes de demonstrar a quantidade de anticorpos que o paciente possui (métodos quantitativos).

Já para a babesiose, a sorologia baseia-se na detecção de anticorpos principalmente por meio da IFI, uma técnica confiável quando a parasitemia é de moderada a alta. No entanto, o resultado pode ser influenciado por uma reação cruzada entre diferentes espécies de Babesia ou até mesmo de outros protozoários.

Kits comerciais como a conhecida sorologia 4DX testam o animal para a presença de anticorpos para Ehrlichia e Anaplasma, concomitantemente, adicionando a sorologia para a dirofilariose e doença de Lyme. Assim, fornecem resultados qualitativos, não sendo capazes de fornecer informações sobre a titulação de anticorpos que o animal apresenta.

Saiba também como prevenir a ixodidiose.

4. Cinomose

A cinomose é uma enfermidade viral multissistêmica de distribuição mundial e altamente contagiosa que afeta cães e, ocasionalmente, carnívoros selvagens. A infecção ocorre pelo contato com secreções, fezes ou urina, por fômites e contato com ambiente contaminado.

Os sinais clínicos podem variar dependendo da virulência da cepa viral, do estado imunológico do animal e de sua idade, sendo mais comum a observação de manifestações oculares, respiratórias, gastrointestinais, cardíacas e neurológicas.

Neste caso, a sorologia para cinomose através da IFI e do ELISA faz parte dos métodos diagnósticos. O ensaio imunoenzimático, por exemplo, consiste na detecção de anticorpos específicos para o vírus e é utilizado em alguns dos testes comerciais disponíveis.

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