Guia rápido sobre a alimentação de gatos hospitalizados

Guia rápido sobre a alimentação de gatos hospitalizados

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Pacientes felinos em estado crítico demandam intervenção nutricional específica o mais cedo possível; entenda neste artigo como instituir um suporte nutricional eficaz

A espécie felina apresenta necessidades nutricionais e particularidades metabólicas que merecem atenção do médico-veterinário, sobretudo em situações nas quais estes pacientes necessitam de hospitalização. Prevenir ou reverter a má-nutrição em gatos internados deve ser um dos objetivos da abordagem terapêutica intensiva. Atualmente sabe-se que a nutrição adequada contribui para a recuperação do organismo no combate à doença primária que levou o paciente ao estado crítico.

Um estudo conduzido por Brunetto (2006) avaliou o efeito do suporte nutricional assistido sobre a taxa de alta hospitalar em 1.469 gatos e cães, divididos em dois grupos, sendo 947 animais que não receberam suporte nutricional adequado (grupo G1 = análise retrospectiva) e 522 animais que foram manejados nutricionalmente (grupo G2 = análise prospectiva).

O grupo G2 apresentou 83,16% de taxa de alta hospitalar, enquanto os pacientes do G1 apresentaram 67,1%. Dentre os animais que receberam de 0% a 33% da necessidade energética de manutenção (NEM), 62,73% tiveram alta; dos que receberam entre 34% e 66% da NEM, 87,78% tiveram alta e para os que receberam mais de 67% da NEM, 93,28% tiveram alta, demonstrando menor mortalidade no grupo de animais que ingeriu quantidade calórica mais próxima do recomendado.

A abordagem terapêutica nutricional deve ser adaptada para cada indivíduo, considerando-se a condição primária que causou a necessidade de hospitalização, o status nutricional do paciente, as vias metabólicas disponíveis para fornecimento da dieta e a presença de comorbidades.

Quando se deve fornecer alimento para gatos internados?

A anorexia em gatos deve ser corrigida o quanto antes, uma vez que as alterações metabólicas que ocorrem no organismo do paciente crítico hospitalizado na tentativa de manter a homeostase podem trazer sérias complicações ao animal.

O suporte nutricional enteral deve ser instituído para todos os animais internados estáveis o mais rápido possível, exceto na presença de alguma condição que contraindique a nutrição imediata (por exemplo, cirurgias no trato gastrointestinal). Nestes casos, é importante considerar qual procedimento foi realizado para determinar de que forma será feita a nutrição assistida.

Em caso de cirurgia em cavidade oral, por exemplo, deve-se preconizar o uso do próximo segmento fisiológico do trato gastrointestinal disponível para administração de alimentos (neste caso, o esôfago, e assim por diante). Intervenções cirúrgicas no estômago ou intestino requerem certo tempo de jejum pós-cirúrgico para não comprometerem a recuperação e a função do tecido (sendo comum de 6 a 12 horas). Deve-se também adotar a reintrodução alimentar gradual para não predispor o paciente às consequências negativas da síndrome da realimentação.

Considerar todos estes fatores é fundamental para elaborar um plano de abordagem nutricional individual que seja adequado, eficaz e assertivo para cada situação.

Manejo nutricional para felinos em anorexia e hiporexia

A hiporexia é definida como a ingestão alimentar diminuída. Uma boa anamnese e exame físico podem auxiliar na compreensão dos motivos que levaram o gato a se apresentar hiporético, e algumas estratégias podem ser utilizadas na tentativa de se restabelecer o apetite do felino.

Formas de estimular o apetite dos gatos

  • Oferecer alimento de alta palatabilidade com aroma atrativo;
  • Preferir alimentos com alto teor de proteínas e gorduras;
  • Criar um ambiente tranquilo e acolhedor para o gato, amenizando o estresse da hospitalização;
  • Certificar-se de que o felino não apresenta dor e náuseas, fazendo uso de analgésicos e antieméticos, se necessário;
  • Limpar e desobstruir as narinas do gato, uma vez que o apetite é estimulado pelo olfato;
  • Aquecer o alimento à temperatura ambiente;
  • Utilizar estimulantes de apetite.

Uso de estimulantes de apetite

Os estimulantes de apetite para gatos podem ser utilizados como tentativa de restabelecer o apetite e o consumo voluntário de alimento pelos felinos internados. As opções disponíveis incluem:

  • Ciproeptadina, um antagonista histaminérgico do receptor H1;
  • Mirtazapina, um antagonista serotoninérgico do receptor 5-HT3;
  • Benzodiazepínicos (ex. midazolam), que podem induzir apetite em doses muito baixas e podem ser usados como uma opção a curto prazo.

Técnica de alimentação através de sondas

Enquanto a hiporexia ainda apresenta alguma chance de ser revertida, a anorexia é compreendida como a falta de apetite e a ausência total de ingestão alimentar. Nestes casos, a colocação de sonda é recomendada. A nutrição enteral é sempre preferível por se tratar de uma via fisiológica, segura e econômica. Administrar o alimento diretamente no lúmen intestinal garante melhor aproveitamento dos nutrientes, previne a atrofia das microvilosidades intestinais e evita a translocação bacteriana.

Caso não seja possível utilizar a via enteral, recomenda-se instituir a nutrição parenteral parcial e, em casos mais críticos, nutrição parenteral total, embora sua eficácia no objetivo de manter o animal nutrido seja consideravelmente menor quando comparado à via enteral, além de apresentar alto custo. Confira a seguir as duas principais vias de alimentação enteral utilizadas com frequência em gatos internados:

Sonda nasoesofágica

Opção fácil de colocar, de baixo custo e que não necessita de anestesia geral. Pode ser empregada em situações de suporte nutricional a curto prazo (até 10 dias), e pode ser removida a qualquer momento. O calibre da sonda é fino e, portanto, é apropriada somente para dietas líquidas. Para evitar que o animal retire a sonda, é importante fazer uso de colar elizabetano.

Sonda esofágica

A sonda esofágica permite evitar a boca e a faringe e é adequada tanto para dietas líquidas quanto pastosas. Requer anestesia geral para sua colocação, porém pode ser deixada por um período mais prolongado. É menos incômoda ao animal e também pode ser removida a qualquer momento.

Para cálculo das necessidades energéticas, escolha da dieta e colocação da sonda passo-a-passo, acesse Manejo nutricional do paciente crítico na prática.

Qual é o tipo de dieta mais indicado?

Após identificada a condição nutricional do felino e diagnosticada a enfermidade e presença de doenças concomitantes, deve-se estabelecer qual o perfil ideal da dieta a ser oferecida. De modo geral, pacientes em estado crítico se beneficiam de alimento com as seguintes características:

  • Alta densidade energética: para suprir necessidades nutricionais com menor volume de alimento;
  • Alto teor de proteínas e gorduras: para evitar a desnutrição calórico-protéica característica do estado crítico e auxiliar na recuperação tecidual;
  • Antioxidantes: para amenizar os processos metabólicos oxidativos;
  • Ômega-3: para modular processos inflamatórios e contribuir para a imunidade;
  • Minerais e vitaminas balanceados: para repor perdas.
  • Textura adequada: para fácil administração em sondas;
  • Alta palatabilidade: para estimular o consumo voluntário.

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Referências bibliográficas

BRUNETTO, M.A. Avaliação de suporte nutricional sobre a alta hospitalar em cães e gatos. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) – Universidade Estadual Paulista (UNESP). Jaboticabal, 2006.

CASE, L.P.; HAYEK, M.G.; DARISTOTLE, L.; RAASH, M.F. Canine and Feline Nutrition. Mosby Eslsevier, 2010.

CARCIOFI, A. C. Manejo nutricional do cão e do gato hospitalizado. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2006.

FASCETTI, DELANEY. Applied Veterinary Clinical Nutrition. Wiley-Blackwell, 2012.