Síndrome da realimentação em gatos e cães

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A síndrome de realimentação pode causar alterações metabólicas fatais em pacientes críticos. Saiba como evitá-la
Gatos e cães desnutridos, especialmente aqueles que perderam mais de 10% do seu peso corporal em curto espaço de tempo ou que não se alimentaram suficientemente nos últimos 7 dias, estão sujeitos à síndrome da realimentação. Esta é uma importante condição de elevada morbidade e mortalidade em pacientes críticos. O conhecimento desta síndrome é essencial para identificar pacientes em risco e adotar medidas que previnam sua ocorrência.
A síndrome da realimentação foi descrita pela primeira vez em humanos logo após a Segunda Guerra Mundial, quando prisioneiros exibiram anormalidades neurológicas e cardíacas quando reestabeleceram a alimentação após passarem por longos períodos de fome.
A síndrome da realimentação é definida como uma severa (e potencialmente fatal) condição metabólica associada a alterações eletrolíticas que ocorrem em pacientes desnutridos que são realimentados após longo período de jejum.
Como a síndrome da realimentação acontece?
O rápido reestabelecimento da oferta nutricional leva à entrada de moléculas do meio extracelular para o meio intracelular, resultando em uma brusca diminuição dos valores plasmáticos desses minerais, o que provoca alterações metabólicas.
Pacientes dsnutridos quando são realimentados por via oral, enteral ou parenteral de forma rápida podem apresentar como característica mais marcante a hipofosfatemia, porém outras anormalidades também são comuns, como:
- Hipomagnesemia;
- Hipocalcemia;
- Distúrbios de sódio e potássio;
- Alterações no metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas;
- Deficiências de vitaminas do complexo B (especialmente tiamina).
Manifestações clínicas
As manifestações clínicas são bastante variáveis, dependendo de qual alteração metabólica se desenvolve no paciente e em qual gravidade essa alteração o acomete. Podem ocorrer:
- Alterações neurológicas: fraqueza, parestesia, encefalopatia, tetania, ataxia, coma, nistagmo;
- Alterações musculares: rabdomiólise, cardiomiopatia, mialgia, paralisia de diafragma;
- Cardiopatias: arritmia, insuficiência cardíaca congestiva, hiper ou hipotensão;
- Insuficiência respiratória;
- Distúrbios gastrointestinais: constipação, íleo paralítico, anorexia, dor abdominal;
- Alterações laboratoriais em plaquetas e linfócitos, trombocitopenia etc.
A síndrome da realimentação pode apresentar um difícil diagnóstico e, se não tratada adequadamente, poderá ser fatal para o indivíduo.
Como evitar a síndrome da realimentação?
Em medicina veterinária é bastante comum o tutor encaminhar o animal ao clínico somente quando o pet já está há vários dias sem se alimentar e com importante perda de peso, portanto sob maior risco de desenvolvimento desta síndrome.
A reabilitação nutricional destes pacientes deve sempre ser feita gradualmente. Para evitar a síndrome de realimentação, o animal deve receber no primeiro dia apenas 25% de sua necessidade energética de manutenção (NEM), divididos em 4 a 6 refeições. No segundo dia, deve receber 50%, no terceiro 75% e só no quarto dia deve receber a totalidade de suas necessidades calóricas (Figura 1), sempre em refeições fracionadas ao longo do dia. Caso o paciente esteja recebendo alimentação por sondas ou tubos, propõe-se que ela seja administrada de forma gradual e em uma velocidade lenta.
Ao ser realimentado, o animal passará para uma fase anabólica, com reconstituição das reservas corporais. É importante que a dieta a ser oferecida nessa situação tenha alta proteína e gordura, além de teor de carboidrato controlado. O paciente também deve ser constantemente monitorado, a fim de aumentar sua probabilidade de recuperação.
Referências bibliográficas
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