Distúrbios gastrointestinais em felinos e a relação com a nutrição

Distúrbios gastrointestinais em felinos e a relação com a nutrição

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Saiba mais sobre os principais distúrbios gastrointestinais em felinos e entenda como a nutrição auxilia no tratamento e prevenção! 

Distúrbios gastrintestinais estão entre os principais motivos que fazem com que o tutor leve seu gato para uma consulta com o médico-veterinário. Como os sinais clínicos da complicação são variados, é o acompanhamento do animal pelo médico-veterinário que possibilitará tanto o diagnóstico quanto o monitoramento e os ajustes no tratamento – sempre seguindo de acordo com a evolução do quadro apresentado. 

O que são distúrbios gastrointestinais? 

Os distúrbios gastrointestinais são as doenças relacionadas a todo trato digestivo – desde a boca, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, intestinos, até o ânus. São doenças que possuem diferentes graus de intensidade – que vão do leve ao grave – e que podem causar o óbito de felinos.  

O médico-veterinário deve manter uma visão abrangente durante seu exame clínico e associar diferentes exames (como laboratoriais e imagens) para realizar um diagnóstico assertivo. Isso porque os sinais clínicos são bastante inespecíficos e, geralmente, o tutor relata ocorrências como anorexia, vômito e diarreia.  

Principais causas de distúrbios gastrointestinais em felinos 

 1. Colite 

A colite é caracterizada por uma diarreia crônica de origem desconhecida. Após descartar doenças infeciosas comuns, o médico-veterinário normalmente foca na alteração da dieta para controlar os sinais.  

Em casos que não há resultados positivos, no entanto, é indicada a prescrição de antibióticos ou anti-inflamatório não esteroidais (AINE) 

Caso a colite seja refratária ao último tratamento, é indicada uma investigação adicional por meio de biópsia endoscópica – seguida de tratamento com esteroides ou imunossupressores, se considerado apropriado com base nos resultados histopatológicos. 

2. Diarreia aguda ou crônica 

A diarreia é uma manifestação comum em diferentes doenças que acometem felinos. Ela pode ser caracterizada como a passagem anormal e frequente de fezes aquosas, de coloração variada (cinza ou amarela), com ou não presença de muco, sangue e odor desagradável. 

Os quadros de diarreia podem ser classificados de acordo com a origem. Eles podem ter origem:  

  • no intestino delgado – ID (duodeno, jejuno e íleo); 
  • no intestino grosso – IG (ceco, cólon e reto).  

Vale citar que os quadros de diarreia de intestino delgado são mais comuns em felinos, e é a partir do local de origem do problema que diferentes características podem ser identificadas. 

Quadros agudos são de curta duração, ocorrendo num período de até três semanas com características autolimitantes e que podem ser manejados com mudanças na dieta.  

A causa da diarreia aguda pode incluir desde indiscrição alimentar e infecções virais até infecções bacterianas ou parasitas enteropatogênicos.    

Já os casos de quadros crônicos (que duram mais de três semanas) podem ser associados a distúrbios inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos.  

3. Doença inflamatória intestinal 

A doença inflamatória intestinal (DDI) é uma das principais causas de distúrbios gastrointestinais em gatos e ocorre como resultado de uma condição em que o trato gastrointestinal (GI) do felino está cronicamente irritado e inflamado.  

A complicação pode ser definida de acordo com o tipo do infiltrado na mucosa intestinal e, na maioria dos casos, o infiltrado é de células linfoplasmocitarias. Porém. leucócitos, neutrófilos, eosinófilos e macrófagos também podem estar presentes.  

Dentre os sinais clínicos é possível identificar diarreia de intestino delgado (diarreia profusa e muito aquosa) ou diarreia de intestino grosso (tenesmo, presença de muco ou sangue, pequeno comprometimento do estado geral), embora essa dicotomia seja muito menos específica em gatos que cães. 

4. Insuficiência pancreática exócrina 

A insuficiência pancreática exócrina (IPE) é causada pela diminuição da produção de enzimas digestivas pela porção exócrina do pâncreas. Os sinais clínicos da IPE se manifestam somente quando há cerca de 90% de perda celular.  

As enzimas do pâncreas exócrino desempenham papel na assimilação de macronutrientes e, em quadros redução das enzimas acinares, o animal apresenta quadro de má digestão e absorção. Como há presença de nutrientes remanescentes no lúmen intestinal, o animal apresenta fezes amolecidas e volumosas, e pode apresentar esteatorréia.  

Os sinais clínicos mais comuns são polifagia, perda de peso e grande volume de fezes moles, e o diagnóstico da condição é feito pela medição da imunorreatividade sérica, semelhante à tripsina. O tratamento inclui suplementação de enzimas digestivas pancreáticas e cobalamina. 

5. Tríade Felina 

A tríade felina é o termo utilizado para descrever distúrbio gastrointestinal que ocorrem em felinos devido a anatomia da espécie e a proximidade entre os seus órgãos – fígado, pâncreas e intestino.  

A proximidade entres os ductos pancreáticos e biliares, aliada a anastomose entre estes ductos, próximo a parede do duodeno, favorecem a ocorrência da tríade felina. 

Os sinais clínicos são inespecíficos e, muitas vezes, podem ser intermitentes, sendo os principais relatados pelo tutor: 

  • diarreia crônica; 
  • anorexia; 
  • letargia; 
  • vômitos; 
  • perda de peso. 

Devido a inespecificidade dos sinais, o diagnóstico é baseado em exames de imagem e laboratoriais, sendo o diagnóstico definitivo feito através de exame histopatológico dos órgãos associados a patogenia da doença. 

6. Alergia alimentar 

Alergia alimentar é o termo associado as reações adversas a alimentos. O organismo do animal pode desenvolver uma resposta imunológica ou não à proteína ou aditivo do alimento, sendo que essas reações podem ser medidas por IgE, células T e, às vezes, reações por IgG.  

Dentre os sinais clínicos que o felino manifesta, podemos citar:  

  • prurido (principalmente na face, cabeça e orelhas);  
  • regiões de alopecia auto infligida generalizada; 
  • alterações gastrointestinais, como quadros de diarreia e ou fezes amolecidas; 
  • vômito; 
  • aumento da frequência de defecação (>3 vezes ao dia); 
  • tenesmo; 
  • borborigmos; 
  • e flatulência. 

A hipersensibilidade tipo I é a principal responsável pelos distúrbios gastrointestinais e alterações cutâneas nos felinos. Há ligação cruzada de IgE dos alérgenos alimentares aos mastócitos do intestino e pele, após ligação, ocorre a liberação de mediadores pró-inflamatórios. 

Há diferentes métodos diagnósticos disponíveis para investigação da complicação, como: 

  • sorologia – ELISA para detectar IgE 
  • testes intradérmicos  
  • análise de cabelo ou saliva 
  • teste de eliminação 
  • exposição provocativa 

7. Tricobezoar 

Tricobezoar é o termo utilizado para descrever a bola de pelo e faz referência ao acúmulo dos pelos ingeridos pelos felinos no estômago. Estes pelos se aglomeram, formando uma massa sólida não digerível, que pode causar obstrução gastrointestinal. 

Isso ocorre porque o hábito de higiene e autocuidado faz com que os felinos ingiram constantemente pequenas quantidades de pelo.  

Devido a constituição do pelo e os seus níveis de queratina, o mais normal é que isso passe pelo trato gastrointestinal e seja eliminado nas fezes – no entanto, o gato também pode apresentar quadro de vômitos, dor abdominal e falta de evacuações. 

8. Constipação 

Constipação é caracterizada por trânsito gastrointestinal (TGI) prolongado, associado a fezes secas e defecação infrequente e difícil. O quadro pode ocorrer em felinos de todas as idades e ambos os sexos, porém há indicação que machos de meia-idade a mais velhos possuem maior predisposição.  

 Quadros de constipação podem ocorrer secundária a doenças do TGI ou doenças sistêmicas como: 

  • Doença inflamatória intestinal
  • Linfoma gastrointestinal
  • Distúrbio eletrolíticos
    Hipercalcemia
    – 
    Hipocalemia 
  • Drogas
    Opioides
    Sucralfato
    – A
    tropina
    Hidróxido de alumino 
  • Poliuria primaria com ingestão inadequada de água
    Doença renal crônica
    Diabetes mellitus 
  • Doença endócrina não relacionada à poliúria primária
    Hipotiroidismo
    Congênito
    Iatrogênico  
  • Doença obstrutiva ortopédica ou local
    Massas compressivas
    – F
    raturas pélvicas
    Osteoartrite
    Estenose retal 

Após a exclusão das causas predisponentes o diagnóstico é de constipação idiopática, comum em cerca de 60 – 70% dos felinos. 

O ataque ocasional de constipação não é um problema, mas a constipação crônica pode progredir para megacólon. 

9. Outras condições 

Outras condições que podem causar distúrbios gastrointestinais em felinos são: 

Distúrbios gastrointestinais em felinos: a nutrição como coadjuvante no tratamento 

A nutrição é um excelente aliado do médico-veterinário para manejo e suporte ao tratamento de felinos com distúrbios gastrointestinais – sendo interessante o oferecimento de dietas que possuam ingredientes de alta digestibilidade na sua composição e uma série de nutrientes que irão apoiar a saúde do trato gastrointestinal. Veja a seguir: 

Uso de proteínas de alta digestibilidade 

Proteínas de alta digestibilidade são também denominadas proteínas LIP. LIP em inglês significa “low indigestible proteins” e em português – “proteína de baixa indigestibilidade”. Ou seja, proteínas LIP são proteínas de alta digestibilidade e absorção pelo organismo animal.  

Ao utilizar proteínas LIP nos alimentos a Royal Canin, possibilitamos que maiores níveis de proteínas sejam absorvidas por volume de alimento consumido. Com um maior aproveitamento proteico, há mais absorção e menos resíduos no intestino grosso, reduzindo a sobrecarga intestinal e, consequentemente, o volume e odor das fezes do animal.  

Carboidratos de alta digestibilidade 

A presença de carboidratos de alta digestibilidade (como o arroz) facilita a digestão e evita sobrecarga gástrica – servindo ainda como uma fonte de reposição energética. 

Prebióticos e Fibras dietéticas 

A adição de fibras dietéticas – como o psyllium e os probióticos Fruto-oligossacarídeo (FOS) e Manano-oligossacarídeo (MOS) – favorece o equilíbrio da microbiota intestinal e a regulação do trânsito intestinal. 

Enquanto o FOS favorece o desenvolvimento das bactérias benéficas presentes no intestino, servindo como substrato para estas bactérias; o MOS age limitando o desenvolvimento das bactérias patogênicas, ligando-se a elas e impedindo que consigam se fixar na mucosa intestinal.  

Antioxidantes 

Antioxidantes (como vitamina C, Vitamina E, selênio e Zinco) atuam no organismo para combater o efeito negativo dos radicais livres sob as células do organismo – como casos de inflamação, estímulo do sistema imune e exposição a toxinas. 

Ômega 3 

O ômega 3 é um ácido graxo poli-insaturado, sendo os principais benefícios oferecidos a saúde gastrointestinal o EPA (ácido eicosapentaenóico) e o DHA (ácido docosahexaenóico). 

Entre as diversas ações do Ômega-3 e seus derivados no organismo, podemos destacar a função anti-inflamatória através da inibição da síntese de certos mediadores químicos da inflamação no trato gastrointestinal. 

Glutamina 

Este aminoácido está associado ao metabolismo de células de renovação rápida, como as células imunológicas e intestinais. Sendo um aminoácido que auxilia na manutenção da saúde digestiva, sua presença em alimentos de gatos favorece a reparação da mucosa intestinal, além de reduzir a translocação bacteriana e a inflamação. 

Outros cuidados em relação aos distúrbios gastrointestinais nos felinos 

O médico-veterinário deve orientar o tutor e estar atento sobre cuidados de suporte que o felino possa necessitar com o objetivo de aliviar os sintomas e ajudar o animal a se sentir mais confortável. Entre as medidas para viabilizar o conforto do pet, podemos citar: 

  • Realização de exames laboratoriais e de imagem, para fechar diagnostico e acompanhar a evolução do quadro do animal, possibilitando, assim, intervenções em caso de doenças concomitantes;
    Acompanhamento com consultas de retorno e atenção ao grau de hidratação do animal, além do acompanhamento do peso e escore de condição corporal) pois, caso haja mudanças significativas em curto espaço de tempo, pode ser necessário intervir com internação para correção de fluidos e reposição eletrolítica; 
  • Prescrição de tratamentos de suporte
    Medicamentos para tratar quadro de náusea
    Antiácidos e protetores estomacais/intestinais 

 

A Royal Canin possui no seu portifólio uma gama de alimentos que podem ser prescritos para diferentes distúrbios gastrointestinais – desde os alimentos específicos da linha Gastrointestinal Feline ou com os alimentos da linha dermatologica, estes indicados em casos de felinos que apresentam quadros de doença inflamatória intestinal, pancreatite e tríade felina 

Linha Gastrointestinal para Felinos

A nossa Calculadora para Prescrição é uma ferramenta que auxilia o médico-veterinário e, nela, o médico-veterinário pode fazer a busca de acordo com enfermidade ou de acordo com o alimento que melhor se adequa ao quadro gastrointestinal específico do paciente.  

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