Alergia alimentar em gatos: principais sinais clínicos e etapas do diagnóstico

Links rápidos:
- O que é a alergia alimentar e como ela ocorre?
- Quais alimentos podem causar alergia alimentar nos gatos?
- Principais sinais clínicos apresentados por felinos
- Alergia alimentar em gatos: quais as etapas e formas de diagnóstico?
- Tratamento para alergia alimentar em gatos
- Orientações extras para tutores de gatos com alergia alimentar
A alergia alimentar em gatos é uma enfermidade dermatológica importante que requer conduta terapêutica nutricional específica; saiba mais
Estudos demonstraram que as alergias alimentares em geral são o terceiro tipo mais comum de alergia felina, estando atrás apenas das alergias a picadas de pulgas e substâncias inaladas.
O prurido, que normalmente indica a presença de uma alergia alimentar, é causado pela erupção de pequenos aumentos de volume pálidos e cheios de líquido na pele de um gato. Ele se forma em resposta à presença de um alérgeno, uma substância à qual o sistema imune do animal é anormalmente reativo. As áreas mais comumente acometidas são a cabeça e pescoço.
O que é a alergia alimentar e como ela ocorre?
Alergia alimentar refere-se a reações adversas a alimentos que abrangem reações imunológicas e não imunológicas à proteína ou aditivo alimentar, gerando uma resposta clínica anormal (Jackson & Mueller, 2012; Patel & Forsythe, 2008).
O mecanismo de desencadeamento da alergia alimentar é mediado, principalmente, por IgE ou células T, também podendo haver um papel para reações mediadas por IgG. A hipersensibilidade tipo I é, provavelmente, parcialmente responsável pelo prurido. Isso, através da ligação cruzada de IgE específica para alérgenos alimentares em mastócitos sensibilizados no intestino e na pele e subsequente liberação de mediadores pró-inflamatórios e protogênicos (Patel & Forsythe, 2008; Hoff & Berger, 2021).
Quais alimentos podem causar alergia alimentar nos gatos?
Os gatos devem ter sido expostos aos alimentos para que desenvolvam alergia alimentar a eles; já que não é possível desenvolver alergia a algo que o animal nunca tenha sido exposto. Vale citar que, por mais que o felino esteja acostumado a consumir determinado alimento há muito tempo, ainda há risco de desenvolvimento do quadro alérgico.
Os principais alérgenos em gatos foram identificados e compõem a lista a seguir:
- leite;
- carne bovina;
- peixe;
- ovos;
- e frango;
Em alguns estudos, a comida industrializada também é tratada como uma causa potencial para a alergia. Sem contar que é possível que haja outros alérgenos ainda não identificados como fontes desencadeadoras de alergia alimentar em gatos (Patel & Forsythe, 2008).
Principais sinais clínicos apresentados por felinos
O principal sinal clínico associado a alergia alimentar em felinos é o prurido, especialmente o prurido intenso da face e da cabeça. A ocorrência deste sinal nas orelhas, ventre, patas ou alopecia auto infligida generalizada também podem ser observados. Outros sinais incluem lesões do complexo granuloma eosinofílico e dermatite miliar (Hoff & Berger, 2021; Pucheu-Haston, 2022).
Gatos podem manifestar simultaneamente cutâneos e não cutâneos de alergia alimentar, e quadros de alterações gastrointestinais são comumente relatados. Embora os sinais gastrointestinais possam incluir as alterações comuns de quadros gástricos (como vômitos e diarreia), alterações mais sutis podem incluir aumento da frequência de defecação (mais de três vezes ao dia), fezes moles, tenesmo, flatulência e borborigmos (Pucheu-Haston, 2022).
O médico-veterinário deve ficar atento durante a anamnese, ter em mente que o tutor irá relatar sinais clínicos não sazonais e em casos em que o tutor não fornecer a mesma dieta de forma consistente, os sinais clínicos também podem se apresentar de forma intermitente.  Sinais não sazonais com exacerbações sazonais podem ser observados em pacientes que apresentam alergia alimentar e dermatite atópica induzida por alérgenos ambientais (Pucheu-Haston, 2022; Patel & Forsythe, 2008)
Alergia alimentar em gatos: quais as etapas e formas de diagnóstico?
Numerosos outros métodos de diagnóstico foram investigados (e em alguns casos, comercializados), incluindo sorologia baseada em ELISA para detectar IgE anti-alimento, teste intradérmico e análise de cabelo ou saliva.
No entanto, nenhum desses métodos ofereceu resultados consistentemente precisos, e a melhor forma de realizar o diagnóstico da alergia alimentar foi através do teste de eliminação. O teste é realizado em 2 etapas (Patel & Forsythe, 2008; Jackson & Mueller, 2012; Hoff & Berger, 2021).
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Teste de eliminação ou ensaio alimentar
A primeira etapa consiste na prescrição de um alimento com diferente fonte proteica (comercial ou caseira), dietas contendo proteínas hidrolisadas ou dietas contendo proteínas novas e hidrolisadas (Hoff & Berger, 2021; Pucheu-Haston, 2022).
Dietas com proteínas hidrolisadas são aquelas onde as proteínas constituintes foram quebradas em peptídeos, que são mais difíceis para o sistema imunológico detectar e reagir. Essas dietas podem ser categorizadas como parcialmente hidrolisadas (geralmente abaixo de 10 kilodaltons) ou extensivamente hidrolisadas (geralmente abaixo de 3 kilodaltons, embora algumas dietas extensivamente hidrolisadas sejam quebradas em fragmentos de 1 kilodalton ou menores) (Hoff & Berger, 2021; Pucheu-Haston, 2022).
Independentemente do formato de dieta escolhido, o animal deve ser alimentado com essa alimentação – exclusivamente – durante o período da dieta de eliminação. A duração recomendada das dietas de eliminação varia entre os profissionais, mas uma revisão recente da literatura descobriu que pode ser necessária uma duração mínima de 10 semanas para identificar 95% dos pacientes alérgicos a alimentos (Hoff & Berger, 2021; Pucheu-Halston, 2022).
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Exposição provocativa
Após o período mínimo da dieta de eliminação, o paciente deve ser submetido a um novo desafio alimentar: a exposição provocativa. Há duas principais razões para se realizar o novo desafio:
- a identificação de alimentos problemáticos
- a confirmação de que a melhora não está relacionada à sazonalidade, e sim a um quadro de alergia alimentar.
Isso pode ser particularmente importante se a resposta à dieta for apenas parcial. Nesse caso, uma reexposição positiva demonstra a presença de alergia alimentar, mas a falta de remissão completa sugere que um segundo problema (dermatite atópica associada a alérgenos ambientais, alergia a pulgas, etc.) provavelmente também está presente (Patel & Forsythe, 2008; Hoff & Berger, 2021).
Normalmente a exposição provocativa é feita com o fornecimento do alimento que o animal comia antes da dieta de exclusão. Caso haja aumento na coceira ou outros sinais clínicos – o que geralmente é evidente dentro de dias (às vezes horas) – após a exposição provocativa, confirma-se o diagnóstico de alergia alimentar.
O médico veterinário deve ter em mente que o reaparecimento dos sinais clínicos pode levar de 10 a 14 dias. Por esta razão, itens alimentares individuais não devem ser introduzidos com mais frequência do que a cada duas semanas, para que não haja confusão em relação ao item ofensivo (Patel & Forsythe, 2008; Hoff & Berger, 2021).
Após a confirmação com resposta positiva a dieta de exclusão e exposição provocativa, o gato deve ser colocado de volta na dieta de eliminação. Uma vez que o paciente esteja confortável novamente, o processo de provocação pode ser retomado com outras proteínas individuais para que quaisquer outras fontes de alérgenos alimentares possam ser identificadas (Patel & Forsythe, 2008).
Tratamento para alergia alimentar em gatos
Uma vez que o diagnóstico de alergia alimentar está confirmado, o tutor deve ser conscientizado pelo médico-veterinário da importância de manter no animal com a dieta utilizada durante o teste de eliminação. Isso porque, no caso da alergia alimentar, a mudança da dieta e do alimento oferecido é a base do tratamento. A ROYAL CANIN® oferece em seu portfólio de soluções nutricionais, alimentos específicos para o diagnóstico terapêutico e tratamento da alergia alimentar em gatos.
A linha Hypoallergenic Feline é formulada com proteína de soja hidrolisada com peso molecular menor que 10 KDa e arroz como fonte de carboidrato. Além disso, conta com complexo de nutrientes que atua na integridade da barreira cutânea, incluindo ômegas-3, EPA & DHA, ômega-6 (GLA), vitaminas, minerais e antioxidantes.
É importante ressaltar que, no processo de fabricação dos alimentos hipoalergênicos dedica-se 48 horas para limpeza minuciosa dos equipamentos fabris. Isso para prepará-los adequadamente para o ciclo de produção exclusivo da linha HYPOALLERGENIC, com objetivo de evitar qualquer possível contaminação durante o processo industrial (como, por exemplo, com fontes proteicas não hidrolisadas utilizadas nas fórmulas de outros alimentos).
Para os animais que não respondem ao tratamento ou teste de eliminação é indicado o uso de alimentos extensamente hidrolisados como o alimento Anallergenic Feline. Produzido a partir de processos rigorosos de limpeza e medidas, o alimento conta com alta tecnologia em seu desenvolvimento – assegurando a ausência de contaminações cruzadas de proteínas indesejadas em sua formulação.
Diferente dos alimentos Hypoallergenic, fabricados com proteína hidrolisada de soja, a linha Anallergenic tem nas penas de aves (frango, pato e peru) criadas na França a sua fonte de proteína hidrolisada – que inclui aminoácidos livres e oligopeptídios de peso molecular muito baixo.
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A importância de manter a constância
Apesar de o conceito de alergia alimentar ser fácil de entender, o diagnóstico é desafiador, pois o médico-veterinário depende da conscientização do tutor para seguir todas as orientações para que o tratamento da doença seja efetivo (Hoff & Berger, 2021).
Após o diagnóstico confirmado, o médico-veterinário deve lembrar ao tutor que alergia não possui cura, e somente o manejo correto dos alimentos indicados poderá manter a saúde e o bem-estar do animal (Patel & Forsythe, 2008; Hoff & Berger, 2021).
Orientações extras para tutores de gatos com alergia alimentar
O médico-veterinário deve trabalhar para que o tutor esteja ao seu lado desde o início, explicando todas as etapas, manejando as suas expectativas, detalhando os motivos a favor e contra as reações que o animal apresenta em quadros de alergia alimentar, como o teste irá funcionar e os benefícios que irá promover a saúde e bem-estar do animal (Hoff & Berger, 2021).
É importante ressaltar que, uma vez que o diagnóstico seja realizado, isso pode significar que o uso de terapia medicamentosa de longo prazo seja quase nulo, sendo que algumas podem desencadear efeitos colaterais prejudiciais à saúde do animal no longo prazo.
Uma orientação importante durante o período da dieta de exclusão é considerar a possibilidade de manter os gatos dentro de casa. E caso a casa possua vários animais, o ideal é que o gato seja alimentado separadamente dos demais.
Referências Bibliográficas
Hoff, S. & Berger, D. Feline cutaneous adverse food reactions. Vet Focus, Feline Dermatology, v. 31, n. 1, 2021. Disponível em: https://vetfocus.royalcanin.com/en/scientific/feline-cutaneous-adverse-food-reactions Acesso em: 10/06/2023.
Jackson, H. A. & Mueller, R.S. Atopic dermatitis and adverse food reactions, In: BSAVA Manual of Canine and Feline Dermatology Third edition, 2012.
Patel, A. Forsythe, P. Saunders Solutions in Veterinary Practice Dermatology, 2008.
Pucheu-Halston, C. M. Cutaneous Food Allergy in Animals, 2022. Disponível em: https://www.msdvetmanual.com/integumentary-system/food-allergy/cutaneous-food-allergy-in-animals Acesso em: 06/06/2023.