Distúrbios cutâneos de filhotes caninos

Distúrbios cutâneos de filhotes caninos

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     ROBERT KENNIS, DVM, MS, DIPL. ACVD
        Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Auburn,
Alabama, Estados Unidos.

 

Introdução

Existem muitos distúrbios cutâneos identificados em filhotes caninos, com uma variedade de etiologias. Esses distúrbios incluem causas infecciosas, doenças congênitas e/ou hereditárias e problemas autoimunes e, portanto, o tratamento específico depende da exatidão no diagnóstico. O presente trabalho identifica um número selecionado de doenças de pele de relevância mundial e cada problema será apresentado em um formato de caso clínico com identificação, histórico, sinais clínicos, diagnósticos diferenciais, métodos diagnósticos e opções terapêuticas.

Pontos-chave

• A citologia por impressão direta da pele com lâmina (imprint ou decalque) é uma importante ferramenta diagnóstica sempre que pápulas, pústulas, crostas ou escamas estiverem presentes.

• A presença de linfadenopatia, pirexia (febre) e anorexia diferencia os quadros de celulite juvenil e impetigo ou foliculite bacteriana.

• As causas primárias de descamação estão associadas à ictiose. Os cães da raça Golden Retriever apresentam uma manifestação peculiar de ictiose, que parece ser mais prevalente do que outras formas.

• A descamação como sinal clínico em filhotes caninos pode estar associada a uma infinidade de causas, incluindo nutrição, alergias, parasitas e infecção.

Impetigo

O impetigo, ou pioderma/piodermite do filhote, é um problema que ocorre em filhotes caninos muito jovens, antes da puberdade. Um ou vários filhotes dentro de uma ninhada podem ser acometidos e as lesões aparecem muito rapidamente; por essa razão, há pouco histórico formativo em relação a tratamento prévio. O impetigo pode estar associado a ecto/endoparasitismo ou à má nutrição, embora o problema também possa ser idiopático. Do ponto de vista clínico, um filhote infectado apresenta-se com pústulas — que, no caso, podem variar em termos de quantidade (de poucas a muitas). As pústulas costumam estar presentes na pele glabra (ou seja, sem pelos) das regiões abdominal ventral, inguinal e axilar, mas também podem ser encontradas em outras partes do corpo. De modo geral, as pústulas não estão associadas aos folículos pilosos (como é comum para cães adultos com foliculite bacteriana) e tendem a se romper com facilidade, deixando uma pequena crosta ou, potencialmente, um colarete epidérmico. Pode ser útil que o tutor descreva as pústulas se nenhuma delas estiver presente no momento da apresentação. Os filhotes acometidos não costumam se incomodar com a existência dessas lesões e, em geral, elas não são pruriginosas nem dolorosas. A constatação de prurido seria sugestiva de foliculite atribuída à infecção por bactérias ou dermatófitos. Além de comumente não haver aumento dos linfonodos regionais, os filhotes tipicamente se encontram afebris. Pode haver outros sinais clínicos na presença de parasitas ou deficiências nutricionais.

Os principais diagnósticos diferenciais que devem ser considerados na existência de pústulas incluem causas infecciosas como bactérias, demodiciose e dermatofitose. Os diagnósticos diferenciais imunomediados compreendem celulite juvenil (ver mais adiante) e pênfigo foliáceo: o pênfigo seria considerado muito raro em cães jovens, mas os sinais clínicos são muito semelhantes. O ectoparasitismo é um importante diagnóstico diferencial. Em particular, as formigas-de-fogo (Solenopsis invicta) são comuns no sul dos Estados Unidos e regionalmente em vários continentes; as picadas desses insetos levam à formação de pústulas.

A citologia por impressão direta da pele com lâmina (imprint ou decalque) é a técnica preferida de diagnóstico. Uma lâmina de vidro pode ser usada para romper delicadamente a pústula antes de espalhar o conteúdo sobre a lâmina. Como um método alternativo, a pústula pode ser rompida com o auxílio de uma pequena agulha; no entanto, é preciso ter cuidado para não causar sangramento. Se apenas crostas estiverem presentes, elas deverão ser cuidadosamente levantadas e a lâmina aplicada à superfície da pele. As lâminas devem ser secas ao ar antes da coloração com um corante de Wright modificado e, então, avaliadas: primeiro, com um aumento de 10 × e, depois, com um aumento de 1.000 × em óleo de imersão. Em casos de rotina de impetigo, inúmeras bactérias do tipo cocos (em geral, Staphylococcus spp.) serão observadas em uma resposta inflamatória predominantemente neutrofílica. Na presença de células acantolíticas, levanta-se a suspeita de pênfigo. Se as formigas-de-fogo forem responsáveis pelas pústulas, as bactérias raramente serão identificadas e – dependendo do estágio da pústula após a inoculação do veneno (toxina) da formiga – apenas debris necróticos poderão ser vistos. Os estágios mais tardios das picadas das formigas-de-fogo podem revelar uma resposta inflamatória mista com muitos eosinófilos. Também seria prudente realizar (a) raspados cutâneos profundos em busca de ácaros Demodex e (b) culturas fúngicas para descartar a dermatofitose. Para esses casos, raramente há necessidade de biopsia ou cultura bacteriana, embora o teste de flutuação ou flotação fecal seja recomendado para avaliar a existência de endoparasitismo concomitante.

Os casos leves (brandos) podem apresentar resolução espontânea, ou seja, desaparecer espontaneamente. Banhar o filhote canino com um xampu à base de clorexidina a 2-4% duas vezes por semana até a remissão costuma ser uma medida adequada; os xampus à base de peróxido de benzoíla também são eficazes, mas tendem a ser muito agressivos (irritantes) para a pele do filhote. Lesões isoladas podem ser tratadas com solução tópica de clorexidina ou pomada de mupirocina duas vezes ao dia. Os casos graves talvez necessitem de antibióticos por via oral para alcançar a remissão; é recomendável a seleção de antibiótico com amplo espectro de ação contra Staphylococcus spp., mas cefalosporinas de primeira ou terceira geração, amoxicilina com clavulanato ou clindamicina são boas escolhas empíricas. É aconselhável evitar o uso dos antibióticos amoxicilina/ampicilina, quinolonas fluoradas e tetraciclina por uma série de razões. Raras vezes, a terapia sistêmica precisa exceder 14 dias, a menos que haja foliculite bacteriana concomitante.

O prognóstico é muito bom e as recidivas são incomuns. É importante identificar e tratar quaisquer condições subjacentes que possam ter sido fatores predisponentes para o impetigo. O papel desempenhado pela nutrição é fundamental, principalmente o fornecimento de uma dieta completa e balanceada para os filhotes. Além disso, sugere-se o uso de probióticos para ajudar a normalizar a flora intestinal e melhorar as respostas imunológicas, especialmente na presença de endoparasitas.

Celulite juvenil

A celulite juvenil, também conhecida como pioderma/piodermite juvenil, dermatite granulomatosa estéril juvenil ou estrangulamento do filhote (do inglês, strangles, em função da semelhança com o “garrotilho” em equinos), é um distúrbio de etiologia desconhecida. A celulite juvenil afeta principalmente filhotes caninos com menos de 4 meses de vida e, raramente, é observada em cães mais idosos. Embora não exista predileção por raça ou sexo, alguns autores especulam que determinadas raças (Gordon Setter, Dachshund, Golden Retriever) possam ser super-representadas. Apesar da possibilidade de acometimento de mais de um filhote em uma ninhada, parece não haver uma causa infecciosa. Também não há dados conclusivos para apoiar o papel das vacinas no desenvolvimento desse distúrbio.

A evolução da doença é um tanto variável, mas tende a ter um padrão para ela. A princípio, observa-se uma tumefação (“inchaço”) da face, especialmente do focinho e da região periorbital. Durante o início precoce da doença, as pústulas podem ser identificadas na face côncava do pavilhão auricular e podem se estender para a porção vertical do conduto auditivo. As pústulas se rompem com facilidade, deixando lesões crostosas no local. Lesões semelhantes podem ser observadas na face, incluindo a região periorbital, o queixo e o focinho; em alguns casos, no entanto, não se visualiza a presença de pústulas. O distúrbio cutâneo pode evoluir para alopecia, rigidez cutânea e, mais tarde, erosão e ulceração das áreas acometidas, sendo o focinho e o queixo as regiões mais gravemente acometidas. As regiões periorbitais da face são acometidas de forma similar e as lesões faciais tendem a ser dolorosas. O pavilhão auricular pode ficar espesso e quente ao toque, podendo ocorrer o desenvolvimento de uma série de lesões, inclusive otite secundária. À medida que as lesões evoluem, geralmente há um envolvimento dos linfonodos regionais; os linfonodos mandibulares tendem a se tornar simetricamente infartados e podem ulcerar através da superfície da pele. Os linfonodos pré-escapulares e inguinais também podem ser acometidos. Nas regiões inguinais e perianais, pode-se observar uma paniculite estéril, podendo ocorrer o aparecimento de trajetos drenantes. Esses cães quase sempre se encontram febris, inapetentes e inativos. A evolução das lesões cutâneas leva a hipo ou hiperpigmentação. A reação inflamatória profunda (celulite) tende a causar danos aos folículos pilosos, levando à formação cicatricial nas regiões acometidas da face, do queixo e do focinho.

Os principais diagnósticos diferenciais que devem ser levados em consideração para a presença de pústulas incluem causas infecciosas, como bactérias (impetigo ou foliculite bacteriana), demodiciose e dermatofitose. Os diagnósticos diferenciais imunomediados compreendem pênfigo foliáceo, reações semelhantes a lúpus, vasculite e erupções medicamentosas adversas. Neoplasias, especialmente linfoma, devem ser consideradas em virtude da rápida taxa de evolução e do envolvimento dos linfonodos.

O diagnóstico presuntivo pode ser formulado com base na identificação e nos achados clínicos. É importante descartar os diagnósticos diferenciais mencionados anteriormente, pois pode haver mais de um problema associado. Devem ser coletadas amostras de pele para citologia por impressão direta, com o objetivo de avaliar a presença de bactérias; raspados cutâneos profundos são feitos para verificar a existência de demodiciose, enquanto amostras de pelo são coletadas e avaliadas para a realização de cultura fúngica. Após coloração, as amostras de pele para citologia por impressão direta revelarão uma resposta inflamatória piogranulomatosa mista; em geral, não se identifica o envolvimento de bactérias. Aspirados e biopsias de linfonodos devem ser submetidos à avaliação citológica para descartar linfoma; além disso, amostras de linfonodos podem ser coletadas para confirmar a celulite juvenil. A maioria dos casos é diagnosticada com base nos sinais clínicos e na exclusão das doenças citadas previamente. A realização de biopsia com exame histopatológico e cultura bacteriana seria recomendada para os casos refratários ou para aqueles que se apresentam em uma idade atípica.

O tratamento de escolha consiste no uso da prednisona ou prednisolona por via oral, com uma faixa terapêutica considerada “imunossupressora” (1,5-2 mg/kg/dia em doses divididas). Doses anti-inflamatórias (i. e., 0,5-1 mg/kg/dia) são inadequadas para alcançar uma remissão. Caso a resposta inicial à prednisona oral se mostre inadequada ou insuficiente, pode-se lançar mão da dexametasona a 0,2 mg/kg/dia; entretanto, deve-se evitar o uso de corticosteroides injetáveis, em função da imprevisibilidade na duração do efeito. Uma rápida melhora clínica costuma ser observada dentro de alguns dias após o início dos corticosteroides orais; um declínio imediato na temperatura e uma melhora no apetite demonstram que o tratamento correto está sendo administrado. A dose total dos corticosteroides deve ser mantida até que se observe uma remissão das lesões cutâneas, o que pode levar uma semana ou mais. A dose deve ser reduzida de forma gradativa e interrompida quando já não houver mais melhora nos sinais clínicos; a terapia não deve continuar por mais tempo do que o necessário. A recidiva é rara, a menos que os medicamentos sejam interrompidos muito rapidamente. O uso concomitante de antibióticos é controverso. De modo geral, não há uma dermatopatia bacteriana, uma vez que a celulite juvenil costuma ser estéril; no entanto, os casos graves podem apresentar lesões ulceradas nos linfonodos ou na pele, predispondo-os à infecção secundária por bactérias. A administração de glicocorticoides suprimirá a imunidade tanto inata como adquirida e, por essa razão, o autor prefere recomendar a utilização de antibióticos orais com amplo espectro de ação contra Staphylococcus spp. (conforme mencionado anteriormente no texto sobre impetigo) durante o mesmo período em que o filhote estiver recebendo os glicocorticoides. Compressas mornas podem ser aplicadas na presença de paniculite. Como as lesões na face são geralmente muito dolorosas, é melhor evitar o uso de terapia tópica.

O prognóstico quanto à resolução é muito bom, mas infelizmente é comum o desenvolvimento de formação cicatricial e alopecia concomitante das regiões mais gravemente acometidas; além disso, hiper ou hipopigmentação pode ser um efeito pós-inflamatório. Não há dados para apoiar uma causa hereditária nem para afirmar que a condição seja um fator predisponente para outros distúrbios imunomediados como cão adulto.

Descamação

O aumento da descamação é um achado clínico comum em filhotes caninos. Essa descamação pode ser leve a moderada, seca ou oleosa, firme ou frouxamente aderente, localizada ou generalizada. A diferenciação entre causas primárias e secundárias de descamação é de extrema importância para determinar o prognóstico quanto à resolução.

As causas primárias de descamação estão associadas a um grupo de doenças chamadas ictiose ou “doença tipo escamas de peixe”. Além de serem de natureza hereditária ou congênita, os sinais clínicos são observados com frequência em uma idade muito jovem, embora ocasionalmente possam não ser reconhecidos até que o animal esteja em uma idade mais avançada. Vários defeitos moleculares foram identificados no desenvolvimento do estrato córneo dos animais acometidos. Diversas raças foram identificadas como suscetíveis a essa condição, incluindo Jack Russel Terrier, Wheaten Terrier de pelo macio, West Highland Terrier Branco, Cavalier King Charles Spaniel, Buldogue americano e Golden Retriever, embora esta não seja uma lista exclusiva. Existe uma grande variabilidade na manifestação clínica dessas raças, incluindo a gravidade e aderência das escamas, mas uma revisão detalhada a respeito disso está além dos objetivos deste artigo.

Contudo, a raça Golden Retriever tem uma apresentação peculiar de ictiose — que, no caso, parece ser mais prevalente do que outras formas. Isso talvez se deva à observação de que os sinais clínicos de descamação acentuada em filhote canino dessa raça podem ser considerados dentro das expectativas normais. Ocasionalmente, os sinais clínicos podem não estar presentes até uma fase mais tardia da vida. A descamação pode ser muito fina ou muito espessas e, muitas vezes, é observada dentro da pelagem. As escamas não costumam estar firmemente aderidas à superfície da pele, enquanto a cor das escamas pode variar de clara a escura, dependendo da pigmentação da pele.

Um dermatopatologista experiente e qualificado deve avaliar amostras obtidas por biopsia; o diagnóstico é formulado com base na observação histopatológica de ortoqueratose lamelar difusa e ausência de inflamação, mas as alterações podem ser sutis e passar despercebidas por um patologista não especializado em dermatopatologia. Existe um teste genético disponível em alguns países para ajudar a avaliar o estado de portador em animais reprodutores, pois o distúrbio parece envolver um gene autossômico recessivo. Embora não exista cura, o tratamento visa reduzir a quantidade de escamas visíveis presentes. A escovação excessiva da pelagem ou a aplicação de banhos frequentes, sobretudo com xampus queratolíticos, podem exacerbar o problema. O banho com um xampu hipoalergênico emoliente suave, seguido de um enxágue com creme hidratante ou umectante, costuma ser suficiente. Alguns produtos foram desenvolvidos para ajudar a reparar a função de barreira da epiderme e, por essa razão, esses produtos podem ser úteis como terapia adjuvante.

O conceito de seborreia primária é controverso. A seborreia pode ser causada por uma série de razões e, muitas vezes, é uma consequência secundária. Estudos demonstraram que alguns cães da raça Cocker Spaniel apresentam uma alta taxa de renovação (turnover) celular em comparação com outras raças, levando à formação de escamas. As escamas podem ser do tipo seca (seborreia seca) ou oleosa (seborreia oleosa). Muitos desses cães respondem à terapia com vitamina A, mas outros fatores também podem contribuir para o problema, incluindo nutrição, alergias, ectoparasitismo, fatores ambientais, infecção e endocrinopatias. Todos esses fatores devem ser totalmente descartados antes de considerar a seborreia como um quadro primário.

O histórico é fundamental na avaliação de filhotes caninos com descamação aumentada, uma vez que a nutrição frequentemente desempenha um papel importante. Dietas com deficiência de ácidos graxos ômega-6 induzirão a uma pelagem seca e opaca com aumento da descamação. O fornecimento de uma dieta de alta qualidade para os filhotes caninos levará a uma melhora clínica notável, embora mudanças visíveis possam não ser detectadas por algumas semanas, pois a incorporação de ácidos graxos na pele leva um tempo. Os endoparasitas podem contribuir para a má absorção de nutrientes e, por isso, o teste de flutuação ou flotação fecal deve ser um exame de rotina ao se avaliar um filhote canino com descamação acentuada.

Embora as alergias possam ser uma das causas de aumento da descamação, a maioria dos filhotes caninos não desenvolve alergias até uma idade mais avançada. Uma exceção a essa regra é a alergia alimentar, cuja ocorrência pode se dar em filhotes caninos com menos de 6 meses de vida. Os parasitas intestinais podem desempenhar um papel no sistema imunológico, levando à perda de tolerância a fontes alimentares. Os filhotes alérgicos a alimentos podem apresentar prurido, sinais gastrintestinais e más condições de pele/pelagem; ocasionalmente, observa-se urticária. O diagnóstico é feito por meio de dieta de eliminação. O autor prefere usar dietas proteicas hidrolisadas nutricionalmente balanceadas para todos os estágios de vida em detrimento das dietas caseiras — que, por sua vez, podem não ser completas nem balanceadas; isso é particularmente importante para os filhotes caninos. Dietas com restrição antigênica também podem ser usadas caso elas sejam completas e balanceadas para todos os estágios de vida (algumas não são). Qualquer ensaio alimentar deve durar pelo menos 8 semanas antes de determinar se a dieta influenciou os sinais clínicos; além disso, um desafio com a dieta original (habitual) deve provocar o retorno dos sinais dentro de 1 semana. Obviamente, deve-se evitar o fornecimento dos itens alimentares agressores/ofensores. A experiência pessoal demonstrou que os filhotes caninos diagnosticados com alergias alimentares podem desenvolver alergias a outros alimentos mais tarde em suas vidas.

A presença de descamação está frequentemente associada à foliculite. Bactérias, ácaros Demodex e dermatófitos costumam ser os agentes causais; por isso, qualquer filhote canino que se apresente com aumento de escamas deve ser submetido aos exames de citologia da pele por impressão direta (imprint [decalque]), raspado cutâneo profundo e cultura fúngica. As escamas associadas à foliculite podem ser difusas ou acompanhadas de pápulas, pústulas ou colaretes epidérmicos. O tratamento deve ser direcionado à resolução da causa da foliculite; a aplicação de banhos duas vezes por semana com xampu queratolítico ou emoliente pode acelerar a resolução do problema.

O fungo Malassezia pode ser uma consequência ou causa de aumento da descamação. A levedura é frequentemente encontrada em lesões escamosas, sobretudo se forem oleosas. Esses microrganismos costumam causar prurido com consequente autotraumatismo e inflamação, levando a um aumento do tempo de renovação (turnover) celular. Tais microrganismos são identificados com facilidade em amostras de pele obtidas por impressão direta e coradas com um corante de Wright modificado. Alternativamente, amostras coletadas com fita adesiva podem ser utilizadas para lesões escamosas secas e áreas de difícil acesso, como regiões interdigitais, e novamente coradas com um corante de Wright modificado, evitando a etapa de fixação da amostra. A fita é, então, aplicada a uma lâmina de vidro para avaliação microscópica, utilizando a lente de imersão em óleo com aumento de 100 x para identificar as leveduras. Para os filhotes caninos, recomenda-se geralmente a aplicação de terapia tópica com xampus, sprays ou loções contendo um dos antifúngicos “azólicos”. Os medicamentos azólicos administrados por via oral devem ficar reservados para os casos graves ou refratários e fornecidos apenas para os filhotes caninos com mais de 12 semanas de vida. A solução tópica com cal sulfurada (soluções contendo enxofre) pode ser usada com segurança em filhotes caninos e aplicada semanalmente sob a forma de enxágue até obter a remissão clínica; uma característica extra da cal sulfurada está em sua excelente propriedade antipruriginosa.

Conclusão

Os filhotes caninos são propensos a muitas doenças de pele distintas. Embora o presente artigo tenha focado em certos problemas dermatológicos mais comuns em animais jovens, o clínico está ciente de que outras condições, como infecções cutâneas bacterianas, demodiciose e dermatofitose, são altamente prevalentes em filhotes e também em cães adultos. Portanto, é essencial que um filhote canino com lesões de pele seja abordado da mesma forma que qualquer outro problema, pois o tratamento específico e o desfecho bem-sucedido dependerão da formulação precisa (exata) do diagnóstico com o uso de uma metodologia lógica — ou seja, uma metodologia que não só leve em consideração dados como identificação, histórico e sinais clínicos, mas também envolva testes diagnósticos apropriados.

Recomendações de leitura:

Reimann KA, Evans, MG, Chalifoux LV, et al. Clinicopathologic characterization of canine juvenile cellulitis. Vet Pathol 1989;26(6):499-504.

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