Otite externa em cães: uma abordagem nutricional

Otite externa em cães: uma abordagem nutricional

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A otite externa em cães é uma enfermidade bastante comum na clínica. Entenda a influência da nutrição e como abordar esses casos.

A otite externa canina é uma afecção de alta prevalência na clínica de pequenos animais. Pode se caracterizar por ser uma inflamação aguda ou crônica, decorrente de fatores primários, secundários e predisponentes.

Dentre os animais acometidos, aparecem entre as causas mais comuns de otite externa as de origem alérgica, particularmente a hipersensibilidade alimentar (trofoalérgica).

Sendo assim, vamos apresentar como a nutrição pode influenciar no tratamento dos cães com otite externa.

O que é a otite canina externa?

Otite externa em cães é uma condição inflamatória uni ou bilateral que afeta o conduto auditivo externo, classificada em aguda ou crônica (recorrente ou persistente), causada ou não por um agente infeccioso, e que pode apresentar secreção ceruminosa ou purulenta.

Qual a diferença entre otite externa, média e interna?

A otite canina é classificada de acordo com a localização da inflamação no conduto auditivo, podendo ser classificada como: externa, média ou interna.

Cada tipo de otite possui características específicas e requer abordagens terapêuticas distintas, por isso, essa diferenciação é de extrema importância para o tratamento adequado dessa afecção.

Vamos entender essa diferença, a seguir.

otite externa em cães
Figura 1: Anatomia da orelha externa. Fonte: ROYAL CANIN.
  • Otite Externa: inflamação do canal auditivo externo, que consiste na região da orelha, entre o pavilhão auricular e a membrana timpânica.
  • Otite Média: inflamação que afeta a região do ouvido médio, que está localizada atrás do tímpano.
  • Otite Interna: inflamação que afeta a região do ouvido interno, que inclui estruturas como a cóclea (responsável pela audição) e o sistema vestibular (responsável pelo equilíbrio)

Entendendo a relação entre a otite externa nos cães e a nutrição

A nutrição desempenha um importante papel na saúde da pele e na prevenção de condições como a otite externa em cães. A barreira cutânea íntegra é essencial para ajudar na proteção contra injúrias, incluindo alérgenos e microrganismos que podem desencadear um processo inflamatório.

Além disso, uma nutrição adequada, contendo nutrientes em quantidades cientificamente comprovadas, como vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega-3, ajuda no bom funcionamento do sistema imunológico, função também essencial para combater afecções. O fornecimento de proteínas de alta qualidade pode ajudar a promover a cicatrização de feridas e a regeneração celular.

Os nutrientes também ajudam em outras funções do organismo, assim como:

  • redução ou controle da inflamação;
  • redução do prurido;
  • regulação da proliferação epidérmica;
  • melhoria da condição de barreira cutânea;
  • reparação de pele danificada;
  • redução da perda de água transepidérmica;
  • reequilíbrio da composição lipídica da pele.

Estudos demonstram que a hipersensibilidade e as alergias são relatadas como a maior causa de otite crônica ou recorrente em cães, indicando que respectivamente 55% e 80% dos cães com dermatite atópica e alergia alimentar apresentam otite externa concomitante (FONTOURA et.al. 2014).

Em certos casos, a otite externa recorrente pode ser o único sinal clínico de uma doença alérgica. Assim, quando os problemas de alergia de contato são descartados com base no histórico e no exame clínico, reações cutâneas adversas ao alimento (alergia alimentar ou trofoalergia) e dermatite atópica canina precisam ser investigadas.

Principais sinais clínicos apresentados por cães com otite externa

Os sinais clínicos mais comuns da otite externa em cães incluem coceira intensa, sacudidas frequentes da cabeça, aumento da produção de cerúmen, vermelhidão, edema, descamação, crostas, odor desagradável e dor à manipulação.

Inclusive, o prurido e a repetição das chacoalhadas da cabeça podem levar ao aparecimento de um otohematoma (hematoma auricular).

Formas de diagnóstico

O diagnóstico tem como objetivo principal identificar as causas primárias que desencadeiam a inflamação, bem como as causas secundárias, os fatores predisponentes e perpetuantes que contribuem para a enfermidade.

Dessa forma, o diagnóstico da otite externa canina é baseado na anamnese, observação dos sinais clínicos e em um exame físico minucioso das orelhas do cão, incluindo a otoscopia. Em alguns casos, podem ser necessários testes complementares, como pesquisa parasitológica, citologia (exame microscópico das células presentes no ouvido), cultura fúngica e bacteriana com antibiograma.

Vale ressaltar que a otite externa mal diagnosticada e, consequentemente, tratada incorretamente, pode levar a complicações graves como o agravamento para uma otite média ou interna.

Além disso, o uso inapropriado de medicamentos através da prescrição desnecessária de determinados princípios ativos pode gerar outros problemas, como o desenvolvimento de microrganismos super-resistentes (resistência bacteriana).

Como tratar a otite canina externa?

O tratamento da otite canina externa geralmente envolve a limpeza do conduto auditivo e a utilização de medicamentos tópicos, que podem conter antibióticos, antifúngicos e/ou anti-inflamatórios, dependendo da causa subjacente.

Lembre-se de que é importante identificar e tratar qualquer fator predisponente, como trofoalergias, para ajudar a prevenir a recorrência da otite externa canina.

Nesse caso, pode ser necessário o uso de medicamentos tópicos e/ou orais a base de corticosteroides para reduzir a inflamação e aliviar os sintomas, além da mudança na alimentação do paciente – como é possível conferir aqui.

A importância da adequação da dieta

A otite externa, por si só, causa fragilidade cutânea no conduto auditivo externo. A perda de integridade da barreira epidérmica proporciona, além da desidratação da pele, também a penetração e consequente propagação de agentes contaminantes.

Com isso, a prescrição de um alimento coadjuvante composto por nutrientes que fortaleçam a barreira cutânea deve fazer parte da terapêutica nos casos de otite externa.

Os antioxidantes, graças a sua natureza e ação, protegem as membranas celulares e os núcleos dos radicais livres. Vitamina C, Vitamina E, luteína e betacaroteno combatem os radicais livres e são necessárias para o correto funcionamento das células (apoptose, mitose) ou de mediadores da imunidade.

Alimentos com proteína de altíssima assimilação, ou digestibilidade, também contribuem com o tratamento da otite externa, uma vez que auxiliam no fortalecimento da barreira epidérmica. Lembre-se que em torno de 30% da necessidade proteica diária é destinada à renovação cutânea e crescimento do pelo.

A otite externa, associada a prurido e alergia alimentar, responde rapidamente quando os pacientes são alimentados com dietas compostas por proteína de altíssima digestibilidade e por ácidos graxos essenciais.

Um equilíbrio ideal da proporção de ácidos graxos ômega 3 e 6 no alimento é considerado um requisito fundamental para o tecido melhorar a homeostase e modular os processos inflamatórios.

De maneira mais detalhada, os ácidos graxos EPA/DHA, cuja fonte é óleo de peixe, possuem ação anti-inflamatória. Já o ácido gama-linolênico (GLA), cuja fonte é o óleo de borragem, atua como precursor das prostaglandinas da série 1, que tem ação menos inflamatória ou mesmo anti-inflamatória em comparação com às prostaglandinas da série 2.

Além disso, o ácido graxo poli-insaturado n-6, o ácido gama-linolênico (GLA) e o EPA são dotados de atividade anti-inflamatória específica. Portanto, ambos contribuem para a saúde da pele e integridade da barreira epidérmica.

O alimento completo e balanceado com proteínas hidrolisadas com baixo peso molecular deve ser fornecido por um período mínimo de quatro semanas e pode, de acordo com as recomendações do médico-veterinário, ser prescrito para o resto da vida do animal.

linhaa de alimentos Skin Care, Allergenic e Hypoallergenic para o tratamento da otite externa em cães

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Otite externa em cães: como orientar os tutores sobre prevenção?

Orientar adequadamente os tutores de animais de raças mais suscetíveis ao desenvolvimento de otite externa e, principalmente, de cães com histórico de otite crônica, irá ajudar na prevenção do aparecimento de sinais clínicos e garantir a qualidade de vida do paciente.

Dessa forma, o médico-veterinário deve explicar algumas medidas de manejo, como:

  • limpeza regular de forma apropriada dos condutos auditivos com soluções específicas;
  • evitar a entrada de água no canal auditivo;
  • realizar completa secagem da região das orelhas após os banhos;
  • manter o alimento prescrito até novas recomendações médicas;
  • e fazer um acompanhamento periódico do animal com o profissional médico-veterinário.

Referências Bibliográficas

FONTOURA, E.G. et.al. Otite externa em pequenos animais: revisão de literatura. Revista Medvep, 12 (41), 2014. Disponível em: https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/07/04-Otite-Externa-em-Pequenos-Animais.pdf . Acesso em 14 junho 2023.

HIRAHATA, M. Uso da imagem termográfica para avaliação do tratamento das otites externas em cães. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias UFRGS, 2022. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/246222/001146015.pdf?sequence=1 . Acesso em: 14 junho 2023.

MAPA. Guia de uso racional de antimicrobianos para cães e gatos, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/resistencia-aos-antimicrobianos/publicacoes/livroantimicrobianosv22.pdf . Acesso em 14 junho 2023.

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