Colapso de Traqueia: como identificar e quais riscos a alteração oferece aos pets?

Colapso de Traqueia: como identificar e quais riscos a alteração oferece aos pets?

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O colapso de traqueia é uma afecção que pode ser comumente encontrada em cães de pequeno porte. Saiba como é feito o diagnóstico e quais são as opções para tratamento.

O colapso de traqueia é uma condição respiratória que afeta especialmente cães de raças pequenas, podendo comprometer significativamente sua qualidade de vida. Identificar precocemente os sinais clínicos dessa alteração é essencial para promover um tratamento eficaz, com a tentativa de retardar a progressão do problema e minimizar os riscos a ele associados.

Neste artigo, vamos compreender o que é colapso traqueal em cães, quais as consequências que pode causar ao organismo do animal acometido e como deve ser procedida a conduta para o diagnóstico e tratamento.

O que é o colapso de traqueia?

O colapso de traqueia é uma condição na qual a cartilagem dos anéis traqueais torna-se mais fraca e perde a sua rigidez normal, resultando em um estreitamento do lúmen traqueal – que pode ocorrer em sua na porção cervical, torácica ou em múltiplas regiões, simultaneamente.

Esse processo ocorre quando a pressão extra luminal excede a pressão intraluminal do órgão, levando ao seu achatamento dorsoventral e ao prolapso da membrana traqueal para dentro da luz. Dessa forma, a passagem de ar para os pulmões fica prejudicada, podendo ocasionar dificuldade respiratória, dependendo da severidade do colapso.

Tangner e Hobson (1982) classificaram o colapso de traqueia em 4 diferentes graus, de acordo com a sua gravidade.

  • Grau I: a traqueia está quase normal. O músculo traqueal é ligeiramente pendular, e as cartilagens traqueais mantêm uma forma circular. O lúmen traqueal está reduzido em aproximadamente 25%;
  • Grau II: o músculo traqueal está alargado e pendular. As cartilagens traqueais estão parcialmente achatadas, e o lúmen está reduzido em aproximadamente 50%;
  • Grau III: o músculo traqueal está quase em contato com a superfície dorsal das cartilagens traqueais. As cartilagens traqueais estão praticamente planas, e as extremidades podem ser palpadas durante o exame físico. O lúmen está reduzido em aproximadamente 75%;
  • Grau IV: o músculo traqueal está deitado na superfície dorsal das cartilagens traqueais. As cartilagens traqueais estão achatadas e podem inverter dorsalmente. O lúmen está praticamente obliterado.
Desenhos detalham a classificação do colapso de traqueia, do grau 1 ao 4
Figura 1: Exemplificação do sistema de classificação do colapso de traqueia. Fonte: TANGNER e HOBSON, 1982.

A causa do enfraquecimento das cartilagens traqueais está provavelmente associada a uma redução de glicosaminoglicanos e sulfato de condroitina, além de uma incapacidade da estrutura em reter água, mantendo a rigidez funcional. Além disso, devido a ocorrência comum de colapso de traqueia em cães de raças pequenas, pode haver uma anormalidade primária ou congênita da cartilagem (MAGGIORE, 2019).

Principais raças acometidas

Segundo Tappin (2016), o colapso de traqueia ocorre mais comumente em animais de meia-idade e raças de pequeno porte, assim como:

Sinais clínicos apresentados por cães com colapso de traqueia

Os sinais clínicos apresentados por cães acometidos por colapso de traqueia geralmente são proporcionais ao grau de redução do lúmen traqueal. Assim, os principais sinais clínicos são tosse seca, alta e/ou espirro reverso (também chamado de respiração paroxística inspiratória, ocorre quando o ar é empurrado para a cavidade nasal ao invés de ser expelido pelo organismo).

Esses sinais podem se iniciar ou se agravar em momentos de excitação, compressão da região traqueal, ingestão de água ou alimento, de exercício físico ou em paciente que apresentem sobrepeso/obesidade.

Pode ainda haver dificuldade respiratória, demonstrada por meio de taquipneia, dispneia inspiratória (colapso cervical) ou expiratória (colapso intratorácico), ocasionando a identificação de mucosas cianóticas. Em alguns casos, o animal pode apresentar síncopes decorrentes da obstrução das vias aéreas, por estimulação do nervo vago ou como resultado de hipertensão pulmonar.

No exame clínico, a palpação da traqueia frequentemente desencadeia tosse no paciente com a afecção. Porém, esse achado não é característico do colapso, somente indicando a presença de uma sensibilidade traqueal. À auscultação da região de estreitamento do lúmen traqueal pode-se evidenciar sons sibilantes.

Por sua vez, a auscultação cardíaca pode revelar sopro em foco de válvula mitral (insuficiência), dado encontrado em 17% dos cães que apresentaram tosse e colapso das vias aéreas, e em 2% dos cães com tosse e sem colapso, segundo um estudo de Johnson e Pollard (2010).

Como é feito o diagnóstico de colapso de traqueia

O diagnóstico do colapso de traqueia em cães é baseado na anamnese, levando em consideração a predisposição racial e os sinais clínicos apresentados pelo paciente, como tosse/espirro reverso ou até mesmo dificuldade respiratória, e é confirmado através de exames complementares de imagem capazes de detectar o estreitamento traqueal.

O método mais utilizado é a radiografia cervical e torácica, um procedimento de baixo custo, que oferece poucos riscos ao animal, capaz de fornecer informações como a localização e a gravidade do colapso.

Pode ser solicitada para acompanhar a progressão da afecção, mas deve ser interpretada com cautela pois, como o colapso de traqueia é um processo dinâmico e o raio-x confere uma avaliação estática, corre-se o risco de não visualizar a ocorrência do estreitamento do lúmen do órgão, resultando em um falso diagnóstico negativo.

Por isso, algumas técnicas radiográficas devem ser adotadas para uma avaliação fidedigna, sendo necessárias diferentes posicionamentos que podem incluir:

  • projeção de inspiração e expiração;
  • tangencial ou Skyline;
  • lateral no momento da tosse;
  • lateral com compressão.
Imagem radiográfica que mostra o colapso de traqueia em um cão
Figura 2: Imagem radiográfica lateral de região cervicotorácica de um cão sem colapso de traqueia. A) Radiografia convencional revelando o lúmen traqueal normal. B) Radiografia compressiva sem alteração do lumen traqueal. Fonte: BELTRÁN et.al., 2020.

 

Imagem mostra um raio-x cervical de um cão um colapso de traqueia
Figura 3: Raio-x cervical – nota-se o achatamento completo do segmento traqueal após sofrer pressão mecânica. Fonte: DIAS et.al., 2023.

Lembre-se que, qualquer causa de afecção no sistema respiratório (assim como bronquite, paralisia laríngea ou processo infeccioso) que possa levar ao desenvolvimento de sinais clínicos relacionados ao colapso de traqueia deve ser identificada, com o intuito de instituir a terapia mais apropriada para cada caso.

A importância do diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce do colapso de traqueia em cães é fundamental para proporcionar uma abordagem de manejo específica, com o intuito de retardar a progressão da doença, promovendo qualidade de vida ao evitar o rápido aparecimento de sinais clínicos.

Além disso, a implementação de medidas terapêuticas precocemente ajuda a prevenir o agravamento da condição e a reduzir o risco de complicações.

Entendendo o tratamento para colapso de traqueia em cães

O tratamento para o colapso de traqueia canino depende da gravidade da condição e pode incluir abordagens medicamentosas e cirúrgicas. Entenda melhor a seguir.

Tratamento medicamentoso

O tratamento medicamentoso para o colapso de traqueia tem como objeto prevenir a progressão da enfermidade e, também, ajudar em momentos de crises, nos quais o cão pode sofrer e ter a qualidade de vida prejudicada devido aos sinais clínicos. Sendo assim, a terapia medicamentosa não irá curar o problema.

O Médico-Veterinário pode adotar uma abordagem multimodal, incluindo fármacos antitussígenos, anti-inflamatórios corticosteroides, broncodilatadores, suplementos a base de sulfato de condroitina e glucosamina. Alguns animais podem precisar de medidas para diminuir a excitação, o estresse e a ansiedade, assim como oxigenioterapia em quadros de cianose e antibioticoterapia se houver evidência de uma infecção respiratória secundária.

Tratamento cirúrgico

A intervenção cirúrgica é recomendada somente para casos graves de colapso de traqueia (grau III e IV), sendo realizada através das técnicas de colocação de próteses de anéis extra luminais ou implantação de stent endo luminal. Uma vantagem do Stent é que ele pode ser usado para corrigir colapsos traqueais em região cervical e torácica, ao contrário dos anéis extra luminais, que são utilizados somente no segmento cervical.

Uma das ressalvas é, já que complicações relacionadas ao uso do stent são frequentes (SESSEGOLO, 2013), levando à recidiva do estreitamento traqueal, essa técnica pode ser mais indicada para animais mais velhos, por apresentarem menor expectativa de vida, mantendo, assim, um resultado satisfatório.

É possível prevenir o colapso de traqueia nos animais?

A presença de colapso de traqueia em cães pode estar relacionada a uma predisposição genética em algumas raças pequenas. Assim, existem algumas medidas que podem minimizar os riscos ou reduzir a gravidade dessa condição, como evitar tracionar/lesionar a região cervical, trocando o uso de coleiras por peitorais, por exemplo. Além disso, ao adquirir um exemplar de raças pequenas que sabidamente podem ser acometidas por essa enfermidade, é importante selecionar criadores responsáveis.

Uma boa proporção dos cães acometidos com colapso traqueal apresenta sobrepeso, e o acúmulo de gordura intratorácica pode reduzir a capacidade respiratória por limitar o movimento fisiológico da respiração de inflar o peito (TAPPIN, 2016).

Dessa forma, pode ser necessária a recomendação de uma dieta alimentar eficaz para perda de peso, como o alimento Satiety Support Weight Management Small Dog da ROYAL CANIN®, especialmente desenvolvido para suprir as particularidades dos cães de pequeno porte, auxiliando no processo de perda de peso de forma segura e eficaz (97% dos cães perderam peso em 3 meses de uso).

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Referências bibliográficas:

BELTRÁN, K.G.; PASCON, J.P.E.; MISTIERI, M.L.A. Radiographic evaluation of tracheal collapse in dogs by compressive technique. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.72, n.3, p.799-806, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abmvz/a/wFgjDqSGcspng45LMhYvcLd/abstract/?lang=pt&format=html . Acesso em: 24 janeiro 2024.

CONGIUSTA, M. et.al. Comparison of short-, intermediate-, and long-term results between dogs with tracheal collapse that underwent multimodal medical management alone and those that underwent tracheal endoluminal stent placement. JAVMA, v.258, i.3, 2021. Disponível em: https://avmajournals.avma.org/view/journals/javma/258/3/javma.258.3.279.xml?tab_body=pdf . Acesso em: 24 janeiro 2024.

DIAS, D.A.; FAJARDO, H.V.; KELMER, J.G.N. Implantação de stents extraluminal de nitinol em cão com colapso de traqueia severo: Relato de caso. PUBVET, v.17, n.13, p.1-5, 2023. Disponível em: https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/3441 . Acesso em: 24 janeiro 2024.

JOHNSON, L.R.; POLLARD, R.E. Tracheal Collapse and Bronchomalacia in Dogs: 58 Cases (7/2001–1/2008). Journal of Veterinary Internal Medicine, v.24, i.2, p.298-305, 2010. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1939-1676.2009.0451.x. Acesso em 24 janeiro 2024.

MAGGIORE, A.D. Na update on tracheal and airway colapse in dogs. Veterinary Clinics: Small Animal Practice, v.50, i.2, p.419-430, 2019. Disponível em: https://www.vetsmall.theclinics.com/article/S0195-5616(19)30170-6/fulltext . Acesso em: 24 janeiro 2024.

SESSEGOLO, G.M. Endoprótese (Stent) intraluminal autoexpansiva, adaptada por traqueostomia, em cães com colapso de traqueia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Programa de Pós-Graduação, 2013.

TANGNER, C.H.; HOBSON, H.P. A Retrospective Study of 20 Surgically Managed Cases of Collapsed Trachea. Veterinary Surgery, v.11, i.4, 1982. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/229986267_A_Retrospective_Study_of_20_Surgically_Managed_Cases_of_Collapsed_Trachea . Acesso em: 24 janeiro 2024.

TAPPIN, S.W. Canine tracheal colapse. Journal of Small Animal Practice, v.57, p.9-17, 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26780854/ . Acesso em: 24 janeiro 2024.