Anaplasmose em gatos e cães: o que o médico-veterinário deve saber para conduzir o caso?

Anaplasmose em gatos e cães: o que o médico-veterinário deve saber para conduzir o caso?

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Transmitida pela picada do carrapato, a anaplasmose é uma hemoparasitose que afeta gatos e cães. Saiba mais sobre a doença! 

A anaplasmose é uma doença relativamente comum na rotina da clínica de pequenos animais, que pode levar o animal a óbito devido a complicações. Ela é uma das diversas hemoparasitoses que acometem gatos e cães com transmissão através da picada de carrapatos infectados. 

Hemoparasitoses são doenças causadas por agentes que parasitam diferentes células sanguíneas que, ao se disseminarem, causam sinais clínicos inespecíficos, dificultando o diagnóstico e, consequentemente, o prognóstico e terapêutica. 

O que é a anaplasmose? 

A anaplasmose é uma hemoparasitose causada por bactérias Gram-negativas estritamente intracelulares, pertencentes à família Anaplasmataceae. Dentre as diferentes espécies do gênero Anaplasma há duas principais espécies que possuem potencial zoonótico: A. platys e A. phagocytophilum – que infectam principalmente cães e canídeos selvagens. 

Em gatos, as hemoparasitoses são relativamente pouco descritas. Porém, a anaplasmose, causada pelo Anaplasma platys, é uma das hemoparasitoses com mais incidência em felinos. 

A Anaplasma platys frequentemente infecta plaquetas, causando doença caracterizada por: 

  • febre; 
  • anorexia; 
  • perda de peso; 
  • letargia; 
  • petéquias; 
  • mucosas pálidas; 
  • secreção nasal; 
  • uveíte bilateral; 
  • epistaxe; 
  • e linfadenomegalia.  

Já a A. phagocytophilum infecta principalmente granulócitos caninos (especialmente neutrófilos) de uma ampla gama de hospedeiros vertebrados domésticos e selvagens, bem como humanos.  

Como ocorre a transmissão da doença para os cães e gatos? 

A infecção do gato ou cão acontece após a inoculação do Anaplasma spp. através da picada de um carrapato infectado. O carrapato – normalmente Riphicephalus sanguineus, deve realizar repasto de 24 a 48 horas para transmitir a bactéria.  

Os carrapatos atuam como vetores naturais das espécies de Anaplasma e desempenham um papel fundamental na multiplicação biológica dessas bactérias nas glândulas salivares e nos intestinos. 

Então, o Anaplasma parasita as células sanguíneas circulantes (eritrócitos, monócitos, granulócitos e plaquetas), onde irá formar mórulas. A manifestação dos sinais clínicos se inicia entre 1 e 2 semanas. 

Entendendo o período de incubação 

A incubação da anaplasmose varia entre 8 e 15 dias. Durante este período de até duas semanas, ocorre a fase aguda da doença e nota-se grande quantidade de plaquetas infectadas – é quando a tomborcitopenia cíclica se combina com a um quadro de febre intermitente.  

A infecção crônica é associada à baixa bacteremia com trombocitopenia discreta. O mecanismo da trombocitopenia é desconhecido, mas acredita-se que cause danos direto às plaquetas, sequestro de plaquetas pelo baço e destruição imunomediada plaquetária.  

ciclo do carrapato

Principais sinais clínicos apresentados 

O animal infectado pode manifestar quadro de febre intermitente, devido a modificação cíclica dos indicies plaquetários e de Anaplasma spp. circulante na corrente sanguínea. Além do quadro de hipertermia os sinais clínicos observados são:  

  • letargia; 
  • anorexia/hiporexia; 
  • inapetência; 
  • vomito; 
  • diarreia; 
  • distúrbios hemorrágicos; 
  • linfadenopatia; 
  • tensão abdominal.  

Ao realizar o exame de sangue, o médico-veterinário pode identificar: 

  • trombocitopenia; 
  • leucopenia; 
  • anemia moderada; 
  • leve aumento enzimas hepáticas.  

Diagnóstico de anaplasmose em gatos e cães 

Existem diferentes exames para o diagnóstico da anaplasmose, incluindo os seguintes: 

  • Esfregaço de sangue: visualização de mórulas (aglomerados intracitoplasmáticos de bactérias) intracelulares em granulócitos (A. phagocytophilum) ou plaquetas (A. platys). É feito de forma rápida e tem baixo custo, além de baixa sensibilidade. Vale citar que esfregaços negativos não descartam infecção.
     
  • Sorologia: ensaio imuno enzimático (ELISA) e teste de anticorpo fluorescente indireto (IFAT). Tem alta sensibilidade e demonstra exposição a infecção, mas não necessariamente infecção ou doença atual. Vale lembrar que leva de 3 a 4 semanas após a infecção para que os anticorpos se desenvolvam.
     
  • Biologia molecular: reação em cadeia da polimerase (PCR). Tem alta especificidade, indicativo de infecção atual e permite a detecção em período entre quatro e 10 dias após a infecção 

Diagnóstico diferencial com outras doenças 

Em animais com suspeita de anaplasmose, o médico-veterinário deve cogitar as seguintes doenças como diagnóstico diferencial: 

  • doenças imunomediadas (idiopática ou secundária a drogas); 
  • neoplasia; 
  • doença infecciosas (erliquiose canina, cinomose, leishmaniose); 
  • microangiopatias (hemangioma, hemangiossarcoma). 

Tratamento de anaplasmose em cães e gatos 

O tratamento para animais com anaplasmose é feito com antibiótico. A doxiciclina é a droga de escolha e deve ser administrada na dose de 5 mg/kg/12h ou 10 mg/kg/24h via oral, por 28 dias, por ser comum a coinfecção com E. canis. 

Apesar de não ser indicada para filhotes, devido ao risco de hipoplasia ou descoloração do esmalte dos dentes, a doxicilina continua sendo a droga de escolha em animais jovens com anaplasmose granulocítica. 

O prognóstico e a eficácia do tratamento melhoram se os antibióticos forem administrados no início do curso da doença. A resposta deve começar a ser vista em 48 horas, no entanto, o tratamento deve ser continuado para reduzir a carga bacteriana. 

A importância da nutrição para o bem-estar do pet 

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Referências bibliográficas 

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