Febre maculosa: entenda o ciclo da doença e como evitar o contágio em gatos e cães

Febre maculosa: entenda o ciclo da doença e como evitar o contágio em gatos e cães

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A febre maculosa é uma zoonose grave, de caráter multissistêmico, que pode afetar diversas espécies de mamíferos. Conheça suas características e saiba como orientar os tutores de pet.

A febre maculosa é uma doença endêmica em várias regiões do Brasil. Seu agente etiológico pode acometer animais de todas as espécies, gatos e cães e inclusive o homem, promovendo uma séria afecção, cujo prognóstico está diretamente relacionado ao diagnóstico e à instituição do tratamento precoce.

Entenda os aspectos dessa enfermidade, assim como sua transmissão e o desenvolvimento do quadro de sinais clínicos. Além disso, obtenha conhecimentos sobre como orientar os tutores de animais de estimação e conscientizar a população em geral sobre as medidas preventivas eficazes para evitar a febre maculosa.

O que é febre maculosa?

Febre maculosa é uma doença infectocontagiosa de caráter zoonótico de notificação compulsória imediata (PORTARIA Nº 264 do Ministério da Saúde, de 17 de fevereiro de 2020).

Causada por bactérias gram-negativas do gênero Rickettsia, como a Rickettsia rickettsii e a Rickettsia parkeri, ela é transmitida aos mamíferos através da picada de carrapatos infectados. Assim, pode-se desenvolver uma doença febril aguda com sinais clínicos inespecíficos, que acomete vários sistemas do organismo.

Qual carrapato transmite febre maculosa?

A transmissão da febre maculosa no Brasil está relacionada à picada de carrapatos do gênero Amblyomma, sendo as espécies A. sculptum (conhecida como carrapato estrela, antigo Amblyomma cajennense), A. aureolatum e A. ovale as de maior importância na inoculação da doença.

O Amblyomma caracteriza-se por fazer seu repasto sanguíneo em diversas espécies de hospedeiros, como equinos, bovinos, caprinos, suínos, roedores silvestres (como Hydrochaeris hydrochaeris – capivaras), cães, gatos, marsupiais (como Didelphis sp – gamba) e primatas, inclusive o homem.

Segundo MORAES-FILHO (2017), o A. sculptum é encontrado nos biomas do Cerrado, Pantanal e em áreas degradadas da Mata Atlântica, nos estados da região Sudeste e Centro-Oeste, na Bahia, no Paraná e em Santa Catarina.

O A. aureolatum é encontrado nas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Sul do Brasil, preferencialmente na Floresta Pluvial Atlântica. Essas duas espécies são responsáveis pela transmissão da R. rickettsii, agente etiológico patogênico de maior importância, capaz de promover uma doença de maior gravidade.

Já o A. ovale, conforme descrito por FACCINI-MARTINEZ et. al. (2018), está presente nas áreas de Mata Atlântica nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, e é responsável pela transmissão da R. parkeri, que causa uma enfermidade com manifestações clínicas menos graves quando comparada à anterior.

Confira, a seguir, as três principais espécies do carrapato vetor da febre maculosa.

Carrapatos vetores da febre maculosa
Figura 1: 1) Amblyomma sculptum; 2) Amblyomma aureolatum; 3) Amblyomma ovale. Fonte: MORAES-FILHO, 2017.

Entendendo o ciclo da doença e como ocorre a transmissão

A manutenção do ciclo de vida da Rickettsia é garantida pelo carrapato, considerado reservatório e amplificador do parasita, através da transmissão transovariana, transestadial (entre as mudas) e quando o carrapato se infecta durante a fase de vida parasitária ao picar um hospedeiro contaminado. Os carrapatos mantêm-se infectados por toda sua vida, que geralmente dura de 18 a 36 meses.

Então, o vetor portador da Rickettsia inocula esse parasita em um hospedeiro suscetível, durante seu repasto sanguíneo. Para que a transmissão efetiva aconteça, o Amblyomma precisa permanecer fixado no animal por um período mínimo, que pode variar de 10 minutos até 6 horas.

Ciclo da febre maculosa

Após a inoculação, a bactéria invade o endotélio vascular, multiplicando-se, podendo desencadear hemorragia microvascular, trombocitopenia, permeabilidade vascular aumentada, e até mesmo vasculite disseminada em diferentes órgãos e tecidos. O período de incubação (entre a infecção e o aparecimento dos sinais clínicos) pode variar de 2 a 14 dias.

A febre maculosa apresenta uma sazonalidade, tendo maior incidência nos meses de junho a setembro, e pode acometer todos os animais (equinos, bovinos, caprinos, suínos, roedores, aves, cães, gatos, marsupiais e primatas), inclusive o homem.

Os equinos, as capivaras e os gambás são considerados hospedeiros mamíferos amplificadores, ou seja, são animais susceptíveis à infecção por Rickettsia que mantêm níveis sanguíneos da bactéria suficientes para causar a contaminação de carrapatos que nele se alimentem. Daí a importância em conscientizar a população a não manter muita proximidade a esses animais em regiões nas quais o Amblyomma possa ser encontrado.

Também é importante alertar que não há transmissão da febre maculosa diretamente entre os animais ou entre os animais e os humanos, pois essa doença é transmitida exclusivamente por seus vetores, os carrapatos.

O carrapato do cão pode transmitir a doença?

Qualquer espécie de carrapato pode potencialmente abrigar a Rickettsia e, consequentemente, transmitir a febre maculosa. Dessa forma, o Rhipicephalus sanguineus, carrapato do cão, também pode ser caracterizado como vetor, desde que esteja infectado por essa bactéria. Logo, locais infestados por R. sanguineus também podem representar áreas de risco de contrair essa afecção.

Principais áreas endêmicas de febre maculosa

A partir da década de 1980, observou-se o crescimento do número de casos de febre maculosa, assim como o aumento das áreas de transmissão. Dessa forma, essa doença tornou-se um problema impactante para a saúde pública do Brasil.

As áreas endêmicas caracterizam-se por apresentarem condições propícias para a manutenção do ciclo de vida do Amblyomma, assim como a presença abundante de hospedeiros amplificadores.

Portanto, hoje a febre maculosa é endêmica em várias regiões do país. Alguns dos estados brasileiros mais afetados por essa enfermidade incluem:

  • São Paulo;
  • Santa Catarina;
  • Minas Gerais;
  • Rio de Janeiro;
  • Espírito Santo;
  • Paraná;
  • Distrito Federal;
  • Bahia;
  • Rio Grande do Sul.

Para maiores informações, acesse a Situação Epidemiológica da Febre Maculosa no Brasil 2007-2023.

Segundo o manual do Ministério da Saúde, além dos animais sentinelas para febre maculosa já conhecidos (a capivara e os equinos), o cão pode ser um animal de extrema importância para compreensão da epidemiologia, bem como a prevenção de zoonoses transmitidas por carrapatos.

O exame dos caninos em áreas sob avaliação indicará muitas das espécies de carrapatos prevalentes na região, assim como a exposição a Rickettsias por meio da sorologia.

Como a infecção acomete os mamíferos

Nos animais, a febre maculosa pode ser clínica ou subclínica. Ao atingir o interior dos vasos sanguíneos, a Rickettsia, parasita intracelular obrigatório, começa a se reproduzir, levando ao desenvolvimento de sinais clínicos, tais como:

  • prostração;
  • anorexia;
  • febre;
  • edema de extremidades, inclusive dos lábios, escroto, prepúcio e orelhas;
  • mialgia e dor articular;
  • epistaxe;
  • petéquias/equimoses (hematomas);
  • linfonodomegalia generalizada.

Com a evolução da enfermidade, podemos observar o agravamento do quadro, a partir do acometimento do sistema respiratório (tosse, dispnéia), do sistema nervoso (disfunção vestibular, convulsões, coma) e do sistema cardiovascular (arritmias, vasculite, hipotensão, CID, choque).

De forma análoga acontecem os sinais clínicos nos humanos, que podem desenvolver:

  • febre;
  • cefaleia intensa;
  • mialgia;
  • inapetência;
  • letargia;
  • náuseas/vômitos;
  • exantema nos punhos e tornozelos, que se alastra para todo o corpo;
  • edema de pés e mãos.

Em casos mais avançados da febre maculosa em humanos, também podemos observar comprometimento respiratório (insuficiência respiratória aguda), renal (insuficiência renal aguda), neurológico (meningite, encefalite), vascular e hepático.

Manejo de cães e gatos com suspeita de febre maculosa

Diante de um cão ou gato (e até mesmo outros mamíferos) com sinais clínicos suspeitos para febre maculosa, é importante que o médico-veterinário faça uma anamnese minuciosa, com intuito de investigar se o animal vive em uma região endêmica, se frequentou ou viajou para uma área de risco de contágio, se apresenta uma infestação por carrapatos e tenha tido algum contactante que viva ou tenha tido contato com áreas endêmicas.

Em conjunto, um exame clínico detalhado é importante para a posterior requisição dos exames complementares, como hemograma, bioquímico e urinálise, que devem apresentar algumas alterações como:

  • trombocitopenia;
  • aumento moderado da ALT (alanina aminotransferase);
  • hipoalbuminemia;
  • proteinúria;
  • hematúria.

O profissional, então, solicitará a realização do teste de pesquisa de anticorpos para Rickettsia, pela Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) ou da PCR (Reação em Cadeia Polimerase) para a conclusão do diagnóstico definitivo e instituição do tratamento específico.

A febre maculosa tem cura?

A febre maculosa pode ser tratada com sucesso quando for diagnosticada precocemente e o tratamento com antibioticoterapia adequada (doxiciclina) for instituído. Portanto, é importante que os tutores de pets, inclusive dos silvestres, estejam atentos a qualquer alteração comportamental que possa estar relacionada aos sinais clínicos da enfermidade, principalmente quando há ou houve exposição a áreas de risco/endêmicas.

A terapêutica apropriada e imediata é um fator determinante para um bom prognóstico e para a diminuição da letalidade, geralmente levando à recuperação completa. A doença desenvolve uma imunidade sólida e duradoura nos indivíduos que se recuperam, prevenindo-os de novas infecções pela mesma bactéria (MORAES-FILHO, 2017).

A prevenção é a melhor escolha! Saiba como orientar a população e tutores de pets!

A fase não parasitária dos carrapatos – período em que ocorre a postura dos ovos no ambiente, eclosão das larvas, mudas entre os estágios de desenvolvimento e busca pelo próximo hospedeiro – corresponde a cerca de 90% do ciclo de vida do ixodídeo. Portanto, o manejo ambiental exerce um importante papel no controle da proliferação das espécies de Amblyomma.

Dessa forma, tentar eliminar condições ambientais adequadas para o carrapato relacionado à febre maculosa, assim como limitar o acesso de hospedeiros a esses locais, promove o declínio no número de vetores e a prevenção de novas infecções.

No entanto, outras atividades para prevenção devem ser instituídas, como a orientação da população sobre as regiões endêmicas para febre maculosa e divulgação de medidas de proteção individuais como o uso de EPIs (botas, calças e camisas compridas, preferencialmente de cores claras) e repelentes.

Entre os animais domésticos, deve-se dar atenção especial aos que possam ter acesso a áreas de vegetação circunjacentes, inclusive em viagens, e seguir a mesma linha de orientação: restringir o acesso às matas e evitar/controlar infestações por carrapatos. Assim, os pets podem utilizar produtos ou coleiras específicos, conforme prescrição do médico veterinário.

Mesmo adotando as medidas anteriores, vale ressaltar que o tutor deve fazer uma inspeção minuciosa, nele e em seu animal, caso tenham se submetido a áreas com risco de contágio e presença de carrapatos. E quando os vetores forem encontrados aderidos ao corpo, a remoção deve ser feita de forma cuidadosa, com o auxílio de uma pinça, evitando esmagar o vetor.

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Referências bibliográficas

FACCINI-MARTINEZ, A.A.; OLIVEIRA, S.V.; CERUTTI JUNIOR, C.; LABRUNA, M.B. Febre Maculosa por Rickettsia parkeri no Brasil: condutas de vigilância epidemiológica, diagnóstico e tratamento. Journal of Health and Biological Sciences, v. 6, i. 3, 2018. Disponível em: https://periodicos.unichristus.edu.br/jhbs/article/view/1940 . Acesso em: 10 julho 2023.

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Situação epidemiológica da Febre Maculosa, Brasil. 2007 – 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa/situacao-epidemiologica/situacao-epidemiologica-da-febre-maculosa-brasil-2007-2023/view . Acesso em: 10 julho 2023.

MORAES-FILHO, J. Febre maculosa brasileira. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 15, n. 1, p. 38-45, 1 jan. 2017. Disponível em: https://revistamvez-crmvsp.com.br/index.php/recmvz/article/view/36765. Acesso em: 10 julho 2023.

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