Gata gestante e lactante: pontos-chave da nutrição

Gata gestante e lactante: pontos-chave da nutrição

Links rápidos:

As necessidades energéticas e nutricionais da gata gestante diferem daquelas da gata adulta em manutenção, e sua alimentação influenciará diretamente na saúde e desenvolvimento dos filhotes; saiba mais

As fases de gestação e lactação compreendem um período de mudanças drásticas nas necessidades energéticas da gata prenhe. Nesse momento ocorre uma elevação da demanda metabólica em função das alterações fisiológicas da fêmea e das exigências para o crescimento e desenvolvimento adequado dos fetos (WEIS et al, 2019).

O ganho de peso na espécie felina durante a gestação é diferente do de outros mamíferos, como seres humanos e cães, por exemplo, onde a maior parte ocorre na fase final da gestação. As gatas exibem um padrão distinto caracterizado por um ganho de peso linear durante toda a gravidez, independentemente do número de fetos. O consumo calórico cresce, acompanhando o ganho de peso.

O suporte nutricional da gata gestante deve ser adequado as suas necessidades para que, a partir da segunda semana de gestação, a fêmea consiga aumentar o seu peso entre 40 a 50% – aproximadamente 140 kcal/kg de PV. Esse peso elevado da fêmea gestante será eliminado no parto e durante a lactação. Dessa forma, os fetos irão se desenvolver e crescer de maneira saudável e a gata poderá produzir colostro e leite materno de qualidade para nutrir os filhotes (WEIS et al, 2019).

As gatas podem se reproduzir com êxito entre 1 e 10 anos de idade, mas o auge de sua época reprodutiva fica entre 2 e 5 anos. É importante que as gatas estejam completamente maduras para garantir uma reprodução bem-sucedida, uma gestação harmoniosa e uma ninhada saudável.

Neste artigo iremos abordar detalhadamente a importância do manejo nutricional das gatas gestantes e lactantes.

Quais as fases da gestação de um gato

O período gestacional das gatas dura em torno de 65 dias (WEIS et al, 2019). Após a implantação do embrião (por volta do 12º dia), o desenvolvimento fetal pode ser dividido em duas fases.

  • Embriogênese: leva entre 12 a 24 dias aproximadamente para que os principais órgãos e estruturas corpóreas do feto comecem a se desenvolver.
  • Crescimento fetal: ocorre a partir do 25º dia até o final da gestação, sendo que mais de ¾ do peso do filhote ao nascimento será adquirido após o 40º dia gestacional.

Durante os primeiros 2/3 do período gestacional, ocorre na mãe o acúmulo das reservas que serão mobilizadas após o parto, período chamado de “anabolismo gravídico”. Após o 40º dia de gestação, o ganho de peso corresponde essencialmente ao crescimento dos filhotes.

A subnutrição da gata gestante pode trazer graves consequências aos fetos, além de degradação da condição corporal da mãe. Já a alimentação e a condição física adequadas irão conferir a habilidade de resistir ao estresse inerentes ao período de gestação e lactação.

Além disso, a subnutrição também pode causar problemas relacionados à distocia, uma vez que o organismo possa estar deficiente em cálcio e outros minerais e vitaminas importantes para contribuir para um parto eutócico e, consequentemente, para a saúde da mãe e dos filhotes.

Quantidade de filhotes

O tamanho da ninhada pode variar de 1 a 10 filhotes, mas a média é de 4 indivíduos. Após a ingestão do colostro, essencial para o desenvolvimento da imunidade dos filhotes, eles se alimentam exclusivamente de leite materno durante as primeiras 3 ou 4 semanas. Depois desse período, inicia-se o desmame e a transição para o alimento pastoso e, posteriormente, para o sólido.

Alimentação da gata gestante fase a fase

A nutrição da fêmea deve ser ajustada de acordo com o ciclo reprodutivo da gata, visando suprir todas as necessidades energéticas, conforme cada fase. Confira abaixo quais são as necessidades energéticas e características fisiológicas e comportamentais da gata durante cada etapa do ciclo reprodutivo:

Alimentação durante a fase de estro (cio)

  • Necessidade energética diária (NED): aproximadamente 60 kcal/kg/dia.
  • As gatas podem apresentar comportamento exigente enquanto estão na presença do macho.

Alimentação da gata prenhe

  • NED: 90 kcal/kg/dia em média.
  • As necessidades energéticas podem ser calculadas de forma mais precisa, com um aumento semanal de 10% em comparação à manutenção de uma gata não castrada.
  • O acréscimo do consumo permite a formação de reservas que serão utilizadas após o parto. Durante a gestação, a gata ganha aproximadamente 40% do seu peso normal e, desde o início, deverá ser fornecido alimento rico em energia.
  • O teor elevado de gorduras aumenta o índice de sobrevivência dos filhotes ao nascimento.
  • Por outro lado, deve-se acompanhar o ganho de peso da gata, pois excessos podem levar a dificuldades durante o parto e reduzir o número de filhotes viáveis.
  • O comportamento da gata gestante praticamente não sofre alteração durante as três primeiras semanas de prenhez.
  • Durante a última semana de gestação, observa-se uma tendência à redução na ingestão alimentar relacionada ao aumento do tamanho do útero, que exibe tamanho considerável.

Alimentação na fase de lactação

  • NED: 120 a 180 kcal/kg/dia.
  • Durante essa fase, qualquer que seja o alimento fornecido à fêmea, ele não será suficiente para suprir suas necessidades nutricionais altíssimas. A dieta atenderá cerca de 80 a 85% de suas exigências, e a gata mobiliza integralmente a reserva de gordura formada ao longo da gestação.
  • Imediatamente antes e logo após o parto, o consumo alimentar da gata é reduzido, mas aumenta rapidamente de acordo com o nível de necessidade energética para suprir as demandas da lactação.
  • Após o parto, a gata apresenta um excesso de peso de 20% em relação ao seu peso na época do cruzamento.
  • Nesse período, a gata produz de 1,5 a 2 vezes o seu próprio peso em leite, sendo a produção diária de aproximadamente 250 ml de leite.
  • O pico de produção láctea ocorre por volta da 4ª semana de lactação.
  • Qualquer leve desidratação da mãe pode levar à diminuição da produção de leite.
  • O alimento deve ser administrado em esquema ad libitum.

Saiba mais detalhes sobre a nutrição da gata gestante no vídeo abaixo:

Como deve ser o perfil nutricional do alimento oferecido para a gata gestante

De modo geral, um alimento formulado para filhotes é adequado também às exigências nutricionais da gata gestante. Nesse período, a fêmea tem um significativo aumento da demanda energética e nutricional para o adequado desenvolvimento dos filhotes no útero.

A formulação do alimento fornecido na fase de gestação e lactação deve apresentar as seguintes características e nutrientes.

Alimentos com alta energia

Os lipídeos são macronutrientes energéticos que fornecem o dobro de energia por grama quando comparados às proteínas e aos carboidratos. Quanto maior o teor de lipídeos na formulação, maior a densidade energética da dieta, contribuindo para suprir as exigências nutricionais com menor volume.

O alimento rico em energia atende às demandas nutricionais da gata gestante, dos fetos em desenvolvimento e auxilia na formação do acúmulo de reservas que serão mobilizadas durante a lactação.

Os lipídios são excelentes fontes energéticas e também contribuem para a palatabilidade do alimento, além da densidade energética nutricional. O teor de lipídeos influencia diretamente na qualidade do leite, o que será mais evidente quanto maior for o tamanho da ninhada (KROLOW et al, 2021).

Os ácidos graxos são os principais representantes dos lipídios na dieta das gatas, sobretudo o ômega 3 de cadeia longa (EPA e DHA) e o ômega-6, sendo indispensáveis ao desenvolvimento cerebral e da retina dos embriões e do feto, fortalecendo também o sistema imunológico (KROLOW et al, 2021).

Proteínas de alta digestibilidade

A proteína é um nutriente primordial na dieta das gatas gestantes, contribuindo para o fornecimento energético necessário e maior saciedade (KROLOW et al, 2021).

Os felinos necessitam de mais proteínas devido a elevada atividade de enzimas endógenas. Mas, as necessidades proteicas da gata no período gestacional estão aumentadas para ocorrer o adequado crescimento e desenvolvimento fetal, aumento do tecido mamário e a produção do leite (KROLOW et al, 2021).

De acordo com as diretrizes nutricionais, recomenda-se no mínimo 30% de proteína de boa qualidade para as gatas em todas as fases de reprodução. É importante atentar-se para o valor biológico e da digestibilidade das fontes proteicas utilizadas.

As gatas alimentadas com uma quantidade menor de proteína do que as recomendadas poderão ter danos na composição corporal, filhotes com o peso reduzido, um aumento na taxa de mortalidade e a imunidade dos filhotes pode ser prejudicada.

Alimentos com alta palatabilidade

Diversos fatores podem influenciar no apetite da gata durante o período reprodutivo.

É imprescindível fornecer alimentos de alta palatabilidade, com perfil aromático atrativo para os felinos, contribuindo para garantir a ingestão adequada de nutrientes durante esse período delicado.

Betacaroteno

Esse antioxidante contribui para criar um ambiente uterino e hormonal adequado para a gestação.

Além disso, o betacaroteno acumula nos corpos lúteos que não ovularam e atua como antioxidante local durante a síntese hormonal, aumentando a síntese de progesterona e a quantidade de proteínas no lúmen uterino.

Ácido Fólico

Também é conhecido como vitamina B9, folato ou metilfolato, faz parte do completo B e é indispensável para o bom funcionamento do organismo, incluindo a fase de desenvolvimento dos fetos.

O ácido fólico está envolvido na síntese dos componentes essenciais do DNA, na formação da placenta, contribui para a formação e redução do risco de lesões no tubo neural do feto. Além disso, auxilia na prevenção de diversas afecções nos neonatos, que ainda não possuem capacidade termorreguladora e imunológica bem desenvolvidas (KROLOW et al, 2021).

Cobre

O cobre é necessário para o metabolismo normal de ferro e atua em várias vias metabólicas importantes, contribuindo para funções importantes, como a síntese de neurotransmissores, a formação da bainha de mielina, a melanina e da produção de tecido conjuntivo.

Uma deficiência de cobre pode levar a distúrbios reprodutivos, como a morte fetal e consequente aborto. Há necessidade de níveis adequados desse elemento para os processos de gestação fluírem de forma saudável.

Taurina

É um aminoácido essencial para a espécie felina, sendo necessária para a reprodução normal e o desenvolvimento fetal dos indivíduos.

A deficiência da taurina pode resultar em morte fetal por volta do 25º dia do período gestacional, abortos ao longo da gestação, deformidades fetais e atraso de crescimento e desenvolvimento dos filhotes.

Antioxidantes

Certos antioxidantes, como as vitaminas E e C, a luteína e a taurina auxiliam a neutralizar os radicais livres produzidos no decorrer dos processos reprodutivos.

O excesso de radicais livres pode influenciar no funcionamento normal das células em todos os indivíduos, porém, no período gestacional pode trazer danos também à saúde dos fetos.

Cálcio fósforo

Ao contrário do que se pensava há alguns anos, todos os alimentos industrializados fornecem quantidades suficientes de cálcio para gatos, mesmo para as fases de crescimento, gestação ou lactação, sendo contraindicada sua suplementação caso o animal não esteja com deficiência do mesmo. Os alimentos devem conter a relação entre cálcio e fósforo em níveis equilibrados. Por esse motivo, é importante que o Médico-Veterinário conheça a dieta completa de seus pacientes e recomende os alimentos mais adequados.

Esses minerais desempenham funções primordiais para a formação do esqueleto dos filhotes e manutenção óssea materna, prevenindo também diversas fraturas e outras enfermidades do sistema musculoesquelético, como por exemplo luxação de patela e outras. Além disso, o cálcio se faz essencial para contribuir para um parto eutócico, evitando problemas relacionados à distocia.

Saiba mais detalhes sobre a dieta durante a gestação e se a suplementação nesse período vale a pena no vídeo abaixo:

Recomendações aos tutores e mais cuidados com a gata prenhe

O acompanhamento do Médico-Veterinário durante o pré-natal é primordial para avaliar a saúde materna e a viabilidade e formação dos fetos. Também pode prevenir e identificar diversas doenças que possam vir a surgir no período, inclusive não relacionadas à gestação, uma vez que o animal será avaliado de forma constante. O momento durante as consultas também é apropriado para orientar aos tutores sobre o que deve ser feito caso a gata entre em trabalho de parto.

Além disso, a quantidade e o tipo de alimento precisam ser ajustados a cada etapa do ciclo reprodutivo da fêmea. Caso contrário, os filhotes podem se desenvolver de forma inadequada ou ter a saúde comprometida ao nascer, aumentando os índices de mortalidade. A fêmea também pode ficar subnutrida ou desenvolver obesidade e outras doenças (KROLOW et al, 2021).

O fornecimento de alimentos de qualidade para a gata no período de gestação e lactação é primordial para a evolução gestacional saudável, além de proporcionar os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento dos filhotes.

A ROYAL CANIN® possui alimentos exclusivamente formulados para suprir as altas demandas energéticas e nutricionais das gatas gestantes e lactantes, como o alimento Mother & Babycat. O manejo alimentar adequado, quando conduzido com opções que permitam a variedade alimentar e a reidratação dos croquetes, traz maiores benefícios para o desenvolvimento saudável da mãe e dos filhotes felinos.

alimento Mother Baby Cat nas versões seca e úmida

Saiba mais sobre a linha da ROYAL CANIN® de nutrição para gatos e conheça opções para todos os períodos da vida do felino.

Utilize a ferramenta grátis de Calculadora para Prescrições e facilite as recomendações ao seu paciente!

Referências bibliográficas

MALANDAIN, E.; LITTLE, S.; CASSELEUX, G.; SHELTON, L.; PIBOT, P.; PARAGON, B.M. Guia prático de criação de gatos. ROYAL CANIN®, 2013.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Nutrient requirements of dogs and cats. Washington, D.C: National Academy Press, 2006.

KROLOW, Mariana Timm et al. A importância do planejamento nutricional na alimentação de cães e gatos domésticos ao longo de seu ciclo biológico: uma revisão. Research, Society and Development. v.10, n.9, p.1-16, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/18341/16492. Acesso em: 17 ago. 2022.

WEIS, Sara Fabrina Soares Dornelles et al. Nutrição na fase gestacional e lactacional de cadelas e gatas. UNICRUZ, XXIV Seminário Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão. p.1-4, 2019. Disponível em: https://home.unicruz.edu.br/seminario/anais/anais-2019/XXIV%20SEMINARIO%20INTERINSTITUCIONAL/Mostra%20de%20Iniciacao%20Cientifica/Ciencias%20Exatas,%20agrarias%20e%20engenharias/RESUMO%20EXPANDIDO/NUTRI%C3%87%C3%83O%20NA%20FASE%20GESTACIONAL%20E%20LACTACIONAL%20DE%20CADELAS%20E%20GATAS%20-%208940.pdf. Acesso em: 17 ago. 2022.