Explicando os rótulos dos alimentos específicos para gato e cães

Explicando os rótulos dos alimentos específicos para gato e cães

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Muitos tutores podem ter receio em relação ao alimento que oferecem aos pets por não entenderem corretamente o que é especificado nos rótulos dos produtos; veja como ajudá-los

A interpretação do rótulo de alimentos para gatos e cães frequentemente levanta muitas dúvidas entre tutores e também entre médicos-veterinários. Porém, mais do que apenas analisar o rótulo de um alimento, é preciso também entender o contexto em que estamos vivendo.

No ranking global, o Brasil é o segundo maior produtor de alimento completo e também aparece em segundo em faturamento no setor petfood. Vale ressaltar que a maior parte dessa produção é para atender a demanda do próprio mercado interno. Com 54 milhões de cães e quase 24 milhões de gatos domiciliados, o país observa o fenômeno do mercado pet crescer significativamente a cada ano.

Com isso, novas empresas surgem, e diante da grande variedade de produtos destinados à alimentação animal, é preciso ter conhecimento para analisar e escolher a opção mais adequada para cada pet.

Como escolher o alimento para o pet

O primeiro ponto que todo tutor deve saber é que as empresas fabricantes de alimentos para pets devem estar registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este órgão governamental determina quais informações são obrigadas a serem declaradas no rótulo do alimento:

  • Espécie para a qual foi formulada
  • Finalidade do alimento
  • Tipo de alimento
  • Informações nutricionais
  • Instruções de uso
  • Lista de ingredientes
  • Fabricante e endereço
  • Data de validade e fabricação
  • Peso líquido

Depois, para saber mais sobre o alimento é necessário observar no rótulo a qual grupo ele pertence. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (ABINPET), referência em qualidade e segurança dos alimentos, categoriza os tipos de produtos destinados para animais de estimação da seguinte forma:

Alimento completo: aquele que atende integralmente às exigências nutricionais diárias do animal para o qual foi formulado;

Alimento coadjuvante: produto destinado à alimentação de animais com distúrbios fisiológicos, capaz de atender integralmente as exigências nutricionais e cuja formulação seja incondicionalmente privada de qualquer agente farmacologicamente ativo;

Alimento específico: produto com finalidade de diversão, agrado, prêmio, recompensa ou petisco, e que não se caracteriza como alimento completo, ou seja, não atende às necessidades totais diárias do animal;

Produto mastigável: formulado à base de subproduto de origem animal, podendo conter ingredientes de origem vegetal, destinado à diversão ou agrado, com valor nutricional desprezível.

De acordo com a ABINPET, pouco mais de 37% dos pets no Brasil tem alimentação adequada baseada em alimento completo, sendo que 2/3 da população ainda é alimentada por outras fontes, como sobras da alimentação humana.

Necessidades nutricionais dos pets

As exigências energéticas e nutricionais de gatos e cães em diferentes etapas da vida estão listadas nos guias internacionais adotados globalmente na nutrição de animais domésticos, sendo os principais o National Research Council (NRC), o European Pet Food Industry (FEDIAF) e a Association of American Feed Control Officials (AAFCO). Cerca de 45 nutrientes são essenciais para a manutenção da saúde dos pets, dentre proteínas, lipídeos, vitaminas e minerais.

Atenção redobrada

É preciso considerar alguns pontos importantes aqui. Enquanto a quantidade de proteína, gordura e fósforo devem ser expressas no rótulo em seus teores mínimos, a umidade, as fibras, a matéria mineral devem ser declarados em seus teores máximos, enquanto o cálcio deve ter declarado mínimo e máximo obrigatoriamente, de acordo com as diretrizes determinadas pelo MAPA.

Além disso, a lista de ingredientes não é declarada na ordem de quantidade de inclusão na fórmula e muitos alimentos também não comunicam sua classificação comercial, até mesmo pela falta de precisão estipulada pelos órgãos regulatórios para tal classificação. Essas questões regulatórias podem constituir um desafio para tutores e médicos-veterinários na interpretação dos rótulos dos alimentos desenvolvidos para pets.

Outro ponto que merece atenção são algumas imagens muitas vezes vistas nos alimentos para pets. Segundo a mestre em Clínica Veterinária e doutoranda em Clínica Médica com ênfase em Nutrição de Cães e Gatos, Vivian Pedrinelli, o uso da imagem de uma fonte proteica, por exemplo, ou mesmo outros ingredientes, como legumes, verduras e frutas na embalagem do produto dá a entender que este ingrediente está presente no produto.

“O tutor, muitas vezes, interpreta que o ingrediente está presente in natura, o que não necessariamente reflete a realidade. Assim, quando descobre que aquele ingrediente da imagem não está presente, pode se sentir lesionado ou até mesmo enganado. Por outro lado, muitos tutores já estão acostumados com essa prática, pois é costume também utilizar este artifício em embalagens de alimentos para consumo humano”, comenta.

Por isso não se deve relacionar a imagem de um ingrediente fresco à melhor qualidade do alimento comercial. Segundo a gerente da área técnico-regulatória da ABINPET, Bárbara Mião, a legislação vigente permite o uso de terminologias e representações gráficas nos rótulos, embalagens e propagandas que remetam à composição do produto, desde que seja utilizada a expressão “Imagem meramente ilustrativa”, quando se tratar do uso de coprodutos ou adicionado sabor por meio de aditivos aromatizantes e/ou palatabilizantes.

Alguns receios também podem surgir devido ao fato da porcentagem de carboidratos não ser expressa nos rótulos, por ser disseminado que o ingrediente pode causar algum mal ao animal, mas segundo a legislação, não há necessidade de ser informada a quantidade, nem estipulados valores máximos ou mínimos de carboidrato para a fabricação do produto. Como veremos adiante, os carboidratos não são considerados nutrientes obrigatórios na dieta de gatos e cães pelas diretrizes nutricionais, porém apresentam benefícios na alimentação.

Para estimar o teor aproximado de carboidratos de acordo com a leitura do rótulo de um alimento comercial, é necessário somar as quantidades de proteína bruta (PB) + extrato etéreo (EE) + fibra bruta ou matéria fibrosa (FB ou MF) + matéria mineral (MM) + teor de água (umidade) e subtrair de 100. Como exemplo, observe o rótulo abaixo do alimento coadjuvante seco DIABETIC CANINE da ROYAL CANIN®:

Umidade 11,5%
Proteína bruta (PB) 35,2%
Extrato etéreo (EE) 10%
Matéria fibrosa (MF) 8,4%
Matéria mineral (MM) 7,3%

Se realizarmos o cálculo proposto acima, chegaremos ao teor aproximado de 27,6% de carboidratos neste alimento.

Tópicos especiais que merecem atenção

Confira a seguir alguns temas importantes que devem ser esclarecidos sobre a nutrição dos pets domésticos e que auxiliam na melhor interpretação e compreensão dos rótulos dos alimentos comerciais.

1. Alimentação dos animais na atualidade

Quando se trata deste tema, há muitas comparações entre animais ancestrais e os domesticados. Será que esta é uma comparação justa? Conversamos com o doutor em nutrição Aulus Cavalieri Carciofi, que explicou alguns pontos importantes a serem considerados.

De acordo com o Dr. Carciofi, o cão mudou muito nos últimos dez mil anos, e o animal domesticado é bastante diferente do cão selvagem. Atualmente, é possível observar uma forte tendência de tutores que desejam oferecer alimentos considerados “naturais” a seus pets, porém algumas considerações devem ser feitas.

Os gatos ferais que vivem na natureza, por exemplo, têm expectativa de vida de cinco ou seis anos e sua alimentação não é completa, uma vez que dependem da caça para se alimentar. Já os domiciliados, por outro lado, podem chegar a 20 anos ou mais. Isso é possível, dentre outros fatores, à qualidade e especificidade das dietas atualmente disponíveis no mercado e à melhor compreensão das necessidades fisiológicas do pet de estimação.

2. Carboidratos na alimentação de cães e gatos

Segundo o Dr. Carciofi, o metabolismo de carboidratos e a capacidade de um cão de digerir amido, por exemplo, se aproximou muito do ser humano. O gato foi menos alterado pelo homem, mas não é mais o mesmo. O consumo de carboidratos foi, talvez, a principal mudança, tendo em vista que nos últimos milênios os pets foram expostos a plantas utilizadas para consumo humano.

É importante ressaltar que os carboidratos compreendem o amido e a fibra, e seu consumo não causa nenhum malefício ao gato. “O primeiro é absorvido na forma de glicose com ação direta no metabolismo energético do animal. Podem ser usados amplamente na dieta de cães e gatos, com tanto que haja equilíbrio com outros nutrientes”, explica Carciofi.

Os carboidratos são importantes fontes de energia e, de acordo com estudos, a digestão do amido em cães é de 98% a 99% e em gatos de 96% a 97%.

Já as fibras, que são carboidratos não-digeríveis, são necessárias à microbiota e à estrutura e funcionamento do trato gastrointestinal. Toda formulação adequada apresenta fontes de fibra para essa finalidade.

“Além da ação direta na saúde, são utilizadas para promover saciedade e reduzir a digestibilidade e valor energético dos alimentos de baixa caloria desenvolvidos para controle de peso, além de auxiliar no controle da formação de bolas de pelos em gatos e colaborar para a formação e eliminação adequada das fezes. Dessa forma, verifica-se que carboidratos digestíveis, como amidos, e carboidratos não digestíveis, como fibras, têm função diversa na dieta de cães e gatos”, completa o doutor.

Talvez, um dos equívocos mais disseminados é que o carboidrato tem relação direta com o aumento do peso em felinos. Carciofi comenta que a associação entre dieta e obesidade acontece devido ao fornecimento à vontade de alimentos ricos em gordura.

Segundo ele, um estudo epidemiológico com oito mil gatos sugere, inclusive, que o consumo de dietas com alto nível de amido e baixo nível de gordura favorece a manutenção do peso, protegendo, de certa forma, os gatos de se tornarem obesos. Esse e outros estudos derrubam os mitos a respeito do consumo de carboidratos pelos felinos e uma das poucas situações em que o consumo de amido não é recomendado são em caso de sobrepeso ou diabetes. Nesses casos, as dietas devem ter baixo amido e gordura, e elevada fibra e proteína, e esta última passa a ser fonte de energia por gliconeogênese.

A quantidade de amido, proteína ou gordura presente na dieta de cada animal deve estar de acordo com suas necessidades. Outro exemplo são pets com doenças renais crônicas, que requerem adaptações nos tipos e teores de proteínas e minerais para amenizar as consequências da perda de capacidade funcional dos rins.

3. Subproduto ou co-produto: benfeitor em mais um aspecto

Alguns ingredientes são obtidos da carcaça de animais de produção após a retirada dos cortes utilizados para alimentação humana e, por isso, são chamados de coproduto ou subproduto. Há certo preconceito do tutor com estes ingredientes, mas, de acordo com Carciofi, a farinha de vísceras de frango e óleo de frango, que são amplamente utilizados no alimento comercial, são ótimos ingredientes. Ser um co-produto do frango é apenas um termo que se refere ao processamento e modo de obtenção.

“A parte mais cara e lucrativa são os cortes de frango para a mesa do ser humano, mas para cães e gatos existem muitos nutrientes essenciais que somente são encontrados em quantidades expressivas na farinha de vísceras de frango, incluindo o cálcio, fósforo, zinco, cobre, ferro, vitamina A, vitamina E, dentre inúmeros outros. Os teores destes nutrientes são muito baixos e insuficientes nos cortes de frango destinados à alimentação humana. Assim, para o cão ou gato, sob este aspecto nutricional, a farinha de vísceras é até mais interessante, pois apresenta maior diversidade de nutrientes”, explica o Dr. Carciofi.

Além disso, a digestibilidade desta matéria prima é elevada e sua palatabilidade é bastante alta. “Na realidade, o gato e o cão, ao caçarem uma ave, por exemplo, consomem todas as vísceras e ossos de modo que a farinha de vísceras de aves é um alimento natural para eles. A humanização excessiva, os erros de leitura de rótulos, as campanhas de marketing de empresas baseadas em conceitos e expectativas errôneas de tutores e as informações não científicas com fins comerciais ou sensacionalistas divulgadas na mídia, em conjunto, acabaram por criar um mito negativo e equivocado quanto a estas matérias-primas”, afirma Carciofi.

Não bastasse isso, a utilização dos co-produtos para alimentação de pets é importante para a sustentabilidade. Isso porque, após o abate, partes do animal serão destinadas ao ser humano e partes serão destinadas a gatos e cães. Não existe desperdício. Com o uso dessas matérias-primas na indústria, o crescimento do setor petfood pode ser conduzido de uma forma mais sustentável.

“Se as partes do frango não comestíveis para o homem fossem desprezadas, estas seriam jogadas no meio ambiente, criando poluição e desperdício de recursos alimentares importantes. A responsabilidade no uso dos recursos naturais assume importância cada vez maior com o aumento das populações humanas, de cães e de gatos que ocupam o planeta. Cereais como milho, trigo e sorgo são excelentes alimentos, fornecendo energia, aminoácidos, ácidos graxos e fibras para gatos e cães, que os digerem adequadamente”, diz.

Vantagens do alimento comercial

Produção e garantia de qualidade

Os alimentos secos e úmidos produzidos em escala industrial, assim como os alimentos in natura industrializados devem cumprir requisitos de qualidade para a garantia da segurança dos alimentos, segundo a médica-veterinária, membro do Comitê de Responsabilidade Técnica do CRMV-SP e responsável técnica da ROYAL CANIN®, Carolina Padovani.

De acordo com Carolina, o conceito de qualidade está alicerçado em basicamente três principais pontos: a ciência por trás do produto, sua formulação e seu processo produtivo.

“A ciência deve ser o ponto fundamental a ser considerado para o desenvolvimento e produção de um alimento de qualidade, uma vez que garantirá o amplo conhecimento do profissional às reais necessidades das espécies, bem como dos nutrientes e do processo de produção. A formulação adequada às necessidades do animal é um ponto extremamente crítico a ser observado e garantido. Todos os alimentos atualmente comercializados pela ROYAL CANIN® são classificados como alimentos completos ou coadjuvantes e atendem às exigências e necessidades nutricionais totais diárias dos animais”, diz a especialista.

Além disso, é fundamental que as embalagens que irão acondicionar os alimentos garantam que seus ingredientes, em especial vitaminas, minerais e gorduras, não se degradem, oxidem e alterem seus níveis de garantia.

O papel do responsável técnico (RT)

Quando se fala em qualidade, é impossível não a associar ao profissional que tem grande atribuição nesse processo: o Responsável Técnico (RT). De acordo com Carolina, é ele que garante o cumprimento dos requisitos legais do produto.

De acordo com o médico-veterinário zootecnista e consultor de empresas de alimentação in natura, João Paulo Fernandes Santos, nessas empresas o corpo técnico é bastante reduzido.

“Por isso, o RT deve ser o ponto central, acompanhando toda a adequação da planta fabril à legislação em vigor, processo de validação de fornecedores e fórmulas nutricionais, acompanhamento do processo de fabricação assegurando a qualidade do produto, registro de produtos, respondendo, ainda, por questões relacionadas à rotulagem e propaganda, bem como representando à empresa junto aos órgãos reguladores”, afirma.

Assim como em grandes empresas, as fórmulas devem ser elaboradas por profissionais capacitados, e nesse quesito, é importante ter em mente a necessidade de atualização da legislação para normas que contemplem a realidade destas pequenas empresas, já que a legislação em vigor é direcionada para fábricas com grande potencial de produção, e as chamadas dietas in natura são produzidas em plantas semelhantes à cozinhas industriais, o que gera uma dificuldade de adequação à legislação por parte das empresas e da fiscalização”, comenta.

Segundo a médica-veterinária e responsável técnica de indústria de alimentos manufaturados, Stephanie Souza, na indústria petfood a legislação vigente atribui ao RT uma série de responsabilidades, como aprovação e mudança de fórmulas, aprovação dos declarativos das embalagens, bem como garantir que a empresa esteja cumprindo as diferentes diretrizes estabelecidas pelo órgão regulador, o MAPA.

“A legislação exige que todas as indústrias que produzem pet food cumpram as Boas Práticas de Fabricação (BPF), que são medidas mínimas para a produção segura e com qualidade. Grandes empresas trabalham com outros requisitos complementares ainda mais exigentes, como por exemplo, o sistema de gestão de segurança alimentar denominado Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC)”, finaliza Stephanie.

Considerações finais

Os aspectos relacionados à ciência, formulação e processamento interferem diretamente na qualidade final do produto, portanto, compreender as reais necessidades nutricionais dos pets, estar atento à transparência das empresas em relação a seus processos e analisar rótulos além da embalagem frontal do alimento colabora para que se possa fazer uma escolha mais assertiva da melhor dieta para gatos e cães.

A ROYAL CANIN® se dedica há décadas para compreender o papel exato dos nutrientes na promoção de saúde aos pets. Além de estar alinhada a todas as diretrizes internacionais e nacionais e com as boas práticas de fabricação, também possui diversos certificados de excelência na fabricação dos alimentos. Sua fábrica no Brasil é modelo de qualidade para órgãos regulatórios e governamentais e a transparência em seus processos contribui para que atualmente seja uma empresa de alta credibilidade no ramo petfood no Brasil e no mundo.