Como tratar a infestação de pulgas em cães e gatos?

Como tratar a infestação de pulgas em cães e gatos?

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A infestação por pulgas é um problema comum em cães e gatos e pode estar relacionada a diferentes afecções. Saiba mais sobre o controle de pulgas!

Pulgas são insetos sem asas, achatados lateralmente e hematófagos obrigatórios. As pulgas pertencem a uma ordem altamente especializada, a Siphonaptera ou Aphaniptera, que possui aproximadamente 2.500 espécies (Iannino et.al., 2017; ESCCAP, 2022, TroCCAP, 2022).

Em relação à especificidade, pulgas são raramente monoxênicos, sendo mais específicas ao habitat do que o hospedeiro, porém a especificidade do hospedeiro é importante para a transmissão de agentes de doenças (Iannino et.al., 2017).

A Ctenocephalides felis é a pulga mais comum em parasitar cães e gatos em todo o mundo. Outras espécies que acometem cães e gatos são C. canis, Pulex irritans,  Xenopsylla cheopis. Na América Latina, Caribe e na África subsaariana podem ser parasitados por fêmeas de Tunga penetrans (Iannino et.al., 2017; TroCCAP, 2022).

A importância do controle da puliciose

A puliciose caracteriza-se por altas taxas de pulgas no animal e no ambiente (Iannino et.al., 2017). O controle é importante, pois as pulgas causam lesões na pele e atuam como vetores ou hospedeiros intermediários para transmissão de patógenos de relevância para animais e para os humanos. O controle da puliciose é difícil devido ao ciclo de vida complexo, envolvendo estágios de vida sobre e fora do hospedeiro. É importante ter isso em mente na hora de orientar tutores (Marchiondo et.al, 2013, Iannino et.al., 2017; TroCCAP, 2022).

Principais afecções relacionadas a puliciose em cães e gatos

Em quadros de puliciose há irritação mecânica, prurido que pode ocasionar eritema, alopecia, dermatite e anemia (principalmente em filhotes). Alguns animais podem desenvolver dermatite alérgica à picada de ectoparasitas (DAPE) (Siak & Burrows, 2013, Iannino et.al., 2017, Zanen et.al., 2022). As pulgas são vetores de Bartonella spp., Rickettsia felis e Yersinia pestis, e são hospedeiro intermediários de Dipylidium caninum, Hymenolepis diminuta e Acanthocheilonema reconditum (Iannino et.al., 2017, Diakou et.al, 2022, ESCCAP, 2022,  TroCCAP, 2022).

Quadros de puliciose podem ocasionar doenças associadas, já que as pulgas são vetores de outros parasitas como descrito no quadro abaixo:

Principais agentes patogênicos transmitidos por pulgas
Doença ou infecção Agente Hospedeiro
Bartonelose (gato doença do arranhão) Bartonella henselae Gatos e humanos
Hemoplasmose Mycoplasma haemofelis (gatos), M. haemocanis (cães) Cães e gatos
Dipilidiose e Filariose Acanthocheilonema reconditum Cães e humanos
Dipylidium caninum  Cães, gatos e humanos
Riquetsiose Rickettsia felis Cães, gatos e humanos
Tungíase Tunga penetras Cães, gatos, humanos

Adaptado a partir de Marchiondo et.al, 2013, Siak & Burrows, 2013, Iannino et.al., 2017, ESCCAP, 2019, Zanen et. al.,2020, ESCCAP, 2022, TroCCAP, 2022).

A pulga do cão e do gato afeta os seres humanos?

Tutores perguntam com frequência ao Médico-Veterinário se a pulga do cão ou gato deve ser uma preocupação. Muitos acreditam que não há risco por deduzirem que pulgas são espécie-específica. Mas é preciso ter cuidado, sim. A Pulex irritans, por exemplo, erroneamente chamada de pulga humana, pode infestar cães, gatos e ratos. É uma espécie que se transfere com mais facilidade entre cães e humanos do que C. felis, C. canis (Iannino et.al., 2017).

Em quadros de puliciose, a proximidade entre tutores e seus animais possibilita que as ctenocephalides tenham humanos como hospedeiros acidentais. Atuam como agentes transmissores de parasitoses ou causadores de quadros de dermatites. O médico-veterinário deve ressaltar ao tutor a importância de procurar um médico em casos de prurido ou reações por picada quando há puliciose  no animal do tutor.

Ciclo da pulga

A velocidade e capacidade reprodutiva das pulgas significa que apenas alguns insetos adultos podem causar rápida infestação de ambientes. Sua compreensão é crucial para o controle da puliciose. As pulgas adultas observadas nos animais representam apenas 1-5% da população, sendo os 95% restantes ovos, larvas e pupas no ambiente (Iannino et.al., 2017; Diakou et.al, 2022; TroCCAP, 2022).

Veja abaixo conforme descrito pelo TroCCAP, 2022:

1 – As fêmeas iniciam a postura de ovos dentro de 24h a 36h após ao primeiro repasto sanguíneo de sangue e podem depositar entre 40 e 50 ovos por dia em seu hospedeiro.

2 – Os ovos e fezes das pulgas (sangue digerido) caem no ambiente

  • Poucos produtos no mercado tem ação sobre esta fase, é recomendado o uso dos produtos tópicos de uso mensal por no mínimo 3 meses ou uso dos orais com administração mensal ou trimestral para controle e prevenção da puliciose.

3 – Após 1 a 3 dias, as larvas eclodem do ovo. As larvas presentes no ambiente alimentam-se de matéria orgânica e fezes de pulgas.

4 – A pupa é o estágio seguinte e mais resistente das pulga e os produtos comerciais não têm efeito sobre essa fase. Os adultos saem do casulo devido às vibrações e calor provenientes do hospedeiro. Para isso, o ciclo de vida das pulgas pode ser estendido de 21 dias para um ano e meio.

5 – As pulgas adultas localizam os hospedeiros por detecção visual e térmica e saltam para o pelo de cães e gatos. Tanto as pulgas masculinas quanto as femininas são hematófagas.

Como acabar com a infestação de pulgas em cães e gatos

Para acabar com quadros de puliciose as medidas adotadas devem ter como principal foco (Siak & Burrows, 2013, Iannino et.al., 2017):

  • Eliminação das pulgas existentes no animal
    • Produtos tópicos (fipronil, fipronil associado com s-metopreno, imidacloprida, selamectina) ou terapias orais (spinosad; moléculas da família das isoxasolinas, como afoxolaner, fluralaner, sarolaner, entre outros), administrados durante meses de tratamento
  • Eliminação das pulgas, larvas, ovos no ambiente
    • Limpeza do ambiente através da remoção mecânica de ovos, larvas, pupas e adultos emergentes
    • Uso do aspirador de pó, que pode remover cerca de 90% dos ovos e 50% das larvas
    • Lavagem das camas e cobertores do pet com água quente, já que os ovos são sensíveis ao calor
  • Prevenção  novas infestações
    • Uso de antipulgas de forma periódica

Manejo preventivo e recomendações

A prevenção à ocorrência de novos quadros de puliciose  irá se dar principalmente pelo uso de antipulgas em intervalos de tratamento apropriados. Isso visa garantir que adultos e estágios de desenvolvimento no ambiente sejam controlados. Cabe ao Médico-Veterinário orientar os tutores sobre a faixa etária, dosagem, formas de administração e aplicação dos medicamentos prescritos (ESCCAP, 2022)

.O manejo nutricional adequado fornece nutrientes e substratos para a saúde da pele e a manutenção da integridade da barreira cutânea, que é afetada em ocorrência da puliciose.

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Referências

Diakou, A., Sofroniou, D., Paoletti, B., Tamvakis, A., Kolencik, S., Dimzas, D., Morelli, S., Grillini, M., Traversa, D. Ticks, Fleas, and Harboured Pathogens from Dogs and Cats in Cyprus. Pathogens, 11(12):1403, 2022. Disponivel em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36558737/ Acesso em: 05/02/2023

Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Emerging and Zoonotic Infectious Diseases (NCEZID), Division of Vector-Borne Diseases (DVBD). Disponivel em: https://www.cdc.gov/fleas/life_cycle_and_hosts.html#:~:text=Most%20fleas%20have%20four%20life,conditions%20throughout%20the%20life%20stages. Acesso em: 05/02/2023

European Scientific Counsel Companion Animal Parasites (ESCCAP) Guideline 3: Control of Ectoparasites in Dogs and Cats, 7th ed. 2022. Disponível em: https://www.esccap.org/guidelines Acesso em: 7/02/2023.

European Scientific Counsel Companion Animal Parasites (ESCCAP). Guideline 5: Control of Vector-Borne Diseases in Dogs and Cats, 5th ed. 2019. Disponivel em: https://www.esccap.org/guidelines. Acesso em: 7/02/2023.

Iannino F., Sulli N., Maitino A., Pascucci I., Pampiglione G., Salucci S. Fleas of dog and cat: species, biology and flea-borne diseases. Vet Ital. 53(4):277-288, 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29307121/ Acesso em: 07/02/2023.

Marchiondo, A. A., Holdsworth, P. A., Fourie, L. J., Rugg, D., Hellmann, K., Snyder, D. E., Dryden, M. W., World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (W.A.A.V.P.) second edition: guidelines for evaluating the efficacy of parasiticides for the treatment, prevention and control of flea and tick infestations on dogs and cats. Veterinary parasitology, 194(1), 84–97. 2013 Disponivel em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0304401713001155 Acesso em: 04/02/2023

Siak, Meng, and Mandy Burrows. Flea control in cats: new concepts and the current armoury. Journal of Feline Medicine and Surgery vol. 15,1,2013. Disponivel em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23254239/ Acesso em: 05/02/2023

Tropical Council for Companion Animal Parasites. Guidelines for the control of ectoparasites of dogs and cats in the tropics. Disponivel em: https://www.troccap.com/2017press/wp-content/uploads/2022/01/TroCCAP-Canine-Feline-Ecto-Guidelines-English-v1.pdf Acesso em: 07/02/2023

Zanen, L. A., Kusters, J. G., & Overgaauw, P. A. M.. Zoonotic Risks of Sleeping with Pets. Pathogens, 11(10), 1149, 2022. Disponivel em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36297206/ Acesso em: 05/02/2023