Principais causas de hipotermia em gatos e cães e quais os riscos para os animais

Principais causas de hipotermia em gatos e cães e quais os riscos para os animais

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A hipotermia pode ser resultado de várias condições, representando um risco para a saúde do paciente. Saiba mais sobre o assunto!

A manutenção da temperatura corporal é essencial para estabelecer o equilíbrio das funções vitais do organismo de cães e gatos. Uma vez que ocorre a mensuração da temperatura com valores abaixo do preconizado fisiologicamente ideal para cada espécie, temos a instalação da hipotermia, que pode ser primária ou secundária.

Cabe ao médico-veterinário não só saber como atuar para reverter quadros de hipotermia, mas também conhecer suas causas, o que permitirá a adoção de medidas preventivas para promover o restabelecimento mais adequado de seu paciente diante de situações críticas.

O que é a hipotermia nos gatos e cães?

A hipotermia em cães e gatos refere-se a uma condição em que o valor da temperatura corporal do animal representa-se abaixo dos níveis fisiológicos normais, que variam de 37,5 a 39,2°C para cães e de 38,1 a 39,5°C para gatos (TILLEY, SMITH JR., 2014), influenciando diretamente nos processos enzimáticos orgânicos.

A hipotermia primária é decorrente de uma exposição prolongada a baixas temperaturas ambientais, onde os processos de produção e retenção de calor são insuficientes para manter a temperatura corporal normal. Já a hipotermia secundária ocorre como resultado de alguma enfermidade, procedimentos anestésicos/cirúrgicos, traumas ou ainda de outros processos que causam alterações na produção de calor, retenção de calor ou termorregulação (ALLEN, 2020).

A diminuição da temperatura corpórea pode ser categorizada conforme a tabela 1, utilizada tanto na medicina humana quanto na medicina veterinária.

HIPOTERMIA PRIMÁRIA HIPOTERMIA SECUNDÁRIA
Leve 32 – 37°C 36,7 – 37,7°C
Moderada 28 – 32°C 35,5 – 36,7°C
Severa 20 – 28°C 33 – 35,5°C

Tabela 1: Classificação da hipotermia baseada nos valores de aferição. Adaptado de: BRODEUR et.al., 2017.

Em adição, os sinais clínicos apresentados de acordo com cada categoria são (REDONDO et.al., 2012):

  • leve: o animal pode apresentar tremores, palidez nas mucosas, taquipneia, broncoespasmos, ataxia;
  • moderada: pode-se observar tremores mais intensos, letargia, fraqueza, diminuição da frequência cardíaca e respiratória;
  • severa: o animal pode parecer quase inconsciente devido à hiporreflexia, que pode evoluir para arreflexia, bradicardia, bradipneia, pulso fraco.

O hipotálamo é o centro responsável pelo mecanismo termorregulador. Conforme a temperatura corporal vai caindo, ocorre uma redução no fluxo sanguíneo cerebral, ocasionando mudanças na atividade elétrica que pode resultar na perda da capacidade do hipotálamo em regular a temperatura corporal.

Inicialmente, há uma vasoconstrição periférica inicial devido à estimulação simpática, minimamente reduzindo a perda de calor ao reduzir o fluxo de calor do compartimento central para a periferia. A estimulação simpática também resulta em taquicardia (BRODEUR et.al., 2017). Esse é um processo desenvolvido pelo organismo para proteger os órgãos vitais, principalmente coração, pulmão e cérebro.

Em temperaturas inferiores a 34°C, a vasoconstrição periférica é substituída por vasodilatação, gerando hipotensão e prejudicando a termorregulação. Logo, abaixo de 31°C, ocorre depressão do sistema nervoso central e a termorregulação é completamente perdida (PIMENTA e RABELO, 2015).

Devido às significativas alterações causadas pela hipotermia em cães e gatos, é imprescindível que a aferição da temperatura corporal, considerada um dos 5 sinais vitais, faça parte da rotina dos exames clínicos, junto à análise de pulso, respiração, presença de dor e da condição nutricional. Dessa forma, a temperatura corporal também deve ser cuidadosamente monitorada em pacientes enfermos, internados ou que sejam submetidos a procedimentos cirúrgicos.

4 principais causas de hipotermia em gatos e cães

Conforme dito anteriormente, a hipotermia pode ser secundária a diversas situações que podem afetar a homeostase do organismo, alterando seus processos metabólicos e gerando grande risco à saúde do paciente, inclusive o de morte eminente.

O médico-veterinário pode comumente se deparar com algumas das principais causas de diminuição da temperatura corporal em cães e gatos em sua rotina, entre elas.

1. Sepse

A sepse, ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), consiste em uma série de respostas inflamatórias generalizadas em decorrência de um processo infeccioso severo, que será responsável por ativar excessivamente o sistema imunológico.

Uma vez instalada, desencadeia distúrbios circulatórios que levam à vasodilatação e, consequentemente, à hipotermia.

2. Hipoglicemia

A hipoglicemia é a diminuição do nível de glicose no sangue que pode ocorrer quando se tem excesso de insulina endógena ou exógena, diminuição da obtenção de glicose ou alto consumo de glicose pelo organismo. Assim, pode ser resultado de:

  • jejum prolongado;
  • má nutrição;
  • má absorção;
  • hepatopatias;
  • desvio portossistêmico;
  • sepse;
  • hipoadrenocorticismo;
  • neoplasias.

A glicose é a principal fonte de energia para o metabolismo celular. Diante de um quadro de hipoglicemia, o organismo pode apresentar dificuldades em manter o mecanismo de termorregulação em perfeito funcionamento, levando à hipotermia.

3. Procedimento anestésico

Segundo Rodriguez-Diaz (2019), a hipotermia inadvertida perioperatória (HIP) é um evento comum na população de animais de companhia submetida à cirurgia, com uma prevalência de 32,1% em cães e 70,9% em gatos. Nesses casos, considera-se que o animal hipotérmico apresente uma temperatura corpórea menor que 36,5°C.

Durante um procedimento anestésico, alguns fármacos utilizados para sedação e anestesia podem interferir no mecanismo de regulação da temperatura corporal, levando à hipotermia em gatos e cães. Além disso, ocorre perda de calor no período transoperatório, tanto pela respiração de gases secos e frios quanto pela evaporação dos líquidos de órgãos e tecidos que possam estar expostos durante a execução da técnica cirúrgica.

Por isso, é preconizado que a temperatura do animal seja aferida em várias fases do procedimento, incluindo os momentos de pré-medicação, indução, começo e fim da cirurgia, extubação e recuperação.

4. Uremia

Síndrome urêmica consiste em uma condição tóxica resultante de alterações na função renal, que acontece quando há azotemia (concentração sérica anormal de ureia, creatinina e substâncias nitrogenadas) associada a alterações metabólicas e fisiológicas, como:

  • náusea;
  • vômito;
  • diarreia;
  • anorexia;
  • prostração;
  • desidratação;
  • melena;
  • coma;
  • convulsão.

Os rins são responsáveis por contribuir como fonte de calor para o organismo, como consequência do seu metabolismo altamente aeróbico. Baseados nessa informação, Kabatchnick et.al. (2016) realizaram um estudo que sugere que a hipotermia ocorre em gatos e cães urêmicos, encontrando uma prevalência de 38% de hipotermia urêmica em gatos, cuja temperatura corporal média apresentada foi de 37,4°C, e de 20,5% em cães, dentre os quais a média da temperatura foi de 37,7°C.

Quais danos a hipotermia pode causar para a saúde do pet?

A hipotermia em cães e gatos pode gerar diversos danos ao organismo, dentre eles:

  • vasoconstrição periférica;
  • arritmias cardíacas;
  • redução do fluxo sanguíneo cerebral;
  • distúrbios metabólicos;
  • ventilação reduzida;
  • ataxia.

Como tratar a hipotermia em gatos e cães?

Existem alguns cuidados que podem ser adotados para restabelecer a temperatura corporal fisiológica do paciente, solucionando a hipotermia, assim como:

  • manter o animal em um ambiente aquecido;
  • usar colchões térmicos, insuflador de ar quente para cobertor, ou bolsas quentes;
  • fazer “botinhas” para aquecer as extremidades dos membros;
  • utilizar fluidos intravenosos aquecidos para a terapia de suporte.

Formas de prevenir a hipotermia

Para prevenir a hipotermia é essencial que se conheça quais são as suas causas e, principalmente, lembrar que cães e gatos enfermos, neonatos e idosos são mais suscetíveis à condição – pois tendem a apresentar uma termorregulação menos eficiente.

O pensamento antecipado sobre o quadro do paciente e um possível desenvolvimento de baixa temperatura corpórea faz com que o profissional já instrua ou institua as medidas cabíveis para não deixar que esse animal apresente hipotermia e suas graves consequências.

Não menos importante, é necessário que haja sempre o fornecimento de uma alimentação adequada e balanceada, oferecendo os níveis de energia exigidos pelo indivíduo para manter sua homeostase.

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Referências bibliográficas

ALLEN, S. Disorders of Heat and Cold. In: BRUYETTE, D.S. et.al. Clinical Small Animal Internal Medicine. New Jersey: Wiley Blackwell, 2020.

BRODEUR, A. et.al. Hypothermia and targeted temperature management in cats and dogs. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, p.1-13, 2017. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/vec.12572 . Acesso em: 23 janeiro 2024.

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KABATCHNICK, E.; LANGSTON, C.; OLSON, B.; LAMB, K.E. Hypothermia in Uremic Dogs and Cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.30, i.5, p.1648-1654, 2016. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jvim.14525 . Acesso em: 23 janeiro 2024.

KING, L.G.; BOAG, A. Manual BSAVA de Emergência e Medicina Intensiva em Cães e Gatos. São Paulo: MedVet, 2ed., 2013.

KLEINE, S.; HOFMEISTER, E.; EGAN, K. Multivariable analysis of anesthetic factors associated with time to extubation in dogs. Research in Veterinary Science, v.97, n.3, p.592-596, 2014.

NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 5 ed., 2015.

PIMENTA, M.M.; RABELO, R.C. Aspectos diferenciais na Medicina de Urgência Felina. In: JERICÓ, M.M.; ANDRADE NETO, J.P.; KOGIKA, M.M. Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

REDONDO, J.I. et.al. Retrospective study of the prevalence of postanaesthetic hypothermia in dogs. Vet. Rec., v.171, i.15, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22922707/ . Acesso em 23 janeiro 2024.

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TILLEY, L.P.; SMITH JR., F.W.K. Consulta Veterinária em 5 Minutos – Espécies canina e felina. São Paulo: Manole, 5 ed., 2014.