Flatulências: quais são as principais causas e como tratar gases em cães

Flatulências: quais são as principais causas e como tratar gases em cães

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O excesso da formação de gases em cães pode ser prejudicial para a saúde do pet, além de trazer desconfortos para o animal; a avaliação do Médico-Veterinário se faz essencial para analisar com cautela a causa primária

A flatulência é definida pela formação excessiva de gás no estômago e/ou intestino dos cães devido a alta atividade fermentativa no cólon. Ela pode ser crônica ou não e costuma gerar desconfortos intestinais e dores no animal. Além disso, pode ou não apresentar odores quando o cão expele os flatos pelo ânus.

A produção dos gases ocorre devido à fermentação microbiana de componentes presentes no lúmen intestinal e resulta na formação de diversos compostos de putrefação, como amônia, fenóis, indóis, ácidos graxos de cadeia curta, gases como H2, CO2 e metano, aminas biogênicas (putrescina, cadaverina, histamina, feniletilamina) e lactato. Em cães, a flatulência pode ocorrer de forma mais intensa de duas a três horas após a refeição, sendo que três horas após a refeição um cão pode produzir cerca de 134 ml de CO2.

Os gases se movem ao longo do intestino devido ao peristaltismo. A produção de gases intestinais é um processo fisiológico e que, na maioria dos casos, não apresenta sério risco à saúde dos animais. O excesso de produção de gases, no entanto, é indesejado e alguns desses compostos podem ser tóxicos se produzidos em altas concentrações.

A seguir, detalhamos as causas e sinais clínicos que podem estar presentes em um cão com gases e ainda as possíveis formas de tratamento para a flatulência.

Principais sinais clínicos em um cão com gases

O animal com muitos gases poderá apresentar alguns dos sinais clínicos a seguir:

  • liberação de gases em excesso (com ou sem odor);
  • desconforto abdominal;
  • distensão abdominal e/ou inchaço estomacal em grau leve;
  • sensibilidade à palpação abdominal;
  • presença de borborigmos intestinais (presença de sons);
  • prostração;
  • inapetência/hiporexia;
  • má assimilação de nutrientes (podendo gerar diarreia ou fezes moles, vômitos e perda de peso). Em casos mais graves, o cão pode apresentar quadro de desidratação e, sem o manejo adequado, vir a óbito.

Principais causas de flatulências nos cães

Existem diversas possíveis causas do aumento de gases e flatulência crônica em cães que devem ser investigadas pelo Médico-Veterinário com base na anamnese e nos sinais clínicos apresentados, sendo que as principais causas do aumento de gases e flatulência crônica em cães podem estar associadas ao tipo de dieta, à predisposição da raça, à aerofagia e ainda a, outras doenças de base, obesidade, sedentarismo e outros fatores, como veremos mais adiante.

Entre os principais fatores que influenciam no aumento da produção de gases nos cães estão os dietéticos, individuais e ambientais. É imprescindível que o Médico-Veterinário identifique a causa primária para que o tratamento seja eficaz.

Fatores dietéticos relacionados à formação de gases

Os fatores dietéticos estão diretamente relacionados à nutrição e à alimentação do cão. Nesse caso, a anamnese se faz essencial para que o profissional entenda a rotina alimentar do animal com detalhes.

Veremos adiante os principais fatores ligados à dieta que podem causar a formação excessiva de gases em cães.

Digestibilidade dos alimentos

Alimentos de baixa qualidade e digestibilidade não são digeridos e aproveitados adequadamente pelo organismo, especialmente no que se refere às proteínas. Como consequência, a porção indigestível segue até o intestino grosso, no qual sofrerá fermentação excessiva e, consequentemente, terá um aumento da produção de gases.

Também pode-se observar aumento de volume fecal em cães que recebem dieta de qualidade duvidosa (alimentos com baixo teor nutritivo). Diversos estudos demonstram que a oferta de dietas com proteínas de alta digestibilidade resultam em menor fluxo de resíduos alimentares para o cólon, contribuindo para a redução na fermentação de metabólitos e da produção de gases nos cães.

Quantidade de alimento ingerido

Animais que ingerem uma quantidade de alimento maior do que o recomendado tendem a formar mais gases devido ao excesso de substrato no lúmen intestinal. Além disso, a ingestão excessiva de alimentos predispõe à obesidade, que também é um fator de risco para o aumento da flatulência.

Calcular e oferecer a quantidade diária adequada de alimento ao cão é indispensável para manter a saúde intestinal e o correto funcionamento do organismo como um todo. O fracionamento da dieta em um maior número de porções diárias também é uma estratégia interessante. Desta forma, há menor entrega de nutrientes ao intestino em cada refeição, o que pode colaborar para uma melhor digestão e absorção do alimento no intestino, contribuindo para a redução dos processos fermentativos e, consequentemente, reduzindo a formação de gases.

Mudanças abruptas na dieta

Qualquer mudança na alimentação do cão deverá ser feita de forma progressiva e gradual, com o acompanhamento do Médico-Veterinário, pois os cães podem ser sensíveis a modificações dietéticas bruscas. Diante disso, é necessário observar atentamente as possíveis alterações que possam surgir durante o período de transição, como por exemplo, a inconsistência do bolo fecal e o aumento na frequência da eliminação de gases.

Tipo e quantidade de fibras na dieta

Existem diversos tipos de fibras solúveis e insolúveis que variam em seus aspectos (hidrossolubilidade, viscosidade, capacidade para retenção de líquido e ligamento de minerais e de moléculas orgânicas) e resultam em diversos efeitos fisiológicos nos cães (BORGES, 2011). Grande parte dos alimentos de matéria seca para cães apresentam teor de fibra entre 1% e 4% (exceto alimentos terapêuticos), podendo chegar a 25% dependendo do produto.

As fibras retardam o transporte do gás intestinal. Por outro lado, fibras purificadas e altamente fermentáveis são substratos para a produção luminal de gases e contribuem para o aumento da flatulência.

Desta forma, dietas ricas em fibras fermentáveis devem ser evitadas. O ideal é sempre avaliar em termos relativos a alimentação atual do paciente, pois cada indivíduo poderá responder às mudanças dietéticas de formas diferentes. A combinação de diferentes tipos de fibras de acordo com suas propriedades funcionais promove benefícios importantes para evitar a formação de gases em excesso no intestino dos cães.

Teor de lipídeos na dieta

Embora este mecanismo não seja totalmente elucidado na medicina veterinária, o teor de lipídeos na dieta parece interferir no fluxo de gases do lúmen intestinal. O ideal é optar pela prescrição de alimentos com teor de gordura baixo ou moderado.

Como qualquer variável dietética na nutrição de cães, não há valor absoluto que determine “baixo” ou “alto” teor de um nutriente específico, portanto deve-se analisar em termos relativos, considerando-se também a dieta atual do paciente.

Em termos empíricos, recomenda-se que a gordura não represente mais do que 20% da distribuição calórica da dieta.

Manejo alimentar

O manejo alimentar deve ser específico para cada cão, devendo considerar as necessidades individuais do animal, como raça, porte, peso, grau de desenvolvimento, balanço nutricional da dieta, estágios fisiológicos e condições ambientais.

Além disso, o posicionamento adequado do comedouro pode ser uma medida útil para diminuir a aerofagia, evitar situações de estresse ambiental e ainda a competição por alimento com outros cães no mesmo ambiente.

Petiscos inadequados

O fornecimento de petiscos ou sobras da alimentação humana é inapropriado ao metabolismo dos cães, levando à formação de gases em excesso. Além disso, produtos lácteos ou condimentados são inadequados para a espécie, podendo gerar intolerância alimentar e outros problemas. Com isso, em casos mais graves, as intoxicações podem até mesmo levar o animal a óbito.

Fatores individuais do animal

Os fatores individuais do animal estão relacionados ao espécime e consideram alguns aspectos como: raça, genética, peso, grau de desenvolvimento, estágios fisiológicos e condições gerais de saúde.

Predisposição racial

Raças de cães braquicefálicos, como Bulldog Inglês, Bulldog Francês, Pug, entre outros, foram identificadas como tendo predisposição à produção de fezes com odor mais forte e maior frequência de flatulências. Suas características anatômicas típicas resultam em aerofagia, predispondo ao aumento da produção de gases.

Por outro lado, algumas raças que apresentam sensibilidade digestiva, como o Pastor Alemão, também podem ser mais predispostas à formação de gases intestinais, embora qualquer indivíduo possa apresentar algum grau de sensibilidade digestiva.

Cães com apetite voraz também tendem a fazer mais aerofagia durante a refeição. O perfil nutricional formulado especialmente para esses animais, além de tamanhos de croquetes desenvolvidos para cada porte e raça favorecem a mastigação adequada, diminuem a velocidade de ingestão do alimento e contribuem para a saúde intestinal.

Variações na microbiota intestinal

Os compostos odoríferos são resultado da fermentação microbiana dos conteúdos luminais. No entanto, a produção destes compostos pode variar amplamente entre cães que se alimentam da mesma dieta, o que sugere forte influência da diversidade da microbiota intestinal entre diferentes indivíduos.

Animais com distúrbios digestivos

As possibilidades de hipersensibilidade alimentar, doença inflamatória intestinal ou colite devem ser consideradas em cães que apresentam flatulência crônica e, portanto, devem ser investigadas pelo Médico-Veterinário.

Para alguns pacientes, o uso de dieta com proteínas hidrolisadas pode ser benéfico, considerando-se a alta digestibilidade tanto das proteínas como também dos carboidratos que geralmente são empregados na formulação desses alimentos.

Fatores ambientais

Os fatores ambientais estão relacionados aos diversos tipos de manejo e ambiente no qual o animal vive. Veja em detalhes:

Exercícios físicos

exercícios físicos suaves. Embora essa relação ainda não tenha sido estudada em cães, a flatulência é relatada com menor frequência por tutores de cães que praticam exercício físico, quando comparado a tutores de animais mais sedentários.

Por este motivo, orientar o tutor sobre a importância de passear com seu cão diariamente é fundamental, pois pode auxiliar na digestão do alimento e na redução da formação de gases intestinais.

O prognóstico geralmente é bastante favorável para a maioria dos casos que não apresentam comorbidades concomitantes e/ou complicações, mas é fundamental seguir corretamente todas as recomendações do Médico-Veterinário para um manejo adequado e consequente melhora na qualidade de vida do animal.

Como tratar gases em cães e evitar que o problema seja recorrente

om o objetivo de evitar recidivas e estabelecer os manejos e tratamentos adequados, o Médico-Veterinário deverá levantar o histórico clínico do animal e avaliar quais são os sinais clínicos apresentados pelo cão. Ele poderá também solicitar exames complementares de acordo com as especificidades de cada caso para fechar o diagnóstico, podendo incluir hemograma, exame de urina, coproparasitológico com ou sem cultura, ultrassom abdominal, radiografias abdominais, entre outros.

Após identificar as possíveis causas da flatulência no cão, será possível realizar um diagnóstico assertivo, que irá definir o tratamento mais adequado para o caso, podendo envolver medicamentos do grupo dos carminativos (visando controlar a produção excessiva de gases), como por exemplo o acetato de zinco, Yucca schidigera ou probióticos, e/ou correções de manejo (ingestão de alimentos com baixo teor fibras e gorduras que podem ser servidos em porções pequenas, de forma fracionada, e com maior frequência).

Como orientar o tutor para evitar a formação de gases nos cães

O profissional poderá recomendar que o tutor observe a presença de sinais clínicos ou alterações de comportamento que o animal possa apresentar e também que ofereça alimentos adequados e de qualidade superior ao seu cão, além de correções do manejo e que leve o animal para as consultas de rotina e realização de check-ups com a frequência recomendada pelo Médico-Veterinário.

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Referências bibliográficas

CAVE, Nick. Nutritional management of gastrointestinal diseases. United States: Wiley-Blackwell, 2012 apud FASCETTI, Andrea; DELANEY, Sean. Applied Veterinary Clinical Nutrition. United States: Wiley-Blackwell, 2012. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/9781118785669.ch12. Acesso em: 11 abr. 2022.

HUNTER, Tammy; WARD, Ernest. VCA Hospitals. Flatulence in dogs. Disponível em: https://vcahospitals.com/know-your-pet/flatulence-in-dogs. Acesso em: 11 abr. 2022.

BORGES, Flávia M. Oliveira.; SALGARELLO, Rosana M.; GURIAN, Tatiane M. Recentes avanços na nutrição de cães e gatos. Minas Gerais. UFPEL. 2011. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/nutricaoanimal/files/2011/03/Avan%C3%A7os_caes_gatos.pdf?fbclid=IwAR3wSHplycQ8UfaQUGfGs5f16Kq7pTylWSQXWesIh6ZC5luzaNBNcRc7cUE. Acesso: 11 abr. 2022.