Prevalência de atopia canina em raças específicas – Estudo de caso

Links rápidos:
A atopia pode ser difícil de diagnosticar com precisão e, portanto, de ser tratada com eficácia. Animais com essa doença geralmente apresentam prurido, um sinal característico que também pode ser provocado por outras doenças dermatológicas, como alergia a alimentos e sarna sarcóptica. Infecções cutâneas secundárias (p.ex.: levedura ou bactéria) também contribuem para uma confusa apresentação. Embora a atopia seja geralmente associada a anticorpos IgE para diversos alérgenos ambientais – conforme demonstrado por exame de diagnóstico laboratorial, esta não é uma conclusão universal e pode dificultar o diagnóstico, se não impossibilitá-lo. Esses fatores, bem como os graus variáveis de gravidade na apresentação clínica, dificultam a estimativa da prevalência de atopia na população de animais. A prevalência anteriormente relatada de atopia canina varia de 3 a 30%, dependendo do estudo e da população representada e também foi relatada predisposição de raças. Este trabalho revisa a prevalência de atopia em cães vistos em uma rede de hospitais veterinários primários dos EUA.
Métodos de análise
Foi feita uma triagem dos prontuários médicos de todos os cães que deram entrada nos Hospitais Veterinários de Banfield, de 2009 a 2013 (um total de 5.716.821 cães), para identificar aqueles com diagnóstico registrado de atopia ou dermatite atópica. Depois disso, foi feita uma nova triagem dos prontuários apropriados para identificar as estações do diagnóstico e a região geográfica onde este diagnóstico foi feito. A prevalência foi calculada no geral e por região e estação. A prevalência de 2012 e 2013 e as estimativas de risco relativo para as raças mais comuns (isto é, ao menos 500 pacientes daquela raça foram consultados) também foram calculadas, e as 10 raças com os níveis mais altos de prevalência foram apresentados. O risco de atopia em cada uma dessas raças foi comparado com o dos cães de “raça mista”. O risco relativo é estimado pela relação da prevalência ou pela prevalência de doença atópica em cada raça, dividida pela prevalência de doença atópica em raças mistas.
Resultados
A prevalência anual de cães atópicos aumentou lentamente, de 2,4% em 2009, para 2,8% em 2013. Um total de 187.689 casos únicos foram observados durante o período – alguns cães foram diagnosticados com a condição em mais de um ano, resultando em uma prevalência de cinco anos de 3,3%. Foi possível identificar picos distintos nos meses de primavera e verão, dependendo da região, com uma prevalência levemente maior na região centro-sul. Como pode ser visto na tabela, o West Highland White Terrier teve a maior prevalência (9,6%) para 2012 e 2013. Com exceção do Scottish Terrier (2012) e do Welsh Terrier (2013), as oito raças restantes ficaram na lista dos “top 10” nos dois anos. Em comparação com cães de raça mista, cada uma das raças da lista teve um risco (prevalência) quase dobrado de atopia.
Aprendizados
Descobriu-se que a prevalência de atopia na população de pacientes caninos de Banfield era similar ao menor nível de prevalência (aproximadamente 3%) já relatado anteriormente. A variação na incidência relatada pode ser originada de diversos fatores, incluindo diferenças globais/regionais e na população real de animais estudados (isto é, clínica veterinária primária vs. clínica veterinária dermato lógica especializada ou hospitais universitários). Além disso, é possível que a atopia seja subdiagnosticada ou superdiagnosticada na população de Bansfield, porque o diagnóstico pode ser problemático (p.ex.: dieta de eliminação de alimentos para descartar alergia a alimentos, consulta a especialista dermatológico). Considerando-se que não existe um motivo óbvio para suspeitar que o diagnóstico pode ter ocorrido mais ou menos frequentemente em um ano, ao longo do período de cinco anos, é improvável que isso tenha afetado a interpretação de que a prevalência apresentou apenas um leve aumento naquele período. Como esperado, foram encontradas diferenças regionais e sazonais. Dentre as raças de cães mais comumente consultadas, um número deles apresentou um risco significativamente maior de atopia em comparação com raças misturadas. Considerando-se que alguns dos cães incluídos nas categorias das raças podem, de fato, ter raça misturada em vez de serem raça pura, e levando em conta os benefícios genéticos do cruzamento de raças para alguns distúrbios da saúde, os riscos relativos podem ser vistos como estimativas conservadoras do risco real daquela raça em relação a cães de raça misturada. Essas descobertas proporcionam evidências adicionais ao veterinário sobre a epidemiologia da atopia. Seria benéfico se o clínico entendesse não somente a biologia básica e a epidemiologia da doença, mas também as tendências regionais e sazonais específicas para sua base de pacientes, incluindo a aprendizagem obtida de dermatologistas veterinários como os alérgenos ambientais mais comuns que afetam animais de estimação em sua área e protocolos diagnósticos e terapêuticos recomendados. Estes dados podem permitir ao profissional diagnosticar e tratar com mais eficácia os doentes pruriginosos.
Por Drª Emi Kate Saito e Catherine Rhoads
Para ler o estudo completo acesse a revista VetFocus.