Criptococose em animais domésticos

Criptococose em animais domésticos

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Doença fúngica de natureza sistêmica é mais frequente em felinos, mas também pode acometer cães e seres humanos; saiba mais

A criptococose é uma micose oportunista causada pelo complexo Cryptococcus neoformans, que compreende dois agentes etiológicos, os fungos C. neoformans e o C. gattii. A doença tem distribuição cosmopolita e é bem descrita em literatura, porém seu diagnóstico na rotina clínica pode ser considerado pouco frequente se comparado a outras enfermidades fúngicas.

Além de causar desconforto nos animais acometidos e ser potencialmente fatal, sua importância está também em seu potencial zoonótico, ou seja, a criptococose também pode se desenvolver em seres humanos e está mais associada a indivíduos imunossuprimidos.

Etiologia e transmissão da criptococose

O agente etiológico é a forma assexuada do basidiomiceto Filobasidiella neoformans, uma levedura encapsulada.

A infecção ocorre principalmente por inalação dos esporos fúngicos que são frequentemente isolados em excretas de pombos (Columba livia domestica), considerados os reservatórios naturais do agente. O agente também pode ser encontrado em forma de levedura em alimentos decompostos (frutas e vegetais), pedaços velhos de madeira ou eucaliptos (onde pode permanecer por até dois anos), solos ricos em excretas de aves (pombos e psitacídeos), assim como na mucosa oronasal e pele dos indivíduos. Animais que são frequentemente expostos a estes ambientes apresentam maior risco de contaminação.

Queiroz e colaboradores (2008) em sua revisão de literatura mostraram diversos estudos nos quais os autores comprovaram a presença do agente em grande parte das amostras de excrementos de pombos em diversas regiões urbanas do Brasil. Em um dos levantamentos, todas as 88 amostras coletadas em uma praça em Porto Alegre (RS) apresentaram a presença do agente.

A criptococose acomete somente os gatos?

Embora o gato seja descrito como espécie mais frequentemente acometida, a doença também pode se desenvolver em cães, apesar de poucos casos terem sido relatados. O primeiro relato de caso brasileiro foi feito por Larsson e colaboradores (2003) em uma cadela da raça Pastor Alemão.

A literatura cita as raças Doberman, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Cocker e Labrador como mais predispostas à doença, apesar dos fatores de predisposição ainda não estarem completamente elucidados. Em aves, a presença do agente não causa doença clínica relevante.

Sinais clínico

A manifestação da doença depende do sistema imune do indivíduo. Por seu caráter oportunista, as formas mais graves estão mais associadas a indivíduos imunossuprimidos. Dentre os fatores predisponentes ao desenvolvimento da doença estão a desnutrição, o uso prolongado de corticosteróides e infecções virais como aquelas causadas pelo vírus da imunodeficiência e leucemia em felinos.

Além de sintomas inespecíficos como hiporexia, letargia, febre e perda de peso, a apresentação clínica pode incluir lesões em sistema respiratório (estertores respiratórios, corrimento nasal), pele (erosões e ulcerações que geralmente se iniciam em região de face/focinho e com a presença de formações nodulares popularmente conhecidas como “nariz de palhaço”) e a disseminação via hematógena ou linfática pode levar ao acometimento do sistema nervoso central, causando ataxia, vocalização, andar em círculos, desorientação, convulsões, cegueira e surdez.

Formas de diagnóstico

Na rotina clínica, além de anamnese e exame físico, para o diagnóstico da afecção o exame de eleição é a citologia, que pode ser feita a partir de exsudatos ou por punção aspirativa por agulha fina (PAAF) do nódulo, que permite, quando observado o fungo na lâmina, o diagnóstico definitivo, mas não descarta caso nenhuma alteração seja constatada.

As culturas fúngicas podem ser elaboradas a partir de exsudatos, líquor, urina, amostras teciduais, aspirados linfonodais e líquidos sinoviais. Tem-se ainda o histopatológico, um exame mais invasivo que requer a obtenção de uma amostra tecidual do nódulo para que a avaliação seja feita.

No diagnóstico diferencial devem ser consideradas outras doenças que manifestem quadro clínico semelhante, sejam elas infecciosas ou inflamatórias, como: encefalite viral (cinomose), encefalite bacteriana, meningoencefalite protozoária (toxoplasma, neospora, hepatozoo) e ricketsia, meningoencefalite granulomatosa e neoplasias.

Como é o tratamento da criptococose?

O tratamento na rotina clínica é feito com fármacos fungiostáticos ou fungicidas sistêmicos, sendo o itraconazol geralmente o fármaco de escolha. Em quadros com manifestação neurológica e/ou ocular, o uso de fluconazol é indicado por possuir maior penetração nesses tecidos.

O tempo de tratamento é variável e depende da evolução clínica do paciente, podendo levar de semanas a meses. O prognóstico é reservado e considerado favorável desde que não haja comprometimento do sistema nervoso central.

Como orientar os tutores de animais acometidos

Como em qualquer outra enfermidade que acomete os pets, os tutores exercem papel fundamental para o sucesso do tratamento. A adesão e o comprometimento do tutor são indispensáveis, mesmo porque a terapia pode ser longa e exigir engajamento e persistência por parte de todos os envolvidos.

Controlar a exposição dos pets a ambientes potencialmente contaminados é uma forma de diminuir o risco de infecção por C. neoformans, assim como é importante evitar contato direto de animais saudáveis com animais doentes. Felinos portadores de FIV ou Felv devem ser mantidos em ambiente protegido da presença de pombos, ainda que sua presença seja esporádica.

Manter a saúde, a boa nutrição e o manejo ambiental adequado dos animais domésticos é premissa para fortalecer o sistema imunológico e promover uma vida saudável a pets e seus tutores.

Referência bibliográfica

C.E. LARSSON; M. OTSUKA; N.S. MICHALANY; P.S.M. BARROS; W. GAMBALE; A.M.V. SAFATLE. Criptococose canina: relato de caso. USP, 2003.

MÜLLER, M.; NISHIZAWA, M. A criptococose e sua importância na Medicina Veterinária. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP. São Paulo: Conselho Regional de Medicina Veterinária, v. 15, n. 1, p. 24-29, 2017.

QUEIROZ, J.P.A.F.; SOUSA, F.D.N.; LAGE, R.A.; IZAEL, M.A.; SANTOS, A.G. Criptococose – Uma revisão bibliográfica. Acta Veterinaria Brasilica, 2008.

SILVA.Y.A.G.; FERNANDES.C.G.; THO.J.S.; ROMÃO.F.G; SOUZA.F.B. Criptococose em cães: revisão de literatura. UNIFIO, 2015.