Incontinência urinária em cães e gatos: das principais causas ao manejo do paciente

Incontinência urinária em cães e gatos: das principais causas ao manejo do paciente

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A incontinência urinária em cães e gatos é caracterizada pela perda involuntária da urina. Seu surgimento é multifatorial e envolve questões anatômicas, neurológicas e diversas outras causas que geram episódios de gotejamento urinário contínuos ou intermitentes; saiba mais

O processo fisiológico de micção envolve a atuação dos sistemas nervoso central e periférico e sistema musculoesquelético. Esse funcionamento adequado permite que o indivíduo tenha controle voluntário do ato de micção. Porém, existem algumas doenças do trato urinário inferior e superior que acometem gatos e cães e que afetam o processo de liberação da urina, causando incontinência.

A incontinência urinária em cães e gatos é uma disfunção relativamente comum do trato urinário inferior e ocorre, geralmente, quando há alterações nas estruturas de suporte e sustentação dos órgãos do sistema urinário e mudanças que afetam, de forma geral, o bom funcionamento do processo fisiológico da micção (enchimento e armazenamento vesical da urina e posterior esvaziamento por meio da micção).

O animal acometido pode apresentar sinais clínicos como gotejamento de urina em pequenos ou grandes volumes, dependendo da gravidade do caso, além de lambedura excessiva da vulva e do pênis, dor etc. (JAMES et al.; 2015).

A incontinência urinária em cães e gatos pode representar um grande desafio ao Médico-Veterinário, pois diversas patologias podem estar associadas e os sinais clínicos podem ser inespecíficos.

O tratamento deve ser direcionado à causa primária e de acordo com a gravidade do caso. A depender da doença de base, complicações podem surgir, como infecções nos rins e vesícula urinária, além de problemas dermatológicos, uma vez que a pele fica em contato prolongado com a urina.

Neste artigo iremos abordar as principais causas de incontinência urinária e quais iniciativas podem ser tomadas pelo Médico-Veterinário que conduz o caso.

Principais causas de incontinência urinária em cães e gatos

A incontinência urinária canina e felina pode ter origem multifatorial, sendo que as principais causas incluem (HONDA; 2021):

  • malformações (ureter ectópico, por exemplo);
  • alterações neurológicas;
  • incompetência do mecanismo do esfíncter uretral por diversas causas, incluindo castração precoce em fêmeas, vírus da
  • leucemia felina, lesões lombossacrais e outras;
  • presença de cálculos vesicais, neoplasias, estenose uretral, hipertrofia prostática etc;
  • disfunções, como a síndrome da bexiga hiperativa;
  • distúrbios infecciosos e endócrinos;
  • cistites e cistite idiopática felina;
  • envelhecimento do indivíduo;
  • outras.

Vale ainda destacar alguns aspectos da urolitíase, que pode estar relacionada aos quadros de incontinência urinária. Saiba mais nos links abaixo:

Fatores predisponentes

Estudos mostram que animais que foram submetidos a procedimentos de caudectomia ou castração e que possuem mais de 20 quilos podem ter maior predisposição à incontinência urinária (HONDA; 2021).

Além disso, sabe-se que algumas raças de cães são mais predispostas, entre elas (HONDA; 2021):

  • Pinscher;
  • Boxer;
  • Pastor Alemão;
  • Rottweiler;
  • Setter Irlandês;
  • Old English Sheepdog.

Já nos gatos jovens, a incontinência urinária congênita é mais comumente causada por ectopia ureteral ou por incompetência congênita do mecanismo do esfíncter uretral. Já a forma adquirida mais frequente de incontinência urinária em gatos é a neurogênica, que é geralmente ocasionada por traumas (JAMES et al.; 2015).

Os fatores predisponentes não excluem a possibilidade de qualquer gato e cão apresentar o problema em qualquer fase de sua vida.

Como realizar o diagnóstico?

O diagnóstico de incontinência urinária em cães e gatos é baseado e composto pelo conjunto entre anamnese, exame físico e exames complementares, permitindo que o Médico-Veterinário tenha informações relevantes e suficientes para um diagnóstico preciso.

Na anamnese é importante investigar o histórico detalhado do animal, incluindo (HONDA; 2021):

  • uso de medicações (corticóides, diuréticos e outros);
  • histórico de procedimentos cirúrgicos (caudectomia, castração e outros);
  • fatores predisponentes (raça, peso, idade, possíveis comorbidades e outros);
  • aspectos da urina (volume a cada micção, se ocorre em determinado período do dia, se a micção é ou não contínua,
  • coloração e o odor da urina, qual a viscosidade da urina e se há presença de sangue);
  • ingestão de água (o animal pode ter mudado a frequência de ingestão hídrica);
  • aspectos neurológicos (lesões em medula espinhal, encéfalo, sistema nervoso periférico ou multifocal);
  • presença de sinais clínicos (pode haver disfunção motora, dificuldade, desconforto, dor, incontinência evidente e outros).

O Médico-Veterinário também deve avaliar se o paciente apresenta outros sinais clínicos, como a poliúria e a polidipsia, que também estão presentes em certas afecções que acometem o sistema renal (HONDA; 2021). É necessário realizar o diagnóstico diferencial com as demais suspeitas para definir a melhor opção de tratamento.

Além do exame físico, que inclui principalmente inspeção e palpação, exames complementares devem ser solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica, como:

  • bioquímicos renais;
  • hemograma;
  • perfil eletrolítico;
  • urinálise e urocultura com antibiograma para verificar infecções;
  • cistoscopia;
  • radiografia simples ou contrastada, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética;
  • Outros, sempre direcionando-o à suspeita diagnóstica.

Vale ressaltar que, assim como em diversas outras doenças, o diagnóstico precoce da causa de base da incontinência urinária permite um tratamento mais assertivo e eficaz, evitando também complicações futuras.

Tratamentos para incontinência urinária em cães e gatos

O tratamento e o prognóstico da incontinência urinária dependem da causa primária. A depender da causa, o tratamento poderá ser clínico ou cirúrgico (JAMES et al.; 2015).

O tratamento da incontinência urinária também pode envolver terapias integrativas, por exemplo fisioterapia, acupuntura, homeopatia e outras técnicas que estão ganhando cada vez mais espaço na Medicina Veterinária e podem ser muito benéficas. Esses tratamentos complementares podem ser indicados, visando restaurar a capacidade física – como fortalecimento de assoalho pélvico, melhor funcionamento dos esfíncteres, alívio da dor etc.

O Médico-Veterinário deve investigar detalhadamente a causa primária da incontinência urinária para recomendar a melhor opção de tratamento conforme o caso.

O manejo alimentar pode ser revisto e adaptado. Quando a incontinência se dá pela presença de urolitíase, é possível adotar os alimentos Urinary, da ROYAL CANIN®, a depender do caso. A linha possui alimentos secos e úmidos nas versões para cães e também para gatos.

alimentos da linha Urinary

Os alimentos da linha Urinary são contraindicados para gatas e cadelas gestantes ou em lactação, animais em fase de crescimento ou que tenham doença renal crônica, pets que façam uso de medicamentos acidificantes urinários ou que possuam doença ou insuficiência cardíaca (quando for recomendada restrição de sódio na dieta).

Como manejar o problema e orientar os tutores?

A persistência dos sinais clínicos da incontinência urinária em cães e gatos é indesejada por grande parte dos tutores, que muitas vezes não compreendem o que está acontecendo com o pet e, sem a correta orientação do Médico-Veterinário, podem acabar punindo desnecessariamente com o animal. Muitas vezes, os tutores acreditam que a micção em diversos locais seja para marcação de território, por desobediência ou rebeldia.

Portanto, a orientação quanto a importância das consultas de rotina e também de levar o pet para consultas quando identificada alguma alteração (inclusive quando parecer algo de caráter comportamental) se faz essencial.

O tutor deve ser orientado a jamais diminuir a quantidade de água fornecida ao pet sem recomendação do Médico-Veterinário e não brigar com o animal ou castigá-lo, pois isso gera grande frustração, estresse e ansiedade para o pet. O estresse pode causar imunossupressão e predispor o animal a outras enfermidades e deve ser evitado.

Algumas estratégias podem auxiliar os tutores que possuem animais com incontinência urinária, como:

  • consultas veterinárias e exames de rotina para acompanhamento do caso;
  • colocar tapetes higiênicos descartáveis para absorver a urina na cama do pet ou nos locais em que o animal costuma ficar para oferecer mais conforto e higiene;
  • uso de fraldas descartáveis e anatômicas também oferecem maior higiene ao animal;
  • recomendações de cuidados com a higiene íntima, visando evitar assaduras no pet;
  • castração: são inúmeros os benefícios tanto para o animal como para os tutores, mas, a idade adequada para a castração ainda não é um consenso entre os profissionais. O Médico-Veterinário deve avaliar a maturação hormonal e o porte do pet para sugerir ao tutor o momento mais apropriado para realização do procedimento cirúrgico.

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Referências bibliográficas

HENRY Perrine et al. Urinary incontinence secondary to a suspected congenital urethral deformity in a kitten. Journal of Feline Medicine and Surgery Open Reports, Reino Unido, v. 7, n. 2, p. 1-6, 2021. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/20551169211045642. Acesso em: 2 nov. 2022.

JAMES Daniel R et al. Chronic urinary bladder torsion causing urinary incontinence in a cat. Journal of Feline Medicine and Surgery Open Reports, Austrália, v. 1, n. 2, p. 1-5, 2015. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/2055116915603384. Acesso em: 2 nov. 2022.

HONDA, Claudia Natsuki. Causas de incontinência urinária em cães e gatos: revisão de literatura e relato de caso de Cistite Idiopática Felina. Dissertação. Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG, Varginha, 2021. Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/handle/prefix/1862. Acesso em: 6 nov. 2022.