Lama biliar em cães e gatos: quais as principais causas e como tratar?

Lama biliar em cães e gatos: quais as principais causas e como tratar?

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A avaliação do trato biliar durante exames de ultrassonografia em gatos e cães é importante, e o conteúdo da vesícula biliar é facilmente enxergado durante esse processo. A lama biliar aparece em um ultrassom como ecos móveis, de amplitude variável e sem sombra acústica, que tendem a se acumular na vesícula.   

A observação do conteúdo permite entender se o conteúdo é uniforme, se há formações sólidas e qual é o volume/quantidade de lama biliar presente. A partir das observações e de uma avaliação clínica, o médico-veterinário pode determinar os próximos passos para o seu paciente (Harran, et. al., 2011; DeMonaco, 2016; Cook et. al., 2016).  

O que é a lama biliar? 

Quando a drenagem biliar da vesícula é prejudicada, a bile torna-se espessa ou semelhante à lama – com fluido altamente viscoso. Durante a ultrassonografia o médico-veterinário visualiza a lama biliar como uma substância ecogênica no interior da vesícula biliar.  

A lama biliar pode ser um achado acidental em uma ultrassonografia, mas é frequentemente encontrado quando se identifica o ducto biliar comum distendido e tortuoso, além da vesícula biliar distendida (Lehner & McAnulty, 2010). 

A composição da lama biliar, normalmente, consiste em uma mistura de precipitados de cristais (principalmente cristais de monoidrato de colesterol, cálcio bilirrubinato e outros sais de cálcio), glicoproteínas, debris celulares e mucina (Butler et al.,2022; Saunders, 2017).  

Principais causas da formação de lama biliar 

A lama biliar representa um achado frequente, com prevalência de 35% a 67% na população saudável de cães (Harran, 2011; Butler, et. al., 2022). Em gatos, estudos sugerem associação entre a presença da lama biliar, o aumento de enzimas hepáticas e a concentração sérica de bilirrubina, sendo a doença mais associada à gatos do que cães (Smith et. al., 2017).  

Confira, a seguir, as principais causas da formação de lama biliar. 

Obstrução dos ductos biliares 

A obstrução dos ductos biliares tem como causa comum a lama biliar, associado a colangite, colicistite e contratilidade prejudicada da vesícula biliar (Otte et al., 2017). 

Redução da contratilidade da vesícula biliar 

Em ocasiões em que há a redução da contratilidade, pode haver estase biliar e modificações da bile dentro da vesícula. A estase e as modificações promovem a formação de lama biliar (DeMonaco, 2016, Butler, et al., 2022). 

Supõe-se que a estase biliar e a hipersecreção de muco desempenhem um papel na formação da lama biliar e, embora não haja relatos de associação com doença hepatobiliar em cães, um estudo anterior sugeriu que cães com volumes maiores de lama biliar têm maior probabilidade de desenvolver doença hepatobiliar do que aqueles com mínimo conteúdo da vesícula biliar – embora o diagnóstico de doença hepatobiliar não tenha sido definitivamente estabelecido em todos os casos (Butler, et al., 2022). 

Doenças endócrinas 

Doenças endócrinas como hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo e dislipidemias promovem estase e hipersecreção mucosa, ocasionando aumento da concentração sérica de leptina e aumentando o risco de formação de lama biliar (Butler et. al., 2022). 

Cook et. al. (2016) citam um estudo retrospectivo de 78 cães diagnosticados com mucocele e lama biliar. Nesta população, a incidência em cães com hiperadrenocorticismo foi 29 vezes maior do que em cães que não apresentam hiperadrenocorticismo. Já em cães que possuíam hipotireoidismo a associação era menor, com um triplo risco aumentado. 

Lama biliar em gatos e as particularidades anatômicas dos felinos 

A tríade felina corresponde ao termo utilizado para descrever quadros de pancreatite, colangite e doença inflamatória intestinal (DII) concomitantes em gatos. A anatomia diferenciada do ducto colédoco felino – que se une ao ducto pancreático principal antes de se abrir no duodeno na papila duodenal maior – favorece a ascensão de bactérias do duodeno para o pâncreas e fígado, resultando em inflamação do pâncreas, fígado e ducto biliar (Černá et. al., 2020) 

Devido a essa diferença anatômica, gatos possuem maior propensão que os cães em desenvolver alterações nos dutos biliares e a redução da motilidade biliar. 

Como diagnosticar a presença de lama biliar em cães e gatos 

A lama biliar é normalmente identificada durante exames de ultrassonografia abdominal em gatos e em cães. Frequentemente é considerada um achado acidental por Médicos-Veterinários ultrasonografistas e pode ocorrer secundariamente ao diagnóstico de fluxo biliar estagnado e alteração da motilidade da vesícula biliar (Butler et al.2022, Saunders, 2017). 

Tratamento 

Apesar da fisiopatologia pouco compreendida da formação da lama biliar, o médico-veterinário tem como tratamento clínico uma dieta com baixo teor de lipídeos e medicamentos, como ácido ursodesoxicólico, S-adenosilmetionina. Em quadros de volume intenso de lama biliar grave, no qual a lama biliar preenche quase completamente a vesícula biliar, pode haver a indicação de colecistectomia (Otte, et al., 2017; Mizutani et al., 2017). 

O papel da nutrição como coadjuvante no tratamento da lama biliar em gatos e cães 

De acordo com a composição da lama biliar, com mistura de precipitados de cristais (principalmente cristais de monoidrato de colesterol, cálcio bilirrubinato e outros sais de cálcio), glicoproteínas, debris celulares e mucina, é indicada dieta com baixo teor lipídico (Mizutani et. al., 2017) para os cães. 

Para felinos, como a lama biliar pode estar associada ao quadro da tríade, uma dieta de fácil digestão e que permita alto aproveitamento de nutrientes é a escolha para o tratamento de enteropatia inflamatória (Cattin, 2015). 

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Produtos Royal Canin indicados para o tratamento de lama biliar em cães e gatos

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Referência bibliográfica  

Butler, T., Bexfield, N., Dor, C., Fantaconi, N., Heinsoo, I., Kelly, D., Kent, A., Pack, M., Spence, S. J., Ward, P. M., Watson, P., McCallum, K. E. A multicenter retrospective study assessing progression of biliary sludge in dogs using ultrasonography. Journal of veterinary internal medicine, v.36, n.3, p. 976–985, 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35426163/ Acesso em: 15/05/2023. 

Cattin, I. Tríade felina. Questões Gastrointestinais, Vet Focus v. 23 n.2, p. 2- 8, 2015.  

Cook, A. K., Jambhekar, A. V., & Dylewski, A. M. Gallbladder Sludge in Dogs: Ultrasonographic and Clinical Findings in 200 Patients. Journal of the American Animal Hospital Association v.52, n. 3, p. 125–131, 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27008319/ Acesso em:  15/05/2023. 

DeMonaco S.M., Grant D.C., Larson M.M., Panciera D.L., LeibSpontaneous, M.S. Course of Biliary Sludge Over 12 Months in Dogs with Ultrasonographically Identified Biliary Sludge. J Vet Intern Med v. 30, p. 771–778, 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26992049/ Acesso em: 15/05/2023 

Harran, N.,  D’Anjou M.A., Dunn, M., Beauchamp, G. Gallbladder sludge on ultrasound is predictive of increased liver enzymes and total bilirubin in cats. Can Vet J. v.52, n.9, p.999-1003, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3157076/ Acesso em: 15/05/2023. 

Lehner, C., & McAnulty, J.Management of extrahepatic biliary obstruction: a role for temporary percutaneous biliary drainage. Compendium (Yardley, PA), v.32, n.9, 2010. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20960408/ Acesso em: 15/05/2023. 

Mizutani, S., Torisu, S., Kaneko, Y., Yamamoto, S., Fujimoto, S., Ong, B. H., & Naganobu, K. Retrospective analysis of canine gallbladder contents in biliary sludge and gallbladder mucoceles. The Journal of veterinary medical science, v.79, n.2, p. 366–374, 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27990011/ Acesso em: 16/05/2023 

Otte, C., Penning, L.C., Rothuizen, J. Feline Biliary Tree and Gallbladder Disease: Aetiology, diagnosis and treatment. Journal of Feline Medicine and Surgery v.19, p. 514–528, 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28438089/ Acesso em: 15/05/2023. 

Saunders, H., Thornton, L. A., Burchell, R. Medical and surgical management of gallbladder sludge and mucocoele development in a Miniature Schnauzer. International journal of veterinary science and medicine, v.5, n.1, p. 75–80. 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30255053/ Acesso em: 15/05/2023 

Smith, R. P., Gookin, J. L., Smolski, W., Di Cicco, M. F., Correa, M., Seiler, G. S.  Association between Gallbladder Ultrasound Findings and Bacterial Culture of Bile in 70 Cats and 202 Dogs. Journal of veterinary internal medicine, v. 31, n. 5, p. 1451–1458, 2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28755468/ Acesso em 16/05/2023.