A importância do diagnóstico da pseudociese

A importância do diagnóstico da pseudociese

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É comum que Médicos-Veterinários recebam relatos de tutores sobre as fêmeas apresentarem alterações comportamentais e fisiológicas relacionadas à pseudociese, também conhecida como gravidez psicológica; saiba os principais aspectos dessa condição e como fazer o manejo adequado dessas pacientes

A pseudociese canina e felina, também conhecida como pseudogestação e popularmente chamada de gravidez psicológica, é uma síndrome que ocorre devido às alterações hormonais que resultam no aumento do hormônio prolactina, acometendo cadelas e gatas não esterilizadas que estejam na fase lútea ou de diestro, onde a progesterona está mais predominante (SILVA et al, 2021).

A pseudociese é muito comum nas cadelas que não copulam com certa frequência e também pode ocorrer nas gatas, mas em menor proporção, já que a ovulação da fêmea felina costuma ocorrer no ato da cópula, resultando em uma gestação real. Porém, a incidência e distribuição da pseudociese ainda não foram totalmente elucidadas. Estima-se que a pseudociese canina possa se manifestar pelo menos uma vez na vida da fêmea não castrada (MARTINS e LOPES, 2005).

Os antepassados do cão doméstico viviam em matilha, e as suas fêmeas dominantes caçavam enquanto os seus filhotes podiam ser amamentados por outras fêmeas. Portanto, também se especula que a pseudociese possa ser uma característica evolutiva que foi herdada pelas cadelas domésticas (MARTINS e LOPES, 2005).

Os sinais clínicos podem ser diversos de acordo com o caso, mas a fêmea pode manifestar diferentes alterações comportamentais, como inquietação e adoção de objetos inanimados, além de desenvolver importantes mudanças fisiológicas, como o aumento no volume das glândulas mamárias com produção e secreção láctea (SILVA et al, 2021).

Tendo em vista a importância da pseudociese para a saúde e bem-estar animal, o diagnóstico é essencial, já que essa condição pode levar a complicações mais graves, como o surgimento de neoplasias mamárias. Estudos indicam a predisposição cancerígena nas fêmeas que manifestam a pseudociese, principalmente quando a síndrome ocorre diversas vezes (SILVA et al, 2021).

Neste artigo, iremos abordar os principais fatores, sinais clínicos e formas de manejo e tratamento da paciente acometida.

Fatores predisponentes da pseudociese em cadelas e gatas

Diversos fatores podem fazer com que a pseudociese se manifeste na paciente (ALENCAR, 2014):

  • maior sensibilidade individual à progesterona;
  • exposição à progesterona com uma posterior redução hormonal;
  • aumento da prolactina no final do diestro, havendo maior produção hormonal da progesterona;
  • fêmeas que não foram castradas.

Também pode ocorrer nos casos que envolvam (MARTINS e LOPES, 2005):

  • uso de anticoncepcionais: a terapia hormonal com estrógenos ou progestágenos para prevenção da prenhez não é recomendado para o animal, já que promovem o aumento dos receptores de progesterona no útero;
  • uso de antiprogestágenos;
  • período entre 3 a 4 dias após a realização da OSH (castração) durante o diestro;
  • período entre 3 a 4 meses após a suspensão da administração de progesterona exógena.

Não há evidências de que os fatores ambientais e nutricionais estejam relacionados ao surgimento da pseudociese na fêmea (MARTINS e LOPES, 2005), porém esses manejos são importantes para a manutenção geral da saúde e promoção do bem-estar do animal.

Sinais clínicos da pseudociese

A fêmea pode apresentar diversas alterações comportamentais e fisiológicas, como o ganho de peso e o aumento das glândulas mamárias com produção e secreção láctea. Mas, os sinais clínicos são variáveis e podem incluir (MARTINS e LOPES, 2005):

  • comportamentos relacionados à pré, peri e pós-parto;
  • comportamento de “ninho”, que é quando há a preparação do local para o parto;
  • adoção de objetos inanimados ou de filhotes de outras fêmeas, com demonstrações excessivas de afeto, carinho, proteção, atenção e defesa;
  • sinais de parto, como a lambedura, distensão e contrações do abdômen;
  • inquietação ou agressividade;
  • distensão mamária;
  • secreções mamárias;
  • anorexia;
  • secreção vaginal serosa.

Ainda podem ser observados outros sinais menos frequentes e mais inespecíficos, como êmese, diarreia, poliúria, polifagia e polidipsia (MARTINS e LOPES, 2005).

Complicações associadas

As principais complicações que podem estar associadas à pseudogestação são (MARTINS e LOPES, 2005):

  • distensão mamária;
  • retenção láctea;
  • dermatite mamária;
  • mastites;
  • tumor de mama.

O profissional deve estar atento aos casos em que a pseudociese ocorra em fêmeas que sejam esterilizadas, pois o tempo de recuperação nesses casos pode ser prolongado (MARTINS e LOPES, 2005).

Tempo de duração da pseudogestação em cadelas

Em uma gestação real, os comportamentos da fêmea tendem a voltar à normalidade gradualmente entre 4 a 8 semanas após o parto, sendo o mesmo período em que ocorre o desmame dos filhotes. Já na pseudogestação, caso não ocorram complicações no quadro, os sinais clínicos devem desaparecer gradualmente em até 8 semanas.

Diagnóstico da pseudociese

O diagnóstico é feito com base na anamnese, histórico do animal, presença de sinais clínicos e pode incluir exames complementares, como a ultrassonografia para diagnóstico diferencial entre gestação real, pseudociese e piometra (MARTINS e LOPES, 2005). O diagnóstico por exclusão das demais doenças permitirá identificar a pseudociese com maior facilidade.

É importante destacar que a pseudociese não apresenta predisposição entre raças, portes físicos e faixas etárias do animal, podendo se manifestar em fêmeas pluríparas ou nulíparas, sem ter relação com a ocorrência de doenças reprodutivas pré-existentes ou com as taxas de fertilidade (MARTINS e LOPES, 2005).

Tratamento da síndrome

Os tratamentos mais indicados para a pseudociese envolvem o uso de agonistas não-seletivos (bromocriptina) e seletivos (cabergolina) de dopamina, bem como os antagonistas serotoninérgicos (metergolina). No entanto, o Médico-Veterinário deve avaliar individualmente as condições gerais do animal para recomendar qual é a melhor opção de tratamento de acordo com o caso, bem como o seu prognóstico (RODRIGUES, 2019).

Em casos em que os sinais clínicos se apresentem de forma mais leve, o Médico-Veterinário pode indicar outras recomendações, como o uso de colar elizabetano para evitar a estimulação da secreção láctea por meio da lambedura mamária. O uso de certos fármacos para inibir a produção láctea também pode ser indicado dependendo do caso. Além disso, quando não houver interesse do tutor pela reprodução da fêmea, a realização da castração é indicada como tratamento preventivo (MARTINS e LOPES, 2005).

Correções de manejo e até mesmo o estímulo de atividades físicas para desviar a atenção do animal que apresenta comportamentos maternos mais exacerbados podem ser recomendados (MARTINS e LOPES, 2005).

Outros tipos de tratamentos visando a prevenção de possíveis complicações podem incluir a utilização de estrógenos, progestágenos e andrógenos, mas devem ser avaliados de acordo com cada caso. Entretanto, a utilização de esteroides não é recomendada, pois os benefícios não justificam o seu uso, já que promovem diversos efeitos colaterais para o animal (RODRIGUES, 2019).

Atenção à alimentação

O manejo nutricional é essencial para o tratamento coadjuvante nos casos de pseudociese, principalmente quando a fêmea apresenta ganho de peso ou anorexia, como parte dos sinais clínicos.

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Já para as cadelas e gatas que apresentem anorexia, que estejam internadas ou que não se alimentem voluntariamente por via oral, a indicação é o Recovery Alimento Úmido, que possui excelente textura e palatabilidade, sendo de fácil administração, fornecendo alta energia para animais em recuperação ou que possuam requerimento energético elevado.

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A importância do tutor no sucesso do tratamento do animal

O tutor convive com o animal e por conhecê-lo e saber sobre os seus hábitos e personalidade deve estar atento ao surgimento de qualquer alteração comportamental, mesmo que seja sutil, devendo dar a devida atenção para prevenir possíveis complicações. A adequada observação do tutor pode ajudar no diagnóstico precoce de doenças como neoplasias mamárias, endometriose, mastite e outras, que além de causar dor e sofrimento ao animal, podem gerar danos psicológicos, como a depressão.

Portanto, ao identificar mudanças repentinas no comportamento da fêmea ou outros sinais clínicos, deve-se levá-la à consulta com o Médico-Veterinário para obter um diagnóstico preciso.

O Médico-Veterinário deve orientar o tutor sobre o caso, além de sugerir as alterações necessárias no manejo do animal e recomendar o tratamento mais indicado.

Prevenção da pseudociese em cadelas e gatas

A esterilização é considerada como a forma mais eficaz de prevenção da pseudociese em gatas e cadelas, trazendo diversas outras vantagens como a representativa redução do risco de desenvolvimento de enfermidades mamárias, uterinas e ovarianas, como por exemplo, as neoplasias e a piometra.

A castração também oferece outros benefícios, como a redução da transmissão de diversas afecções, já que pode amenizar o comportamento territorialista, evitando brigas e acesso a rua, além da diminuição do comportamento de cio e prevenção de doenças reprodutivas em fêmeas.

Referências bibliográficas

SILVA, Maíra Corona. et al. Use of pyridoxine hydrochloride in the interruption of lactation in female dogs with pseudopregnancy. Animal Reproduction, v. 18, p. 1-7, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ar/a/6WtY56svdm49g4QMB6jxCNQ/?format=pdf&lang=en. Acesso em: 16 jul. 2022.

MARTINS, Lílian Rigatto; LOPES, Maria Denise. Pseudociese canina. Rev. Bras. Reprod. Anim., v. 29, p. 137-141, 2005. Disponível em: http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/download/pag%20137%20v29n3-4.pdf. Acesso em: 16 jul. 2022.

RODRIGUES, Roberth Magalhães. Padrão etário e racial de doenças reprodutivas em cadelas na região metropolitana de Belém-PA. 2019, p. 14-37. Dissertação (UFRA) – Bacharel em Medicina Veterinária – Universidade Federal Rural da Amazônia, Pará, 2019. Disponível em: http://bdta.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1796. Acesso em: 16 jul. 2022.

ALENCAR, Dayanny de Sousa. Alterações do comportamento reprodutivo em cadelas sob forte influência doméstica. 2014, p. 8-27. Dissertação (UFGC) – Bacharel em Medicina Veterinária – Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2014. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/handle/riufcg/23969. Acesso em: 16 jul. 2022.