Burnout na Medicina Veterinária: o que é e como os profissionais são afetados?

Burnout na Medicina Veterinária: o que é e como os profissionais são afetados?

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Os Médicos-Veterinários são potencialmente suscetíveis à Síndrome de Burnout, doença que afeta muitos profissionais; saiba o que é a Síndrome de Burnout e como essa doença ocupacional pode afetar a sua rotina de trabalho

A síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, não ocorre de repente e não está associada apenas à rotina e ao excesso de trabalho do profissional. Burnout é uma síndrome multicausal e multidimensional que se desenvolve com o passar do tempo, considerando aspectos do sofrimento psíquico, contexto interpessoal e, especificamente, ocupacional, sendo muitas vezes subnotificado (BARWALDT et al; 2020).

No Brasil, estima-se que aproximadamente 32% dos profissionais da Medicina-Veterinária sofram de esgotamento relacionado ao ambiente de trabalho. Em todos os países ocidentais, observa-se um alto índice de Burnout, principalmente em profissionais da saúde (CRMV-SP; s.d.).

A prevalência de Burnout na área da saúde é ainda maior no grupo da Medicina Veterinária. São comuns o esgotamento, as queixas somáticas e, nos casos mais graves, a ideação suicida (ANDELA; 2020). O problema é grave: esses profissionais possuem risco 225% maior de suicídio (CRMV-SP; s.d.), uma vez que  vivenciam altas taxas de estresse.

Ao reconhecer os sinais do Burnout e de outros problemas psicológicos, é possível adotar atitudes individuais e coletivas que visem a redução do estresse e da ansiedade, resultando em melhorias das condições de trabalho do Médico-Veterinário e demais profissionais.

Veja a seguir os principais detalhes sobre o Burnout, assim como as formas de prevenção e tratamento!

 

O que é Burnout

A síndrome de Burnout é considerada um esgotamento emocional ou fadiga relacionada ao estresse crônico e depressão associado ao trabalho ou ocupação (CRMV-SP; s.d.), podendo inclusive ser confundida com outros problemas de saúde, incluindo a depressão e o estresse, já que pode possuir sintomatologia semelhante (FRANK; 2018).

Alguns fatores, juntos ou independentes entre si, contribuem para o desenvolvimento do Burnout, como: despersonalização (insensibilidade e embotamento emocional), sensação de esgotamento e desgaste emocional, falta de energia e entusiasmo, baixa realização profissional e pessoal, sentimento de frustração e tensão (BARWALDT et al; 2020).

Além de Médicos-Veterinários, profissionais de diversos outros setores que vivenciam estresse elevado podem ser acometidos por Burnout, incluindo:

  • Policiais e bombeiros.
  • Jornalistas.
  • Professores.
  • Atendentes de telemarketing.
  • Profissionais de saúde como médicos e enfermeiros.
  • E muitos outros!

 

Síndrome de Burnout em profissionais da saúde

O Burnout não é uma síndrome relacionada ao indivíduo, mas ao ambiente social em que ele está inserido e executa suas atividades de trabalho. Portanto, quaisquer profissionais, de todas as áreas, especialmente os da saúde, incluindo os Médicos-Veterinários, médicos e enfermeiros, correm o risco de sofrer com a síndrome (BARWALDT et al; 2020).

 

Burnout e a Medicina Veterinária

Agora você já sabe o que é Burnout e que a síndrome pode afetar diferentes profissionais. Mas qual a relação com a Medicina Veterinária?

A síndrome de Burnout resulta no esgotamento mental e físico dos Médicos-Veterinários e acomete mais a área da veterinária em comparação a outras áreas da saúde.

Os profissionais da Medicina Veterinária podem ser acometidos pela fadiga por compaixão, que por sua vez contribui para o surgimento do Burnout. Diferente de como ocorre na medicina humana, quando há casos graves ou óbitos na Medicina veterinária o Médico Veterinário não tem suporte de outros profissionais como assistentes sociais ou psicólogos para contatar a família do paciente. Ou seja, precisam lidar com isso diariamente e muitas vezes recebem uma remuneração abaixo do ideal para o trabalho exercido.

Mundialmente, a prevalência de Burnout na Medicina Veterinária é de 25% (CRMV-SP; s.d.). Os Médicos-Veterinários são mais susceptíveis à síndrome em função de fatores que incluem (MARCONDES; 2021):

  • Carga horária excessiva de trabalho e plantões muito longos.
  • Tempo insuficiente de atendimento para cada paciente.
  • Limitação de recursos e equipe de trabalho.
  • Estresse gerado por conflitos com a equipe e tutores no local de trabalho.
  • Sobrecarga de trabalho e escopo de funções da equipe mal definido.
  • Inadimplência, possível remuneração abaixo do piso salarial e pressão financeira.
  • Procedimentos de eutanásia, eventos traumáticos, sofrimento e morte de pacientes.
  • E outros. 

 

Os sinais da Síndrome de Burnout podem ser inespecíficos

O profissional acometido pode ter significativo prejuízo das condições emocionais e psíquicas por lidar com pressões, responsabilidades, exigências e problemas, resultando, frequentemente, em condutas errôneas, podendo inclusive colocar em risco a vida dos pacientes (BARWALDT et al; 2020). O problema não é uma ameaça apenas aos pacientes do profissional, mas também para sua própria segurança e vida, já que o Médico-Veterinário possui aproximadamente duas vezes mais probabilidade de cometer suicídio do que outros profissionais de saúde (ANDELA; 2020).

Embora os sinais possam ser inespecíficos, é preciso estar atento aos indicativos no comportamento do profissional. Geralmente, os sinais mais comuns afetam as seguintes áreas da sua vida (FRANK; 2018):

  • Ocupacional: falta de concentração, de cuidado com os pacientes, de paciência com os tutores/clientes, atrasos e absenteísmo, erros clínicos, conflitos na equipe, isolamento e demissão.
  • Pessoal: alterações de humor, apatia, descaso, irritabilidade, frustração, intolerância, insegurança, distanciamento de familiares e amigos.
  • Saúde: dores de cabeça, falta de apetite, energia e esgotamento, exaustão, insônia, transtornos gastrointestinais, depressão, dores musculares, abuso de álcool e drogas.

Além disso, com as alterações fisiológicas decorrentes do estresse, o indivíduo pode precisar fazer tratamento médico devido à queda de imunidade, doenças cardiovasculares, alterações neuroendócrinas e outros.

 

Como saber o momento certo de buscar ajuda?

Inicialmente, a síndrome de Burnout em profissionais da saúde pode se manifestar silenciosamente, não sendo possível a autopercepção do problema. Isso, no entanto, não acontece do dia para a noite. O seu desenvolvimento leva tempo e pode ir se agravando ao longo de semanas, meses e até mesmo anos.

Por isso, é imprescindível que o indivíduo esteja atento às alterações comportamentais, emocionais e físicas, pois o sofrimento psíquico é de alto risco e pode prejudicar a vida pessoal, a rotina de trabalho e a carreira. Sendo assim, o ideal é buscar ajuda especializada. O profissional deve também evitar ao máximo os potenciais fatores que desencadeiam a doença, como o excesso de trabalho, eventos estressantes etc.

Mediante o diagnóstico da síndrome de Burnout, o tratamento é realizado, basicamente, através de psicoterapia, mudanças na rotina de trabalho e, de acordo com a gravidade do caso, acompanhamento psiquiátrico para prescrição de antidepressivos e ansiolíticos.

Vale ressaltar que, além da síndrome de Burnout, o indivíduo acometido também pode ter outros transtornos psiquiátricos associados, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de bipolaridade, boderline, fobias e outros.

É recomendado que todo profissional da área da saúde busque compreender o que é a síndrome de Burnout e saiba como ela pode afetar a rotina dos trabalhadores. Dessa forma, o Médico-Veterinário pode identificar certos sinais em si mesmo e em outros membros da equipe, sendo capaz de adotar ou sugerir condutas que promovam a diminuição do estresse e da pressão no ambiente de trabalho, evitando assim o agravamento do quadro psicológico.

 

Saiba como prevenir 

A ajuda especializada precoce é primordial e é a principal forma de prevenção da síndrome de Burnout em profissionais da saúde, pois pode evitar o surgimento e o agravamento do quadro. Porém, também é recomendado que o indivíduo adote outras medidas de prevenção, como por exemplo:

  • Manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.
  • Realizar atividades físicas ou que promovem a realização pessoal e relaxamento, como por exemplo acupuntura, meditação, natação, ir ao cinema, ouvir músicas e outros.
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas em excesso.
  • Evitar o consumo de tabaco ou outras drogas.
  • Evitar a automedicação, principalmente de medicamentos ansiolíticos.
  • Evitar longas jornadas de trabalho, períodos excessivos nas redes sociais e ter qualidade de sono.
  • Redistribuir as atividades para evitar sobrecarga de trabalho.
  • Manter o hábito de fazer terapia, mesmo na ausência da síndrome de Burnout, pois o acompanhamento psicológico ajuda a evitar este e outros problemas.

A ROYAL CANIN® se preocupa com a saúde dos pets e também com a dos profissionais que cuidam deles. Médicos-Veterinários, como dito acima, precisam estar atentos aos sinais de atenção para a síndrome de Burnout. Cuide-se! 

 

Referências:

BARWALDT, Eugênia Tavares et al. Reflexos da sociedade e a síndrome de Burnout na medicina veterinária: revisão de literatura. Braz. J. Hea. Rev., v. 3, n. 1, p. 2-14, 2020. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/5846. Acesso em: 28 dez. 2022.

FRANK, Alice de Carvalho. Síndrome de Burnout na Medicina Veterinária. APAMVET, v. 9, n. 3, p. 6-7, 2018. Disponível em: https://publicacoes.apamvet.com.br/Artigos/Details/76#:~:text=Trata%20da%20s%C3%ADndrome%20de%20burnout,n%C3%A3o%20deixar%20ela%20se%20agravar. Acesso em: 28 dez. 2022.

CRMV-SP. Precisamos falar sobre a síndrome de burnout, o tipo mais devastador de estresse. s.d. Disponível em: https://crmvsp.gov.br/precisamos-falar-sobre-a-sindrome-de-burnout-o-tipo-mais-devastador-de-estresse/. Acesso em: 26 dez. 2022.

ANDELA, Marie. Burnout, somatic complaints, and suicidal ideations among veterinarians: Development and validation of the Veterinarians Stressors Inventory. Journal of Veterinary Behavior, v. 37, p. 48-55, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1558787820300320#preview-section-cited-by. Acesso em: 30 dez. 2022.