Incontinência urinária em cães e gatos: principais causas e tratamentos

Incontinência urinária em cães e gatos: principais causas e tratamentos

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A incontinência urinária é um problema de causa multifatorial que pode afetar cães e gatos. Entenda a importância em diagnosticar a causa base para instituir o tratamento mais adequado. 

O processo fisiológico de micção envolve a atuação dos sistemas nervoso central e periférico e sistema musculoesquelético. O funcionamento adequado desse mecanismo permite que o indivíduo tenha controle voluntário sobre o ato de micção. Em cães e gatos, distúrbios neurológicos, algumas enfermidades que envolvem questões anatômicas e fisiológicas do trato urinário, entre outras causas, podem resultar na perda involuntária da urina, denominada incontinência urinária, caracterizada pelo gotejamento urinário contínuo ou intermitente.  

Determinar a origem do problema que está levando à incontinência urinária pode representar um grande desafio ao médico-veterinário, uma vez que diversas patologias podem estar associadas e os sinais clínicos podem ser inespecíficos. Compreenda como abordar cada caso.  

O que é incontinência urinária? 

A incontinência urinária em cães e gatos é um distúrbio da micção caracterizado pela perda passiva e involuntária de urina, que pode ser decorrente de alguma anormalidade anatômica ou fisiológica do trato urinário e leve à alteração na função de armazenamento e eliminação da urina. 

O adequado processo da micção é coordenado pela ação dos sistemas nervoso simpático e somático, responsáveis pela função de armazenamento da urina, e pelo sistema nervoso parassimpático, que governa a fase de eliminação.  

Uma disfunção em uma das vias desse processo ou uma alteração estrutural pode resultar no aparecimento de sinais clínicos como gotejamento de urina em pequenos ou grandes volumes, de forma contínua ou intermitente, dependendo da gravidade do caso, além de lambedura excessiva da vulva ou do pênis e desconforto ao urinar. 

Principais causas de incontinência urinária em gatos e cães 

Segundo Moore (2017), as causas de incontinência urinária podem ser separadas em hereditárias (congênitas) e adquiridas. Em cães e gatos, pode ter origem multifatorial, sendo que as principais causas incluem: 

  • malformações (ureter ectópico, por exemplo); 
  • alterações neurológicas; 
  • incompetência do mecanismo do esfíncter uretral por diversas causas, incluindo castração precoce em fêmeas e envelhecimento; 
  • traumas lombossacrais; 
  • presença de cálculos vesicais, neoplasias, estenose uretral, hipertrofia prostática (obstrução mecânica do fluxo); 
  • disfunções, como a síndrome da bexiga hiperativa; 
  • distúrbios endócrinos; 
  • cistites bacterianas; 
  • cistite idiopática felina.

Vale ainda destacar alguns aspectos da urolitíase, que pode estar relacionada aos quadros de incontinência urinária. Saiba mais nos links abaixo:

Fatores predisponentes 

Pegram et.al. (2019) constataram que a castração em si e a castração em idade precoce (antes dos 6 meses) são os principais fatores de risco para incontinência urinária de início precoce em cadelas. Houve, ainda, a descrição do crescimento do risco associado ao aumento do peso corporal e da raça. 

Além disso, é importante ressaltar que algumas raças de cães são mais predispostas a apresentar incontinência urinária, entre elas (HONDA; 2021): 

  • Pinscher; 
  • Boxer;
  • Pastor Alemão; 
  • Rottweiler; 
  • Setter Irlandês; 
  • Old English Sheepdog. 

Já nos gatos jovens, a incontinência urinária congênita é mais comumente causada por ectopia ureteral ou por incompetência congênita do mecanismo do esfíncter uretral. Por outro lado, a forma adquirida mais frequente de incontinência urinária em gatos é a neurogênica, que é geralmente ocasionada por traumas (JAMES et al.; 2015). 

Vale lembrar que a presença de fatores predisponentes não exclui a possibilidade de qualquer gato ou cão apresentar incontinência urinária em qualquer fase de sua vida. 

Como é feito o diagnóstico de incontinência urinária nos gatos e nos cães? 

O diagnóstico de incontinência urinária em gatos e cães é baseado no conjunto das informações obtidas a partir da anamnese, exame físico e exames complementares.  

Na anamnese, o médico-veterinário deve investigar o histórico detalhado do animal, incluindo (HONDA, 2021; KENDALL et.al., 2024): 

  • há quanto tempo o problema está presente; 
  • uso de medicações (corticóides, diuréticos e outros); 
  • mudança na frequência da micção normal, escape contínuo ou intermitente; 
  • presença de polidipsia; 
  • histórico de procedimentos cirúrgicos (caudectomia, castração); 
  • fatores predisponentes (sexo, raça, peso, idade, possíveis comorbidades); 
  • aspectos da urina (volume, odor, presença de sangue); 
  • aspectos neurológicos (lesões em medula espinhal, encéfalo, sistema nervoso periférico ou multifocal); 
  • histórico de incontinência fecal; 
  • presença de sinais clínicos (pode haver disfunção motora, dificuldade, desconforto, dor). 

O exame físico completo inclui inspeção e palpação, e pode acrescentar a observação da micção do paciente. Dessa forma, pode-se solicitar exames complementares como hemograma, perfil bioquímico e eletrolítico, urinálise e urocultura.  

Exames de imagens (radiografia simples ou contrastada, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética) também podem ser necessários para constatar ou excluir a suspeita diagnóstica.  

A importância de entender a origem do problema 

Tanto o tratamento quanto o prognóstico da incontinência urinária dependem da sua causa primária. Afinal, o diagnóstico da causa de base permite que seja instituído um tratamento mais assertivo e eficaz, melhorando a qualidade de vida do paciente e evitando, também, complicações futuras. 

Tratamentos para incontinência urinária em gatos e cães 

O tratamento da incontinência urinária em cães e gatos pode ser medicamentoso ou cirúrgico, sempre direcionado à resolução da causa primária e levando em consideração a gravidade de cada caso.  

Além das formas tradicionais, o tratamento da incontinência urinária também pode envolver terapias integrativas como, por exemplo: fisioterapia, acupuntura, homeopatia e outras técnicas que estão ganhando cada vez mais espaço na Medicina Veterinária.  

A Medicina Integrativa pode ser muito benéfica para o paciente, atuando como complementação terapêutica que visa restaurar a capacidade física (como fortalecer a musculatura para posição de micção, fortalecer o assoalho pélvico, melhorar o funcionamento dos esfíncteres), aliviar dor e desconforto, entre outros. 

Como orientar os tutores de animais com incontinência? 

A persistência dos sinais clínicos da incontinência urinária em gatos e cães é indesejada por grande parte dos tutores. Por isso, é importante que o animal seja examinado por um profissional quando identificada qualquer alteração, inclusive quando parecer algo de caráter comportamental. 

O tutor deve ser orientado a jamais diminuir a quantidade de água fornecida ao pet sem recomendação do médico-veterinário. Em adição, algumas estratégias de manejo podem ser instituídas para auxiliar na rotina de cuidados com o paciente com incontinência urinária, assim como: 

  • usar fraldas descartáveis e/ou colocar tapetes higiênicos descartáveis para absorver a urina na cama do pet ou nos locais em que o animal costuma ficar para oferecer mais conforto e higiene; 
  • recomendações de cuidados com a higiene íntima, visando evitar assaduras no pet. 

O paciente com incontinência deve passar por consultas para avaliação periódica com o intuito de verificar a saúde do trato urinário e, caso necessário, remanejar estratégias de tratamento. 

O papel da nutrição na saúde do pet 

A nutrição desempenha um papel significativo na saúde geral dos animais de estimação. Uma dieta equilibrada e nutricionalmente completa ajuda na manutenção das funções do organismo, conservando sua homeostase e favorecendo, inclusive, a capacidade de ação do sistema imunológico contra agentes patológicos. 

A dieta do paciente com incontinência urinária pode ser revisada e adaptada de acordo com a causa primária do problema. Um exemplo é quando a incontinência se dá pela presença de urólitos, sendo possível adotar a administração de um alimento coadjuvante que possa auxiliar no controle da formação de cálculos ou até mesmo em sua dissolução.  

Para isso, a ROYAL CANIN® oferece a linha Urinary para cães e gatos, nas versões seca e úmida, na qual o sistema RSS permite diminuir a concentração de íons que contribuem para a composição de cristais. 

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Referências bibliográficas 

ACIERNO, M.J. Nefrology/urology. In: SCHAER, M., GASCHEN, F. Clinical Medicine of the Dog na Cat. Flórida: CRC Press, 3 ed., p. 449-509, 2016. 

DIBARTOLA, S.P., WESTROPP, J.L. Urinary Tract Disorders. In: NELSON, R.W., COUTO, C.G. Small Animal Internal Medicine. Missouri: Elsevier, 6 ed., p. 649-739, 2020. 

GERNONE, F.; UVA, A.; CAVALERA, M.A.; ZATELLI, A. Neurogenic Bladder in Dogs, Cats and Humans: A Comparative Review of Neurological Diseases. Animals, v. 12, i.23, 2022. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

HENRY, P. et. al. Urinary incontinence secondary to a suspected congenital urethral deformity in a kitten. Journal of Feline Medicine and Surgery Open Reports, v. 7, n. 2, p. 1-6, 2021. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

HONDA, C.N. Causas de incontinência urinária em cães e gatos: revisão de literatura e relato de caso de Cistite Idiopática Felina. Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG, 2021. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

JAMES, D.R. et. al. Chronic urinary bladder torsion causing urinary incontinence in a cat. Journal of Feline Medicine and Surgery Open Reports, v. 1, n. 2, p. 1-5, 2015. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

KENDALL, A. et.al. ACVIM consensus statement on diagnosis and management of urinary incontinence in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, 2024. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

MAYHEW, P.D.; BERENT, A. Ureteral Ectopia and Urinary Incontinence. Small Animal Soft Tissue Surgery, 2 ed., 2023. 

MOORE, A.H. Incontinence in cats. BSAVA Congress, 2017. Acesso em: 19 fevereiro 2024. 

PEGRAM, C. et.al. Associations between neutering and early-onset urinary incontinence in UK bitches under primary veterinary care. J. Small Anim. Pract., v.60, i.12, p. 723-733, 2019. Acesso em: 19 fevereiro 2024.