Hiperfosfatemia: a importância do controle do fósforo em cães e gatos com problemas renais

Hiperfosfatemia: a importância do controle do fósforo em cães e gatos com problemas renais

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A hiperfosfatemia é um distúrbio metabólico que compromete o bom funcionamento do organismo e que pode funcionar como marcador de várias doenças subjacentes; entenda em detalhes

Na natureza, o fósforo é geralmente encontrado na forma de fosfatos, estando presente na composição de diversos alimentos de origem vegetal e animal. Na nutrição animal, ele é um elemento importante, necessário para desempenhar diversas funções bioquímicas, fisiológicas e vitais que, juntas, são essenciais para o crescimento adequado, reprodução e saúde em geral. E o animal pode apresentar problemas em casos de excesso e carência de fósforo.

Dentre as afecções mais relacionadas à hiperfosfatemia, uma das mais comuns é a doença renal. Sabe-se que os pacientes acometidos possuem as funções do órgão prejudicadas de forma gradativa de acordo com o estágio da enfermidade. Nesses casos, as dietas para tratamento renal podem ser consideradas como importantes aliadas, pois ajudam a controlar as concentrações plasmáticas de fósforo e do hormônio da paratireóide (GEDDES et al.; 2013).

Muitos Médicos-Veterinários possuem dúvidas relacionadas ao excesso de fósforo na alimentação de cães e gatos. Mas afinal, quais são os riscos da hiperfosfatemia? Para elucidar essa importante questão, detalhamos informações relevantes sobre o consumo de fósforo na dieta dos pets. Confira!

O que é a hiperfosfatemia?

A hiperfosfatemia é o excesso de fósforo no organismo, podendo estar relacionado a distúrbios de alguns sistemas, como o sistema renal, uma vez que ocorre a perda da função do órgão, possibilitando o acúmulo de sua concentração plasmática no organismo.

O fosfato é um importante ânion intracelular, e sua entrada e saída no organismo podem alterar rapidamente a concentração sérica de fósforo. As concentrações séricas podem variar de acordo com alguns fatores, como idade e tipo de dieta, além de patologias que possam desfavorecer o seu equilíbrio no organismo, como é o caso da doença renal.

Dietas que sejam ricas em carboidratos tendem a reduzir a concentração sérica de fósforo, em virtude da alta demanda do mineral causada pela ativação da via glicolítica. O equilíbrio ácido básico e outros fatores também podem contribuir para o desequilíbrio dos níveis do mineral.

No caso da obtenção do mineral pela dieta, vale ressaltar que a absorção do fosfato corresponde a 60 a 70% do total ingerido, sendo assim, ocorre uma relação direta entre a ingestão de fósforo e sua absorção. Essa absorção ocorre de forma ativa e passiva, sendo a ativa ainda mais acentuada em períodos de baixa ingestão (VIEIRA; 2010).

O processo de controle do fósforo é realizado basicamente da seguinte forma (VIEIRA; 2010):

  • PTH (paratormônio): responsável por elevar os níveis séricos de P, atua reduzindo a excreção de fosfato na urina e elevando a sua absorção. Além disso, o PTH atua também nos ossos, ativando os osteoclastos e, também no intestino, através da síntese da vitamina D3.
  • Calcitonina: em casos de hiperfosfatemia, a calcitonina terá ação fundamental visando aumentar a excreção renal, inibir a ação dos osteoclastos e reduzir a absorção intestinal.
  • outros hormônios como Insulina e Tiroxina também participarão do controle do P no organismo, através do aumento da reabsorção de fosfato no túbulo renal proximal, já o ACTH participa aumentando a excreção renal e consequentemente diminuindo a concentração sérica de P.

A redução da excreção de fósforo por meio da urina em virtude de doenças renais é a causa mais frequente de hiperfosfatemia observada em gatos e cães, mas esse distúrbio metabólico também pode ocorrer por uma variedade de outras causas, como (GEDDES et al.; 2013):

  • aumento na absorção de fósforo (manejo nutricional inadequado, suplementação sem as devidas orientações, intoxicação por jasmin, neoplasias e outros);
  • diminuição da excreção de fósforo por meio da urina, com doenças renais (aguda e crônica), hiper e hipoparatireoidismo, hiperadrenocorticismo, acromegalia e outros.
  • deslocamento intracelular para o extracelular (hemólise, acidose metabólica, síndrome da lise celular tumoral (SLT), trauma tecidual e outros).
  • causas iatrogênicas.

Entendendo o papel do fósforo no organismo do animal

O fósforo ingerido é absorvido pelo sistema gastrointestinal, sendo filtrado pelo glomérulo renal. Grande parte desse mineral é reabsorvida no túbulo proximal. Mas, para os pacientes renais, conforme a função renal diminui, além da progressão da afecção, pode ocorrer a elevação nos níveis do fator de crescimento (FGF23), hormônio da paratireóide (PTH) e um aumento na concentração do fósforo sérico (CHANG e ANDERSON; 2017).

No paciente nefropata há um comprometimento na excreção do fósforo e na regulação do PTH, que podem favorecer a hiperplasia da glândula paratireóide, predispondo a hiperfosfatemia e também ao hiperparatireoidismo secundário renal.

Contudo, apesar do fósforo possuir importantes funções fisiológicas, a hiperfosfatemia pode ser tóxica e afetar negativamente diversas funções essenciais, como (CHANG e ANDERSON; 2017; GEDDES et al.; 2013):

  • formação da estrutura óssea e manutenção do esqueleto;
  • formação e manutenção de todos os órgãos e músculos;
  • equilíbrio ácido-básico dos fluidos;
  • constituição de fosfolipídeos estruturais nas membranas celulares;
  • sendo fonte de energia para processos metabólicos essenciais, por exemplo, contração muscular, condução de impulso neural e transporte epitelial;
  • metabolismo de proteínas, lipídeos, carboidratos e outros minerais;
  • outros.

Vale ressaltar que a hiperfosfatemia pode ser considerada como uma complicação da DRC canina e felina, afetando os sistemas esquelético, renal e cardiovascular do animal acometido e, consequentemente, resultando na elevação da produção de paratormônio, além de problemas de calcificação vascular e renal, injúria tubular e até mesmo o óbito do animal nos casos mais graves (CHANG e ANDERSON; 2017).outros.

Hiperfosfatemia e a quantidade de fósforo presente na dieta

O fósforo é encontrado em alimentos com fontes proteicas, principalmente vindos de origem animal. Com isso, presume-se que alimentos de qualidade superior auxiliem na manutenção dos níveis ideais no organismo.

Para o controle do mineral, a dieta coadjuvante para pacientes renais pode ser uma importante aliada, já que a restrição do fósforo em pacientes com DRC aumenta comprovadamente o tempo de sobrevida dos animais, pois o uso de quantidades moderadas de proteína no alimento coadjuvante renal possibilita um melhor controle da concentração sérica de fósforo em cães e gatos.

Além disso, o uso de quelantes de fósforo pode ser uma opção para auxiliar no controle da ingestão pela alimentação. A necessidade do uso dos medicamentos, assim como as prescrições, devem ser avaliadas e realizadas pelo Médico-Veterinário.

Como acompanhar os níveis de fósforo no paciente?

As concentrações séricas podem ter variação conforme a idade e o tipo de dieta fornecida ao paciente. Portanto, é altamente recomendado que o Médico-Veterinário monitore frequentemente os níveis de fósforo dos animais. Esse monitoramento pode ser feito por meio de dosagens séricas.

Os níveis normais de fósforo em cães saudáveis varia entre 2,6 e 6,2 mg/dL, enquanto para gatos a média fica entre 4,5 e 8,1 mg/dL.

Como vimos, a hiperfosfatemia em cães e gatos pode ter relação com a doença renal, apresentando alterações plasmáticas de acordo com o estágio da doença. De acordo com a IRIS (2019), a concentração sérica ideal de fósforo para pacientes renais crônicos varia de acordo com os estágios da doença:

  • Estágio 1: não há referência estabelecida.
  • Estágio 2: entre 2,5 e 4,5 mg/dL.
  • Estágio 3: entre 2,5 e 5,0 mg/dL.
  • Estágio 4: entre 2,5 e 6,0 mg/dL.

Como fazer o manejo do paciente com hiperfosfatemia?

O manejo nutricional do paciente com hiperfosfatemia é de suma importância, devendo-se sempre optar por alimentos que contenham em sua formulação níveis moderados de proteína, com o objetivo de manter a fosfatemia dentro dos valores esperados.

No caso de pacientes renais, a dieta hipofosfórica é indicada para cães que estejam no estágio 2 e para os gatos do estágio 4. Porém, para controlar as concentrações da ingestão de fósforo pelo alimento, o uso de quelante de fósforo para cães e gatos pode ser recomendado para alguns pacientes do estágio 3 e grande parte do estágio 4 (WAKI et al.; 2010).

O quelante de fósforo é uma substância que auxilia para a redução da retenção de fósforo no sangue do indivíduo. O hidróxido de alumínio é o quelante mais recomendado e pode ser administrado durante ou após as refeições. Mas existem ainda outros tipos de quelantes de fósforo, como o carbonato de cálcio, que pode ser eficiente, mas pode não ser recomendado com frequência em virtude do risco de hipercalcemia e calcificação metastática (WAKI et al.; 2010).

Além disso, para que o paciente tenha mais qualidade de vida e uma maior sobrevida, é importante normalizar a calcemia que resultará em provável redução das concentrações séricas de paratormônio e FGF23 (WAKI et al.; 2010).

Como a ROYAL CANIN® pode auxiliar no manejo desses pacientes?

Para manejo e correção da hiperfosfatemia em animais com DRC, a dieta hipofosfórica deve ser instituída já nos primeiros estágios da doença, seja através de alimentos em versões secas ou úmidas, sendo considerada uma grande aliada no tratamento coadjuvante pela sua capacidade de promover uma maior sobrevida.

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Referências bibliográficas

CHANG, Alex R.; ANDERSON Cheryl. Dietary Phosphorus Intake and the Kidney. Annual Review of Nutrition. v. 37, n. 1, p. 321-346, 2017. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/pdf/10.1146/annurev-nutr-071816-064607. Acesso em: 04 dez. 2022.

ELLIOTTI, Jonathan; BIOURGE Vincent. Renal health in cats: sources and dose of dietary phosphorus matter. ROYAL CANIN®. 2022. Disponível em: https://vetfocus.royalcanin.com/en/vet-symposium/scientific-stream-2022/renal-health-in-cats-sources-and-dose-of-dietary-phosphorus-matter. Acesso em: 04 dez. 2022.

WAKI, Mariana Faraone. Classification into stages of chronic kidney disease in dogs and cats: clinical, laboratorial and therapeutic approach. Ciência Rural. v. 40, n. 10, p. 2226-2234, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/Dkfy3S6BLhTwDNyk8STrd5k/?lang=pt. Acesso em: 06 dez. 2022.

BARBER, P. J. et al. Effect of dietary phosphate restriction on renal secondary hyperparathyroidism in the cat. Journal of Small Animal Practice. v. 40, n. 2, p. 62–70, 1999. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/10088085/. Acesso em: 07 dez. 2022.

GEDDES, Rebecca F. et al. The role of phosphorus in the pathophysiology of chronic kidney disease. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. v. 23, n. 2, p. 122–133, 2013. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23464730/. Acesso em: 07 dez. 2022.

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QUEIROZ, Layla Livia. Abordagem diagnóstica e terapêutica de cães com doença renal crônica com ênfase na hiperfosfatemia. 2015, p. 1-66. Dissertação (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) – Mestrado em Ciência Animal – Escola de Veterinária e Zootecnia, Goiânia, 2015. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/5144. Acesso em: 08 dez. 2022.

VIEIRA, Marcia Souza. Bioquímica do fósforo. 2010, p. 1-9. Seminário (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) – Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/restrito/pdf/fosforo_marcia.pdf. Acesso em: 08 dez. 2022.