Complexo gengivite-estomatite felina: cuidados com a saúde bucal

Complexo gengivite-estomatite felina: cuidados com a saúde bucal

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Essa afecção comum em gatos representa um grande desafio diagnóstico e terapêutico na medicina felina, mas alguns cuidados podem contribuir para a saúde oral dos animais; entenda!

O complexo gengivite-estomatite felina (CGEF) é uma afecção relativamente comum em gatos. É caracterizada por inflamação crônica intensa da gengiva e da mucosa oral com a presença de ulcerações que ocorrem devido a uma reação exagerada do organismo ao acúmulo da placa bacteriana e do cálculo dental na doença periodontal.

Os felinos acometidos frequentemente desenvolvem sintomas severos associados à periodontite e à reabsorção dentária.

A etiopatogenia da afecção ainda não está totalmente esclarecida, e o diagnóstico e tratamento são desafiadores ao médico-veterinário, o que contribui para que o prognóstico seja reservado e, muitas vezes, imprevisível.

O que está por trás das causas do complexo gengivite-estomatite em felinos?

Diversas são as possíveis suspeitas associadas ao desenvolvimento da doença, como presença de bactérias, vírus, fatores nutricionais, condições ambientais e de manejo, que juntas podem contribuir para a instalação e a manutenção do processo inflamatório oral. Diversos vírus de distribuição mundial têm sido associados ao desenvolvimento da doença, incluindo calicivírus felino, herpesvírus felino, vírus da leucemia felina (FeLV) e vírus da imunodeficiência felina (FIV).

Está bem estabelecido pela literatura que ambientes com muitos gatos, como gatis, abrigos e residências compartilhadas, representam fatores de risco para o desenvolvimento de CGEF.

Um estudo recente avaliou a prevalência da doença em felinos que vivem em diferentes condições e constatou que os indivíduos que residiam em casas com muitos outros gatos apresentaram maiores chances de desenvolver a doença, e que o risco aumenta de acordo com o número de gatos em coabitação (PERALTA & CARNEY, 2019).

A idade média dos animais acometidos por esta afecção é de 8 anos, variando entre 3 e 15 anos. As raças Persa, Abissínio, Siamês, Himalaio e Birmanês são descritas como tendo uma predisposição genética a este complexo, manifestando-se de forma mais severa do que em outras raças.

Sinais clínicos

Os sinais clínicos típicos incluem dor oral intensa com capacidade reduzida de preensão alimentar, ptialismo, sialorréia, desidratação, comportamento de higiene reduzido e halitose. Devido à dor e ao incômodo, o animal pode apresentar também letargia, hiporexia ou anorexia, perda de peso e alterações comportamentais.

Muitas vezes os sinais se desenvolvem de forma discreta no início da doença, portanto é essencial que, durante toda consulta clínica, o Médico-Veterinário realize um exame físico completo e que inclua a avaliação da cavidade oral do paciente. A gengivite em gatos é um achado frequente durante consultas, portanto cabe ao profissional investigar as causas e ficar atento aos sinais de evolução da doença.

Diagnóstico

Os felinos acometidos geralmente são levados ao consultório veterinário com histórico de várias tentativas de tratamentos anteriores e ocorrência de recidivas, caracterizando uma doença oral recorrente.

A confirmação da suspeita diagnóstica pode ser feita com base na anamnese detalhada associada ao exame físico minucioso, que inclui a inspeção oral, além da realização de exame de imagem para a avaliação das estruturas da cavidade oral. O exame radiográfico odontológico é imprescindível para identificação de lesões de reabsorção odontoclásticas que, com frequência, estão presentes na gengivoestomatite.

A doença pode ser classificada de grau 0 a IV, de acordo com a intensidade e os tipos de lesões na cavidade oral.

Uma vez diagnosticada, as opções terapêuticas disponíveis para o complexo gengivoestomatite felino incluem tratamento médico conservador ou intervenção cirúrgica, como será abordado a seguir.

Tratamento cirúrgico

Em muitos casos, o tratamento cirúrgico é recomendado, pois o problema é resolvido somente com a extração da dentição. São retirados principalmente os dentes pré-molares e molares, porém a extração dentária total também pode ser necessária.

É importante ressaltar com os tutores que os felinos geralmente se adaptam bem após a remoção dentária, pois não apresentam dependência significativa dos mecanismos de mastigação, já que o gato é um carnívoro estrito com anatomia dentária desenvolvida para rasgar tecidos de suas presas, ao contrário do cão que possui os dentes molares e pré-molares mais desenvolvidos.

Ou seja, a extração de dente em gatos ainda é um receio de muitos tutores que desconhecem as necessidades e instintos de seus pets. Diante disso, é papel do Médico-Veterinário esclarecer todas as dúvidas durante a consulta médica, além de acompanhar o paciente após o procedimento cirúrgico.

Após a cirurgia, é importante oferecer alimento de consistência pastosa de forma gradual, tanto para suprir as necessidades energéticas e nutricionais diárias como também para auxiliar na recuperação do procedimento cirúrgico.

É de extrema importância que o tratamento seja feito por um profissional veterinário odontologista especializado e capacitado a realizar o procedimento de forma correta, evitando possíveis complicações cirúrgicas e prevenindo recidivas que poderiam ser causadas pela extração incorreta.

Tratamento conservador

O manejo clínico inicial consiste em medidas paliativas, incluindo analgésicos sistêmicos para tratar a dor associada, anti-inflamatórios para controlar a inflamação oral, e antibióticos para tratar infecções secundárias.

A resposta ao tratamento instituído pode ser muito variável de acordo com cada gato, e o uso contínuo de imunossupressores e/ou outros fármacos pode causar problemas como predisposição a obesidade e outras comorbidades (principalmente em animais idosos), colaborando para que muitas vezes o prognóstico seja ruim.

Do ponto de vista dietético, o fornecimento de alimento úmido para o gato pode facilitar o manejo alimentar, uma vez que sua consistência favorece os processos de preensão, mastigação e deglutição, auxiliando na ingestão da quantidade diária recomendada.

Como manter a saúde bucal do gato em dia para evitar afecções odontológicas?

As afecções buco-dentárias comprometem a saúde geral dos felinos, e levar os pets a consultas periódicas com o Médico-Veterinário é importante para que o profissional possa acompanhar o bem-estar do animal e identificar precocemente possíveis alterações de saúde.

Manter uma dieta saudável específica para cada felino de acordo com raça, idade, estado reprodutivo, estilo de vida e sensibilidades contribui para o fortalecimento do sistema imunológico e para a manutenção geral da saúde do pet.

A escovação dentária é outro aspecto importante e que, na grande maioria dos casos, é negligenciada durante a consulta clínica. Condicionar o gato a aceitar que seu tutor realize a escovação é um processo delicado que requer paciência, mas que deve ser incentivado o quanto antes na vida do animal.

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Referências bibliográficas

ABREU, A.C.A. Completo gengivite-estomatite-faringite dos felinos: revisão de literatura. Ufersa, 2012.

PERALTA, S.; CARNEY, P.C. Feline chronic gingivostomatitis is more prevalent in shared households and its risk correlates with the number of cohabiting cats. J Fel Med and Surg, 2019.

SILVA, F.L.; SILVA, C.R.A.; SOUSA, M.P. Complexo gengivite-estomatite-faringite felina: relato de caso. Pubvet, 2020.