O perigo da intoxicação por chocolate em cães e gatos

O perigo da intoxicação por chocolate em cães e gatos

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Alguns riscos relacionados à alimentação inadequada de animais de estimação devem ser relembrados e enfatizados em épocas festivas; saiba mais sobre o perigo da intoxicação por chocolate em cães e gatos.

Diversas substâncias presentes em alimentos humanos ou outros agentes tóxicos (agrotóxicos, raticidas, medicamentos e plantas) podem intoxicar cães, gatos e outros pets de forma acidental, intencional ou por fornecimento inadequado. Geralmente, as intercorrências do tipo costumam ocorrer no ambiente doméstico em que vive o animal.

Falta de conhecimento, negligência, armazenamento e fornecimento de alimentos inadequados são as principais causas de intoxicação alimentar em gatos e cães. A prevalência nesses animais é alta e o número de atendimentos em clínicas e hospitais veterinários vem aumentando anualmente (CONCEIÇÃO e ORTIZ; 2015).

A prevalência é maior nos cães, visto que os felinos possuem um paladar mais seletivo em relação a novas texturas e gostos, portanto não aceitam alimentos desconhecidos com facilidade. A subnotificação desses casos, no entanto, pode ocorrer (CATOZO et al.; 2022) e o tutor deve ficar atento ao que seu gato consome.

Dentre os principais alimentos, os que possuem maior risco de intoxicação em cães e gatos  incluem:

  • Chocolate, uvas e uvas passas, alho, cebola, cebolinha, alho-poró, xilitol e macadâmia.

Embora o chocolate seja um alimento com elevada palatabilidade, oferecê-lo a cães e gatos não é recomendado, porque sua eliminação é muito lenta em comparação com a taxa de outras espécies, incluindo a do homem (GIANNICO et al.; 2014). O risco de intoxicação por chocolate em cães e gatos nas épocas festivas é elevado e requer atenção, pois o problema pode representar um prognóstico bastante particular.

Entenda como a ingestão da teobromina e de outras substâncias presentes no chocolate podem ser tão prejudiciais aos seus pacientes!

Como ocorre a intoxicação por chocolate em cães e gatos?

O chocolate é formulado com quantidades elevadas de lipídios, carboidratos, aminas biogênicas, neuropeptídeos e metil-xantinas, assim como teobromina e cafeína. A concentração de teobromina presente no chocolate é bem mais elevada em relação a de cafeína. Além disso, o principal ingrediente do chocolate é a manteiga de cacau, e é justamente nela em que se concentra a maior quantidade de teobromina (GIANNICO et al.; 2014).

As substâncias fitoquímicas presentes no cacau, principalmente a teobromina e a metil-xantina, são tóxicas e extremamente nocivas ao organismo da maioria dos animais. Pode ocorrer elevação do estímulo da atividade cerebral, ação diurética e elevação da intensidade do esforço muscular cardíaco, predispondo ação vasoconstritora e arritmias. Um dos sinais clínicos mais percebidos pelo tutor e o que o faz buscar ajuda médico veterinária é a presença de diarreia líquida em grande quantidade, além de prostração, anorexia etc.

Nos casos mais graves de intoxicação por chocolate em cães e gatos pode ocorrer o óbito do paciente (GIANNICO et al.; 2014; CONCEIÇÃO e ORTIZ; 2015).

As metil-xantinas são lipossolúveis e são absorvidas no estômago e intestino do animal, podendo penetrar as barreiras placentárias e hematoencefálicas (GIANNICO et al.; 2014).

Como já vimos, embora o chocolate não seja tóxico aos seres humanos, suas substâncias podem ser altamente nocivas para gatos e cães, uma vez que os animais domésticos metabolizam a teobromina de forma mais lenta do que os humanos, favorecendo o quadro de intoxicação alimentar. A sensibilidade individual, as quantidades e  as concentrações de chocolate consumido também exercem influência nos casos de intoxicação (GIANNICO et al.; 2014).

O tipo de chocolate pode influenciar na gravidade do caso, pois a quantidade de teobromina varia em cada um deles. Nesses casos, o potencial de intoxicação é ainda mais elevado quando o chocolate é amargo ou meio amargo, já que essas variedades levam maior quantidade de teobromina em sua composição GIANNICO et al.; 2014).

Embora os chocolates brancos ou ao leite possuam menor quantidade de teobromina, eles também não devem ser oferecidos aos animais, uma vez que o risco de intoxicação ainda existe. Além disso, as demais substâncias presentes no alimento, como cafeína, açúcar, adoçantes e altos índices de gordura, possuem alto potencial de causar outros problemas.

Veja abaixo a quantidade média de teobromina presente por cada grama de produto nos variados tipos de chocolate (GIANNICO et al.; 2014):

  • Chocolate branco: possui 0,009mg de teobromina.
  • Chocolate ao leite: possui 2,046mg de teobromina.
  • Chocolate meio amargo: possui 4,586mg de teobromina.
  • Chocolate amargo: possui 13,863mg de teobromina.
  • Cacau em pó: possui 25,997mg de teobromina.

Intoxicação por teobromina e o alerta de risco em época de festas!

Vale alertar sobre o risco elevado de intoxicação alimentar, incluindo a intoxicação por chocolate, em  épocas de festas, como a Páscoa e o Natal. Nesses períodos, há uma elevação do consumo de chocolate e outros tipos de alimentos pelos seres humanos e os animais podem acabar ingerindo-os de forma acidental. Há casos em que os próprios tutores oferecem o alimento ao animal, pois acabam ficando com pena e acreditam que uma pequena quantidade não fará mal ao pet, o que não é verdade.

Sinais clínicos de intoxicação por chocolate em cães e gatos

Os sinais clínicos de intoxicação por chocolate em cães e gatos normalmente são agudos e variam de acordo com o tipo de chocolate ingerido. Além disso, outros fatores influenciam nos efeitos e gravidade da intoxicação, como o peso do animal, a quantidade e tipo de chocolate ingerido e a frequência (GIANNICO et al.; 2014).

Geralmente, nos pacientes intoxicados pela ingestão de chocolate, observa-se a presença de sinais clínicos no período entre 6 e 12 horas após consumo, e a teobromina pode permanecer ativa no organismo por até 24 horas (GIANNICO et al.; 2014).

As principais manifestações clínicas incluem (GIANNICO et al.; 2014):

  • Náusea.
  • Êmese.
  • Diarreia.
  • Dispnéia.
  • Polidipsia.
  • Poliúria.
  • Polaquiúria.

Além dessas, outras alterações e sinais clínicos mais avançados podem ser comuns, como (GIANNICO et al.; 2014):

  • Desidratação.
  • Hiperatividade.
  • Arritmias cardíacas.
  • Hemorragias internas.
  • Hipertensão arterial sistêmica.
  • Taquipnéia.
  • Cianose.
  • Hipertermia.
  • Fraqueza.
  • Tremores.
  • Ataxia.
  • Convulsões.
  • Coma e, até mesmo o óbito.

Como manejar o paciente em casos de intoxicação por chocolate

O diagnóstico é realizado basicamente com base na anamnese e presença de sinais clínicos. As perguntas sobre manejo alimentar e histórico das últimas refeições são imprescindíveis para identificar o problema.

O tratamento geralmente é de suporte e sintomatológico. Caso o paciente tenha ingerido o chocolate em período inferior a 2 horas, pode ser administrado carvão ativado ou a realização da indução do vômito para reduzir ou eliminar parte do alimento ingerido e, consequentemente, diminuir a absorção das toxinas (GIANNICO et al.; 2014).

O atendimento precoce para intoxicação por chocolate em cães e gatos não dispensa o tratamento de suporte e medicamentoso, que deve ser realizado praticamente em todos os casos, sendo fundamentais para que o paciente possa se restabelecer e envolvem (GIANNICO et al.; 2014):

  • Reposição e manutenção hidroeletrolítica, através da fluidoterapia.
  • Monitoramento cardíaco para identificação de possíveis arritmias.
  • Controle de convulsões: caso o paciente esteja convulsionando, recomenda-se a intervenção medicamentosa com Fenobarbital e Diazepam.
  • Uso de sonda uretral, que favorece o esvaziamento da vesícula urinária e consequentemente diminui a absorção da metil-xantina.
  • Internação do paciente, que é altamente recomendada para melhor acompanhamento da evolução do quadro.

Orientações importantes para os tutores

O Médico-Veterinário deve orientar o tutor sempre que possível a não oferecer ao animal nenhum resto de alimento humano e petiscos, principalmente os que contenham alho, cebola, chocolate ou qualquer outro alimento que não tenha sido prescrito por um profissional.

Como vimos, uma pequena quantidade de chocolate ou alimento impróprio pode ter toxinas ou substâncias de difícil metabolização e eliminação pelo organismo do pet, além de serem suficientes para provocar a intoxicação. Sendo assim, é importante evidenciar que até mesmo pequenas quantidades podem causar sintomas graves ao pet e até mesmo levá-los a óbito.

Ao perceber sinais de intoxicação por chocolate ou outros alimentos, deve-se levar o animal imediatamente para uma clínica ou hospital veterinário mais próximo. Nesses casos, o socorro imediato pode ser crucial para salvar a vida do paciente intoxicado.

O fornecimento errôneo de diversos alimentos pode ser muito prejudicial à saúde do pet, não somente pela intoxicação, mas porque pode gerar sobrepeso e obesidade, diabetes mellitus (particularmente em gatos, devido à obesidade) e outros problemas.

Por isso, a prevenção é a melhor forma de reduzir a incidência de intoxicações pelo consumo de chocolate e outras afecções.

É imprescindível que o tutor alimente o pet de forma criteriosa e cuidadosa, com alimentos balanceados e de qualidade superior, que possuam todos os nutrientes necessários para seu crescimento e desenvolvimento saudáveis e também para a manutenção do organismo quando adultos. Esses alimentos devem ser prescritos pelo Médico-Veterinário e fornecidos em quantidades e frequências ideais.

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Referências:

CONCEIÇÃO, Johon Lennon dos Santos; ORTIZ, Mariana Aparecida Lopes. Intoxicação domiciliar de cães e gatos. Revista UNINGÁ Review, v. 24, n. 2, p. 59-62, 2015. Disponível em: https://revista.uninga.br/uningareviews/article/view/1692. Acesso em: 30 dez. 2022.

GIANNICO, Amália Turner et al. Alimentos tóxicos para cães e gatos. Colloquium Agrariae, v. 10, n. 1, p. 69-86, 2014. Disponível em: https://revistas.unoeste.br/index.php/ca/article/view/870. Acesso em: 30 dez. 2022.

CATOZO, Raquel Gomes et al. Intoxicação em gatos atendidos em um hospital veterinário universitário da cidade de São Paulo: análise retrospectiva de 2010 a 2021. Revista de Educação Continuada em Medicina

Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 20, n. 1, p. 1-10, 2022. Disponível em: https://www.revistamvez-crmvsp.com.br/index.php/recmvz/article/view/38329. Acesso em: 29 dez. 2022.

FEDIAF. Nutritional Guidelines: For Complete and Complementary Pet Food for Cats and Dogs, Belgiun, p. 3-98. 2021. Disponível em: https://europeanpetfood.org/wp-content/uploads/2022/03/Updated-Nutritional-Guidelines.pdf. Acesso em: 15 jan. 2023.