Constipação em cães e o papel da nutrição como importante coadjuvante

Constipação em cães e o papel da nutrição como importante coadjuvante

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A constipação em cães é uma condição de diferentes possíveis causas. Confira os principais fatores envolvidos nesta enfermidade.

Os distúrbios gastrointestinais são uma das razões mais comuns que fazem com que o tutor leve seus cães ao médico-veterinário em busca de cuidados. A constipação, definida como um distúrbio de defecação infrequente, com acúmulo de fezes excessivamente ressecadas ou endurecidas, está entre esses problemas.

Comumente acompanhada por tenesmos, caracteriza um sinal clínico de que há alguma anormalidade no cólon, não uma doença. A constipação pode ser resultado de desidratação excessiva do conteúdo luminal e/ou motilidade prejudicada, mas também pode apresentar diferentes etiologias e, muitas vezes, mais de um fator pode ser identificado.

O que é constipação e como ela afeta os cães?

Constipação é um distúrbio de defecação, no qual ocorre diminuição na frequência e/ou dificuldade de evacuação (disquezia e tenesmo), resultando no acúmulo intestinal de fezes duras, extremamente ressecadas e mais compactadas, como o aspecto número 1 de classificação do sistema de escore fecal para cães, conforme podemos ver abaixo. Quando a constipação ocorre de forma persistente e prolongada é empregado o termo obstipação.

Tabela de escore fecal

A constipação em cães pode levar a quadros de desconforto abdominal (dor), com relutância ao movimento e prostração, influenciando diretamente na qualidade de vida do paciente. Além disso, o mal funcionamento intestinal com compactação de fezes pode levar ao retardo do esvaziamento gástrico, desencadeando episódios de vômitos.

Principais causas de constipação em cães

A constipação é um sinal clínico que pode resultar de diversos fatores, e compreender as causas subjacentes é fundamental para a implementação do manejo correto de cada animal, incluindo medidas preventivas e tratamentos eficazes.

Agora, vamos explorar as principais razões que podem levar à constipação em cães.

1. Dieta de baixa qualidade nutricional

A dieta de baixa qualidade nutricional, com proteínas de baixa digestibilidade, pode levar ao aumento da fermentação intestinal, retardando a motilidade intestinal. Além disso, o baixo teor de fibras alimentares diminui a viscosidade e a quantidade de água no conteúdo fecal, dificultando sua eliminação.

A manutenção ideal da ingestão hídrica também é um fator importante para evitar a constipação em cães, afinal, exerce influência direta na consistência das fezes e auxilia no processo de peristaltismo.

Vale ressaltar que o cão de pequeno porte apresenta como característica um tempo menor de fermentação intestinal no cólon, o que reduz a quantidade de água retida nas fezes. Em adição, esses cães apresentam maior comprimento intestinal proporcional ao peso se comparado a cães maiores. Isso significa que possuem uma maior área de absorção intestinal, o que favorece maior absorção de água no cólon e maior ressecamento das fezes.

2. Fatores ambientais

Os fatores ambientais, como mudanças no manejo ou até mesmo hospitalização do paciente, também podem desencadear constipação em cães predispostos a essa condição. Por exemplo, cães que dependem de uma rotina de passeios para defecar e não são levados o número de vezes suficientes, podem apresentar quadros de constipação.

Outro erro comum de manejo é repreender o filhote que defeca em local inapropriado. Ele pode entender que a bronca foi por causa da defecação e não pelo local. O mais correto é empregar a técnica do reforço positivo, recompensando-o por fazer no local certo e não o repreendendo por defecar no local errado.

3. Quadros obstrutivos

Os quadros obstrutivos comumente fazem parte da rotina veterinária, podem ser graves e caracterizarem uma emergência. A obstrução pode ocorrer em diferentes partes do trato gastrointestinal (TGI), e, inclusive, pode ser causada por fatores externos ao TGI. Isso irá interferir no fluxo normal do conteúdo fecal, gerando sinais clínicos que incluem constipação.

Algumas das principais causas de constipação em cães relacionadas a quadros obstrutivos são:

  • ingestão de corpo estranho;
  • tumores;
  • estenose colorretal;
  • hérnia perineal;
  • saculite anal;
  • fraturas pélvicas;
  • intussuscepção intestinal;
  • aumento prostático.

4. Distúrbios neuromusculares

Distúrbios neuromusculares podem contribuir para a constipação em cães – por afetarem a função muscular e neuronal, que controlam o trato gastrointestinal e trabalham em conjunto, permitindo a digestão e evolução adequada do bolo alimentar.

Logo, anomalias congênitas, lesões na medula e enfermidades que levem ao desenvolvimento de megacólon estão diretamente relacionadas com a retenção de fezes e até mesmo à formação de grandes fecalomas.

5. Distúrbios metabólicos ou eletrolíticos

Ainda podemos observar constipação em cães que apresentem distúrbios metabólicos ou eletrolíticos, pois estes podem afetar diversos processos fisiológicos, alterando a absorção de água no TGI, também influenciando o peristaltismo evolutivo.

Assim, podemos evidenciar:

  • hipotireoidismo;
  • desidratação;
  • hipocalemia.

6. Causas iatrogênicas

As causas iatrogênicas da constipação em cães podem estar relacionadas a administração de alguns fármacos como anestésicos e opioides, assim como procedimentos cirúrgicos abdominais ou em região perianal.

Principais sinais clínicos apresentados em quadros de constipação nos cães

A constipação em cães geralmente apresenta histórico de tenesmo, disquezia, prostração, anorexia e vômitos. No exame físico, o animal pode apresentar aumento de volume abdominal e sensibilidade à palpação.

O médico-veterinário deve considerar que cães pequenos apresentam maior tendência a desenvolver este problema se comparado a cães de grande porte. Isso acontece devido às diferenças anatômicas e fisiológicas no trato gastrointestinal dos cães.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico pode ser feito por meio de anamnese detalhada e exame físico minucioso com a constatação do cólon repleto. Nos exames físico e retal devem ser excluídas causas de obstruções ou processos inflamatórios. As fezes deverão ser examinadas para descartar outras doenças ou presença de materiais estranhos.

Além disso, a realização de exames complementares de imagem (como radiografias pélvicas e ultrassonografia) e exames laboratoriais também são ferramentas úteis para auxiliar na identificação das possíveis causas da constipação em cães.

Constipação em cães: como tratar

A avaliação de cada caso, individualmente, é essencial para uma terapia efetiva, visto que se trata de uma condição multifatorial.

A abordagem terapêutica, portanto, dependerá da etiologia e poderá ser clínica (envolvendo uso de laxantes, enemas, fármacos pró-cinéticos e adaptações dietéticas) ou cirúrgica, caso a constipação em cães seja prolongada e evolua para um quadro mais grave e que comprometa o estado de saúde geral do paciente.

A cirurgia fica indicada na presença de lesões obstrutivas do canal pélvico ou lesões compressivas; ou ainda quando todas as medidas clínicas ou dietéticas falharem.

A importância da adequação do manejo alimentar

A modificação dietética é uma parte importante na abordagem da constipação em cães, tanto para tratamento clínico como para manutenção da saúde intestinal e prevenção da ocorrência de novos quadros. O tratamento dietético geralmente é essencial nos animais com doenças no trato gastrointestinal.

A dieta deve ser formulada com o uso de ingredientes específicos para garantir a máxima digestibilidade e favorecer a saúde intestinal. Confira abaixo as principais estratégias nutricionais empregadas nestes alimentos:

1. Proteínas de alto valor biológico

As proteínas devem apresentar altíssima digestibilidade (> 90% de absorção), ou seja, possuírem um alto aproveitamento pelo organismo, reduzindo assim a quantidade de proteína residual que será fermentada pelo intestino.

Quanto maior a digestibilidade, menor o resíduo de alimento no colón e a fermentação – o que, consequentemente, resulta em um melhor escore fecal. Essa alta digestibilidade favorece uma digestão saudável, contribuindo para o trânsito intestinal ideal.

2. Fibras Dietéticas

Alguns casos de constipação em cães são responsivos ao uso de uma dieta com maior teor de fibras. As fontes de fibras utilizadas na composição do alimento devem ser selecionadas de acordo com suas propriedades funcionais.

Existem dois tipos principais de fibras, as insolúveis e não-fermentáveis, e as solúveis e fermentáveis, sendo que cada tipo de fibra apresenta suas particularidades. Ambas são importantes na dieta do paciente constipado.

O uso de fibras insolúveis e não-fermentáveis, como a celulose, aumenta o volume fecal e aumenta a frequência de defecação em indivíduos saudáveis. No entanto, pode exacerbar a constipação em cães com motilidade colônica comprometida.

Por outro lado, fibras solúveis como o Psyllium e a polpa de beterraba, aumentam a viscosidade e o conteúdo de águas nas fezes e, quando combinadas com pequena quantidade de fibras insolúveis, exercem efeito sinérgico, auxiliando na motilidade e contribuindo para a formação de um bolo fecal que possa ser mais facilmente eliminado.

Além disso, a atividade e a fermentação bacterianas exercem um efeito positivo altamente benéfico sobre a mucosa colônica por meio da liberação de ácidos graxos de cadeia curta, que apresentam importante papel na motilidade do cólon e na manutenção da saúde intestinal.

Assim como o excesso de fibras insolúveis e não-fermentáveis pode agravar o quadro de constipação em cães, o uso indiscriminado das fibras solúveis e fermentáveis também não é desejado, pois poderia causar excesso de fermentação no cólon.

O ideal, portanto, é combinar os diferentes tipos de fibras em quantidades e proporções equilibradas, para que o resultado traga benefícios ao quadro do paciente.

3. Ingestão hídrica

A ingestão hídrica deve ser estimulada, pois a água presente no lúmen intestinal irá se incorporar ao bolo fecal e auxiliará a passagem das fezes pelo intestino, especialmente quando associada ao uso das fibras mencionadas acima.

O uso de alimento úmido - isoladamente ou em combinação com alimento seco – é uma estratégia simples e que, muitas vezes, é eficaz para a constipação em cães, uma vez que sua composição é de 60 a 87% de água.

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Como auxílio nutricional para os casos de constipação em cães, recomendamos a administração do alimento Gastrointestinal seco e úmido, que favorece a saúde digestiva e o trânsito intestinal através de uma fórmula altamente digestível composta por fibras balanceadas e prebióticos, capaz de auxiliar na redução dos distúrbios de absorção intestinal. Vale ressaltar que essa alimentação é contraindicada em quadros de outras enfermidades envolvidas, assim como enteropatia exsudativa, linfangiectasia e pancreatite.

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