Castração em gatos: entendendo a importância do procedimento para os felinos

Castração em gatos: entendendo a importância do procedimento para os felinos

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É importante que o médico-veterinário seja capaz de orientar tutores sobre a castração em gatos e garantir que os procedimentos de cuidado, riscos e benefícios sejam facilmente compreendidos. Saiba mais!  

Apesar de aparentemente simples, a resposta sobre a decisão de castrar ou não um felino é altamente complexa, contraditória e pode ter implicações – não só no comportamento do animal, mas também em fatores de risco ou mesmo na imunidade do animal para o desenvolvimento de doenças (Vendramini, 2020). 

O que é a castração? 

A castração refere-se à remoção dos órgãos sexuais masculinos ou femininos. Ela se divide em ovariohisterectomia (OHE) (remoção cirúrgica dos ovários e do útero), ovariectomia (OVE) (remoção cirúrgica apenas dos ovários) e orquiectomia (remoção cirúrgica dos testículos).  

A cirurgia poupadora de ovário envolve a remoção completa do útero (histerectomia), deixando os ovários intactos, por meio de uma abordagem ventral mediana ou lateral. Tradicionalmente, a ovariohisterectomia em gatas é rotineiramente realizada por meio de uma abordagem ventral mediana ou lateral (Babu et.al., 2018; Fossum, 2019).  

Diferente da orquiectomia, a vasectomia é a ligadura e transecção do ducto deferente nos machos, bloqueando a passagem dos espermatozoides, mas sem que sejam retirados os testículos do animal. 

Vale ressaltar a importância de exames físicos e laboratoriais pré-cirurgicos para assegurar a condição geral do animal. Embora as considerações econômicas sejam importantes, um exame pré-operatório completo é um custo que vale a pena, já que muitas vezes previne ou prevê complicações dispendiosas.  

A determinação do hematócrito, proteína total no sangue ou preferencialmente a concentração de creatinina sérica e a gravidade específica da urina, podem ser suficientes para submeter animais jovens e saudáveis a procedimentos eletivos. Se o animal tiver mais de 6 anos ou apresentar sinais sistêmicos, deve-se fazer hemograma completo, perfil bioquímico sérico e exame de urina (Fossum, 2019). 

Toda castração é eletiva? 

Apesar de os médicos-veterinários realizarem a indicação de castração de animais como forma de prevenir doenças – já que ela aumenta a expectativa de vida e promove uma melhora comportamental -, por receio de complicações, mitos associados ao assunto ou mesmo desejo de ter uma ninhada do seu animal, os tutores podem adiar a realização da castração.  

Porém há situações em que a cirurgia de castração em gatos não é eletiva, conforme os casos expostos a seguir (Howe, 2015; Silva, 2017; Fossum, 2019): 

  • piometra 
  • metrite 
  • neoplasias 
    – ovariana
    – uterina
    – vaginal
    – testicular 
  • cistos 
  • abcesso 
  • trauma 
  • torção uterina 
  • prolapso uterino 
  • controle de algumas anormalidades 
    – e
    ndócrinas
    diabetes
    epilepsia
    – dermatoses
    demodex generalizado 
  • anormalidades 
    – c
    ongênitas
    – epididimárias
    – escroto
    – testículos 

4 principais benefícios da castração em gatos 

Redução de comportamento territorialista 

Outro assunto importante que o médico-veterinário pode abordar com o tutor são os benefícios da castração em gatos, destacando a influência do procedimento no comportamento do animal. Tal influência pode diminuir muito os casos de comportamentos como a pulverização de urina e agressão associada à presença de fêmeas em estro (agressão entre fêmeas ou entre machos alojados com essas fêmeas).  

Além disso, após a castração felina há a diminuição dos hormônios esteróides gonadais, o que faz com que diminuam os comportamentos territorialistas do felino (Vendramini, 2020). 

Prevenção de doenças contagiosas 

Há doenças que são transmitidas por mordidas ou contato com mucosa E é importante lembrar que tanto machos como fêmeas não castrados e com acesso ao ar livre podem brigar, aumentando o risco da contração de doenças infecciosas como (Addie, 2019; Gremião, 2021): 

Controle populacional 

Felinos são animais multipares de gestação relativamente curta, com potencial de gerar uma prole numerosa que pode atingir a maturidade sexual aos 6 meses de idade. Esses fatores, associados à falta de responsabilidade dos tutores, contribuem para o abandono e crescimento descontrolado da população de gatos (Fossum, 2019; Vendramini, 2020). 

A castração de gatos permite reduzir essa população, minimizando o risco de abandono de ninhadas indesejadas. Também é importante que o médico-veterinário esteja munido de informações para a orientação de tutores, já que a conscientização é um fator importante para reduzir as populações de animais errantes e em abrigos (Vendramini, 2020). 

Prevenção de outras doenças 

Tumores da glândula mamária são comuns em gatas não castradas. Eles são muito mais propensos a serem malignos e a castração em idade menor de seis meses promove uma redução de até 91% no risco de carcinomas mamários em felinos. Além disso, a castração de gatas com menos de um ano de idade também foi associada a uma redução de 86% no risco de desenvolver neoplasia da glândula mamária, em comparação com fêmeas não castradas (Corr, 2017, Vendramini, 2020). 

Aumento da expectativa de vida 

Em 2013 a rede de Hospitais Banfield em seu relatório de saúde de animais de estimação avaliou a expectativa de vida de gatos com base em 460.000 gatos.  Entre machos e fêmeas, a expectativa de vida foi maior para os gatos castrados do que para os gatos não castrados, representando 39% e 62% maior em fêmeas e machos respectivamente.  

Entre as fêmeas, a longevidade das gatas castradas foi de 13,1 anos e das não castradas de 9,5 anos. Já entre os machos, a expectativa de vida para gatos castrados era de 11,8 anos e de 7,5 anos para os não castrados.  

Os motivos para essa diferença não são determinados e podem incluir variações no início de doenças terminais, fatores ambientais como animais com e sem acesso a áreas externas e incidência de brigas ou acidentes (por exemplo, atropelamento). 

4 principais dúvidas sobre castração em gatos 

Existe idade ideal para castrar o felino? 

No Brasil, habitualmente, a castração em gatos é feita após o animal completar seis meses. Apesar disso, alguns estudos demonstram que o procedimento de castração precoce ocorre a partir do momento que o animal esteja na sexta semana de idade.  

Não há grande diferença entre a castração convencional e precoce. No entanto, também não há consenso entre benefícios ou malefícios, sobre o protocolo anestésico adequado para paciente pediátrico e nem em relação à técnica cirúrgica adotada (Gravinatti et.al., 2015). 

O desenvolvimento do esqueleto é regulado por hormônios gonadais que sinalizam o fechamento das placas epifisárias dos ossos longos. Assim, a castração antes do fechamento da placa epifisária pode resultar no supercrescimento desses ossos longos e contribuir para uma maior prevalência de distúrbios articulares.  

Além disso, estudos também sugeriram que a castração pode influenciar o risco de ruptura do ligamento cruzado cranial em animais de estimação (Vendramini, 2020).  

O ciclo estral da gata influência no procedimento? 

Devido às características do ciclo estral da gata, antes do procedimento cirúrgico, é importante identificar se a gata não está na fase do estro. Isso deve ser feito para evitar hemorragia excessiva por conta do estrógeno e ocorrências causadas pelo aumento do peso corporal e o tempo prolongado da cirurgia.  (Fossum,2008) 

Quais mudanças metabólicas ocorrem no animal após a castração? 

Os hormônios gonais, estradiol, progesterona e testosterona não apenas controlam a produção e células reprodutivas, mas possuem efeito no metabolismo geral e na ingestão de alimentos. Com a castração em gatos e a interrupção da produção e liberação de hormônios gonadais, há elevação nos níveis de hormônios hipofisários (a prolactina, a leptina e a hiperleptinemia) que induzem a obesidade e são associadas à sensação de saciedade (Kanchuk et al., 2003; Danks, 2016; Vendramini, 2020). 

A castração gera obesidade? 

O ganho de peso após a castração em felinos é o resultado do aumento da ingestão de energia ad libitum e diminuição do gasto de energia. O aumento do consumo voluntário de alimentos ocorre rapidamente, iniciando-se 3 dias após a castração em gatos.   

Hormônios como a insulina e a leptina são modificados por mediadores gonadais, que indicam o estado das reservas energéticas corporais ao sistema nervoso central, sendo esse efeito agudo decorrente da retirada dos hormônios gonadais. Não está claro como as concentrações plasmáticas desses hormônios influenciam na questão (Kanchuk et al., 2003; Vendramini, 2020) 

Quais cuidados os tutores devem ter em relação ao pet castrado? 

Algumas das recomendações que os médicos-veterinários devem repassar aos tutores são (Danks, 2016; Larsen, 2016; IFAW, 2017; Vendramini, 2020): 

  • garantir abrigo calmo e com conforto térmico para recuperação após a cirurgia;  
  • fornecer dieta específica para animais castrados, de acordo com recomendação nutricional; 
  • água potável disponível o tempo todo; 
  • uso de roupas cirúrgicas e colar elizabetano são formas de garantir que o animal não tenha acesso à área cirúrgica;  
  • geralmente não há necessidade de que a região cirúrgica seja tocada ou lavada, mas é importante que ela seja verificada diariamente e com atenção, caso haja: 
    – sinais de inchaço
    – vermelhidão
    – secreção
    – abertura da incisão
    – perda de suturas 
  • a prescrição de alimento para animais castrados e exercícios para garantir a manutenção de uma condição corporal adequada são indicados, já que a castração promove uma série de alterações fisiológicas no metabolismo dos animais. 

Pontos-chave de avaliação e manejo do pet castrado para os médicos-veterinários 

Além das recomendações imediatas de cuidados com os gatos castrados, tendo ciência de todas as alterações que podem ocorrer pós-castração, é importante o médico-veterinário ter em mente alguns pontos de avaliação, a fim de auxiliar o tutor no manejo do gato castrado (Larsen, 2016; Loureiro, 2016). 

  • Prescrição de um alimento adequado para gatos castrados, que possua um perfil nutricional com teor moderado de calorias, alto teor de proteínas e fibras, além de nutrientes que favoreçam a saúde digestiva e promovam saciedade. Vale ressaltar que, quando há a prescrição do alimento por escrito, há maior probabilidade de compromisso do tutor com o tratamento e menos erros no manejo alimentar. 
  • Durante os primeiros três meses pós cirurgia é possível identificar o aumento do consumo voluntário, sendo interessante a adoção de acompanhamento do gato castrado como conduta pós castração – com consultas mensais por pelo menos três meses após a cirurgia.  
  • O registro do peso e a conversa com os tutores contribui para a educação e conscientização de que a prevenção do ganho de peso e o manejo nutricional adequado são mais simples do que a perda de peso no caso de estas medidas serem negligenciadas.  

A ROYAL CANIN® desenvolveu uma ferramenta a  Calculadora para Prescrições que irá te auxiliar na sua rotina clínica, no processo de prescrição e conscientização de tutores. 

Entendendo a importância da nutrição para o gato castrado 

O estado hormonal e a redução da atividade física são dois fatores importantes que afetam o gasto energético, levando à diminuição dessa demanda e, consequentemente, à necessidade de adequação do manejo nutricional após a castração (Vendramini, 2020). 

castração de gatos têm alimentos específicos na Royal Canin

A ROYAL CANIN® apresenta soluções nutricionais específicas para o manejo nutricional de gatos castrados a partir de 6 meses de idade na linha exclusiva CASTRADOS®, oferecendo opções secas e úmidas que promovem saúde e bem-estar e contribuem para evitar o ganho de peso após a castração. 

Referências Bibliográficas 

Addie, D.D. Feline infectious peritonitis: answers to frequently asked questions concerning FIP and coronavirus. Veterinary Nursing Journal, v.34, n.8, p. 201–6, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7147232/ Acesso em: 17/5/2023. 

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Babu, M., Krishnaswamy, A., Nethra,  R., Narasimhamurthy. A Simple Technique for Ovariohysterectomy in the Cat. Int.J.Curr.Microbiol.App.Sci, v.7, n.8, p. 2554-2561. 2018. Disponível em: https://www.ijcmas.com/7-8-2018/M.%20Babu,%20et%20al.pdf Acesso em: 16/05/2023. 

Corr, S., Sandǿe2, P., Pafmer, C. Review of Medical Effects and Adverse Effects of Neutering. World Small Animal Veterinary Association Congress Proceedings, 2017. Disponível em: https://www.vin.com/apputil/content/defaultadv1.aspx?pId=20539&catId=113428&id=8506315&ind=105&objTypeID=17 Acesso em: 16/05/2023 

Danks, L. Neutering and weight gain in cats – what’s the evidence?. Improve Veterinary Practice,  2016. Disponivel em: https://www.veterinary-practice.com/article/neutering-and-weight-gain-in-cats-whats-the-evidence Acesso em: 17/05/2023 

Gravinatti, M.L.,Constantino, C., Biondo, A.W. Manejo populacional e adotabilidade de cães do projeto de extensão “adote os cães da UFPR”. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 13, n. 2, p. 84-84,  2015. Disponivel em: https://www.revistamvez-crmvsp.com.br/index.php/recmvz/article/view/28209 Acesso em: 17/05/2023 

Gremião, I. D. F., Martins da Silva da Rocha, E., Montenegro, H., Carneiro, A. J. B., Xavier, M. O., de Farias, M. R., Monti, F., Mansho, W., de Macedo Assunção Pereira, R. H., Pereira, S. A., & Lopes-Bezerra, L. M. Guideline for the management of feline sporotrichosis caused by Sporothrix brasiliensis and literature revision. Brazilian journal of microbiology, v.52, n.1, p. 107–124, 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32990922/ Acesso em: 16/05/2023. 

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