Como criar um ambiente clínico-hospitalar acolhedor para gatos?

Como criar um ambiente clínico-hospitalar acolhedor para gatos?

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O comportamento natural dos gatos não os preparam para lidar com a prática veterinária, porém, existem maneiras de amenizar o estresse no ambiente clínico-hospitalar

Muitos tutores e Médicos-Veterinários ficam apreensivos no momento da realização de qualquer procedimento no contexto hospitalar, desde uma simples consulta até mesmo em casos de internação. As medidas práticas de mitigar o estresse de toda a equipe, tutor e animal estão sendo cada vez mais adotadas globalmente e são de grande auxílio no sucesso geral do atendimento. Deve-se considerar que o estresse atrapalha o bem-estar animal, tem efeitos negativos no sistema imunológico e aumenta a sensibilidade à dor.

Os gatos são muito apegados ao seu território e a maioria de nossos gatos de estimação vive uma vida muito protegida, com uma rotina muito previsível que não envolve viajar para longe de casa. Ele é retirado de seu ambiente familiar, geralmente empurrado para dentro de um veículo barulhento, levado para a clínica veterinária e depois direto para a recepção, onde há cheiros intensos de muitos outros animais e pessoas. Como se não bastasse todo o estresse até então, eles são levados para o consultório onde uma pessoa desconhecida os examina e administra vários tratamentos. Qualquer uma dessas coisas pode ser estressante e, quando todas são combinadas, não é de admirar que o gato esteja assustado ou estressado e que a experiência de ir à clínica veterinária seja algo extremamente traumatizante.

A seguir, vamos segmentar o processo de visita ao Médico-Veterinário, passo-a-passo, e as melhores práticas a serem adotadas por todos em cada uma dessas etapas.

  1. Clínica veterinária

Atualmente há várias clínicas e hospitais veterinários com ambientes apropriados para gatos e com profissionais especializados em medicina felina. A escolha de um local específico para felinos é o primeiro passo para uma ótima experiência tanto do tutor quanto do seu animal. Os horários de menor movimento na clínica são os mais indicados para um atendimento tranquilo.

  1. Transporte

Escolher caixas de transporte para gatos e seguir as seguintes orientações são maneiras importantes de iniciar o trajeto até a clínica com tranquilidade e segurança.

  • As caixas devem ser grandes, leves e fáceis de higienizar com abertura na parte superior
  • Cobrir a caixa de transporte com uma toalha ou cobertor ajuda a manter o gato calmo
  • A caixa deve ser prendida firmemente no veículo para evitar movimentações durante o percurso
  • Transportar o animal na caixa com cuidado é essencial. Movimentos bruscos devem ser evitados.
  • Utilizar a caixa de transporte como local de descanso para o gato auxilia a familiarização do animal
  • Deixar um pano com o cheiro do gato no interior da caixa e borrifar feromônio específico para gatos pelo menos 15 minutos antes de colocá-lo na caixa.
  • Cada gato deve ter a sua própria caixa de transporte.
  • Quando estiver dentro do veículo, colocar uma música baixa, calma e relaxante.
  • Garantir que o ambiente esteja na temperatura adequada para minimizar o estresse térmico.
  • A forma como o tutor age nesse momento também influencia no comportamento do gato, portanto, o ideal é que ele permaneça positivo, agindo calmamente para não agitar o animal.
  • Alguns gatos se agitam com estímulos visuais, por isso cobrir a caixa com uma toalha ou cobertor ajuda a minimizar esses estímulos e, consequentemente, diminuem ansiedade e estresse.
  1. Sala de espera

A sala de espera deve ser separada para gatos com prateleiras ou áreas elevadas, nas quais a caixa de transporte deve ser colocada, mesmo que ainda coberta por uma toalha. Outra característica importante desse ambiente é o silêncio. Os estímulos sonoros são extremamente estressantes para os gatos.

  1. Consultório

A equipe veterinária deve tratar o gato de forma gentil, respeitosa, munidos das habilidades necessárias para um atendimento de excelência. Para isso, é preciso aguardar que o gato se acalme. Em muitos casos o exame clínico pode ser iniciado com o gato dentro da caixa de transporte, após a abertura da grade superior da caixa.

A seguir estão listadas algumas dicas para um atendimento tranquilo:

  • Dividir o processo de exame em pequenos estágios e permitir que o gato se recupere entre eles diminui o risco de exceder seu limiar de tolerância.
  • Aprender a ler a linguagem corporal e as expressões faciais dos felinos é essencial para evitar conflitos desnecessários.
  • Prestar atenção a mudanças sutis na posição da orelha ou tensão corporal pode ajudar a evitar lesões.
  • Suspender temporariamente o manuseio muitas vezes permite que o gato retorne a um estado emocional calmo. Isso pode parecer um simples atraso dos procedimentos, mas, na verdade, será muito benéfico a longo prazo.

Uma característica do medo felino é que ele persistirá por até 30 minutos ou mais após a remoção da situação assustadora e isso significa que os gatos que foram devolvidos à paz de sua gaiola ou cesto ainda podem reagir agressivamente quando estão se aproximou novamente, mesmo que alguns minutos tenham passado. Portanto, é muito melhor interromper um procedimento nos primeiros sinais de tensão do que continuar até o gato ficar realmente com medo e correr o risco de induzir um atraso ainda mais significativo

  1. Hospitalização

Recomendam-se as seguintes medidas para melhorar a experiência dos gatos na internação:

  • Separe fisicamente a localização da unidade de internação de cães e gatos, de preferência com isolamento acústico
  • Use feromônios sintéticos felinos
  • Organize os espaços individuais para que não haja contato visual entre os animais
  • Tocar música de relaxamento específica da espécie ajudará a camuflar sons inesperados que podem assustar os gatos
  • Forneça camas confortáveis ​​e de tamanho apropriado para cada animal. Se possível, peça aos tutores que tragam um cobertor ou uma peça de roupa, uma vez que odores familiares ajudam os animais a se instalarem em novos locais.
  • A unidade de internação felina deve ter estruturas verticais que permitem aos gatos subir e se esconder. Uma plataforma e uma caixa de papelão oferecem segurança aos gatos mais tímidos e são uma fonte de entretenimento para os mais ativos
  1. Indo pra casa

No momento de liberar o animal para casa, deve-se garantir que o transporte seja realizado com calma, na caixa de transporte do gato, com seus panos e toalhas para auxiliar a diminuição do estresse também nessa fase. O tutor deve ser advertido quanto a todos os cuidados de manejo e terapêuticos de forma clara e esclarecedora.

Os esforços em criar um vínculo de nível elevado entre gatos, tutores e equipe veterinária são os maiores responsáveis pelos tratamentos bem-sucedidos. Isso se traduz em mais gatos visitando as clínicas, maior frequência de visitas, maior qualidade de vida e bem-estar para os gatos e maior valorização do serviço veterinário especializado em medicina felina.

 

Referências bibliográficas

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