Problemas urinários em gatos: conheça as principais afecções

Problemas urinários em gatos: conheça as principais afecções

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Na clínica de pequenos animais, os problemas urinários felinos fazem parte da rotina. Conheça as principais complicações que afetam os gatos e saiba como preveni-los! 

Os problemas urinários em felinos são comuns na clínica médica veterinária. Muitas das questões que os gatos apresentam tem associação com fisiologia, como a capacidade de regular os fluidos corporais de acordo com o ambiente.  

Felinos são animais que possuem a urina mais concentrada, o que é reflexo da sede reduzida e, consequentemente, de uma ingestão espontânea de água mais baixa. Devido a essas características, são animais que possuem maior predisposição a desenvolver patologias que podem afetar o sistema urinário. 

O que são problemas urinários em gatos? 

O trato urinário é um sistema que sofre com as patologias intrínsecas e secundárias. Os problemas urinários estão relacionados ao Trato Urinário Superior (TUS), que inclui rins e ureter, e Trato Urinário Inferior (TUI), englobando bexiga e uretra.  

Os problemas urinários de gatos no TUS podem gerar desequilíbrio da homeostase corporal e gerar aumento na concentração sérica de compostos como ureia, creatinina e outros compostos nitrogenados. 

Quando se refere a problemas urinários associados ao TUI, o médico-veterinário pode considerar uma ampla variedade de afecções de etiologia multifatorial e causa idiopática. Os principais problemas urinários no TUI de felinos podem ser associados a:  

  • dietas inadequadas; 
  • neoplasias; 
  • traumas; 
  • anormalidades anatômicas das vias urinárias; 
  • tampões uretrais;  
  • urólitos; 
  • distúrbios iatrogênicos;  
  • alterações neurogênicas.  

Qual a relação das afecções urinárias com a anatomia? 

Quanto à anatomia felina, o médico-veterinário deve ter em mente que animais mais jovens e/ou machos possuem maior predisposição à obstrução, já que são animais que têm o diâmetro uretral menor. Por ser mais estreito, há maior probabilidade da ocorrência de obstruções por tampões uretrais e cálculos urinários.  

Além da anatomia, há algumas características que os felinos podem apresentar e que os tornam mais predispostos a problemas urinários, como condições ou situações que reduzem a produção e eliminação da urina, incluindo: 

  • castração: os animais castrados tendem a ser mais sedentários e há menos marcação de território e produção de urina; 
  • obesidade 
  • baixa ingestão hídrica 
  • estresse; 
  • alimentação de baixa qualidade. 

Os problemas urinários em gatos também podem ter relação com a alimentação 

Os problemas urinários de felino não estão associados exclusivamente a fatores dietéticos, mas a maioria dos gatos pode se beneficiar do manejo nutricional. Conhecer a fisiopatologia do problema urinário felino e os efeitos fisiológicos dos alimentos e da dieta são pontos importantes para o médico-veterinário determinar o melhor plano nutricional e de tratamento para o seu paciente.  

3 principais problemas urinários em gatos 

Os principais problemas urinários que afetam os felinos estão relacionados a seguir. Reconhecer tais complicações possibilita, por parte do médico-veterinário, a realização de um diagnóstico mais preciso e ágil. Isso, por consequência, permite a ele indicar o tratamento mais adequado, o que favorece o prognóstico. 

Urolitíase 

Urolitíase ocorre quando há cálculos ou urólitos na vesícula urinária (bexiga) ou na uretra dos felinos. São concreções macroscópicas predominantemente minerais, sendo associadas a cerca de 20% dos casos de obstruções uretrais em felinos. 

A maioria dos urólitos são formados por: 

  • fosfato de amônio magnesiano – estruvita: a aglomeração dos cristais ocorre em pH alcalino e é passível de dissolução através de alterações na dieta do animal. 
  • oxalato de cálcio – agregação de cristais de oxalato e de cálcio: não é passível de dissolução e exige remoção cirúrgica – sendo o tipo de cálculo mais frequente em gatos com doença renal crônica. 

Como fatores de predisposição ao desenvolvimento de urólitos em felinos, destacam-se: 

  • urina supersaturada com compostos minerais calculogênicos (como fosfato de amônio magnesiano, oxalato, cálcio); 
  • retenção urinária causada pelo menor número de micções espontâneas; 
  • baixa ingestão hídrica, característica da espécie felina. 

Obstrução Uretral 

Quadros de obstrução uretral podem ocorrer devido a diferentes fatores, incluindo os seguintes: 

  • tampão/plug uretral (sedimento urinário formado pela agregação de sedimento urinário como cristais, debris celulares, células e proteínas); 
  • urólitos; 
  • coágulos; 
  • neoplasias. 

A obstrução uretral, muitas vezes, é considerada uma emergência na clínica de pequenos animais. Os sinais clínicos do felino com obstrução uretral são inespecíficos, porém, as complicações devido a obstrução e a não eliminação de urina podem levar o gato a óbito.  

Isso ocorre uma vez que os animais podem descompensar de forma muito rápida, reforçando o caráter emergencial dos quadros de obstrução uretral. 

Cistite Idiopatica Felina  

A cistite idiopática ou intersticial felina é um problema urinário frequente em felinos, sendo caracterizada por um quadro de inflamação – aguda ou crônica – da vesícula urinária. O maior desafio em relação à cistite idiopática é que esta é uma doença multifatorial, uma vez que está relacionada ao comportamento, às características fisiológicas e ao ambiente.  

A cistite idiopática pode ocorrer por diferentes situações como: 

  • mudanças na alimentação; 
  • ambiente inadequado; 
  • ausência de enriquecimento ambiental; 
  • baixa ingestão de água; 
  • introdução de um novo pet na casa. 

O estresse desencadeado pelos diferentes fatores faz com que o corpo do felino reaja liberando catecolaminas, pela ativação direta do sistema nervoso central e pelo aumento do cortisol através da estimulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. 

Como identificar problemas urinários nos gatos? 

O diagnóstico dos problemas urinários em felinos é feito pelo médico-veterinário baseado nas informações obtidas durante anamnese e exame físico.  

A partir dos sinais clínicos e eliminação da causa base através do histórico e tempo de evolução da doença, o médico-veterinário pode realizar exames laboratoriais como exame de sangue, urinlise com avaliação do sedimento e cultura bacteriana.  

Como diagnóstico por imagem, o médico-veterinário pode utilizar ultrassonografia e radiografia do trato urinário. Se após os exames e a investigação completa não for encontrada a causa base o diagnóstico, deve-se considerar um quadro de cistite idiopática felina (CIF). 

infográfico sobre problemas urinários em gatos

A importância da adequação de manejos para gatos com problemas urinários 

Para os problemas urinários em felinos, a mudança de manejo alimentar é o principal aliado do médico-veterinário, e a adequação da dieta e da ingestão hídrica são pontos importantes.

Estímulo à ingestão de água 

A água é o nutriente mais importante para todos os seres vivos, sendo mais de dois terços do organismo constituído por água.  

Como felinos possuem características fisiológicas especificas que podem ajudar no equilíbrio de fluidos, a água é um nutriente fundamental para a manutenção da sua saúde. Além do aspecto fisiológico da água, ela pode contribuir para o tratamento de diferentes problemas urinários, como cistite idiopática e urolitiases.  

O tutor deve incentivar a ingestão hídrica do seu animal e o médico-veterinário deve orientar o tutor sobre a melhor forma para realizar este estímulo, seja ele de maneira espontânea ou por auxílio da alimentação úmida. 

Dieta coadjuvante 

Considerando os benefícios que a nutrição possibilita para o paciente, a Royal Canin® desenvolveu a linha de alimentos Urinary®. São alimentos formulados especificamente para o manejo de recidivas e tratamentos de problemas urinários.  

Os produtos da linha Urinary possuem formulação que estimula a ingestão hídrica e possibilitam que o animal produza urina com baixo índice de supersaturação relativa da urina – o que resulta em um ambiente urinário desfavorável ao desenvolvimento das DTUIF. 

Alimentos Royal Canin da linha Urinary

O que é o método RSS e como ele auxilia na abordagem terapêutica das doenças urinárias? 

O método mais preciso, atualmente, para avaliar o potencial da formação de um cálculo urinário é o de supersaturação relativa urinária – o RSS. Através de uma razão matemática, o RSS analisa qual a probabilidade de uma dieta criar um ambiente urinário favorável ou desfavorável para a precipitação de um determinado tipo de cristal 

Além do pH, o RSS considera volume urinário e a concentração de 10 solutos (cálcio, magnésio, oxalato, citrato, fosfato, sódio, potássio, amônio, sulfato, urato) envolvidos na formação de cálculos.  

A partir dos índices obtidos nas análises, os valores são interpretados para os principais cálculos que ocorrem em felinos: estruvita e oxalato. Os valores são interpretados conforme três diferentes zonas de saturação urinária: subsaturação, saturação metaestável e supersatura instável, conforme detalha o quadro a seguir: 

afecções urinárias em gatos 

  • Zona de Supersaturação instável: valor do RSS acima do produto de solubilidade. Zona em que há cristalização espontânea e precipitação espontânea de cristais, dentro de minutos a horas. O limite entre a supersaturação metaestável e instável é chamado de “formação do produto”.
     
  • Zona de Supersaturação Metaestável: valor do RSS acima do produto de solubilidade, mas não há agregação espontânea de cristais. Ausência de dissolução de urólitos pré-existentes.
     
  • Zona de Subsaturação: valor do RSS abaixo do produto de solubilidade. Ausência de formação de novos cristais e possível dissolução de urólitos de estruvita. 

Alimentos comerciais formulados com o método RSS possibilitam uma ferramenta a mais para o médico-veterinário no auxílio ao tratamento a doenças do trato urinário inferior, uma vez que previnem a agregação de cristais e formação de novos urólitos de estruvita e oxalato. 

No caso de prevenção na formação de urólitos de oxalato de cálcio, uma dieta contendo baixos níveis de cálcio e oxalato produziu o menor RSS de oxalato de cálcio.  Já os urólitos de estruvita, o fornecimento de uma dieta com RSS de estruvita <1 possibilita a dissolução de urólitos de estruvita que ocorrem naturalmente (Stevenson, et. al., 2003; Houston, et.al., 2010). 

Facilite suas prescrições com a Calculadora da ROYAL CANIN® 

A Royal Canin desenvolveu uma ferramenta para facilitar o momento da prescrição para o médico-veterinário. A Calculadora para Prescrições da Royal Canin® possibilita a verificação do alimento ideal a ser prescrito conforme as necessidades nutricionais específicas dos seus pacientes.  

Referências bibliográficas 

Aronson, L, R. Upper urinary tract urolithiasis. Vet Focus, n. 30, v. 1, Royal Canin, 2020. Acesso: 29/12/2023. 

Bartges, J. W., Kirk, C. A. Nutrition and Lower Urinary Tract Disease in Cats. Vet Clin Small Anim, n. 36, 2006. Acesso: 30/12/2023. 

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Handl, S, Fritz, J. The water requirements and drinking habits of cats. Vet Focus, n. 28, v. 3, Royal Canin n.28, v.3, 2018. Acesso: 29/12/2023. 

Doreen M. Houston, D.M., Weese, H.E., Evason, M.D., Biourge, V., Van Hoek, I. A diet with a struvite relative supersaturation less than 1 is effective in dissolving struvite stones in vivo. British Journal of Nutrition, v. 106,, 2011. 

Fonseca, A. P. B. Doença do trato urinário inferior dos felinos: estudo clínico e laboratorial. 2019, p. 13-48. Dissertação (Mestre em Ciência Animal) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal – Universidade Federal do Piauí, Piauí, 2019. Acesso em: 29/12/2023. 

Stevenson, A.E., Hynds, W.K., Markwell, P.J. The relative effects of supplemental dietary calcium and oxalate on urine composition and calcium oxalate relative supersaturation in healthy adult dogs. The WALTHAM Centre for Pet Nutrition, 2003. 

Villaverde, C. How I approach… Urolithiasis and specific gravity in cats. Vet Focus, n. 29, v. 2, Royal Canin, 2019. Acesso: 29/12/2023. 

Xavier Junior, F., A., F., Dutra,M., S., Freitas, M., M., Morais, G., B., Viana, D.,A., Evangelista, J., S., A., M. A cistite idiopática felina: o que devemos saber. Ciência Animal, v. 29, n. 1, p. 63-82, 2019. Acesso: 29/12/2023.