Pancreatite felina: detalhes da doença, papel da nutrição e sugestões de manejo

Pancreatite felina: detalhes da doença, papel da nutrição e sugestões de manejo

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Embora a pancreatite felina faça parte da rotina veterinária, a doença pode ser subdiagnosticada, pois conta com manifestações clínicas inespecíficas e sutis, assemelhando-se a diversas outras doenças; saiba mais e entenda como fazer a nutrição adequada dos pacientes*

O pâncreas é uma glândula que possui funções endócrinas e exócrinas essenciais para o bom funcionamento do organismo. O órgão é responsável pela produção de enzimas e hormônios, como a insulina. Entretanto, ele pode ser o foco de algumas afecções.

A pancreatite em gatos é uma das principais doenças que acomete o pâncreas e está presente na rotina da clínica de felinos. A doença é caracterizada por uma inflamação no tecido pancreático, com consequente lesão nas células desse órgão, e atrofia acinar. O que ocorre é uma ativação das enzimas pancreáticas e a autodigestão do pâncreas. Em animais saudáveis, essas enzimas são ativadas somente quando chegam no lúmen intestinal.

A doença em felinos, assim como nas demais espécies, pode ocorrer nas formas aguda ou crônica, sendo essa última a mais comum em gatos (BAZELLE e WATSON; 2014). Em casos mais graves, a lesão pode ocasionar hemorragia e necrose, elevando a mortalidade.

A pancreatite em felinos possui alta prevalência e sua etiologia pode ser considerada idiopática, já que, muitas vezes, uma causa de base específica não é identificada (BAZELLE e WATSON; 2014). Entre as principais possíveis causas da pancreatite felina estão (JENSEN et al; 2014, ALLENSPACH; 2020):

Sinais clínicos de pancreatite em gatos

A pancreatite em gatos é, muitas vezes, uma doença silenciosa. Os sinais clínicos podem ser inespecíficos, mas os mais comumente encontrados incluem (ALLENSPACH; 2020):

  • anorexia;
  • letargia;
  • desidratação;
  • hipotermia;
  • perda de peso;
  • diarreia;
  • icterícia;
  • febre.

Também pode haver inflamação no fígado e no intestino delgado, além de dor abdominal e vômitos, presentes em cerca de 50% dos casos. Pode-se ainda, raramente, encontrar massa abdominal palpável.

Possíveis complicações

A diabetes mellitus pode aparecer secundariamente à pancreatite, com consequente aparecimento de polidipsia, poliúria e perda de peso. A pancreatite pode estar relacionada à doença inflamatória intestinal em 50% dos casos. Também podemos observar a presença da tríade: pancreatite, colangite e doença inflamatória intestinal em gatos (saiba mais sobre a tríade felina em nosso artigo sobre o tema).

Para gatos em quadros de pancreatite crônica, os sinais clínicos são de mais difícil diagnóstico, pois na maioria das vezes incluem apenas perda de peso e baixo escore de condição corporal.

O diagnóstico precoce é essencial para um melhor prognóstico. A depender do nível de acometimento e evolução do quadro clínico, o animal pode vir a óbito.

Como a nutrição pode ajudar nos quadros de pancreatite felina?

Os gatos com pancreatite podem ter náuseas e ficar inapetentes por longos períodos de tempo, com elevação do risco de lipidose hepática e outras doenças decorrentes da hiporexia ou anorexia. Além disso, a baixa ingestão alimentar associada ao alto índice de estresse causado pela dor interferem diretamente na imunidade do animal, favorecendo o surgimento de outras doenças.

Um estudo retrospectivo com 157 gatos diagnosticados com pancreatite foi realizado recentemente e identificou que os casos de animais que apresentaram azotemia, hipoglicemia, derrame pleural e anorexia persistente durante a hospitalização estavam mais associados aos casos que tiveram prognóstico ruim (ALLENSPACH; 2020).

Corroborando com o exposto, fica evidente a importância do suporte nutricional para o tratamento. Uma dieta rica em nutrientes de qualidade e vitaminas contribui para a elevação da imunidade e da proteção do tecido, ajudando também no combate à inflamação e contribuindo para a manutenção geral da saúde animal.

O suporte nutricional precoce é considerado um dos pilares da terapia de pancreatite felina (LAFLAMME et al; 2011). Sendo assim, não é preconizada a realização de jejum para esses pacientes. Em casos de anorexia, a alimentação enteral deve ser introduzida o mais rápido possível. Entretanto, essa prática pode ser contraindicada para animais com vômitos crônicos.

Para tratamento a médio e longo prazo, a esofagostomia ou gastrostomia podem ser opções indicadas para manejo nutricional, à depender da situação. Nos primeiros dias de tratamento geralmente os tubos nasoesofágicos são uma estratégia eficiente para nutrição do paciente com pancreatite felina.

Vale destacar alguns pontos nutricionais importantes que deve ser levados em consideração ao planejar a nutrição do felino com pancreatite:

1. Proteínas

Apesar da necessidade reduzida de proteínas na dieta, recomenda-se o fornecimento de quantidade suficiente para recuperação e reposição de tecidos danificados pela inflamação e auxiliar na prevenção da perda de massa muscular. Além disso, alguns estudos mostram que em dietas muito restritivas em proteína há menor ingestão dos aminoácidos arginina e metionina, limitando a síntese de lipoproteína pelo fígado, aumentando as chances do animal desenvolver lipidose hepática (KLAUS et al; 2009).

2. Gorduras

Gatos possuem alta capacidade de digerir e utilizar elevadas quantidades de gordura. O mais importante é a qualidade e digestibilidade da gordura do que o seu baixo teor no alimento para esta espécie. A gordura na dieta não aparenta ser um fator importante de manejo nutricional do paciente felino com pancreatite. Recomenda-se o consumo de níveis moderados de gordura pela dieta.

3. Energia

Adequada para a manutenção dos processos fisiológicos. Gatos podem desenvolver lipidose hepática caso a quantidade de calorias fornecida não esteja adequada para o quadro do animal (KLAUS et al; 2009).

4. Antioxidantes

Utilização de antioxidantes como Vitamina C, Vitamina E e Vitamina A auxiliam na diminuição do estresse oxidativo das células aumentando a proteção tecidual, auxiliando também no combate da inflamação (JENSEN et al; 2014).

Como realizar o diagnóstico de pancreatite nos gatos?

O diagnóstico de pancreatite nunca deve ser feito com base em um único indício. Ele deve ser composto pelas informações coletadas minuciosamente na anamnese, além da presença de sinais clínicos, achados em exames laboratoriais e ultrassonografia (ALLENSPACH; 2020).

Atualmente, o teste laboratorial de mensuração dos níveis de lipase pancreática felina (PLI) possui maior acurácia, sendo fundamental para o diagnóstico de pancreatite felina (ALLENSPACH; 2020).

Outros exames complementares, como hemograma e bioquímicos, também podem ser solicitados visando uma melhor avaliação do quadro geral de saúde do paciente e também para diagnóstico diferencial entre diversas outras doenças.

Os gatos com pancreatite podem apresentar anemia, hemoconcentração, leucocitose e leucopenia. Nesses casos, o perfil bioquímico pode incluir hipoalbuminemia, que pode ser um indicativo de prognóstico desfavorável. Também pode incluir hipocalcemia, que deverá ser tratada (ALLENSPACH; 2020).

Manejo do paciente e tratamento da pancreatite felina

Como vimos, a nutrição adequada é de suma importância. Além disso, há o tratamento medicamentoso, que pode variar de acordo com a gravidade da doença e também se há outras afecções concomitantes.

Geralmente, o tratamento é sintomático e de suporte, para controle da dor e da náusea, e inclui terapia antiemética, analgesia e fluidoterapia agressiva. A adequação do manejo nutricional deve ser realizada com dietas que contenham baixos índices de gordura, além de proteínas e demais nutrientes de excelentes valores nutricionais (MANSFIELD; 2016).

O prognóstico possui mais chances de sucesso quando inclui (MANSFIELD; 2016):

  • diagnóstico precoce realizado pelo Médico-Veterinário;
  • consultas frequentes ao Médico-Veterinário para avaliação da evolução do quadro e acompanhamento do paciente;
  • realização de exames para acompanhamento;
  • colaboração do tutor, que deve seguir corretamente todas as orientações de manejo nutricional e administração de medicamentos.

Conheça também os principais aspectos da insuficiência pancreática em gatos e cães!

Outras recomendações nutricionais aos tutores

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Pensando nisso, o alimento Hypoallergenic Feline S/O foi formulado com ingredientes como ácidos graxos (EPA/DHA), proteína hidrolisada com baixo peso molecular e carboidratos, cuidadosamente selecionados visando a redução de sensibilidades alimentares que geralmente estão presentes em pacientes com pancreatite felina. Esse alimento fornece maior suporte e equilíbrio à saúde cutânea e digestiva do paciente.

embalagens dos alimentos da linha Hypoallergenic

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*Artigo originalmente escrito por M.V. Larissa Lima, editado e revisado em 16/01/2023 pela equipe de Portal VET.

Referências bibliográficas

BAZELLE J., WATSON P. Pancreatitis in cats: Is it acute, is it chronic, is it significant? Journal of Feline Medicine and Surgery, United States, v. 16, n. 5, p. 395-406, 2014. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24794036/#:~:text=Practical%20relevance%3A%20Pancreatitis%20is%20a,is%20said%20to%20be%20idiopathic. Acesso em: 05 dez. 2022.

JENSEN, B. Kristine; CHAN, L. Daniel. Nutritional management of acute pancreatitis in dogs and cats. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, Sweden, v. 24, n. 3, p. 240–250, 2014. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24690138/. Acesso em: 05 dez. 2022.

KLAUS, A. Jennifer et al. Nasogastric tube feeding in cats with suspected acute pancreatitis: 55 cases (2001-2006). Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, EUA, v. 19, n. 4, p. 337–346, 2009. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25164632/. Acesso em: 04 dez. 2022.

LAFLAMME, D. P. et al. Effect of Diets Differing in Fat Content on Chronic Diarrhea in Cats. J Vet Intern Med, EUA, v. 25, n. 2, p. 230–235, 2011. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21281349/#:~:text=Conclusions%20and%20clinical%20importance%3A%20These,appear%20to%20affect%20the%20outcome. Acesso em: 05 dez. 2022.

MANSFIELD, Caroline. Chapter 15 – The challenges of pancreatitis in cats: a diagnostic and therapeutic conundrum. In: Little Susan E., August’s Consultations in Feline Internal Medicine: Volume 7, Elsevier, 2016. Disponível em: https://findanexpert.unimelb.edu.au/scholarlywork/1050908-the-challenges-of-pancreatitis-in-cats–a-diagnostic-and-therapeutic-conundrum. Acesso em: 04 dez. 2022.

TAYLOR, Samantha. Pancreatitis in cats – overcoming suspected treatment challenges. Vet Times, p. 1–8, 2016. Disponível em: https://www.vettimes.co.uk/article/pancreatitis-in-cats-overcoming-suspected-treatment-challenges/. Acesso em: 04 dez. 2022.

ALLENSPACH, Karin. Acute feline pancreatitis. Veterinary Focus, Royal Canin, 2020. Disponível em: https://vetfocus.royalcanin.com/en/scientific/acute-feline-pancreatitis. Acesso em: 04 dez. 2022.